Foto Araquém Alcântara, do livro "Mais Médicos". |
Foto: Araquém Alcântara, do livro "Mais Médicos". |
Foto Araquém Alcântara, do livro "Mais Médicos". |
O fotógrafo Araquém Alcântara percorreu 19 estados para construir um painel de imagens de um programa social. Falei programa social. Mas, na atual irracionalidade da disputa política no Brasil, um jogo vulgar e predatório, o programa foi inicialmente tratado como se fosse um cartel de criminosos, uma "operação comunista" para abalar os "valores' da nação. Pura ignorância e má fé. Falo do programa "Mais Médicos". Agressões e racismo foram ingredientes corporativos deploráveis da campanha contra o "Mais Médicos". Pois é, o tempo passou, milhares de prefeitos de vários partidos reconhecem hoje os resultados do programa, mais do que eles, os pacientes, e, na última seleção de profissionais, os jovens médicos brasileiros compunham a totalidade dos inscritos, sem falar que foi mínima a desistência de estrangeiros em meio à temporada. O "perigo comunista" não se confirmou. Os milhões de pacientes pobres agradecem.
Araquém Alcântara/Reprodução Rede Social |
Investir em saúde não é um programa de partido político mas um direito assegurado pela Constituição, que a população deve cobrar de presidentes, ministros, governadores, prefeitos e secretários de qualquer camiseta política. Passa longe de ser questão barata de "oposição" e "situação". Se tem defeitos, estes serão sempre menores do que a omissão.
O programa chegou a 15% dos municípios brasileiros que antes não tinham um só médico e se estendeu por outros que tinham apenas um médico para atender a 3 mil pacientes. As vagas abertas para profissionais, que eram menos de 10 mil há três anos, hoje chegam a quase 30 mil, a grande maioria preenchida por brasileiros atraídos pela iniciativa que os conselhos de medicina politizados queriam rejeitar.
O livro "Mais Médicos" é o 19° de Araquém Alcântara, fotógrafo que é um dos precursores na temática ecológica e segue a outras obras suas, como "Terra Brasil", 'Árvores mineiras", "Juréia, a luta pela vida", "Mar de Dentro e Brasil: Herança ambiental", "Estações Ecológicas do Brasil" e "Pantanal".
Araquém definiu, certa vez, a poesia e a crueza da sua arte: “Meu trabalho é a crônica da beleza e do extermínio. Retratos de uma país que breve não veremos mais. Coleciono rostos, paisagens, movimentos, brilhos com a esperança de que não estarão condenados a viver apenas na memória e no papel. Cada imagem que capturo conduz à fé de que a natureza e o homem humilde do sertão e das matas resistirão, apesar de tanta invasão, inconsciência, devastação e morte. O genocídio dos povos primitivos, a miséria, a violentação impune dos ecossistemas – de um lado, de outro a fertilização imensa deste país amazônico, verdadeira sinfonia de belezas. Meu canto é cumplicidade e reverência. Minha fotografia é oxigênio”.
Por sua vez, em texto escrito para o projeto 'Brasil, Memórias das Artes", da Funarte, o jornalista, fotógrafo e pesquisador Pedro Vásquez, ao biografar Araquém Araquém Alcântara, contou como nasceu no fotógrafo paixão pelo ofício:
"Aos 14 anos de idade, tudo que Araquém queria era ser escritor. Fascinado pelos livros de J. D. Salinger, Lima Barreto, Machado de Assis e Guimarães Rosa, em 1970 prestou a Faculdade de Comunicação de Santos sem saber que, de jornalista, logo passaria à fotojornalista – mudança que só veio a acontecer depois de descobrir o filme A Ilha Nua, de Kaneto Shindo. Quase sem história, o filme retrata a história de um casal que vive em uma ilha, rodeado pela fauna e flora local. A força daquele primeiro encontro com a natureza foi tamanha que, no dia seguinte, quando a amiga Marinilda mostrava as fotos caseiras que havia tirado com a câmera Yachica, Araquém pediu a câmera emprestada (mesmo sem qualquer conhecimento técnico), comprou três filmes em preto e branco e saiu naquela noite mesmo para fotografar no porto de Santos.
“Passei a noite inteira com uma Yachica elétrica 35mm na zona portuária. Não consegui tirar foto nenhuma. De manhã, havia uma prostituta cansada no ponto de ônibus. Me aproximei, bem inibido, e perguntei: “Posso fotografá-la?” Ela levantou a saia e respondeu: ‘Fotografa aqui, seu filho-da-puta!’ e eu fiz a minha primeira foto“.
Depois do episódio, passou a fotografar tudo e todos buscando formas, experimentando técnicas..."
Um comentário:
Esse é o Brasil que quase não vemos. Parabéns ao fotógrafo pelo projeto.
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