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O número 1 do JA, de Tarso de Castro |
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Serviço no JA: ficha técnica do King's Motel, que foi uma espécie de point jornalistico nos anos 70/80. |
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O que comer no King's Motel |
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Muito antes dos humoristas do Casseta, o JA tornou real o Planeta Diário.
(clique na imagem para ampliar) |
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A capa do número 2 |
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Enquete sobre o EM |
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Tarlis Batista, repórter que depois fez carreira na Manchete, foi citado no número 1 do JA. Como não era de levar desaforo para casa, respondeu em carta para a seção "Pau Nele" do número 2. |
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Capa do JA número 3 |
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Matéria sobre o Jangadeiro, o lendário botequim de Ipanema.
(Clique na imagem para ampliar) |
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Capa do JA número 9 |
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O "Jogo do Carro" das celebridades no JA número 9 |
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JA interativo à moda dos anos 70: o jornal convidava o leitor a escrever para seu ídolo, que respondia em carta manuscrita. |
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O expediente do JA |
por José Esmeraldo Gonçalves
Acredite. Houve um tempo em que não havia rede social. O que não impediu que em um passado remoto, numa galáxia distante, os anos 70, existisse algo parecido com a linguagem da rede social. Há poucos dias, descobri simulações de “posts” escritos no tempo em que nem a ficção científica falava em Facebook. Em uma caixa de papelão ainda fechada desde uma mudança de apê encontrei quatro velhos exemplares do JA, o Jornal de Amenidades, lançado por Tarso de Castro, em 1971. Na época, eu estudava na Escola de Comunicação da UFRJ, a ECO, então instalada na Praça da República, esquina de Visconde do Rio Branco. O prédio continua lá, mas quase em ruínas como, de resto, muitas lembranças da época. Em uma manhã de junho, alguém levou para a sala de aula o número 1 do JA, com Elis Regina na capa. O jornal era impresso em formato tabloide, com as folhas dobradas ao meio, o que lhe dava um jeitão de revista sem grampo. E não vinha para explicar, nem para confundir, não parecia pretensioso, era apenas diferente. Nas semanas seguintes, comprei os números 2 e 3 em uma banca ali perto, na Gomes Carneiro, quase em frente ao Correio da Manhã, onde passava a caminho da faculdade.
Os anos eram de chumbo, pleno governo Médici, e o Pasquim, do qual fazia parte o mesmo Tarso de Castro, era a leitura menos careta nas bancas de jornal, para usar uma gíria setentista. O JA - não sei quanto tempo durou mas não resistiu muito (era semanal, custava 50 centavos e, pelo menos até o número 9, parecia não ter conseguido captar anunciante que lhe desse sobrevida) – não concorria com o jornal do Sigismundo e pegava outro atalho, o de ironizar a chamada sociedade de consumo e a cultura de massa, expressões em voga nos tempos do tal “milagre econômico”. Era pop e mais provocador do que contestador. A matéria de abertura no primeiro número era a “ficha técnica do King’s Motel, um ícone da década. “Você e a companheira se hospedam democraticamente. Sem muitas formalidades. Ninguém quer saber quem é quem. Nem a ficha, na mesa de cabeceira”. O texto, meio ao estilo das blogueiras que dão o serviço de marcas e produtos, detalhava quartos, serviço, culinária (com pratos como Filé ao King’s ou Filé Manda Brasa), garagem, formas de pagamento e avisava aos clientes para não levar souvenir para casa. “Desista de roubar a toalha da casa (linda). Dá bolo. No tempo em que você percorre o terreno de carro até atingir a portaria pra se mandar com o souvenir, os caras vasculham o quarto e imediatamente cantam o macaco para a portaria: - ‘Senhor, com toalha é mais 20 contos’”.
Seções como "Placar Social", que fazia o ranking das pessoas citadas nas colunas de Zózimo, Ibrahim Sued, Carlos Swan, Daniel Más e Germana de Lamare, antecipavam o foco sarcástico nas celebridades, hoje material de centenas de sites na web. Havia, ainda, o "Retrato do Consumidor", onde uma personalidade revelava seus hábitos de consumo (Jorginho Guinle era a pauta do número 1), a "K.H. Regras', um tipo de perfil com figuras polêmicas, entrevistas, enquetes, críticas a programas de TV, filmes, teatro, dicas de boates e bares, além de colaboradores como Antonio Bivar, Torquato, Martha Alencar, Sérgio Augusto, Antonio Calmon, Vera Barreto Leite, Capinam, Pinky Wainer e Joel Barcelos.
Os textos, na maioria, eram curtos, coloquiais, bem tipo rede social. O JA também incentivava a interação com os leitores: havia uma página em que qualquer um podia escrever uma carta para um ídolo – assim como se entrasse no Facebook do “famoso” ou “famosa” – e receber uma resposta exclusiva; leitores eram entrevistados na porta do cinema para opinar sobre o filme; a seção de cartas não chegava ao tom hater da rede, hoje, mas atendia pelo nome de "Pau Nele" e publicava broncas homéricas em lojas, companhia telefônica, restaurantes e postos de gasolina que maltratassem o consumidor.
Então é isso. Quis apenas compartilhar um certo veículo jornalístico de curta temporada, agora reconectado e reacessado em uma inesperada expedição arqueológica a uma caixa de papelão esquecida. Não tive coragem de jogar fora os quatro exemplares do JA. Fiquei com a impressão de que se o fizesse estaria entregando à Comlurb o “patrimônio imaterial” de um tempo em que o jornalismo tinha essas loucuras, era capaz de apostar no inviável - porque embarcar no viável é fácil -, e ainda (com licença do Fado Tropical, de Chico Buarque) cumpria seu ideal... de pensar fora da caixa. Ou da página.
8 comentários:
Pensei que a ideia de fazer o Planeta Diário era dos Cassetas. Os caras tiraram onda de criativos e não contaram para ninguém que isso já tinha sido feito mais de uns 20 e tantos anos antes. Ficou feio, pessoal.
Tarso de Castro fez parte também de O Pasquim e há muito tempo correu uma notícia que ele teria se desentendido com um personagem – muito famoso hoje – em quem teria no auge da discussão lhe dado uma porrada na cara. Você soube, por acaso, desse conflito?
Faz falta um instituição que mostre esses jornais, principalmente da imprensa alternativa do anos 70. Sabem onde posso encontrar coleções?
Moteis sobrevivem mas os da época no Rio fizeram história, Vip's, Playboy, Maxim's, Elmo, dunas, Serramar, Papillon...
Na biblioteca do Rio de Janeiro, na cinelândia, num prédio enorme e muito antigo e sobre tudo lindo.
Muito obrigada, J.A Barros
Ótima matéria Esmeraldo!
Não trabalhei no JA, mas com quase todos os colaboradores no
JORNAL DO BRASIL E EM BLOCH EDITORES.
Tarso de Castro, Martha Alencar, Luiz Carlos Maciel, Ronaldo Bôscoli,
Tarlis Batista, Amilcar de Castro, Lapi, Torquato, Martha Alencar, Sérgio
Augusto, Antonio Calmon, Vera Barreto Leite, Capinam, Pinky Wainer,
filha do Samuel, que também foi da Bloch.
Saudade do jornalismo romântico e divertido daquela época.
Uma turma boa, Nélio, o jornalismo ficou devendo muito à "indisciplina" dessa patota, como também se dizia na época. E ainda bem que gerações de profissionais tiveram a honra de dividir algumas redações, em alguns momentos, com esses "loucos" supercompetentes.
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