sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Jornalismo e redes sociais



por Clayton José Torres (do blogmidia8)
A crise que embala o jornalismo não é de hoje. Críticas a aspectos conceituais, morais, editoriais e até financeiros já rondam esse importante pilar da democracia há um bom tempo. O digital, então, acabou surgindo para dar um empurrãozinho – tanto para o bem como para o mal – nas redações mundo afora. Prédios esvaziados, startups revolucionárias, crise existencial e um suposto adversário invisível: o próprio leitor.
O leitor – e suas mídias sociais digitais conectadas em rede – passou a ser visto com um inimigo a ser combatido, um mal necessário para que o jornalismo conseguisse sobreviver. Não mais se fazia jornalismo para a sociedade, mas se fazia um suposto jornalismo dinâmico e frenético para que os grandes nomes da imprensa se sobressaíssem aos “jornalistas cidadãos”. Esse era um dos primeiros e mais graves erros – dentro de uma sucessão – que seriam seguidos.
As redações continuaram a ser esvaziadas, a crise existencial tornou-se mais aguda e o suposto adversário invisível cada vez se tornava mais forte. Havia um clima de que os “especialistas de Facebook” superariam a imprensa. Não era mais necessário investir em jornalismo, já que as mídias sociais supririam toda a nossa fome por conhecimento e informação. O mito – surgido nas próprias redes sociais – parecia ter sido absorvido de tal maneira que a imprensa não mais reagia. Mesmo com o crescente número de startups sobre jornalismo, o fato do canibalismo jornalístico parecia mais importante.
Agora, outros erros tão graves quanto os citados estão sendo cometidos pela imprensa. O comportamento infantilizado de muitos veículos através das mídias sociais, por exemplo, demonstra uma imaturidade e desestruturação de pensamento. A aposta em modismos – e não mais em jornalismo – tem causado um efeito em cadeia que faz com que tanto canais grandes como pequenos se comportem de maneira duvidosa – pelo menos perante os conceitos do que se entendia como jornalismo.
O abuso de listas, o uso de “especialistas de Facebook” como fonte, pautas sendo construídas com base em timelines alheias ou o frenesi encantador de likes e shares tem feito com que uma das maiores armadilhas das redes sociais abocanhasse o jornalismo. O jornalismo, como instituição e pilar da democracia, agora se comporta como um usuário de internet, jovem, antenado, mas que não tem como privilégio o foco ou a profundidade. A armadilha se revela justamente no momento em que “ser um usuário” passa a valer como entendimento de “dialogar com o usuário”.
As mídias sociais digitais conectadas em rede trouxeram a “midiatização da mídia”, ou a “facebookização do jornalismo”. Quando se falava em jornalismo cidadão e participação do usuário, muitos pensavam em um jornalismo global-local, com o dinamismo e velocidade que a internet exige. Porém, o que temos visto não vai ao encontro desse pensamento, já que o espaço do cidadão no jornalismo é medido apenas pelo seu humor, a participação do usuário é medida em curtidas e o jornalismo muitas vezes não é jornalismo, sendo apenas uma mera isca para likes e shares.
ACESSE O BLOGMIDIA8, CLIQUE AQUI

4 comentários:

Benassi disse...

Bom artigo. Acrescento uma coisa preocupante. Como muitos portais de grandes meios de comunicação têm extensões em Facebook começo a ver que a censura do Face (para determinados fatos e assuntos e fotos que eles consideram sensuais demais até obras de arte que sejam vistas ousadas para eles) intefere nos sites da mídia em geral. Como não querem ter problemas com o Face já fazem sua própria censura ou adaptação cortando fotos ou apagando detalhes, por exemplo. Isso preocupa, é o Face exportando sua censura para a midia digital.

Célio disse...

Sacou bem, isso está acontecendo, já noptei

J.A.Barros disse...

Até na Internet a "autocensura " já é praticada. Tem um site que se chama "Largados e Pelados "consiste em um casal soltos em uma selva qualquer, nus completamente, procurando sobreviver na busca de comida e a montar abrigos para dormir e se abrigar das chuvas, mas as suas genitálias em qualquer posição que se encontrem são encombertas por uma nuvem cinza. Ora, se o site é feito para mostrar o comportamento de um casal, inteiramente nus, no meio de um ambiente selvagem, porque então cobrir os sexos do casal? Esse site não vale nada e nem o sacrifício do casal em se mostrarem completamente nus diante de um câmera que os acompanha o tempo todo. Nesse caso esse programa é feito só para a equipe de filmagem.

J.A.Barros disse...

Há muito anos, um ex - chefe de arte com quem trabalhei na revista O Cruzeiro dizia que a Televisão copiava do jornalismo as grandes coberturas e fatos jornalísticos e já naquela ocasião ele começou a constatar que o jornalismo estava copiando da televisão os fatos e acontecimentos jornalísticos. As grandes reportagens, que exigiam viagens até para outros países não se faziam mais e os repórteres se limitavam a entrevistar e pesquisar pelo telefone, O repórter não mais ia as ruas para constatar o evento e muito menos fazer as entrevistas pessoalmente.
Conheci, já falecido, um grande repórter jornalista, Cesário Marques, que dizia que lugar de repórter é nas ruas e não sentado em confortável cadeira no meio de uma redação.