quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O cinismo como "duplipensar" (*) e a ditadura financeira que ameaça a Europa e o mundo...

por Gonça
Você certamente leu e ouviu nas últimas décadas, centenas ou milhares de vezes, professores-doutores, comentaristas e colunistas de economia, ortodoxos na sua grande maioria, defenderam rigor fiscal, saldos bilionários em balanças, cortes de direitos trabalhistas, achatamento salarial etc, tudo em nome da saúde do sistema financeiro e sempre em detrimento dos avanços socials, especialmente, do resgate de milhões de pessoas de uma inadmissível faixa de pobreza. Potr aqui, nos últimos anos, o governo Lula ousou enfrentar esses dogmas, elevou o nível de vida de importantes faixas de cidadãos e levou e leva muito pau pela ousadia. A Europa em crise vive no momento um dilema político: opta de vez pela política de "terra arrasada" da alemã Angela Merkel - que, aliás, tem despejado bilhões de dinheiro público em instituições financeiras privadas, com o atoleiro persistindo mesmo assim - ou reforma e regula profundamente o sistema financeiro, impede que Estados permaneçam reféns dos especuladores e privilegia o crescimento. É simbólica a situação da Irlanda. Durante duas décadas, o país apertou o cinto e seguiu a cartilha ortodoxa para reduzir a dívida pública à custa de forte compressão do bem-estar. Tudo isso foi pro lixo. A política de redução da dívida pública sacrificou a população, foi dramaticamente reduzida mas agora voltou a níveis estratosféricos simplesmente porque o governo foi obrigado a injetar dinheiro público em bancos privados. Resultado: a dívida pública da Irlanda, depois de anos de "equilíbrio fiscal",  ultrapassa hoje os 100% do PIB do país.  A "receita" então é essa? Sacrificar toda uma população, como a da Grécia que, no momento, parece ser cobaia de experiências economicidas, para mais adiante injetar o produto desse enorme esforço em bolsos e cuecas de banqueiros especuladores? Há alguma coisa, ou muita coisa, de podre nesse reino e naqueles que propagam uma  especie de "solução final", que não passa de uma "blitzkrieg" financeira privada sobre fundos públicos. Ao fundo, a democracia passa a ser tratada como um ativo indesejável a ser devidamente contingenciado.
São nuvens negras em um horizonte que vai muito além de uma crise meramente financeira.  
(*) Duplipensar: Já dizia George Orwell, no livro "1984", é "ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras". Ou. ainda, "induzir conscientemente a inconsciência".
      

Um comentário:

V. Arnaud disse...

Sob aplausos histéricos dos neoliberais, o mundo entrou nesse buraco injusto. todos pagam pelos lucros que foram embolsados por poucos. O ridículo nisso tudo é ter que ouvir esses pensadores e jornalistas serviçais que engrossam o coro de todo poder ao mercado e fodam-se as populações