Continuando o caso do enguiço do trem do metrô, na Estação Cinelândia, me ficou marcada uma grande decepção com o comportamento do carioca. Quando o trem parou na estação, a voz do alto-falante pediu que todos os passageiros saissem dos vagões e aguardassem na plataforma a chegada de outro trem que viria embarcá-los para continuar a viagem.
Submissos, calados, cabeças baixas, ordenadamente todos saltaram dos vagões e muito disciplinados aguardaram o novo trem.
Ora, desde quando o carioca se tornou tão disciplinado e submisso? Todo esse movimento de sair de um trem, onde estavam, muitos até sentados, alguns com horas marcadas para almoços ou encontros agendados para negócios, enfim, de repente um trem mal conservado, velho, acaba com toda essa organização da vida de uma pessoa na cidade grande, ocasionando perdas, algumas financeiras, outros emocionais, algumas outras o fim de um amor, porque perdas sempre existirão e nada acontece diante de um mal atendimento funcional de uma Empresa de Transporte? O carioca, como cordeirinho obediente, se curva diante desses desrespeitos aos seus direitos de ir e vir numa cidade, por Empresas incompetentes, que deveriam ser punidas pelo governo e fica tudo por isso mesmo.
Onde está aquele carioca rebelde, inconformado, corajoso que brigava pelos seus direitos e quebrava bondes, fazia greves justas e passeatas exigindo respeito a sua cidadânia?
Nessa fato, na Estação Cinelândia, nenhum grito se ouviu. Nenhum voz se levantou em protesto contra tal desrespeito. Nenhum homem irado ameaçou dar um ponta-pé naquela máquina blindada, que o tratava como um objeto qualquer descartável e inútil e o jogava numa estação sem mais nem menos e fica tudo por isso mesmo.
Aquele carioca rebelde, voluntarioso, corajoso e valente não existe mais. Foi absorvido pelo mundo moderno e sua vontade maior é chegar em casa e numa confortável poltrona ligar a televisão acessar o canal Globo e ver a novela das 7 horas, com os seus heróis de fancaria trocando frases estúpidas, sem graça e sem conteúdo.
Um comentário:
deBarros,
Concordo, em parte.
A grande questão é que, nos dias de hoje, sobraram muito poucos cariocas na cidade do Rio de Janeiro.
As migrações trouxeram milhares, quiçá milhões, na ilusória esperança de melhoria de vida. Um povo sofrido, que estava e permanece acostumado a repetir como um mantra: "é Deus que quer assim", "foi Deus que mandou", etc, etc.
Outros tantos vieram, é verdade, para somar, mas comparativamente, o número é pequeno.
Por outro lado, muitos cariocas daqui sairam em busca de melhores oportunidades profissionais, êxodo que começou quando a cidade deixou de ser a capital do país.
Aquele carioca rebelde, inconformado, corajoso que brigava pelos seus direitos e quebrava bondes, fazia greves justas e passeatas exigindo respeito a sua cidadania, o carioca da gema, hoje é minoria na sua cidade.
Basta parar em uma esquina e olhar para os lados que dá para perceber isso.
Não se trata de preconceito, é tão somente uma constatação.
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