por Gonça
Muito estranha essa campanha de jornais e revistas contra a "presença estrangeira" na mídia brasileira, na internet especialmente. Ué, a globalização não veio para acabar com essas patriotadas? Ou os patrões da mídia viraram bolivarianos? Para usar uma palavra que o Dunga pôs na moda: cadê a coerência? Ou será que estão defendendo a reserva de mercado que tanto criticam? Aliás, com uma aliado igualmente esquisito, o PCdoB. Parece piada, já leram sobre isso? Chega a ser engraçado ver representantes de grupos que têm forte participação de capitais internacionais defendendo a "pátria" quando, entre eles, figura até quem até já cedeu o controle, décadas atrás, a um grupo americano. Empresas estrangeiras comandam hoje, no Brasil, muitos setores, incluindo áreas de serviço público como telefonia, transporte, distribuição de gás, energia elétrica, mineração etc, política defendida com entusiasmo pela mídia comercial. Pimenta no dos outros é refresco, então? Recentemente, caiu o monopólio da União em resseguros. A estatal Instituto de Resseguros do Brasil está aí na briga pelo mercado ao lado de multinacionais. Qual o problema em ter empresas estrangeiras investindo em jornalismo na internet? E até em mídia impressa, já que anunciam uma investigação sobre a compra do jornal O Dia por uma empresa que supostamente estaria sob controle de grupos portugueses. Queriam o quê? Que o Dia fechasse ou que fosse parar na Igreja Universal? Não demora muito, vamos ver donos de jornais e revistas fazendo passeatas e acampando em prédios públicos para defender a reserva de mercado. Duas últimas perguntinhas: a publicidade é uma área igualmente importante, também forma opinião, também tem influência cultural no país, é é amplamente controlada por grupos estrangeiros. Não tem problema, não é inconstitucional? E a liberdade de imprensa? Quanto mais diversificada, melhor, não? Definitivamente, é bom para o jornalismo que apareçam no mercado outras forças além das capitanias de imprensa que estão aí. Outra coisa: jornalismo não é "área de segurança nacional", aquele conceito sombrio que justificou tudo e mais um pouco nos tempos da ditadura.
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