quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lula fora da História

Por Leandro Fortes

Em linhas gerais, Luís Fernando Veríssimo disse, em artigo recente, que as gerações futuras de historiadores terão enorme dificuldade para compreender a razão de, no presente que se apresenta, um presidente da República tão popular como Luiz Inácio Lula da Silva ser alvo de uma campanha permanente de oposição e desconstrução por parte da mídia brasileira. Em suma, Veríssimo colocou em perspectiva histórica uma questão que, distante no tempo, contará com a vantagem de poder ser discutida a frio, mas nem por isso deixará de ser, talvez, o ponto de análise mais intrigante da vida política do Brasil da primeira década do século XXI.

A reação da velha mídia nativa ao acordo nuclear do Irã, costurado pelas diplomacias brasileira e turca chega a ser cômica, mas revela, antes de tudo, o despreparo da classe dirigente brasileira em interpretar o força histórica do momento e suas conseqüências para a consolidação daquilo que se anuncia, finalmente, como civilização brasileira. O claro ressentimento da velha guarda midiática com o sucesso de Lula e do ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, deixou de ser um fenômeno de ocasião, até então norteado por opções ideológicas, para descambar na inveja pura, quando não naquilo que sempre foi: um ódio de classe cada vez menos disfarçado, fruto de uma incompreensão histórica que só pode ser justificada pelo distanciamento dos donos da mídia em relação ao mundo real, e da disponibilidade quase infinita de seus jornalistas para fazer, literalmente, qualquer trabalho que lhe mandarem os chefes e patrões, na vã esperança de um dia ser igual a eles.

Assim, enquanto a imprensa mundial se dedica a decodificar as engrenagens e circunstâncias que fizeram de Lula o mais importante líder mundial desse final de década, a imprensa brasileira se debate em como destituí-lo de toda glória, de reduzí-lo a um analfabeto funcional premiado pela sorte, a um manipulador de massas movido por programas de bolsas e incentivos, a um demagogo de fala mansa que esconde pretensões autoritárias disfarçadas, aqui e ali, de boas intenções populares. Tenta, portanto, converter a verdade atual em mentiras de registro, a apagar a memória nacional sobre o presidente, como se fosse possível enganar o futuro com notícias de jornal.

Destituídos de poder e credibilidade, os barões dessa mídia decadente e anciã se lançaram nessa missão suicida quando poderiam, simplesmente, ter se dedicado a fazer bom jornalismo, crítico e construtivo. Têm dinheiro e pessoal qualificado para tal. Ao invés disso, dedicaram-se a escrever para si mesmos, a se retroalimentar de preconceitos e maledicências, a pintarem o mundo a partir da imagem projetada pela classe média brasileira, uma gente quase que integralmente iletrada e apavorada, um exército de reginas duartes prestes a ter um ataque de nervos toda vez que um negro é admitido na universidade por meio de uma cota racial.

Ainda assim, paradoxalmente, uma massa beneficiada pelo crescimento econômico, mas escrava da própria indigência intelectual.


Gostei muito deste texto e compartilho da opinião do autor. Visto originalmente no blog Brasília, eu vi

3 comentários:

debarros disse...

Como falar em oposição? Atualmente ela não existe. Vocês não sabem o que é oposição. Se tivesssem vivido na década de 50 saberiam o que é oposição a um governo. Vocês não conheceram e talvez nunca tiveram a curiosidade de ler os discursos do jornalista Carlos Lacerda em oposição ao governo Vargas! Oposição? Que oposiçào?

Wilson disse...

Como não tem oposição? Cite um outro presidente vítime de uma campanha infernal e histérica da mídia impressa, rádio e TV? O que se vê diariamente é um massacre. É a imprena dos oligopólios na contramão dos interesses da sociedade. Defendem a manutenção de privilégios, a distribuição de renda mais cruel do mundo, o preconceito racial. É por isso que Lula incomoda e leva seus opositores à histeria. Aliás, essa é uma característica da oposição, a histeria enlouquecida sem olhos para ver a realidade. Vade retro.

Anônimo disse...

A midia acha que está no tempo do Imperio e pode impor ao Brasil seus interesses particulares. Jornal e revista hoje pertencem a grupos econômicos com interesees em várias áreas. Vc acredita em imprensa livre? Ok, Papai Noel existe, mula-sem-cabeça, você vê duendes também, tem uma fada na sua cama, o negrinho do pastoreio é seu entregador de jornal e o inriCristo mora em Brasília, é filho de Deus e está toda hora no programa da Luciana Gimenez.