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Jornalismo, mídia social, TV, atualidades, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVII. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
sábado, 29 de outubro de 2022
sexta-feira, 28 de outubro de 2022
Mídia: debates precisam de uma bancada de checagem imediata para evitar que transmitam fake news para milhões de eleitores
por José Esmeraldo Gonçalves
Hoje, às 21h30, a TV Globo transmite o último debate dentre Lula e Bolsonaro.
Há uma coisa que as eleições desse ano comprovaram: o formato dos debates tornou-se obsoleto.
Não há dúvida de que, hoje, como em todos os outros encontros do tipo, a Rede Globo se transformará na maior platafoma de fake new do mundo. A campanha de Jair Bolsonaro se baseia no máximo de fake news; no uso da máquina (orçamento secreto, auxílios e privilégios para certas categorias de apoiadores; na intimidação dos eleitores por parte de empresários e pastores bolsonarista; na compra de votos, e na violência exposta em agressões, invasões de igrafas católicas.
A própria Globo aparentemente detectou o sequestro do formato por Bolsonaro para a difusão de mentiras. Esse é o método que os bolsonaristas declaradamente importaram da campanha de Donald Trump. Além disso, atualmente existem o debate propriamente dito e a sua intensa repercussão na internet. E, nesta, as fake news geradas na TV ganham ainda mais asas.
A Globo mudou as regras do show em relação ao que foi estipulado no primeiro turno.
Os cinco blocos alternarão temas livres e temas definidos pela produção. O último bloco está reservado para as considerações finais dos candidatos. Nos blocos 1 e 3, cada candidato terá 15 minutos e deverá administrar esse tempo entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. Ns blocos 2 e 4 terão, cada um, dois subblocos de 10 minutos e os candidatos escolherão entre seis temas propostos pela produção. Ainda nesses dois blocos, cada candidato terá cinco minutos para debater e deverá administrar seu tempo entre perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. Cada tema só poderá ser escolhido uma única vez, sem repetição.
Pode melhorar, embora pareça confuso para os candidatos. A ver.
De qualquer forma, as mudanças não parecem afetar a estratégia que Bolsonaro copia de Trump.
O que deveria ser estudado é adicionar uma equipe de especialistas em banco de dados para identificar em questão de minutos e divulgar no mesmo debate as mentiras e erros flagrados. Isso evitaria que o programa endosse e se torne cúmplice da divulgação de fake news.
Corrigir muito depois equivale a aceitar a estratégia da mentira já que os eventuais desmentidos nunca alcançarão o mesmo público nem a mesma audiência.
Alertar para fake news, no ato, é tecnicamente possível. A tecnologia 5G está aí pra dar super velocidade à internet.
Fernando Henrique e Sarney na frenta ampla democática do Lula
quinta-feira, 27 de outubro de 2022
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
Serial killer social
Não apenas Paulo Guedes, mas o Secretário Especial do Tesouro, Esteves Colnago deu declarações claras sobre confiscar o reajuste do salário mínimo e das aposentadorias caso Bolsonaro seja reeleito. O décimo-terceiro salário poderá ser o alvo seguinte. É fato que o governo já tentou acabar com o BPC (Benefício de Prestação Continuada), um tipo de auxílio a pessoas com deficiência e idosos acima de 65 anos em estado de pobreza. O que mais o governo serial killer do social vai tirar da cartola do neoliberalismo selvagem? Impedir dedução do imposto de renda para saúde e educação, acabar com a licença-maternidade, suprimir o adicional para trabalhadores em ambiente insalubre, desmontar o SUS, implantar a previdência privada obrigatória, acabar de vez com programas de casa própria? Fora da economia, anistiar Roberto Jefferson e todo e qualquer bolsonarista processado, passar escolas públicas federais para administração de igrejas, rever leis contra racismo, assédio sexual e enterrar a Lei Maria da Penha, liberar porte de armas para menores de 16 anos, dispensar prova de origem de dinheiro vivo para compra de imóveis, permitir que as milícias se transformem em entidades beneficentes, liberar as igrejas evangélicas de pagamento de água, luz, telefone, roupa lavada, aluguel, combustível do jatinho, liberar cantor sertanejo de pagamento de impostos, anistiar Neymar e o Véio da Havan de todas as dívidas, dar de presente ao Flamengo o novo estádio, dobrar o orçamento secreto, tirar rachadinhas atividade legítima, tornar próteses penianas, consolos e similares direito trabalhista de militares reformados e legalizar funcionário fantasma.
De Leneide Duarte-Plon, de Paris, para o portal Fórum 21 - Diante do fascismo, a democracia brasileira é um hímen complacente
A frágil democracia brasileira vem funcionando ultimamente como um hímen complacente, expressão que meu amigo Otto Lara Resende usava para significar excesso de condescendência em certas situações.
Vemos tudo ser aceito e digerido por uma sociedade resignada, os limites ao exercício do poder são constantemente ultrapassados – quando quem governa é a direita – sem que haja quase nenhuma resistência por parte da sociedade ou da Justiça, cuja função numa democracia é garantir o bom funcionamento das instituições democráticas.
Penso na complacência da sociedade diante do sigilo de 100 anos, do orçamento secreto, dos constantes cortes de verbas da saúde e da educação, do escândalo da tentativa de compra de vacinas superfaturadas, do viagra e das próteses penianas para os velhos militares… além de toda a série de horrores que a imprensa e as instituições foram normalizando nos últimos quatro anos.
O Brasil avança para um pós-fascismo, misto de fundamentalismo neopentecostal e do projeto de poder totalitário e antidemocrático do bolsonarismo.
Se os brasileiros não disserem claramente, dia 30 de outubro, que desejam outro modelo de país, o Brasil pode tornar-se uma teocracia fundamentalista que vem se construindo no ódio ao pensamento racional, à cultura, ao debate de ideias, às artes em geral. Com a caução dos militares que já dirigem o país desde 2018.
O Brasil não vive o fascismo mussoliniano que a Itália conheceu de 1922 a 1943. Mussolini, o Duce, instalou um governo ditatorial em 1922 até ser demitido do cargo de primeiro-ministro pelo rei Vítor Emanuel II, em 25 de julho de 1943. O ditador foi preso, para ser libertado pelos alemães e « reinar » sobre uma « República Social Italiana » fantoche, em Salo, norte da Itália, ocupado pela Alemanha até 1945. Benito Mussolini foi morto por guerrilheiros resistentes.
O fascismo mussoliniano não é um modelo copiado ao pé da letra no Brasil, mas vai sendo reinventado e adaptado ao século XXI ao Sul do Equador. Na conferência de Umberto Eco, “Reconnaître le fascisme” (Grasset, 2017) o grande semiólogo, filósofo e linguista escreve: “Pode-se jogar o fascismo de mil formas, sem que jamais o nome do jogo seja outro”. Em todas as formas de fascismo, diz Eco, a cultura é suspeita porque é identificada ao pensamento crítico.
“No fascismo italiano o poder legislativo tornou-se uma ficção, o executivo controlava diretamente o poder judiciário e a mídia, promulgando diretamente novas leis (entre as quais as que faziam a defesa da raça com o apoio formal do Holocausto) “, escreve Umberto Eco.
O domínio do Executivo sobre os outros poderes vem sendo tentado no Brasil desde 2018 e poderia se exacerbar num novo mandato.
Bandeiras
Quando, em 2008, cheguei à casa do general Paul Aussaresses, na Alsácia, para entrevistá-lo para a Folha de S.Paulo – entrevista que se desdobrou em diversos encontros que viraram um livro (A tortura como arma de guerra - da Argélia ao Brasil) – vi em destaque na sua sala uma enorme bandeira francesa pregada na parede.
Paul Aussaresses era coronel durante a guerra da Argélia e foi o temido chefe dos esquadrões da morte. Os militares franceses matavam e faziam desaparecer os corpos de resistentes e independentistas argelinos. Foram milhares de desaparecidos naquela guerra, na qual os franceses aperfeiçoaram diversas formas de enfrentar a Frente de Libertação Nacional, entre as quais o controle das populações civis e os interrogatórios sob tortura. A “escola francesa” foi, como mostro no livro, um modelo para a ditadura brasileira.
Aussaresses nunca deixou de ser anticomunista, racista e adorador de sua bandeira, ranço de todo fascista. Os neofascistas do partido Front National – que completou este mês cinquenta anos e foi fundado por Jean-Marie Le Pen, ex-torturador da Guerra da Argélia –– desfilam com bandeiras e as exibem em todos os comícios. O símbolo do partido na época da fundação era uma chama (inspirada na chama do partido fascista italiano) com as cores da bandeira francesa: azul, branco e vermelho. Aos poucos, o Rassemblement National, novo nome do partido de Le Pen, foi abandonando imagens associadas ao fascismo para tornar Marine Le Pen mais palatável ao eleitorado.
Em aliança com a Liga e com o Forza Italia, partidos de Matteo Salvini e de Berlusconi, o partido pós-fascista Fratelli d’Italia, obteve maioria nas eleições italianas de 25 de setembro levando Georgia Meloni ao poder. Esta denominação de pós-fascista é a que está sendo mais usada pelos jornais franceses e italianos para designar os novos seguidores de Mussolini, que Meloni elogiou alguns anos atrás. Os vídeos estão aí para mostrar sua admiração pelo Duce.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO PORTAL FÓRUM 21 AQUI
A "Gestapo" caipira
A gangue bolsonarista de Mafra e Rio Negro, cidades situadas na fronteira de Santa Catarina e Paraná, divulgou na região lista de boicote a estabelecimentos e prestadores de servico que os elementos definem como "de esquerda". Em mensagens na rede, eles avisam que pessoas "de direita" não devem comprar ou frequentar tais estabelecimrento. Ao mesmo tempo circulam ameças na região.
Depois do ataque armado do terrorista Roberto Jefferson, democratas devem ter cuidado.
A tara "sugerida"
Inacreditável. Boolsonaro, em defesa do amigo assediador de funcioárias da Caixa, declarou, textualmente, em um podcast:
"Não vi nenhum depoimento mais contundente de qualquer mulher. Vi depoimentos de mulheres que sugeriram que isso pode ter acontecido".
As vítimas da safadeza do amigo de Bolsonaro, o ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, divulgaram nota revoltadas com a fala cínica do presidente.
"As vítimas de assédio dizem "ser motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para 'massagens', 'banhos de piscina' ou idas a 'saunas' sejam naturalizados e tidos como 'não contundentes' pelo Chefe do Poder Executivo".
Depois de ser flagrado em assédio moral - o já famoso caso "píntou um clima" - diante de adolescentes venezuelanas, Bolsonaro normaliza o assédio sexual. É um padrão ou não é?
Bolsonaro bomba nas memes: amigo de terrorista, do padre 171, mentiroso e covarde
terça-feira, 25 de outubro de 2022
Da Folha, hoje: mais uma medida secreta é vazada
Brasileiros democratas estão tornando públicas medidas que o governo Bolsonaro quer lançar após fechadas as urnas confiando na reeleição. Ao confisco da correção do salário mínimo se junta essa que Folha pública hoje. Lembrando que a tabela do IR não é corrigida desde 2015, quando já se articulava o golpe contra Dilma Rousseff. Essa é mais uma apropriação de dinheiro do contribuinte para desvios do orçamento secreto, superfaturamento de compras e obras.
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
Fake News em eleição - Em 1989, a mídia relacionou o sequestro de Abílio Diniz ao PT. E só desmentiu após as eleições. O Globo, Jornal do Brasil e Folha de São Paulo mentiram para favorecer Collor de Mello
São Paulo – A cobertura da mídia sobre o sequestro do empresário Abílio Diniz, executivo do grupo Pão de Açúcar, em 1989, foi decisiva para o resultado do segundo turno das eleições, em que concorriam Fernando Collor de Mello (PRN) e Luís Inácio Lula da Silva (PT). A conclusão é da professora de comunicação Diana Paula de Souza que realizou a pesquisa “Jornalismo e narrativa: uma análise discursiva da construção de personagens jornalísticos no sequestro de Abíolio Diniz e suas repercussões políticas”.
Jornais da época suscitavam envolvimento do PT na ação, usando fontes da polícia. Após a vitória de Collor, as acusações foram desmentidas. O estudo analisou os jornais O Globo, Jornal do Brasil (JB) e Folha de S. Paulo, de 17 a 20 de dezembro de 1989.
O sequestro de Diniz aconteceu em 11 de dezembro de 1989, por integrantes do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), mas só foi revelado após a libertação do executivo, no dia 16 de dezembro, véspera do segundo turno da primeira eleição direta no Brasil, pós-ditadura.
Segundo a pesquisadora, no dia 17 de dezembro começaram os “relatos jornalísticos sobre material de propaganda política do PT que teria sido encontrado junto com os sequestradores”. E logo no início das investigações “percebe-se um esforço dos veículos para estabelecer uma conexão entre o sequestro e o então candidato à Presidência da República, Luís Inácio Lula da Silva”, como no trecho de O Globo do dia 18 de dezembro. “Tuma assegurou que os terroristas integram duas organizações de extrema esquerda no Chile – Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) e Organização de Resistência Armada (Ora) e que em poder dos que foram presos foi apreendido material de propaganda política do PT”.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA NA REDE BRASIL ATUAL AQUI
domingo, 23 de outubro de 2022
Terrorismo à beira da urna
Reprodução Twitter |
Roberto Jefferson, hoje uma espécie de jagunço do Bolsonaro, ofendeu uma ministra do Supremo e, depois, resistiu à bala e granada à revogação da sua prisão domiciliar. Feriu uma agente e um delegado da Polícia Federal. A mídia analisa como um fato político. Não é. É terrorismo. E com um adereço: tem cara de armação eleitoral que saiu ou não do controle.
sábado, 22 de outubro de 2022
Idoso, eu? Enfie a bengala naquele lugar! - Rio de Janeiro poderá substituir logotipo que deprecia idosos
O novo logo para identificar idosos. |
O símbolo do velhinho prejudicado, de bengala e com dor nas costas, é depreciativo. |
por Ed Sá
A imagem que representa idosos portando uma bengala e com a mão nas costas cuidando da dor da coluna deverá ser trocada nos serviços públicos do Rio de Janeiro. Há muito o logotipo é tido como preconceituoso e ofensivo tanto para os portadores de deficiência quanto aos velhinhos que ainda batem um bolão.
A Câmara de Vereadores aprovou em primeira votação projeto do vereador Alexandre Isquierdo (DEM) que propõe nova figura para identificar espaços reservados para a turma de mais de 60 anos. O novo desenho elimina a bengala e mostra um idoso mais em forma. O projeto se justifica pois os brasileiros estão vivendo mais e não necessariamente a bengala é item tão generalizado quanto o design imaginou.
Se a medida for aprovada em segunda votação e sancionada pelo prefeito, o Rio de Janeiro poderá ser pioneiro na correção do símbolo do idoso. Muitos países usam o logo do velhinho de bengala e cheio de dor.
Cartaz da ONU
E, quem sabe, o Rio agradeceria também se outros logos fossem adicionados ao visual da cidade. Por exemplo, locais perigosos deveriam ter logotipos mostrando assaltantes armados; certos prédios publicos e empresas desonestas receberiam símbolos alertando sobre corrupção, a Avenida Atlântica sinalizaria graficamente a presença de ladrões de celulares e a comunicação visual do metrô e dos trens avisaria às mulheres sobre a presença de tarados.
sexta-feira, 21 de outubro de 2022
Fotografia - The Guardian seleciona foto de apoiadores de Lula para a galeria Friday's Best Photos
Foto de Carl Souza/AFP/Getty Images (link para The Guardian) |
Em ato de campanha, Lula arrastou uma multidão na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O fotógrafo Carl de Souza/AFP/Getty Images captou a cena vibrante, acima, que The Guardian selecionou para sua tradicional galeria de melhores e publica hoje na seção Friday’s Best Photos. Neste link que remete ao jornal você poderá ver mais fotos do dia. AQUI
Confisco de parte do salário mínimo e das aposentadorias: a bomba social de napalm planejada por Paulo Guedes e Bolsonaro
Reprodução Folha de São Paulo de 10/10/2022 |
Confiante de que está reeleito, o governo Bolsonaro prepara uma bomba social. Paulo Guedes tem na gavete, pronto para assinar, um plano para desatrelar o reajuste do salário-mínimo da inflação passada, e exrtingiur sua vinculação às aposentadorias. Na prática, o pacote significa um enorme confisco de parte do salário mínimo e das aposenrtadorias.
É decisão fácil e leviana para a gangue que dirige o país e dramática para milhões de brtasileiros. Se reeleito, o governo federal terá que repor bilhões para fechar o rombo causado pela distribuição de verbas do "Bolsolão", também conhecido como "orçamento secreto" e que irrigou a corrupção em ano eleitoral.
Para Bolsonaro e Guedes, que jamais vão retirar dinheiro da Defesa, dos subsídios bilionários ao agronegócio, da renúncia fiscal em cascata para beneficair setores aliados, nunca vão cobrar a sonegação de pastores e dos empresários amigos, o alvo agora é o trabalhador e o aposentado. Praticamente, não há mais como tirar verbas da Educação e da Saúde já espoliadas. Então, será mais fácil pegar a caneta e jogar um bomba social de napalm na população mais necessitada.
Frase do Dia - A premonição de Dona Lindu sobre a onda de fake news disparada por Bolsonaro
“A mentira voa, a verdade engatinha...”
DONA LINDU, MÃE DE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Raí - "Voto em Lula por ser antifascista e antirracista"
Durante a cerimônia da 66ª Bola de Ouro, em Paris, o ex-jogador Raí entregou o Prêmio Sócrates - que a revista France Fooball criou para homenagear craques que se dedicam a causas sociais - ao jogador Mané, do Bayern de Munique. No palco, Raí fez o "L" e declarou que vota em Lula por ser antifascista e antirracista. O brasileiro comprou parte das ações do Paris FC, clube que atualmente está na segunda divisão do futebol francês,
O jornal Le Parisien abriu assim a reportagem sobre o gesto de Raí:
"Tempo de um discurso e de um gesto, Paris encontrava-se no centro da tensa campanha presidencial brasileira. Ao mesmo tempo em que foi convidado, durante a cerimônia da 66ª Bola de Ouro, a entregar um prêmio para jogadores envolvidos em projetos sociais e beneficentes, Raí, lenda do futebol e do Paris-Saint-Germain (PSG), deu um passo para o lado e fez um discurso muito notado. Especialmente em seu país.
"O Brasil tem uma decisão importante a tomar no final do mês em relação ao futuro da democracia em nosso país e todos sabemos de que lado Sócrates estaria", disse ele, fazendo o "L" de Lula (ex-presidente e candidato de esquerda) com os dedos. A mensagem do atual membro do Paris FC (Ligue 2) foi imediatamente divulgada por diversos meios de comunicação no Brasil. E ainda recebida pelo principal destinatário, Lula, que se manifestou imediatamente no twitter. “Obrigado Raí, eu estava assistindo” (a cerimônia)".
quarta-feira, 19 de outubro de 2022
USP demonstra que Bolsonaro implodiu o salário mínimo
A política de destruição do salário mínimo adotada após o golpe contra Dilma Rousseff e agravada pelo governo Bolsonaro foi imposta para favorecer as empresas e sufocar o trabalhador e os aposentados. Ao reduzir o salário mínimo Bolsonaro, na prática, injetou dinheiro no caixa privado.. Com o consequente aumento da pobreza, usou dinheiro público em "auxílios" para fins eleitorais. O gráfico da USP prova o tamanho do estrago. Isso explica porque Bolsonaro tem o apoio das elites, do mercado, das empresas e porque a política e econômica de Paulo Guedes é sustentada pelas oligarquias da mídia e pelos seus jornalistas de mercado. Caso as legendas do gráfico não estejam legíveis , observe as cores: rosa indica a infame degradação do salário mínimo nos governos Collor e Bolsonaro; verde aponta o aumento nos governos FHC, Lula e Dilma e a queda expressiva com Temer. Entendemos, não é?
terça-feira, 18 de outubro de 2022
FRASE DA HORA
"O Brasil vai pífio de PIB, mas está bombando em OIB [Ódio Interno Bruto]: 100%.”
Barão de Itararé e Stanislaw Ponte Preta, em colaboração, ambos quicando no túmulo.
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
Mídia - O colapso do modelo transforma debates presidenciais em plataformas de fake news
Pode fechar a conta e passar a régua: o formato dos debates presidenciais está ultrapassado, morto e cremado.
Em 2020, segundo o Reuters Digital News Report, as redes sociais m a superaram a TV, pela primeira vez, como fonte de informação para 67% dos brasileiros, enquanto 66% tinham a TV como fonte principal. O poder da TV não sumiu, claro, continua alcançando grndes audiências, assim como o rádio. Apenas perdeu a hegemonia, para o bem e para o mal.
No caso das campanhas presidenciais, os debates se tornaram uma espécie de rascunhos das redes sociais. Praticamente repercutem as polêmicas compartilhadas por milhões a cada hora no Twitter, You Tube, Instagram, Telegram, Whatsapp, Facebook, sites, blogs, portais e podcasts. Se o conteúdo dos debates passa a imitar as tempestades da web, a TV sai perdendo e, principalmente, abre mão da chance de informar aos eleitores sobre ideias e planos dos candidatos.
Em qualquer boteco, ouvimos discussões semelhantes aquelas que os debates exibem. Faltam só o chope e as brigas, sendo que embates agressivos e ameaças de porradaria já ocorreram nos bastidores em recentes debates.
Sabe-se que estrategistas da extrema direitas ligados a Donald Trump recomendaram durante a sua campanha vitoriosa, em 2016, que mentiras e fake news fossem utulizadas à exaustão sob o argumento de que a mentira é um coelho, o desmentido é uma tartaruga. Por isso, espalhar fake news é um crime que compensa largamente.
E essa é a razão principal da inadequação dos atuais debates. Até aqui, todos os debates foram usados como plataformas de lançamentos de fake news. Os próximos também o serão. Dentro da sua estratégia, Bolsonaro mentiu em praticamente todas as intervenções. O candidato à reeleição nega o que diz em vídeos autênticos, muitos gravados por ele mesmo; diz que não assinou documentos oficiais que estampam sua assinatura; jura que o chamado orçamento secreto não foi sua invenção, quando o projeto saiu do seu gabinete e atravessou a praça rumo à Câmara dos Deputados; nega os múltiplos casos de corrupção emseu governo; garante que não imitou, como se fosse um sádico, a morte de paciente sufocados por falta de oxigênio; e quer que o Brasil admita que ele não boicotou vacinas e não atrasou compras de imunizantes. Esses são apenas alguns exemplos do modo Bolsonaro de debater segundo a cartilha de Steve Bannon, o Joseph Goebbels de Trump. Sim, Bannon e Bolsonaro não estão inovando: a große Lüge, grande mentira, expressão criada pelo próprio Hitler, foi o pilar-mestre da propaganda do nazismo.
Os debates, no atual e exaurido modelo, não têm armas contra a mentira.
Ou melhor, a arma existe, mas não é utilizada.
As agências de checagem surgiram no mundo e no Brasil para tirar o jornalismo do atoleiro das fake news. Em geral, fazem um bom trabalho, no Brasil inclusive. Por ignorar essa ferramente, os debates atuais viraram um poderoso instrumentos de propagação de fake news. Bolsonaro mente e sai impune. Mesmo candidatos que não adotam a "grande mentira" podem errar dados importantes que também não são corrigidos.
Para evitar isso, a estrutura dos debates deveria incluir uma bancada de checadores para ação imediata. Corrigir fake news 24 horas e se comportar como uma tartaruga muito mais lenta do que La Fontaine imaginou. E a 5G está aí mesmo para dar velocidade às buscas.
A Ciência de Dados avançou muito. Não se trata de uma prosaica busca no Google, envolve computação, inteligência artificial, matemática aplicada, busca de padrões, análise, habilidade para acessar todas as portas dos bancos de dados públicos e autononia de voo para visitar as mais complexas nuvens. O mediador poderia dar a palavra à bancada de checadores logo após a fala mentirosa do candidado. Possíveis diálogos como esses que se seguem seriam muito esclarecedores.
- Candidato, o senhor mentiu. Temos o decreto, temos o vídeo, aqui está sua live.
- Candidato, nesse dia citado o senhor estava em Brasília, não no Guarujá.
- Os extratos bancários reunidos pelo do MPF, veja no telão, mostram o oposto, candidato.
- Por favor, candidato, veja no telão, no vídeo periciado pela PF, o senhor aparece ao lado do acusado, ao contrário do que disse.
Os espectadores-eleitores agradeceriam se os debates e debatedores deixassem de tratá-los como otários.
domingo, 16 de outubro de 2022
Escândalo "Pintou um Clima" - A pornopolítica do tiozão
Reprodução You Tube |
Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog divulga vencedores (*)
CATEGORIA ARTE – VENCEDOR
Três mulheres da Craco
Autoria: Carol Ito
Veículo: Revista Piauí
Categoria Arte – Menção Honrosa
Pós-Estupro
Autoria: Brum
Veículo: Jornal Tribuna do Norte
CATEGORIA FOTOGRAFIA – VENCEDOR
A dor da fome
Autoria: Domingos Peixoto
Veículo: Extra
Categoria Fotografia – Menção Honrosa
A narrativa desumanizante em torno dos assassinatos policiais no Rio de Janeiro
Autoria: Fabio Teixeira
Veículo: plataforma9p9
CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM ÁUDIO – VENCEDOR
O que os olhos não veem
Autoria: Ciro Barros – Reportagem, Entrevistas e Locução; Ricardo Terto – Produção, Roteiro e Edição de Som; José Cícero da Silva – Reportagem, Entrevistas e Locução; Alexandre de Maio – Ilustrações; Natalia Viana – Supervisão e Coordenação Jornalística
Veículo: Agência Pública
Categoria Produção Jornalística em Áudio – Menção Honrosa
Não sou mais o Pedro
Autoria: Tomás Chiaverini
Veículo: Rádio Escafandro
CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM MULTIMÍDIA – VENCEDOR
Mortes invisíveis
Autoria: Amanda Rossi – Repórter; Saulo Pereira Guimarães – Repórter; José Dacau – Repórter; Flávio VM Costa – Editor e coordenador do núcleo investigativo; Lúcia Valentim Rodrigues – Editor; Yasmin Ayumi – Arte; Gisele Pungan – Editor de arte; René Cardillo – Editor de arte; Douglas Lambert – Filmagens; Olívia Fraga – Edição
Veículo: UOL
Categoria Produção Jornalística em Multimídia – Menção Honrosa
A rota do tráfico humano na fronteira da Amazônia
Autoria: Mirelle Pinheiro
Veículo: Metrópoles
CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM TEXTO – VENCEDOR
Cercados e vigiados – PF legaliza seguranças que aterrorizam moradores de antiga usina de açúcar em Pernambuco
Autoria: Alice de Souza
Veículo: The Intercept Brasil
Categoria Produção Jornalística em Texto – Menção Honrosa
Mineração arada: quilombolas barram avanço de empresa inglesa na Chapada Diamantina
Autoria: Daniel Camargos – Repórter; Fernando Martinho – Repórter fotográfico
Veículo: Repórter Brasil
CATEGORIA PRODUÇÃO JORNALÍSTICA EM VÍDEO – VENCEDOR
Crianças yanomami sofrem com desnutrição e falta de atendimento médico
Autoria: Alexandre Hisayasu, Valéria Oliveira dos Santos – Produção e reportagem; Henrique Souza Filho – Técnico; Alexandro de Oliveira Pereira – Cinegrafista; Luciane Marques de Oliveira – Produção; Wagner Luis Suzuki – Editor; Gustavo Pereira Pacheco – Editor de imagem; Everton Altafim – Editor de imagem; Anderson da Silva – Editor de arte; Luciano Abreu – Produção
Veículo: Rede Globo
Categoria Produção Jornalística em Vídeo – Menção Honrosa
Não merecia ser humilhado; PM arrasta suspeito em moto e recria cena da escravidão em São Paulo
Autoria: Guilherme Belarmino – Repórter; Marconi Matos – Repórter cinematográfico; Eduardo de Paula – Repórter cinematográfico; Marcos Barcarollo – Técnico de Captação de Som; Raphael Moura – Técnico de Captação de som; Marco Aurélio Silva – Designer; Aline Lima – Designer; Esther Radaelli – Produtora; Renato Nogueira Neto – Editor; André Alaniz – Editor de imagem; Flávio Lordello – Editor de imagem
Veículo: Rede Globo / Fantástico
Categoria Produção Jornalística em Vídeo – Menção Honrosa
Identidade, o direito à vida transvesti
Autoria: Silvia Bessa – Direção, roteiro e coordenação executiva; Luiz Henrique Carneiro Siqueira – Codireção, direção de fotografia, videomaker e edição; Marcionila Teixeira de Siqueira – Entrevistas, produção de entrevistas e pesquisa; Diego Vieira Nigro de Almeida – Videomaker de imagens aéreas
Veículo: TV ESA PE e TV Universitária PE
CATEGORIA LIVRO-REPORTAGEM – VENCEDOR
Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo
Autora: Eliane Brum
Editora: Companhia das Letras
Categoria Livro-Reportagem – Menção Honrosa
Dano colateral: A intervenção dos militares na segurança pública
Autora: Natalia Viana
Editora: Objetiva
Categoria Livro-Reportagem – Menção Honrosa
Meninos malabares: retratos do trabalho infantil no Brasil
Autores: Bruna Ribeiro e Tiago Queiroz Luciano
Editora: Panda Books
(*) O Prêmio Vladimir Herzog é promovido e organizado por uma comissão formada por: Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP), Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, Conectas Direitos Humanos, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional), Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo (OAB-SP), Periferia em Movimento e Instituto Vladimir Herzog (IVH).
Os parceiros da 44ª edição são: Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), TV PUC , Canal Universitário de São Paulo (CNU), União Brasileira de Escritores (UBE) e OBORÉ.
Fonte: Instituto Vladimir Herzog
sábado, 15 de outubro de 2022
O Último Tango em Paris faz 50 anos • Por Roberto Muggiati
“Quo vadis, baby?” – pergunta Paul a Jeanne.
Paul (Marlon Brando) e Jeanne (Maria Schneider) na cena do tango, Por não saber dançar, o casal recebe olhares de reprovação dos demais dançarinos.Reprodução vídeo |
O cartaz do filme lançado em 1972 |
Lançado no Festival de Nova York em 14 de outubro de 1972, O último tango em Paris foi uma bofetada na cara daquela sociedade pragmática que ainda tentava se recuperar da ressaca comportamental dos anos 60. A crítica de Vincent Canby no New York Times reflete admiravelmente a repercussão do filme:
“Os sentimentos de amor, angústia e desespero que eclodem por toda parte no novo filme de Bernardo Bertolucci são tão intensos, tão avassaladores, que assistir ao filme chega em momentos a ser um constrangimento, uma invasão da confiante privacidade da classe média. O último tango em Paris trata do amor romântico, mas expressa às vezes os gestos ousados e às vezes tolos de paixão sexual intensa à D.H. Lawrence que vai até seus limites e então entra em colapso, de exaustão física e emocional. O filme é triste, mas é também imensamente engraçado, sem a intenção de o ser. É tudo menos pornográfico, mas a candura de suas cenas de amor é tamanha que uma quantidade de cidadãos de moral ilibada não deixará de se sentir indignada – e se mostrará muito ruidosa na sua indignação.”
Direção: Bernardo Bertolucci instrui os atores Marlon Brando e Maria Schneider Foto MGM |
Bertolucci, 31 anos na época, explica como lhe veio a ideia da história: “Eu sempre sonhei encontrar uma mulher num apartamento vazio, um apartamento de ninguém, um lugar sem personalidade, e fazer amor com ela sem saber quem é. Queria repetir esse ato sexual à exaustão.”
Começa o filme: um quarentão e uma jovem de vinte anos se encontram casualmente num apartamento para alugar. Trocam cinco minutos de conversa banal, o homem ergue a mulher em seus braços como uma noiva, a encurrala contra a parede e inicia a penetração. Ela consente e após cinco minutos de sexo selvagem os dois rolam exaustos no chão. Ao deixarem o prédio, o homem arranca da parede o anúncio de “aluga-se apartamento.” E partem, cada um para o seu lado.
A jovem, Jeanne, vai a uma estação de trem encontrar o noivo, que a recebe com toda uma equipe de filmagem. Propôs à TV um documentário, “Retrato de uma jovem”, e a heroína é a própria noiva.
O homem volta para o hotel onde mora e encontra a empregada lavando a sangueira deixada pela mulher dele, que se suicidou com uma navalha na banheira. A empregada foi interrogada a fundo pelos policiais, que desconfiavam do marido. Sabem tudo sobre ele. “Não deu certo como pugilista. Virou então ator, tocador de bongô, revolucionário na América do Sul, jornalista no Japão, vagabundo no Taiti, onde aprendeu o francês, que o levou a Paris, onde conheceu uma dona de hotel e casou com ela.” O protagonista, Paul, personalidade complexa, é delineado nestas rápidas pinceladas. A empregada lhe entrega a navalha, que os tiras devolveram, encerrando a investigação com o laudo de suicídio. A navalha, na verdade, pertence a Marcel, o amante da mulher de Paul, que também mora no hotel.
Jeanne e Paul voltam a se encontrar no apartamento. Ela pergunta o nome dele e leva uma terrível bronca. “Nada de nomes! Você e eu vamos nos encontrar aqui sem saber nada do que acontece no mundo lá fora.” Ele estabelece as regras da relação, rígidas como as de uma convenção de condomínio. Inicialmente, a coisa funciona. Paul impõe à inexperiente Jeanne todo um repertório sexual que inclui sodomizá-la usando manteiga como lubrificante, receber dedadas no ânus – cuidando que a jovem apare com uma tesourinha de unhas os dedos médio e indicador da mão direita – e até uma cópula em que o casal não chegue a se tocar, ambos sentados nus frente a frente de pernas cruzadas, olhos nos olhos.
A certa altura. Paul e Jeanne simulam seus nomes através de grunhidos, num jogo erótico simiesco. A descontração os induz – rompendo as regras – a inconfidências: ela, filha de um coronel que serviu na Argélia, na liberdade de um casarão com vasto terreno (sua “selva”) no interior da França; ele, filho de um fazendeiro autoritário e de uma mãe alcoólatra na América profunda de Omaha, Nebraska.
Nos intervalos da maratona sexual no apartamento, Jeanne reassume a relação com o noivo e as filmagens do documentário; Paul tem um encontro com o amante da mulher, que trabalha em casa para uma agência de recortes de jornais; e um monólogo com a mulher morta – maquiada, vestida de branco e cercada por montanhas de flores, providenciadas pela mãe – uma atuação em que Brando reedita seu famoso discurso fúnebre em Júlio Cesar, vinte anos antes. Com seu suicídio sem explicação, Rosa agride todos ao seu redor: o marido, o amante, a mãe. Diz Paul/Brando aos prantos: “Ainda que vivesse a porra de duzentos anos, um marido nunca seria capaz de descobrir a natureza real de sua mulher. Eu seria capaz de compreender o universo, mas jamais descobriria a verdade sobre você. Nunca.”
Exorcizados os fantasmas do suicídio da mulher, Paul volta à vida. Troca o capote surrado em que se escondia até agora por um elegante blazer azul marinho, camisa social azul listrada, gravata vermelha e calças cinza. Revela seu nome e status social a Jeanne, a quem propõe um casamento “normal”. Na contramão, a filha do coronel, sufocada pelos desvarios do quarentão esquisito, optou pelo casamento “pop” com o cineasta da sua idade. O adeus acontece, solene como um rito, durante uma competição de dançarinos de tango na pista da vetusta Salle Wagram. E acaba em tragédia: Jeanne foge pelas ruas de Paris para o apartamento familiar, é perseguida por Paul e lhe desfere um tiro a queima roupa com o revólver do coronel no momento em que ele diz: “Quero saber o seu nome.” Espantado diante da morte que chega, Brando ainda acha tempo para um gesto banal: tira da boca a goma de mascar e a gruda na grade da sacada de onde avista Paris pela última vez.
O último tango é a soma feliz de fatores como a atuação de Marlon Brando, a direção de Bertolucci, a fotografia de Vittorio Storaro (inspirada pela pintura de Francis Bacon) e a trilha sonora do saxofonista argentino Gato Barbieri, que pontua cada cena do filme, sublinhando a tensão cênica.
Um dos "cacos" que Brando adicionou ao filme. Reprodução |
Uma palavra sobre Brando: quando filma Tango, ele arrebata plateias pelo mundo afora com sua interpretação de Don Corleone, em O poderoso chefão, que lhe daria o Oscar de melhor ator em 1973. Embora se entenda bem com Bertolucci, ele faz cortes e acréscimos ao roteiro escrito pelo cineasta e muitas das lembranças de Paul no filme correspondem a memórias de sua juventude em Omaha. Quando Jeanne ameaça sair do apartamento na chuva, ele pergunta: “Quo vadis, baby?” Muitas das citações que improvisa são calcadas na cultura da época, essa ao filme Quo Vadis?, sobre o martírio dos cristãos sob o imperador Nero. (Vendo Cristo adentrar as portas de Roma, Pedro, que fugia da cidade, pergunta “Para onde vais, Senhor?” Jesus responde: "Já que você está fugindo e abandonando o meu povo, eu volto a Roma para ser crucificado". Arrependido, Pedro retorna a Roma para continuar suas pregações e morrer em nome de Cristo.) Seria muito preciosismo interpretativo dizer que Jeanne se deixa martirizar na arena sexual do impiedoso Paul, mas existem mil nuances de significados nos “cacos” intelectuais de Brando ao longo do filme...
Na França, o filme estreou em 15 de dezembro em sete salas com filas de duas horas durante o primeiro mês. Lançado na Itália em 16 de dezembro, depois de faturar cem mil dólares na primeira semana, Tango foi apreendido e Bertolucci processado por obscenidade e “pansexualismo exacerbado e gratuito”. A ação rolou na justiça até janeiro de 1976, quando a Suprema Corte ordenou que as cópias fossem destruídas e Bertolucci fosse condenado a quatro meses de prisão (sentença suspensa), com seus direitos civis revogados por cinco anos, incluindo o direito de voto. (Receberam também sentenças suspensas de dois meses o co-roteirista Franco Arcalli, o produtor Alberto Grimaldi e o ator Marlon Brando.)
A proibição na Espanha de Franco até 1977, levou milhares de cinéfilos espanhóis a viajarem milhares de quilômetros a cidades francesas da fronteira, como Perpignan e Biarritz.
A censura britânica cortou grande parte da cena de sodomia e grupos de defesa da moralidade condenaram a exibição do filme no país. Tango foi banido no Chile durante os trinta anos da ditadura militar, na Argentina, Venezuela, Coreia do Sul, e Cingapura; em Portugal, até a Revolução dos Cravos, em 1974.
No Brasil, o filme só seria exibido em 1979, após a decretação da anistia política. O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, com seu proverbial mau humor, viu o filme na Europa e criticou, em meados dos anos 70, “sua temática infanto-juvenil, a exaustão do sexo como forma de diálogo.”
O tempo corrige julgamentos emocionais, principalmente em relação a obras de arte. Aqueles que reduziram O Último tango em Paris a seus aspectos meramente sexuais deixaram de perceber o real significado da love story de Bertolucci – “existencialista, com toda razão” – o trágico e complexo destino do homem na sua obstinada busca do amor
sexta-feira, 14 de outubro de 2022
Fotografia - Sebastião Salgado colocou à venda na Sotheby's sua primeira coleção de NFTs. São 5 mil imagens da Amazônia. A renda será destinada ao Instituto Terra
Reprodução Sotheby's |
por Ed Sá
Sebastião Salgado está no metaverso. O fotógrafo acaba de oferecer para venda no Sotheby"s sua primeira coleção de NFTs. As fotos são o resultado de mais de uma década de visitas à Amazônia. Segundo a casa de leilões são 5 mil imagens que constituem a mais ambiciosa coleção de NFTs de um fotógrafo vivo hoje. A arrecadação de royalties vai beneficiar o Instituto Terra, uma organização sem fins lucrativos cofundada em 1998 por Sebastião Salgado e Lélia Deluiz Wanick Salgado. O objetivo do Instituto Terra é garantir a sobrevivência das espécies nativas desse bioma e fortalecer a biodiversidade da região ameaçada de extinção.