sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A Melhor da Galáxia era uma fábrica de apelidos. . .

Por Roberto Muggiati
Fotos Acervo RM

A arte de brincar com as palavras sempre foi uma verdadeira obsessão nas redações de Bloch Editores, em particular na Manchete (que sobrevive, 65 anos depois de sua criação, nesse apetitoso blog Panis Cum Ovum). Não saciados em escrever suas matérias e jogar conversa fora nos corredores, redatores e repórteres se aplicavam em criar apelidos, numa atividade tão espontânea e natural como o próprio ato de respirar.

Primeiro, preciso explicar a origem do apelido “a melhor da galáxia” para designar a Manchete.
Adolpho Bloch não suportava o sucesso de Justino Martins, embora Justino, um dos maiores
“revisteiros” do Brasil, tivesse tirado a Manchete do limbo em que ela viveu em seus primeiros oito anos e a transformado na maior revista do país. No final da década de 1960, Adolpho tirou o “Índio” – como chamava o Justino – da direção da revista, mas a manobra não deu certo. Justino voltou à direção da Manchete em alto estilo no início dos 1970. Em 1975, Adolpho defenestrou Justino de novo e colocou este que vos escreve na direção da revista. Para botar panos quentes na história, prometeu ao Justino uma tarefa maior – a direção de uma revista de decoração e jardinagem – e ofereceu-lhe uma megafeijoada de despedida no restaurante do terceiro andar, um evento para quatrocentos talheres. Entre os convidados de honra estava JK – o ex-Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira – que ganhara de Adolpho um escritório nobre no prédio da Manchete e ocasionalmente assinava resenhas de livros na revista. JK tomou a palavra e decolou: “És um homem feliz, Bloch. Tens a melhor revista do Brasil. Indisputavelmente da América Latina; tens a melhor revista do mundo – quiçá da galáxia!” O regabofe foi na terça-feira, um dia menos tenso: a Manchete fechava na segunda-feira e ia às bancas na quarta. Nas manhãs de quarta aguardávamos ansiosamente os exemplares da revista que vinham da gráfica em Parada de Lucas. No dia seguinte à feijoada, Alberto de Carvalho, nosso assistente de redação – título que não queria dizer nada e dizia tudo – adentrou a sala com aquela ginga de carioca do Estácio e perguntou: “Já chegou a melhor da galáxia?” A partir daí a Manchete ganhou um de seus codinomes mais nobres, cunhado por um ex-Presidente da República.

Alberto chamava a todos afetuosamente de Professor de Astúcia. Os apelidos eram incontáveis. Entre os contínuos, conhecidos como “siris”, havia o Sammy Davis Jr. – era até caolho como seu sósia – e o Tim Lopes, com seus cabelões à moda do famoso cantor Tim Maia. O rapaz saiu da Manchete, estudou jornalismo e, como Tim Lopes, se tornou o mártir da reportagem que todos conhecem.

Ainda outro contínuo foi apelidado de Pablito Cubano pelo chefe de reportagem João Luiz de Albuquerque. O João desconfiou que conhecia a cara do rapaz de algum lugar, fuçou umas revistas antigas e descobriu que ele era o menino que viajou clandestino no trem de aterrissagem de um avião do Galeão para Havana, por admiração a Fidel Castro, que tinha acabado de fazer sua revolução em Cuba.

A fotografia também tinha seus apelidos. Frederico Mendes – nosso Woody Allen de plantão – passou a ser O Encucadinho. Dois “retratistas” reconhecidamente bem dotados se tornaram Tromba e Tripé (apelido que se referia também a uma das ferramentas de trabalho). Jovenzinho, Ayrton Camargo Jr foi seduzido pela Márcia Ramalho e passou a ser chamado de Ayrton Ramalho; o mais incrível na sua trajetória e que tempos depois ele se juntou com uma mineira de Rio Casca que faria sucesso em Los Angeles como Rainha do Anal no cinema pornô com o nome de guerra de Elle Rio. E o laboratorista Claybom? Detestava margarina, mas era de origem francesa e se chamava Clement... O primeiro fotógrafo a fazer um selfie voando de asa delta, nos anos 70, tinha um sobrenome complicado: Paulo Scheuenstuhl virou Paulo Chuchu – aliás, era alto, atlético e agradava às moças. Voltando ao Tripé: ele viveu um episódio que acabaria em apelido, também. Foi designado para fotografar o ator e diretor teatral Ziembinski. A empregada o encaminhou para a biblioteca, imensa, onde Ziembinski estava pendurado no alto de uma escada à beira de um ataque de nervos. Viu o Tripé chegar e desabafou: “Meu filho, quando procuro um livro e não consigo encontrar, isso me dá uma vontade louca de dar o rabo...” O Tripé encontrou uma desculpa qualquer e se mandou. E essa versão masculina de TPM foi batizada por um intelectual da Manchete de Síndrome do Ziembinski. Outra grande figura era o Sérgio de Souza, o Serjão, um dos melhores fotógrafos de futebol. Certa vez recebeu duas ordens de serviço para o mesmo horário, 14 horas; uma em Niterói, outra na Barra. Indignado, Serjão correu para o chefe de reportagem com as ordens na mão: “Cara, olha só aqui, eu não sou onipotente, não!”

Depois da Revolução dos Cravos em Portugal, Adolpho acolheu na empresa vários lusitanos desgarrados, entre eles um fotógrafo de origem aristocrática, Antônio D‘Atoughia, que ficaria conhecido como o Conde; e Lúcio Macedo, apelidado de Salazar por ter sido o fotógrafo oficial do ditador deposto. Um destes era um senhor gordote e pedante que cuidava da portaria e, por sua semelhança física com o ratinho famoso, ganhou o apelido de Topo Giggio. Tempos depois, a Bloch contratou um plano de saúde barato para os funcionários do baixo escalão, praticamente inaugurado com a morte do Topo Giggio.

Alguns redatores já vinham com apelido: desconheço a origem do Jacaré do Irineu Guimarães; já o Pato Rouco do Ivan Alves era mais fácil de detectar.

Eremita, Cony e Tia Zeffa. 

Quando Adolpho Bloch presidiu a Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro, promoveu a apresentação de uma série de óperas famosas, coroada pela Traviata dirigida por Franco Zeffirelli, que gostava de frequentar a redação. Já nos primeiros dias, ganhou a alcunha afetuosa de Tia Zeffa. Eu mesmo, como editor da revista e mergulhado em problemas de venda, gestão e jornalismo, passei a ser o Muggi das Crises (a cidade de Mogi das Cruzes, não lembro por que, estava em evidência na época). Nos tempos da longa barba, o Alberto me chamava também de Eremita. Já o Justino era o Lafra – de “lafranhudo”, xingamento do arco da velha com que foi brindado, sob golpes de guarda-chuva, pela crítica de ópera Maria Teresa Dal Moro, por não ter publicado um texto dela.

Alberto tinha uma sensibilidade especial para a música das palavras. Quando o Durval Ferreira, repórter de São Paulo, trouxe uma matéria sobre a Revolução Constitucionalista de 1932, pontificou o nome do coronel Palimércio de Rezende, um dos primeiros oficiais negros do exército brasileiro. Meu filho estava para nascer, ainda não tinha um nome escolhido, e o Alberto perguntou: “Quando é que chega o Palimércio?” A partir daí, todo bebê da redação passou a ser Palimércio ou Palimércia.

Outro apelido, altamente sofisticado, que saiu para fazer sucesso fora da Manchete, foi o do senador Marco Maciel: Mapa do Chile.

O Adolpho vivia às turras com um funcionário dos orçamentos gráficos chamado Possidônio. Da noite para o dia, ele virou Pseudônimo. Na época, as notas mais descontraídas e curtas da seção Leitura Dinâmica eram assinadas por pseudônimos, para evitar repetição de assinatura do mesmo redator. Lembro de alguns desses codinomes, que na verdade eram verdadeiros autoapelidos: Niko Bolontrim (Ney Bianchi), José Bálsamo (Cony), Jean-Paul Lagarride (Justino Martins), Acácio Varejão e, o mais curto de todos, Ed Sá (Ruy Castro). [O Ruy foi justamente interpelado por uma redatora nova, Marilda Varejão, sobre a escolha daquele codinome. “E existe algum Acácio Varejão?”, retrucou ele na defensiva. E Marilda, indignada: “Existe, sim! É o nome do meu pai.”] Um dia, um delator premiado (a Bloch foi pioneira também nessa instituição do momento) emprenhou o Adolpho pelo ouvido, alegando que pseudônimo não era jornalismo. O capo investiu então com toda fúria na redação: “Quero que parem imediatamente com esses possidônios!...”

Festa de meus 40 anos com Moët-Chandon: Layrton Cabral (Lalá), Antonio Rudge,
o Eremita, Justino, Wilson Cunha, ao fundo Murilinho. 

Adolpho dizia para o Alberto: “Você é inteligente, porra! Se tivesse diploma seria diretor da Manchete...” De meados dos anos 60 até o amargo fim da revista, em agosto de 2000, Alberto foi sempre a sombra (benfazeja) do diretor da Manchete, fosse quem fosse. (Eu fui o que mais tempo se sustentou no pau de sebo, para lá de vinte anos.). Ele sugeria títulos de matérias instantâneos e
vencedores. Para uma reportagem científica sobre bebês que eram botados para nadar assim que saíam do ventre materno: QUEM NÃO NADA, NÃO MAMA. No auge da fama do Rei da Canção e do Rei do Futebol, reunimos os dois numa capa. Desta vez, o título do Alberto não foi publicado, por ser politicamente incorretíssimo: O REI E O PERNA-DE-PAU.

No Santa Genoveva, com direito a escultura de Krajcberg, 1997.
A arte do Alberto não se restringia a apelidar só pessoas. Em 1996, fui destituído da direção da Manchete e ganhei um novo cargo com o nome pomposo de Editor de Projetos Jornalísticos. O afastamento também foi geográfico: me exilaram para uma sala imensa, um andar inteiro, a cobertura da terceira fatia do prédio do Russell, à qual se tinha acesso através de uma escada em caracol (que, felizmente, impedia a visita da chatos idosos ou lesados...). Mauro Costa, também destituído da chefia de reportagem da TV, foi ocupar um espaço daquele latifúndio. Pois o Alberto apelidou o local imediatamente de Santa Genoveva – alusão ao asilo de idosos que praticava maus tratos contra os pacientes, fato que chocou o Brasil e só foi descoberto por acaso no rastro de uma daquelas grandes enchentes cariocas.

eresópolis, 8-10-1977, sábado, aniversário do Adolpho: Machadinho,
Wilson Cunha, Heloneida Studart, o Eremita, Flávio de Aquino,
Ceres Feijó, Célio Lyra.

O próprio Adolpho Bloch dava a sua contribuição aos apelidos, às vezes de forma indireta ou
involuntária. Uma dia chegou da gráfica em Parada de Lucas e plantou um jovenzinho franzino na sala de redação: “Ele é um gênio. Vai trabalhar com vocês. Como escreve!” E, exagerando nos elogios: “É um verdadeiro Machado de Assis!” Antônio Roberto é conhecido até hoje como “Machadinho” e colegas da época ainda não esqueceram sua estreia literária. Fã ardoroso de Carlinhos de Oliveira, ele escreveu uma crônica sobre um operário que vinha todo dia cedo para trabalhar na cidade. Logo no início do texto, mencionou a “hedionda marmita”. Até hoje não perdoaram a Machadinho o hediondo adjetivo. Em pouco tempo, ele passou a competir com o maître Severino Ananias Dias fazendo discursos nas grandes ocasiões da casa – discursos que o Cony, com sua ironia de sempre, dizia que eram comissionados “em nome da redação da Manchete”. Foi num destes, um aniversário do Adolpho, que o Severino cunhou um adjetivo inolvidável, referindo-se à “figura inevolúvel de Adolpho Bloqui”. . .

Ruy Castro (Ed Sá) e Narceu de Almeida (Capelinha) em 19-12-72.
Pedro Bloch, que na verdade apelidou a própria revista – sugeriu a Adolpho que a chamasse de
Manchete, lembrava uma manchete de jornal e também imitava a sonoridade de Paris-Match, a maior revista da época. Teatrólogo e fonoaudiólogo, Pedro cuidou de um fotógrafo com problemas de fala que Adolpho mandou para se tratar com ele – e, de saída, o apelidou de João Farofa.

Quando o redator Narceu de Almeida resolveu largar tudo e partir para a vida alternativa na Região dos Lagos, sob a égide dos colegas Cabral e Maciel, ambos Luís Carlos, Jaquito sabia que não ia dar certo e comentava conosco: “O Narceu foi jogar pingue-pongue contra o vento...” Depois de um tempo, Narceu voltou e Jaquito o colocou em regime de free-lancer: o pagamento por matéria redigida, em vez do trabalho assalariado, tornava o redator mais produtivo e mais ágil. Orgulhoso da sua artimanha, Jaquito dizia: “Agora sim, o Narceu está correndo atrás!” E o apelidou de Capelinha, em alusão à marca dos taxímetros da época.

Havia uma recomendação aos novatos que fazia sucesso na redação da Manchete e devia ser escandida, com ênfase nos trocadilhos, em ligeiro sotaque iídiche:  "Se você desobedecer a ordem que Adolpho deu, e aquela que Jaquito havia dado, o Oscar ralha.”

Entre os autores de chistes mais antigos da Manchete, o repórter Ronaldo Bôscoli, que Nelson Motta chamou de “a língua mais rápida de Ipanema, um gênio da maledicência”, notabilizou-se pelos apelidos corrosivos que dava aos seus desafetos. Alguns exemplos: Sérgio Mendes (“compota de monstro”), Antônio Maria (“eminência parda da MPB”), Maysa (La Gorda), Elis Regina (“Vesguinha”). O apelido do próprio Bôscoli era Veneno. É bom lembrar também o fabuloso Nelson Rodrigues, que escrevia na Manchete Esportiva e criava apelidos os mais exóticos. Chamou Cláudio Mello e Souza, editor de Fatos&Fotos, de O Remador de Ben-Hur. Um dia eu vejo o Nelson adentrando a redação e saudando Adolpho Bloch como “Como vai este Cecil B. DeMille das revistas!” (pronunciando o DeMille como DeMaille). Sérgio Porto, colunista da Manchete, que apelidou a si mesmo de Stanislau Ponte Preta, fez do redator Raymundo Magalhães Jr um alvo predileto. O escritor e acadêmico fazia questão de assinar seus escritos como R. Magalhães Jr. Sempre que Sérgio entrava na redação e via o Magalhães batucando com dois dedos na Remington, gritava: “Erre, Magalhães Jr!” Ou gozava da sua baixa estatura: “Toda vez que o Magalhães pega uma caixa de fósforo as pessoas pensam que ele vai
viajar...”

Raul Giudiccelli, outra das línguas mais ferinas da Bloch, fez toda uma catilinária em cima do Ledo Ivo, poeta e redator. Só lembro esta: “O professor deu zero para o Ledo Ivo e ele foi se queixar que a nota não era justa. O mestre explicou-se com o Ledo: – Desculpe, meu filho, mas não tinha nota mais baixa do que o zero...” Ainda em relação ao Ledo Ivo, o Cony retificou o clichê “ledo engano” para “ledo e ivo engano”, usado até hoje por Cony e outros escribas.

A Santa Ceia em cor: Alberto, Ivan, Cunha, Flávio, ao fundo Sammy Davis Jr,
Eremita, Heloneida, Magalhães, Passos, Argemiro, Pedrão, Ney, Cony, Irineu.

Voltando ao Alberto: lendo agora o livro de contos inéditos de Scott Fitzgerald, I’d Die For You,
publicado 77 anos após a morte do autor, encontrei uma personagem – típica serelepe dos anos 30 – chamada Trouble, que só se poderia traduzir, é claro, por Encrenca. Pois sempre que aparecia na redação uma daquelas que a gíria do malandro chamava de “chave de cadeia”, o Alberto se referia a ela como Encrenca.

Almoço para Lula no Russell na véspera da votação do 2º turno, sábado 16-12-89.
Teria sido na Manchete que Brizola pela primeira vez chamou Lula de "sapo barbudo". 

Não faltaram encrencas na história da Manchete. Uma que mais fez jus ao apelido foi a produtora de moda de sobrenome Guerra que deu um tiro no recém-chegado diretor de arte Serge Elmalan. O
coitado do Serge acabara de chegar da França com mulher e cachorro e se instalara num
apartamento no Lido. Sofreu o imediato assédio e atração fatal da Guerra e levou um balaço.
A bala ficou alojada num ponto melindroso da região do ombro e teimava em não sair. Adolpho não hesitou: mandou o Serge para Houston aos cuidados do Dr. Michael DeBakey, o cirurgião que revolucionou a medicina na Segunda Guerra, levando o atendimento para a própria zona de combate (procedimento satirizado pelo filme M*A*S*H). Nem um craque como o Dr. DeBakey conseguiu retirar a bala guerreira que acompanhará o Serge em suas andanças pelo mundo até o fim dos seus dias. Um parêntese para dar uma ideia de quem era Serge Elmalan. Convidou-me uma noite para uma reuniãozinha en petit comité no seu apartamento. Quando adentrei a sala, lá estavam a romancista Françoise Sagan (Bonjour Tristesse), a Begum Aga Khan (viúva de um dos homens mais ricos do século), o cineasta Jacques Deray (dirigiu Alain Delon em La Piscine) e Gilberto Tumscitz e sua mãe (Serge adivinhou já no jovem repórter o futuro autor de telenovelas de sucesso, Gilberto Braga).

Outra Encrenca que fez nome na Manchete foi Marisa Raja Gabaglia (1942-2003). Fomos colegas na reportagem de Frei Caneca em 1966. Inteligente, neurótica, sedutora, fez sucesso como cronista, seu livro Milho Para a Galinha Mariquinha virou best seller. Foi repórter da TV Globo por dezoito anos, fez novela com Tônia Carrero. Marisa teve uma paixão fulminante pelo cirurgião plástico Hosmany Ramos, ex-assistente de Ivo Pitanguy, que de repente partiu para uma surpreendente carreira criminosa e, depois de várias fugas, está preso até hoje. Marisa foi pioneira do Amor bandido, título do livro que publicou em 1982 sobre sua relação com Hosmany.

Vou parando por aqui, porque “a melhor da galáxia” é como aqueles vampiros velhos que – mesmo com bala de prata e estaca no peito – se recusam a morrer.
 

Brasileira descoberta através do Instagram fotografa com iPhone série documental sobre norte-americanas influentes. É para um especial da Time

Hillary Clinton

Ellen DeGeneres

Selena Gomez

A revista Time lança nessa semana uma série documental sobre as mulheres norte-americanas que influenciam e estão ajudando a mudar o mundo. Hillary Clinton, Oprah Winfrey, Serena Williams, entre outras, foram selecionadas pela revista. São 46 mulheres focalizadas, com 12 delas sendo capas das edições da série.



Luisa Dörr/Reprodução Instagram
Quando planejava o especial, a diretora de Fotografia da Time, Kira Pollack, descobriu através do Instagram o trabalho da fotógrafa Luisa Dörr, 28 anos, uma gaúcha que mora em Itacaré, na Bahia. A brasileira, que tem milhares de seguidores, informa no bio do Instragam que usa apenas o iPhone para registrar suas imagens. E foi isso que chamou a atenção da Time. Em entrevista ao  site AppleInsider, ela justifica: "Eu gosto da simplicidade de como essas fotos são feitas. Não há barulho, gadgets, ferramentas ou plugues, apenas o assunto e eu mesma". Luisa vijou para os Estados Unidos e começou a retratar as indicadas ainda no ano passado. Várias das personalidades  -  muitas delas acostumadas a posar para fotógrafos famosos e diante de câmeras e lentes sofisticadas, além de equipamento profissional de luz, ficavam surpresas ao se depararem com uma jovem e desconhecida fotógrafa equipada apenas com um iPhone 6, 6 Plus e, no fim, um iPhone 7 como encarregada de realizar a série especial para a Time. Além disso, Luisa Dörr levava entre 2 a 10 minutos para concluir cada sessão de fotos. Esse jogo rápido também impressionou as celebridades.

Revista 4: Maria Ribeiro depois de uns "uixquins" fotografada por Jorge Bispo


Maria Ribeiro. Foto de Jorge Bispo/Reprodução Instagram

por Clara S. Britto
Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado, pelo filme "Como Nossos Pais", Maria Ribeiro posou nua pela primeira vez. O veículo privilegiado é a Revista 4, publicação de arte editada pelo fotógrafo e autor do ensaio Jorge Bispo.

No seu Instagram, Maria divulgou algumas imagens e mandou um recadinho aos seguidores: "Umas fotinhas da minha pessoa meio que à vontade depois de um uixquin". O que ela chama de "fotinhas" são nada menos do que 100 imagens.

Os textos são de Maria Ribeiro e Paulo Gikovate. A Revista 4 tem 70 páginas e é vendida on line. É exclusivíssima: são apenas 220 exemplares numerados e assinados.

Pensamento do senador Cristovam Buarque é "spam" - define Paulo Coelho



por Ed Sá 

Houve uma época em que desafetos marcavam duelos.

A Revista Forum postou hoje uma reprodução de um sugestivo diálogo entre o senador Cristovam Buarque, que tem sido brindado com o coro de "golpista" ao circular por aí, e Paulo Coelho.

O senador do PPS - partido que até há pouco era da base governista de Temer, o ilegítimo agora formalmente investigado sob a acusação de liderar quadrilhão de gatunos - incluiu o escritor, aparentemente sem consultá-lo, no seu banco de endereços de emails. Por considerar o pensamento e as ideias do senador meros "spams", Paulo Coelho pediu via twitter que o Cristovão Buarque deletasse da lista o seu contato. "Não me interessa o que pensa", reforçou o escritor.

Na era digital, rotular um oponente de "spam", bloquear o inoportuno, barrar o inconveniente da lista de "amigos", equivale ao antigo tapa de luva na cara.  Mas a internet ainda não inventou uma duelo virtual para a lavagem das honras ameaçadas.

Taí uma boa ideia para um aplicativo que resolva desagravos.

Os desafetos marcariam um encontro em um link de acesso público e seus avatares disputariam algo como uma street fight que só terminaria com a morte virtual de um dos contendores.

Depois de retirar o email do escritor da sua agenda, o senador ainda tentou, horas depois, segundo a Forum, reatar.



Até o fechamento desse post, Paulo Coelho não havia respondido.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Trump decapitado. Quanto vale essa foto? Autor recebe oferta milionária...

Kathy Griffin e o que restou de Trump.
Foto de Tyler Shields. Reprodução TMZ
por Clara S. Britto

Essa foto foi feita há três meses e gera forte polêmica desde então. A comediante Kathy Griffin posou para o fotógrafo Tyler Shields segurando pelo topete a cabeça decepada de Donald Trump.

Na época, ela era contratada da CNN e embora tenha declarado que era apenas humor e não estava sugerindo que cortassem a cabeça do empresário-presidente foi demitida pela rede.

Segundo o site TMZ, o fotógrafo Tyler Shields recebeu há poucos dias oferta de 100 mil dólares pela imagem original. Ele pretende vender em formato de poster a foto do cabeção de Donald Trump exibido por Griffinem.



A guilhotina de Kathy Griffin não é inédita. A revista Time fez uma capa com a cabeça de Trump.

No Brasil, Veja adaptou a cena para exibir Lula decapitado.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Leitura dinâmica: o uso e o abuso de palavras da moda

por Ed Sá 

Há alguns anos, Carlos Heitor Cony publicou uma crônica na Folha de São Paulo sobre algumas palavras que eram praticamente obrigatórias nos textos dos jornais de antigamente. Para anunciar o Natal, não havia artigo ou noticia que não levasse o título festivo "Bimbalham os Sinos", repetido ano a ano. Ninguém chamava hospital de hospital. "Virava nosocômio", escreveu Cony. Cemitério era "necrópole". Carnaval, "tríduo momesco" e bandido, "meliante".

As reformas de estilo do Diário Carioca, nos anos 1950, do Jornal do Brasil, no começo da década de 60, a revista Senhor e mesmo o texto enxuta e moderno - texto não conteúdo - da edição brasileira das Seleções do Reader's Digest estimularam a faxina de muitos termos enraizados no jornalismo até então.

Isso não quer dizer que outras expressões não foram surgindo e se desgastando por tanto abuso e uso em várias épocas.

As palavras que já caíram no varejo da  mídia, atualmente, são "empoderamento", que começou a ser usada para celebrar a valorização da mulher, mas agora começa a valer para outras categorias. "Supremacistas", uma maneira mais chique de classificar racistas, mas já li a versão "supremacista cristão"; "gourmetizar", que inicialmente era a sofisticação de receitas básicas, mas agora vale pra quase tudo, até para reforma de casa - "vou gourmetizar meu apê". "Impactar", "impactante", "mudança de paradigmas", 'pensar fora da caixa", 'agregar valor", 'fidelizar", "interagir", "focado", "transparência" (lembrando que tem gente usando o oposto de "transparência, é "opacidade"), são termos ou expressões já gravados nos corretores ortográficos. "Eu queria fazer uma colocação", é comum ouvir isso em reuniões. Soa como alguém que vai colocar azulejos na parede.

Assim com falar em "alavancar" dá a impressão de que a qualquer momento o sujeito vai brandir a ferramenta e destruir o ambiente. "Formatar" é uma palavra que veio da linguagem tecnológica e já foi assimilada por qualquer usuário de computador, mas fica meio esquisito quando um chefe anuncia, "Gente, eu queria 'formatar' minha opinião sobre a nossa equipe".

"Elencar" também é f***.  "Elencar" os corruptos da semana, o time que vai entrar em campo, ninguém faz mais lista de compra em uma empresa, "'elenca' os 'insumos'". Depois da Lava Jato, a palavra "fase" também ganhou status. Tudo é "fase". O ministro da Defesa mandou os soldados darem uma volta pela Rio, logo recolheu a tropa ao quartel e, convocou entrevista para dizer que a "fase 1" da operação contra a violência estava encerrada. Ia começar a "fase 2".  O Rio espera até hoje a "fase 3". "Fulano está saindo com uma colega global, mas está na 'fase 1' ainda, nada sério".

E "resiliência"? Originalmente é a capacidade de alguns corpos, uma ameba, por exemplo, retornar à forma original após sofrer uma deformação. Passou a se usada como sinônimo de superação. Como entrou na moda, quem vai perder a chance de encaixar a palavrinha no próximo texto ou bate-papo? "Pô, resiliente o Aécio, emplaca todos os habeas corpus".

"Interface", outra expressão importada da computação, é muito usada para substituir "contato" ou para definir alguém como equivalente em função numa determinada empresa. "Fulano é meu (sic) "interface" na Petrobras". Já "leitura" é palavra muito usada por comentaristas de futebol ou treinadores, "a minha "leitura" do jogo é diferente, pra mim o Vasco vacilou" ou "eu fiz a "leitura" do adversário e treinei meu time com três zagueiros".

"Narrativa" também está bombando. "Lula construiu uma 'narrativa...'; "A 'narrativa' do Papa Francisco sobre os porões do Vaticano", "Fulana não é loura burra, tem 'narrativa'. "Trump ainda não encontrou a 'narrativa' para sua política internacional".

Não é crime, esse blog mesmo usa alguns desses chavões, é apenas chato pelo excesso, mas nada contra, quem quiser que use a palavra da sua preferência..

O pai do Cony, por exemplo, citado na crônica, dizia que Natal sem sinos bimbalhando não era Natal.

As capas dos anos dourados... Eles já foram paparicados em dias melhores...

CALIFÓRNIA DOS SONHOS

CONFIRMADO NA DELAÇÃO 

MILIONÁRIO IDOLATRADO
O MILIONÁRIO QUE "COMPETE HONESTAMENTE"
DIZ A CHAMADA

A 'SOLUÇÃO' ERA O VIROU QUADRILHÃO

RECONSTRUINDO O JABACULÊ

CRESCIMENTO DO PROPINODUTO


NO PACOTE DE DENÚNCIAS DA ODEBRECHT

O CASAMENTO DO EXECUTIVO
OLÍMPICO "COMOVEU O PAIS" BEM ANTES DA
RIO 2016.

Jornal Istado de Ção Paulo garante que Joesley xorou na sela


Segundo o extagiario do Istadão, Joesley xorou ao xegar na sela da Poliça Federau. O jornal diz que ele foi preso por determinasão de Edson Faxin.

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Começa amanhã o Festival Internacional de Fotografia de Paraty. Tema é "Fotografia, Documento e Ficção"


(do site da Prefeitura Municipal de Paraty)

"Um time de fotógrafos instigantes estará em Paraty para a 13ª edição de um dos mais importantes festivais de fotografia da América Latina, o Paraty em Foco (PEF), que acontece entre 13 e 17 de setembro, com o apoio da Prefeitura de Paraty.
O tema deste ano é “Fotografia: Documento e Ficção”. A proposta dos curadores Giancarlo Mecarelli e Érico Elias é ressaltar a dupla dimensão da imagem fotográfica, seu poder documental e seu potencial de produzir novas realidades.
O homenageado do ano é Flávio Damm, que fez parte da equipe da lendária revista O Cruzeiro, na década de 1950, e tem uma impressionante trajetória de quase 70 anos de fotografia. Ele vai expor imagens significativas de sua obra na Galeria Zoom, no Centro Histórico. O fotógrafo gaúcho, aos 89 anos, é um dos símbolos da fotografia documental brasileira.
Damm e todos os demais convidados irão apresentar seus trabalhos ao público na série de Encontros e Entrevistas, realizada no auditório da Casa da Cultura. Workshops pagos mediante inscrição pelo site www.pefparatyemoco.com.br também fazem parte das atrações."

LEIA A MATÉRIA COMPLETA, CLIQUE AQUI

Crônica publicada no Correio Braziliense sobre "estagiária a balançar os quadris" revolta jornalistas. Autor pede desculpas

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 ...E O PEDIDO DE DESCULPAS


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Hoje começa a Liga dos Campeões. Kim Jong-un torce para o Manchester United. Talvez ele ligue a TV e deixe a bomba pra lá...

por Niko Bolontrin
Segundo o site de notícias Sputnik Brasil, o senador italiano Antonio Razzi revelou que Kim Jong-un é fã de futebol, não perde um jogo do Manchester United e assiste à Lida dos Campeões. O próprio líder norte-coreano contou ao senador sua preferência. O futebol na Coréia do Norte é incipiente. O país participou apenas duas Copas do Mundo: em 1966, na Inglaterra, foi zebra ao chegar às quartas de final, quando foi eliminado por Portugal; e em 2010, na África do Sul, perdeu para o Brasil (2 a 1) ainda na fase de grupos.

A Coréia do Norte não tem mais chances nas Eliminatórias para a Copa de 2018.

Mas a Liga dos Campeões começa hoje. Há chances de, nas próximas semanas, Kim Jon-un se distrair com os jogos e esquecer um pouco a bomba nuclear, Trump e mísseis balísticos.

Melhor o mundo torcer pelo Manchester United.

Cada tufão um flash...

Calça rasgada no furacão. Reprodução You Tube



Selfie na ventania. Reprodução/Rede Social

por Ed Sá

Não basta cobrir furacões e inundações, tem que participar. A tendência não surgiu na Globo, é fenômeno mundial. Faz parte da espetacularização da notícia, um toque de show, de reality-show.

Se, ao entrar no ar ao vivo, não há uma cena instigante a mostrar para ilustrar o conteúdo, o jeito é botar o pé na lama e introduzir uma dinâmica ao fato.

Às vezes, repórteres caem no exagero.

Não faz muito tempo, em São Paulo, uma jornalista entrou em um rua inundada de uma mistura de água e esgoto para dramatizar a cena. Foi meio ridículo porque só ela encarava a cloaca; os moradores que apareciam na mesma imagem haviam improvisado uma sábia passarela de madeira para não ir literalmente à merda.

Não há notícia de repórter que tenha faturado um prêmio Pulitzer de dramaturgia jornalística. Mas as redes gostam da fórmula.

A atual temporada de furacões no Caribe e na Flórida ofereceu muitas dessas cenas.

Duas se destacaram:

- a das repórteres Carolina Cimenti e Sandra Coutinho, da Globo News, com as calças da primeira se rasgando ao vento e, a partir daí, tornando-se o assunto principal da entrada (do estúdio, a âncora achou melhor interromper a divagação sobre a peça de vestuário que se desfazia, sem falar que o vento ia continuar fazendo seu trabalho e a calça ia acabar decolando);

- e a selfie da mesma Sandra Coutinho rindo pouco antes da chegada do tufão que, para a maioria das pessoas, não tinha graça nenhuma.

As redes sociais não perdoaram.

Em um post, Sandra Coutinho foi comparada à modelo Nana Gouvêa que, anos atrás, em Nova York, também achou que tempestades são ótimas situações para selfies inesquecíveis.



VEJA O VÍDEO "DRAMÁTICO" DA CALÇA RASGADA, CLIQUE AQUI

A capa do "capa preta": Na Piauí de setembro, a Justiça sofre bullying


segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Paris: a ampulheta do pó. É a Netflix promovendo a nova temporada de "Narcos"

por Jean-Paul Lagarride

Para promover a terceira temporada da série "Narcos", já disponível em streaming, a Netflix montou em alguns pontos de Paris totens em formato de ampulhetas com um pó branco imitando cocaína.
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI 

Teoria da coincidência: "Cara, você por aqui? Que mundo pequeno!"

Reprodução Internet

Reprodução Internet


Há alguns anos, o Museu de Arte Moderna de Nova York montou a exposição "Fame After Photography" para mostrar a representação e o significado da notoriedade celebrada e difundida pela tecnologia.

Antes da fotografia, poemas épicos, pinturas, esculturas, selos e moedas eram os veículos que davam visibilidade aos nobres, governantes, papas e guerreiros. Era coisa de elite. As revistas, no século passado, e as redes sociais neste acelerado século 21 levaram a fama para o varejão. Surgiram as "celebridades". Antes da internet, o conceito de "celebridade" era mais restrito ao universo de artistas, atletas, modelos, governantes etc. A web fez esse universo explodir como uma galáxia doida. Youtubers, blogueiras, deusas do fitness e outros personagens criados pela própria rede passaram a ocupar a constelação.

Agora, no Brasil, chegou a vez dos procuradores e juízes do Ministério Público e dos ministros dos tribunais superiores. No mesmo embalo, também foram alçados ao estrelato os corruptos e os delatores premiados. São os "famosos" da vez. Alguns andam deslumbrados com o novo status. Em estreias de filmes, alguns desses novos "famosos" e suas mulheres deslizam sobre tapetes vermelhos e são focalizados pelos fotógrafos como se fossem Jennifer Lawrence e Bradley Copper adentrando o Palácio dos Festivais de Cannes. Com a fama, os artistas ganharam o direito de cobrar altos cachês por "presença vip" em eventos. Os novos famosos, os que não vêm do entretenimento, também ganharam fontes de renda alternativa: passaram a ser disputados por agentes da indústria de palestras onde faturam uma baba de responsa.

Mas há preço a pagar pela fama. Que o diga o procurador-geral do MPF Rodrigo Janot.

Ele foi tomar umas cervejinhas no boteco da sua preferência, em Brasilia, com ninguém menos do que Pierpaolo Bottini - um dos advogados de Joesley Batista, o enrolado rei da alcatra, precisamente o sujeito que a instituição de Janot processa -, e a foto do fato viralizou na internet.

Dizem que o encontro foi "casual" e para troca de "amenidades". Apenas uma coincidência. As redes sociais gostaram da justificativa.

Janot, agora, também conquistou o mundo das memes. A fama não tem limites.


VEJA A SEGUIR OUTRAS GRANDES COINCIDÊNCIAS DA HISTÓRIA: 

Casualmente, Obama se encontra com Trump e aproveita para lhe entregar
a presidência dos Estados Unidos. Foto White House Official

O Papa Bento dava uma voltinha e deu de cara com Francisco.
Por coincidência, fez dele o novo Papa. Foto L'Osservatore Romano

Pelé fazia turismo na Suécia, em 1958, e quem aparece por acaso? O rei Gustavo,
que tinha esquecido de entregar a Taça Jules Rimet ao brasileiro.
Foto: Reprodução Manchete 

O japonês da Federal saiu para comprar sushi na esquina e Marcelo Odebrecht
andava à toa procurando uma barraca de acarajé.
Por coincidência, o Japa prendeu o baiano. Foto Reprodução Twitter

Censura: Protestos e agressões verbais promovidos por religiosos e organizações de direita fecham exposição sobre diversidade



Santander Cultural/Divulgação


"Eu e Tu", de Lígia Clark, 1967, uma das
obras exibidas em Porto Alegre
por Flávio Sépia 
Após o golpe que os levou ao poder e à ditadura de um único pensamento, os nazistas estruturaram o Ministério da Propaganda com o objetivo de "conquistar todos os alemães". O MP de Joseph Goebbels passou a controlar todas as formas de manifestação, desde jornais, revistas, filmes, livros, músicas, a rádio, reuniões públicas e exposições artísticas.

Mas antes disso, parte da sociedade, através de organizações já identificadas com as ideias nazistas, divulgava listas de obras que consideravam "impróprias". Grupos invadiam galerias e editoras, recolhiam livros e obras de arte e promoviam fogueiras em praças públicas.

Desde o dia 8 de agosto estava em cartaz no Santander Cultural, em Porto Alegre, a exposição  "Queermuseu - Cartografias da diferença na América Latina", sobre diversidades étnicas e de gênero.
São quase 300 obras, entre pinturas, gravuras, fotografias, serigrafias, colagens, esculturas e vídeo que abordam a diversidade e são assinadas por artistas como Adriana Varejão, Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Clóvis Graciano, Fabio Del Re, Flávio Cerqueira, Gilberto Perin, Ligia Clark, Sandro Ka, Yuri Firmesa e Leonilson.

Após ataques verbais a frequentadores por parte de religiosos e tropas de choque da direita radical,  de campanha nas redes sociais e pichações de frases nas imediações do espaço cultural, o Santander, acusado de promover "pornografia" e "blasfêmia", cancelou a exposição.

Segundo o Zero Hora, "dada a natureza específica do tema proposto, com de ampla divulgação da imprensa, a equipe de monitores estava orientada a alertar grupos acompanhados por crianças e menores de idade sobre obras com cenas de nudez ou com referências a sexo passíveis de provocar algum desconforto. A abordagem desses monitores indicava a localização dos trabalhos com essas características".

Em protesto contra o encerramento da exposição, acontece amanhã, 12, em frente ao Santander Cultural, em Porto Alegre, o Ato pela Liberdade de Expressão Artística e Contra a LGBTTFobia, "em defesa da liberdade de expressão artística e das liberdades democráticas".

Para entender o nível de violência dos "comandos" da direita, veja o relato abaixo que circulou em redes sociais antes da censura à mostra: 

VEJA VÍDEO SOBRE A EXPOSIÇÃO CENSURADA, CLIQUE AQUI

domingo, 10 de setembro de 2017

Visite a exposição "A Invenção da Praia: Cassino", na Urca, e ganhe de 'brinde' um passeio nas ruínas do passado glamouroso do Rio...

Instalações da exposição "A invenção da praia: Cassino" à frente do poço da orquestra do antigo palco
do Cassino da Urca. 

Visão lateral do palco com o balcão ao fundo. 

O mesmo espaço nos áureos tempos. Foto Reprodução Pinterest

As salas de jogos onde...

...milhões de réis - e depois de 1942, cruzeiros - ,trocavam de mãos.

Vestígios do piso de mármore na escada que leva ao balcão. 

A ala restaurada, à esquerda, é sede do Instituto Europeu de Design, que vai recuperar
o setor onde ficava o palco do Cassino. Fotos bqvMANCHETE. 


Doze artistas ocupam as ruínas do antigo Cassino da Urca com a exposição "A Invenção da Praia: Cassino".

A intervenção artística tem obras de Caio Reisewitz, Celso Longo e Daniel Trench, Chiara Banfi, Cibelle Cavalli, Giselle Beiguelman, Katia Maciel, Laercio Redondo, Maria Laet, Mauricio Adinolfi e Nino Cais, videoinstalações de Lula Buarque de Holanda e Sonia Guggisberg e curadoria de Paula Alzugaray. A exposição pode ser visitada de segunda a sexta, das 16h às 22h e aos sábados das 12h às 17h, até 23 de setembro.

Visitar a exposição é uma rara oportunidade para explorar um espaço da história do Rio. Construído como um hotel-balneário para receber os visitantes da Exposição Internacional de 1922, o prédio passou a abrigar um cassino em 1933 que foi frequentado por Orson Welles e Walt Disney, entre outras personalidades..

Além de roletas e salas de jogos, o Cassino da Urca recebia shows nacionais e internacionais, com destaque para apresentações de Carmen Miranda, Bing Crosby e Xavier Cugat até que em 1946 a caipirice e carolice do general-presidente Dutra e da sua mulher, a católica fanática que atendia pelo nome de Dona Santinha determinaram o fim dos cassinos no Brasil.

Só nos anos 1950, o edifício voltou a ser ocupado, dessa vez pelos estúdios da TV Tupi. Com a falência da emissora dos Diários Associados, o antigo balneário foi abandonado até que o Instituto Europeu de Design obteve a concessão do prédio e restaurou uma primeira ala, onde instalou sua escola internacional. Está prevista para breve a recuperação da segunda ala, onde ficava o espaço para shows, que se tornará palco teatral e laboratório de artes e design.

Visite a exposição e aproveite para dar uma olhada no que restou de uma época. Ainda há alguns vestígios dos anos de luxo. O piso de mármore, o palco, o poço onde ficava a orquestra e o balcão de um dos históricos centros de entretenimento do Rio nos anos 1930/40.

Vic do Telex: a mensagem final


Vic, no Bar do Ernesto,
na Lapa, durante
feijoada
confraternização
de fim de ano.
por José Esmeraldo Gonçalves

Para nós, era o Vic do Telex. Durante décadas, quando a Bloch manteve sucursais em várias capitais do Brasil e escritórios atuantes em Paris, Nova York, Roma e Tóquio, boa parte dos textos das revistas passava pelos terminais operados pelo gente boa Vicente de Paula Miranda.

As equipes enviadas para matérias no Brasil ou no exterior tinham no telex do Vic ponto de contato com os enlouquecidos fechamentos. Era também o canal usado para as mensagens de emergência que tentavam sensibilizar o caixa da empresa a reforçar as diárias de repórter e fotógrafo, cujas verbas geralmente minguavam antes do fim da missão. Era certo que Vic recebia o apelo e o levava logo ali ao lado da sua sala, diretamente às mãos de quem podia autorizar a remessa salvadora.

Se aquela máquina barulhenta era um centro nervoso da produção jornalística, seu operador era o oposto. Calmo, discreto, prestativo. Vic era da paz. E, em matéria de companheirismo e amizade, uma unanimidade. Capaz de fazer amigos até pelo DDI e DDD.

Com a falência da Bloch, a vida dispersou muitos colegas, mas em tradicionais reuniões de confraternização, nos fins de ano, Vic era uma das mais festejadas presenças entre aqueles que foram passageiros de um mesmo barco, nas calmarias e tempestades, à deriva ou atracado em uma certa Rua do Russell.

Vicente faleceu na última sexta-feira, dia 8, vítima de um infarto. Faria 75 anos no dia 20 de setembro. Trabalhou na Bloch durante 43 anos. Ainda lutava - como muitos dos ex-empregados - para receber da Massa Falida da empresa a quitação da correção monetária sobre o montante do "principal" da sua indenização trabalhista.

Deixa três filhos e 13 netos.

E leva a admiração dos colegas pela amizade, integridade e profissionalismo com que marcou sua vida.