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domingo, 10 de setembro de 2017

Vic do Telex: a mensagem final


Vic, no Bar do Ernesto,
na Lapa, durante
feijoada
confraternização
de fim de ano.
por José Esmeraldo Gonçalves

Para nós, era o Vic do Telex. Durante décadas, quando a Bloch manteve sucursais em várias capitais do Brasil e escritórios atuantes em Paris, Nova York, Roma e Tóquio, boa parte dos textos das revistas passava pelos terminais operados pelo gente boa Vicente de Paula Miranda.

As equipes enviadas para matérias no Brasil ou no exterior tinham no telex do Vic ponto de contato com os enlouquecidos fechamentos. Era também o canal usado para as mensagens de emergência que tentavam sensibilizar o caixa da empresa a reforçar as diárias de repórter e fotógrafo, cujas verbas geralmente minguavam antes do fim da missão. Era certo que Vic recebia o apelo e o levava logo ali ao lado da sua sala, diretamente às mãos de quem podia autorizar a remessa salvadora.

Se aquela máquina barulhenta era um centro nervoso da produção jornalística, seu operador era o oposto. Calmo, discreto, prestativo. Vic era da paz. E, em matéria de companheirismo e amizade, uma unanimidade. Capaz de fazer amigos até pelo DDI e DDD.

Com a falência da Bloch, a vida dispersou muitos colegas, mas em tradicionais reuniões de confraternização, nos fins de ano, Vic era uma das mais festejadas presenças entre aqueles que foram passageiros de um mesmo barco, nas calmarias e tempestades, à deriva ou atracado em uma certa Rua do Russell.

Vicente faleceu na última sexta-feira, dia 8, vítima de um infarto. Faria 75 anos no dia 20 de setembro. Trabalhou na Bloch durante 43 anos. Ainda lutava - como muitos dos ex-empregados - para receber da Massa Falida da empresa a quitação da correção monetária sobre o montante do "principal" da sua indenização trabalhista.

Deixa três filhos e 13 netos.

E leva a admiração dos colegas pela amizade, integridade e profissionalismo com que marcou sua vida.

sábado, 25 de março de 2017

Publimemória da redação: há 35 anos, a Manchete anunciava a chegada ao Brasil do walkman e do telex de última geração



por José Esmeraldo Gonçalves

Em 1982, a Manchete publicou os anúncios acima. A Sony lançava no Brasil o Walkman, "o menor toca-fitas  do mundo", "pode ser usado preso ao cinto e até dentro da bolsa", "acompanha todos os seus movimento nas horas de lazer", "vem com um levíssimo fone de ouvido que garante uma intimidade no som que é só seu".
Já fazia sucesso nos Estados Unidos e Europa desde o lançamento em julho de 1979. Para os padrões brasileiros, era um aparelho caro (em valores de hoje ficaria entre mil e mil e quinhentos reais). Mas logo passou a ser visto nas ruas. Nada mais era do que um gravador sem a função de gravar, com mais qualidade de som e bem mais leve (pesava menos de 300 gramas). Para as gerações que ouvem música hoje em celulares conectados à nuvem, registre-se que o walkman não tinha memória e obrigava o portador a levar mais de uma fita das bandas preferidas ou, como a maioria fazia, a usar uma fita só, previamente gravada com as músicas preferidas. Durante um tempo, dar de presente à namorada uma fita programada, desde que acertasse a preferência dela, poderia garantir algumas noites de sensuround a dois. O walkman pesava menos de 300 gramas.
Como alguns animais, espécimes tecnológicos também são extintos: o aparelho criado por Akio Morita deixou de ser fabricado em 2010. Até que resistiu.


A mesma edição de Manchete, em 1982, trazia mais um lançamento: o primeiro aparelho de telex eletrônico. Era um avanço e, entre outras coisas, a Siemens prometia mais velocidade nas mensagens teleimpressas. O melhor: era silencioso. Os modelos anteriores eram grandalhões com um barulho que lembrava rajada de metralhadora de filme de guerra em cinema de som ruim.
Que o diga Vicente, o eficiente e boa-praça Vic, que operava os telexes da Manchete.
A fita amarela perfurada vista no lado direito da foto é a "memória" do telex. Ali podiam ser gravadas as mensagens recebidas ou a enviar.
A internet, já com a chegada do email, antes mesmo dos aplicativos de mensagens dos celulares, abateu o telex, mas ainda não o matou. É usado em alguns países e tem uma particularidade ainda apreciada quando se trata de documentos importantes: a entrega é imediata e autenticada pelo próprio aparelho. Outra explicação para a sobrevivência: mensagens de telex seriam mais difíceis de rastrear e menos vulneráveis a espionagem por não se conectarem diretamente à peneira que é a internet. E, no mínimo, porque o espião teria que invadir a linha telefônica a partir de um aparelho semelhante. E telexes como o do anúncio acima não são tão fáceis de se encontrar. Algumas lojas da internet ainda vendem aparelhos (muito) usados. É mais fácil você encontrá-los em bares vintage como elementos cults da decoração.