por José Esmeraldo Gonçalves
Por não ter punidos torturadores e assassinos da ditadura, como fizeram Argentina e Chile, o Brasil jamais fechará as cicatrizes de um dos períodos mais trágicos da sua história, mas não deve esquecê-lo nunca.
Há poucos dias, Christiane Pelajo, âncora da Globo News, ao comentar a morte do ilustrador Elifas Andreato disse, de passagem, que Vladimir Herzog sofreu "maus tratos" na ditadura. O vídeo com a fala circula nas redes sociais. Saiba a jornalista que Herzog, também jornalista, foi torturado e assassinado nas dependências da máquina dos horrores que era o DOI CODI em São Paulo. Transformar um crime político brutal em "maus tratos" é agredir a história, é desprezar o drama de uma família, é desonesto. É tentar apagar a verdade.
Assim como desonesta e mentirosa é a nota divulgada ontem pelo Ministério da Defesa saudando a ditadura assassina e corrupta, tantas foram as mortes e os escândalos que a censura impedia de se tornarem públicos e dos quais o aparelhamento da justiça vetava a apuração isenta. A nota grotesca dos generais fala também em êxito econômico da ditadura. Outra mentira. A fachada "desenvolvimentista" dos militares tornou empreiteiros milionários e seus benefícios não chegaram à população. Em 21 anos de autoritarismo a distribuição de renda caiu a níveis críticos, bem piores do que os índices do fim da década de 1950 e começo dos anos 1960. A partir de 1980, ao sair pela porta dos fundos do Planalto, em 1985, o último ditador de plantão deixou uma dívida externa monumental, uma explosão inflacionária e uma crise econômica e social galopantes. Sob o tapete do palácio ficaram os famosos escândalos de corrupção engavetados sob os rótulos Lutfallla, Delfin, GE, Capemi, Coroa Brastel...
Cinquenta anos depois, os militares voltaram ao poder no embalo de outro golpe, o que tirou do governo sem qualquer motivo legal uma presidente democraticamente eleita. A conspiração resultou na eleição de Jair Bolsonaro que se cercou de generais e distribuiu cargos e "boquinhas" a milhares de outros militares. Não por acaso, tornaram-se frequentes as ameaças à democracia, com acenos de novo golpe, agressões ao Supremo Trubunal Federal, a ocupação de instituições vitais, o desprezo às ações contra a pandemia, a omissão e o incentivo à destruição da Amazônia, entre outros desmontes do Estado em nome de interesses privados.
Bolsonaro postula a reeleição e anuncia como seu vice precisamente o general linha-dura (esse termo também está de volta) que divulgou a nota-exaltação da ditadura. Não há nada a comemorar no dia dos degenerados.
2 comentários:
" General Linha -Dura", O poder cria ambições desmedidas alem de corromper aquele que, por motivos desconhecidos, assume determinadas posições, na alta cúpula do Poder. Imagina um " ˝General Linha-Dura" de repente é eleito Vice-presidente do brasil? História nos conta , que muitos reis foram assassinados, pelos seu herdeiros e como Reis se tornaram senhores da alma de seu povo.
Com o fim da ditadura passamos um bom tempo sem saber nome de general. Esse tempo passou a gorilagem voltou
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