No Rio de Janeiro, a absoluta campeã do Carnaval 2019, com um desfile consagrador, foi a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.
O enredo História Pra Ninar Gente Grande, dentro do tema "História que a História Não Conta", apresentado pelo samba “Eu quero um Brasil que não está no retrato”, destacou a participação, com uma postura decididamente política, de heróis negros, indígenas e pobres na História do Brasil, a maioria desconhecidos da população brasileira.
Na história da própria Mangueira, há muitos exemplos, além dos que estão no enredo.
Um deles, foi, durante alguns anos no início da idade adulta e por quase dez anos na maturidade, apenas mais um herói anônimo do povo brasileiro, vivendo de biscates, como guardador de carros etc., até ser “redescoberto” pela intelectualidade carioca...
Só que se trata de um dos fundadores da Mangueira, um dos seus maiores compositores, e que, mais tarde, já na velhice, atingiria a máxima glória como sambista e cantor, com a obra reverenciada por críticos e público: Cartola.
Cartola - Rio, 1979 - Foto Guina Araújo Ramos
Ao me que lembrava, fotografara Cartola uma única vez, e por conta própria. Comprara todos os seus discos, cantarolava suas canções, mas ainda não tivera, fotojornalista profissional, a chance de fotografá-lo, muito menos assisti-lo cantar.
Na época, 1979, ele fez alguns shows individuais. Quando eu soube de um, que foi muito simples, no auditório do Colégio Bennett, no Flamengo, peguei a Nikon que usava na Bloch, fui até lá resolver minha carência, tanto a de assistir quanto a de fotografar Cartola. Daquela noite, guardei esta e mais algumas poucas fotos.
Cartola canta - Rio, 1979 - Foto Guina Araújo Ramos
E já me esquecera disso, mas descobri no meu sofrido acervo que, em algum outro momento dessa fase final de sua vida (que Cartola morreu no final de 1980), eu o fotografei em outro show, só que a trabalho, para as revistas da Bloch, talvez a Manchete, que fiz em cor.
Restaram-me apenas dois slides manchados e descorados, e, deles, publico o melhorzinho...
E não há deixar de citar, da própria história do herói, as suas heroínas (que também são nossas), as paixões de Cartola, mulheres que o salvaram (quando não arrasaram), sustentaram, inspiraram e o estimularam a produzir sua bela obra. No final da adolescência, órfão de mãe, expulso pelo pai, encontrou, doente, a salvação nos braços de Deolinda, sete anos mais vivida do que ele. Com a sua perda, o abandono com Donária. E na maturidade, a nossa D. Zica, antiga conhecida que o resgatou das ruas, levou-o de volta à Mangueira, onde viveram na casa verde e rosa, vizinha à de Carlos Cachaça, outro herói local.
E nem se pode dar um merecido crédito a Sérgio Porto, o instigante Stanislaw Ponte Preta, o autor da redescoberta de Cartola, mais um herói do povo brasileiro. Um bom exemplo de como a integração (e a superação de barreiras socioeconômicas) faz um grande bem ao país, o que parece, mas não é outra história...
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