sábado, 5 de junho de 2010

Campo de Santana, parte 2



por Orlando Abrunhosa
Há alguns dias, muito cedo, ainda meio lusco-fusco, vi de longe alguns gatos brigando. Fui chegando mais perto e percebi que atacavam a pobre de uma cotia, batendo muito nela. Achei estranho, pois, gatos e cotias vivem aqui em harmonia. Fui chegando mais perto e vi que não era exatamente uma cotia e sim uma ratazana enorme. Tão grande que parecia um gambá. Ela lutava de todos os jeitos tentando se livrar daquele arrastão felino ou gatino, sei lá.
Corria de um lado para o outro, pulava, às vezes tentava encarar e gritando, gritava muito, não entendi muito bem o que ela dizia, mais acho que era "calma, calma, calma" – calma porra nenhuma. Os gatos davam-lhe porrada por todos os lados. Tinha um, o maior deles, que de vez em quando pegava ela e a arrastava pra longe dos outros gatos. Acho que o que ele queria era dar porrada nela sozinho.
Esse rolo todo me fez lembrar da historia do cara que entrou no botequim e falou para o dono do bar: "Bota uma cana ai, compadi".
E a toda hora ele repetia a dose.
O mais estranho é que, antes de beber, dava um pouco para o seu rato de estimação que levava no bolso da camisa. Tomava uma e dava outra pro ratinho. Na hora de pagar a conta, como todo bebum, achou que tinha bebido muito menos que o cobrado. Pagou mas começou a agredir o dono do bar, "filho disto, filho daquilo, ladrão" etc. Já na saída, tornou a repetir, "ladrão chifrudo" e foi saindo. Nisso, o ratinho que estava dentro do bolso dele pulou para fora e disse para o dono do bar: "E tem mais essa garotão, o gato desta casa também é viado".
Contei essa porque lembrei que do outro lado do Campo de Santana tem uma casa de show, acho que é uma gafieira, e de repente aquela ratazana da porrada provavelmente passou a noite na gandaia enchendo a cara e na hora de ir para casa, que deve ser do outro lado do Campo, no Saara, ela teria que dar uma volta muito grande, cheia de cana, bateu a mão no peito, e falou, "volta, porra nenhuma, eu vou é atravessar na marra". Levou tanta porrada que deve estar correndo até hoje. Foi ai que lembrei daquele velho ditado ("Barata que é malandra não atravessa galinheiro"). Pois é: rato que é malandro não atravessa o Campo de Santana. (Foto: Orlando Abrunhosa)

2 comentários:

Isabela disse...

belíssima foto. o campo de santana é um dos mais belos parques do Rio e foi bem retratado aí em texto e fotos. Que o blog nos mostre outros locais onde a vida da cidade acontece

Elizio Victor disse...

Passo pelo Campo de Santana quase todos os dias. Adorei a história, tanto a real como a anedota.