domingo, 14 de novembro de 2021

MUNDO VASTO MUNDO * Por Roberto Muggiati

 “Selfiecídios” em alta: Narciso morre como Ícaro 

Foto: Corpo de Bombeiros

Com o relaxamento das restrições da pandemia, 2021 registrou um aumento no número de mortes causadas por selfies. Um estudo da revista científica Journal of Travel Medicine revelou que pelo menos 379 pessoas morreram entre janeiro de 2008 e julho de 2021 enquanto tentavam fazer selfies em situações de risco, geralmente despencando de grandes alturas. A quantidade de óbitos aumentou significativamente no primeiro semestre de 2021, chegando a 31 mortes – o equivalente a um por semana, segundo apontou a Fundação iO, de Madri, especializada em medicina tropical e do viajante.

O caso mais recente no Brasil ocorreu na última quinta-feira, 11 de novembro, em Brazlândia, no Distrito Federal.  Rafael Santana, de 39 anos, foi encontrado debaixo d'água, na cachoeira do Poço Azul, com lesão na cabeça. Segundo investigações, ele escorregou numa pedra enquanto se fotografava com o celular e caiu de uma altura de 30 metros.

No Rio de Janeiro, em agosto, dois jovens franceses – Clément Dumais e Paul Roux-dit-Buisson, 27, foram presos depois de fazerem uma selfie nos braços da estátua do Cristo do Corcovado. Os aventureiros passaram a noite ao pé da estátua de 38 metros de altura e, antes do amanhecer, subiram pela escadaria interna até os braços do Cristo, saindo pelos pequenos alçapões, para ver e registrar o nascer do sol sobre a baía da Guanabara.

Em janeiro de 2021, a professora Soliane Luiza, 28 anos, morreu ao cair do costão da Ponta do Vigia, na praia da Penha, em Santa Catarina, durante uma selfie. 

Os pontos com maior risco de “selfiecídios” já estão até devidamente catalogados: as cataratas do Niagara, na fronteira dos EUA com o Canadá; o Glen Canyon, nos EUA; a catarata de Mlango, no Quênia; o Taj Mahal e o vale de Doodhpathri, na Índia; o arquipélago de Langkawi, na Malásia; os Montes Urais, na Rússia; o Charco del Burro, na Colômbia; a ilha Nusa Lembongan, na Indonésia; e o Costão da Penha, em Santa Catarina.

O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países selfiecidas; os três primeiros são Índia, Estados Unidos e Rússia. O comportamento que leva a estes suicídios acidentais foi batizado “fenômeno ausente-presente” pela pós-doutora em psicologia da UFRGS, Ana Carolina Peuker: o indivíduo às vezes está tão conectado com a realidade virtual que minimiza aspectos do seu ambiente imediato. Segundo ela, “hoje a gente vive numa cultura que estimula esse comportamento”.


Atacama: o lixão é um luxo

Reprodução Drone/You Tube

O deserto de Atacama – que se estende por mil quilômetros do norte do Chile até o Peru, passando por Argentina e Bolívia – abriga um dos lixões mais insólitos do planeta: o depósito clandestino de roupas fast fashion descartadas por países do Primeiro Mundo. Cerca de 60 mil toneladas de vestimenta são desovadas anualmente através da Zona Franca do porto de Iquique, a 1800 quilômetros de Santiago.

Segundo a agência France Presse, “o consumo excessivo e fugaz de roupas, com redes de varejo capazes de liberar mais de 50 coleções e temporadas de novos produtos a cada ano, tem feito que o desperdício têxtil cresça exponencialmente no mundo. É um material que leva cerca de 200 anos para se desintegrar.”

São roupas fabricadas na China e em Bangladesh e comercializadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia, em metrópoles como Los Angeles, Berlim e Tóquio. O Chile é o maior importador de roupas usadas da América Latina e há quase 40 anos promove um sólido comércio de “roupas americanas”, abastecido pela pródiga variedade de itens amontoados nas “colinas” coloridas do deserto de Atacama.

Viena: vacinou, leva um “vale-saliência”...

Funpalast, Viena

Vacina em promoção

Na capital austríaca, onde o índice de imunização contra a Covid-19 é um dos piores da Europa, o bordel Funpalast resolveu demonstrar empreendedorismo e, é claro, faturar em cima da pandemia. Criou uma promoção especial: quem se vacinar nos posto instalado nas dependências do estabelecimento ganhará um voucher que dá direito a meia hora grátis na sauna na companhia de uma de suas profissionais, fantasiada de enfermeira (um fetiche pornô polêmico que é alvo de protestos das profissionais de saúde.).

Faz sentido: na era da fast food e da fast fashion, chegou a hora da fast fuck...

PS – Fiz uma pequena pesquisa, para atender aos interessados: o Funpalast fica na Richard-Strauss-Straße 8, 1230 Wien, Áustria. Telefone: +43 1 9042040. Opções de serviço: Comer no local. Não serve take away . Não faz deliveries. Abre às 11:00 e funciona até as 6:00 da manhã. Reclamações com o gerente Peter Laskari.

Noites de terror para Tite

Reprodução Twitter

Na capa da IstoÉ: os bilhões do rei do "gado"

sábado, 13 de novembro de 2021

COPA DE 1978 - Aquela noite de domingo em Rosário quase deu o Tetra ao Brasil • Roberto Muggiati

Goleiro Hermano salva milagrosamente gol de Roberto Dinamite. Reprodução You Tube

Esse negócio do Brasil jogar com a Argentina fora de Buenos Aires (em Mendoza) me levou de volta à Copa do Mundo de 1978 – uma das mais esdrúxulas das 21 disputadas até hoje.

Em 1974, na Alemanha, o Brasil, ainda dirigido por Zagallo, só contou efetivamente com dois veteranos do Tri, Jairzinho e Rivelino. Acabou eliminado pela nova sensação do futebol, a seleção holandesa – conhecida como “Carrossel Holandês” e “Laranja Mecânica” – e perdeu a disputa do terceiro lugar para a Polônia de Lato.

Em 1978, na Argentina, sob o comando de Cláudio Coutinho, a seleção apareceu renovada, com estrelas emergentes como Reinaldo (21 anos), Toninho Cerezo (23), Roberto Dinamite (24) e Zico (25). Preparador físico da seleção do tri, adepto do Método de Cooper, Coutinho privilegiou a europeização tática do time brasileiro. Momento decisivo da Copa de 1978 – uma espécie de final antecipada – foi o jogo entre Brasil e Argentina na segunda fase, na noite de domingo, 18 de junho, no estádio Gigante de Arroyito, em Rosário, com um público de 37.326 pessoas. Foi uma partida tensa e truncada, batizada “A batalha de Rosário”, em que o Brasil teve mais oportunidades que o adversário, mas acabou num empate de zero a zero.

A decisão sobre qual seleção iria para a grande final ficou para a última rodada: o Brasil enfrentaria a Polônia, a Argentina o Peru, em jogos marcados para o mesmo dia e hora. Mas a FIFA decidiu bruscamente que o jogo da Argentina só começaria depois que terminasse o do Brasil, que venceu a Polônia por 3 x 1. Assim, a Argentina entrou em campo sabendo que, para superar o Brasil no critério de desempate, precisaria vencer por 4 x 0 o Peru, uma das melhores seleções daquela Copa. Numa partida polêmica, em que os peruanos sofreram um inexplicável apagão, a Argentina ganhou por 6 x 0 e foi para a final contra a Holanda, ganhando por 3x1 e conquistando sua primeira Copa. Restou ao Brasil o consolo do terceiro lugar, ao vencer a Itália por 2x1.

Com quatro vitórias e três empates, o Brasil saiu invicto da Copa, mas sem levar a taça, fato inédito nas Copas do Mundo de futebol, que levou Cláudio Coutinho a cunhar a célebre frase: “Em 78, fomos os campeões morais.”

Apenas um gol do Brasil naquela noite no Gigante de Arroyito teria mudado a história. 

Se tiver tempo e curiosidade, veja a “Batalha de Rosário”

AQUI

A Superinteressante foi pioneira no negacionismo?

 

Reprodução  (clique na imagem para ampliar)

por José Esmeraldo Gonçalves 

O fato pode ser inédito no jornalismo. A matéria acima, publicada no Jornalista & Cia, citando revelação do colunista Maurício Stycer, do UOL, informa que a atual direção da Superinteressante decidiu retirar do seu acervo a edição de fevereiro de 2001 que trazia na capa reportagem sob o título "Vacina: a cura ou a doença". Faz algum sentido. Na era pré-internet, as revistas e os jornais repousavam silenciosos em arquivos e coleções pessoais. Hoje, ressuscitam com facilidade. Podem ser consultados com o clique no Google.

Aquela reportagem de capa deve conceder à revista, da Editora Abril, quando ainda era dos Civita, o título de pioneira no negacionismo, atualmente a bandeira odiosa dos bolsonaristas. 

Espantosa é a justificativa do então editor, Adriano Silva: " a revista era muito reverente ao cânone oficial da ciência. Resolvemos ampliar". Nessa estranha linha editorial do começo dos anos 2000, a Superinteressante também acolheu a tese de que a Aids não era causada pelo vírus HIV. Aparentemente, não deu certo desafiar o "cânone oficial da ciência".

Excluir a edição do acervo também abre uma discussão paralela: estaria a Superinteressante praticando a polêmica "teoria do esquecimento", aquela que pretende dar às pessoas e às instituições o direito de apagar da web mancadas e passados? O atual diretor da revista, Alexandre Versignassi, argumenta. como se lê no quadro acima, que em período de pandemia e de vacinação "não é como apagar a história, é uma questão de saúde pública". 

A capa que discute se vacinas são cura ou doença poderá voltar ao acervo em tempo menos revoltos, segundo o diretor disse à coluna do Maurício Stycer.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Na capa da Carta Capital. Sempre foi política. A togalícia agora quer votos

Sexo grátis em bordel austríaco. Mas só para quem se vacinar


Proprietário do Funpalast, um famoso clube de sexo de Viena, acumulou prejuízos com a Covid. Como  a vacinação completa, na Áustria, está em menos de 60% da população, o bordel resolveu acelerar o processo. Um posto instalado no local oferece um voucher a quem se vacinar. O vale-sexo dá direito a usar a piscina, ver jogos no telão, desfrutar da sauna.  E, se o imunizado preferir, pode escolher uma das belas profissionais do Funpalast. O voucher permite 30 minutos de sexo. Uma "princesa Sissi" pode estar esperando por você até o fim de novembro quando acaba a promoção.  

domingo, 7 de novembro de 2021

As armadilhas mortais das Gerais • Por Roberto Muggiati


Reprodução Twitter
Nos últimos anos, Minas Gerais se protagonizou por uma sequência de desastres: 

 • O vazamento de Mariana, em 2015, cuja lama tóxica degradou o meio ambiente e devastou a vida animal e a de populações de uma imensa região, levando a poluição até as águas do Oceano Atlântico no litoral capixaba.

• O rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019, o maior acidente de trabalho no Brasil em perda de vidas humanas e o segundo maior desastre industrial do século. 

• Agora, a morte trágica da cantora Marília Mendonça, quando o avião em que viajava se chocou com um cabo elétrico da rede de distribuição da Cemig nas proximidades do aeroporto de Caratinga, onde a Rainha da Sofrência e expressão maior do “feminejo” se apresentaria num show.

Na ocasião do desastre de Mariana citei um poema (com forte dosagem crítica) de Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira, importante cidade do  Quadrilátero Ferrífero mineiro.


LIRA ITABIRANA

I

             O Rio? É doce.

A Vale? Amarga.

Ai, antes fosse

Mais leve a carga.

             II

             Entre estatais

E multinacionais,

Quantos ais!

III

A dívida interna.

A dívida externa

A dívida eterna.

IV

Quantas toneladas exportamos

De ferro?

Quantas lágrimas disfarçamos

Sem berro?


Agora, outro poema de Drummond se presta a uma paráfrase, , aquele que começa com o verso, No meio do caminho tinha uma pedra:


NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha um cabo

Tinha um cabo no meio do caminho

Tinha um cabo

No meio do caminho tinha um cabo


Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha um cabo

Tinha um cabo no meio do caminho

No meio do caminho tinha um cabo

sábado, 6 de novembro de 2021

Marília Mendonça: as capas do adeus

Os editores se dividiram entre as capas factuais que mostram o acidente e as capas-homenagem que relembram a carreira da cantora sertaneja  ou a emoção do adeus. Nessa última linha o Meia Hora encontrou uma solução estética bem realizada. As imagens são reproduções do site vercapas.com.br

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Quando o público poderá ver o mural "Última Ceia", a obra de Ziraldo que o antigo Canecão emparedou?

 

Ziraldo revê parte do mural "Útima Ceia". Foto Ag. Brasil

por J.A.Barros

Os países europeus, através dos séculos, apreciavam a cultura nas artes em geral. Alguns tinham a música como o interesse principal, outros se dedicavam mais às artes plásticas. A escultura que teve a Grécia como um dos seus berços, tendo Fídias como seu grande criador. No mundo moderno, ressalte-se o talento de Rodin.

A Europa também se destacou na literatura. Grandes escritores se eternizaram. Na filosofia, pensadores modernos surgiram questionando sempre a razão. Países europeus se destacaram, não pelas armas, mas pela cultura de seus povos que  traziam  ao mundo as respostas ao questionamento do homem.

Nas suas raízes, os povos europeus aprenderam a cultivar e respeitar as obras clássicas de seus artistas em todos os seus elementos.

E me pergunto: por que, aqui no Brasil, a cultura não é vista e respeitada tal qual os povos europeus o fazem? 

A prova de que estou falando vem de uma obra, um mural pintado sobre uma parte de uma parede de uma casa de espetáculo, o Canecão. O mural "Última Ceia" tem mais ou menos 30 metros de extensão. Naquela parede, um jovem artista, mineiro de Caratinga, pintou uma visão sua de uma ceia irreverente.

Essa obra, apesar de estar dentro de um recinto fechado, de limitado acesso ao público, era vista por todos que frequentavam a tradicional casa de espetáculos. Quem ali fosse passar algumas horas de distração ouvindo música ao mesmo tempo apreciava o mural. A plateia tinha diante de seus olhos a arte maravilhosa de um artista que se projetava para o mundo da informação e comunicação. Pois,  acreditem, o empresário dono do Canecão, posteriormente despejado por dever aluguel, mandou cobrir a obra com um oleado que o tornou invisível e esquecido pela cidade do Rio de Janeiro.

Mas, esse artista, Ziraldo, com seu talento criativo, seguiu em frente como desenhista e como cartunista. Tornou-se um dos melhores chargistas políticos no Jornal do Brasil e levou sua arte aos leitores da revista Manchete. Incansável, conquistou depois um imenso público de crianças ao contar em livros histórias maravilhosasd como a do  “Menino  Maluquinho”, publicado  originalmente em “tiras” no jornal O Globo.

Pergunto o que acontecerá com o mural nas paredes do Canecão, hoje fechado e abandonado? Nãio faz muito tempo, houve uma campanha para restaurá-lo. Apesar dsso, continuará esquecido ? Quando o público poderá apreciá-lo?  O predio da antiga casa de espetáculos pertence à UFRJ, que tem planos que ainda não saíram do papel para tranformá-lo em centro cultural. 

Deem a Ziraldo o que é de Ziraldo. E ao  ao povo a arte de Ziraldo.

Leia conteúdo relacionado publicado neste blog em 2015. AQUI

Ameaça climática

Reprodução Twitter

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Nelson Freire (1944-2021): a alma das teclas

 

Nelson Freire em 1972, na Manchete. A foto é de Gil Pinheiro

O pianista Nelson Freire, um dos maiores do mundo, morreu ontem, no Rio de Janeiro, aos 77 anos, mas não silencia. Seu extraordinário talento está registrado. É eterno. A melhor homenagem é ouví-lo, sentí-lo. Veja aqui dois momentos da sua longa e brilhante carreira. 

Beethoven Moonlight Sonata 

https://www.youtube.com/watch?v=eFIe8xoS1jI


Bachianas Brasileiras nº 4 Prelude (Villa-Lobos)

https://www.youtube.com/watch?v=A1Emge2-4AM

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

O G20 foi à fonte • Por Roberto Muggiati

Chefes de Estado lançam moedas na Fontana di Trevi. Reprodução RAI

Em Roma, faça como os romanos, reza o ditado. Mas romano que se preza nunca jogou moeda na Fontana di Trevi, uma das mais famosas fontes do mundo, emoldurada por um imponente conjunto de esculturas barrocas, inaugurada há quase 260 anos, em 1762. 


O costume de jogar moedas na fonte – garantindo ao viajante uma volta à Cidade Eterna – foi reforçado pelo turismo de massa nos anos do pós-guerra e exaltado em 1954 pelo filme Three Coins in the Fountain/A fonte dos desejos, um dos primeiros realizados em CinemaScope. O melhor do filme foi a canção da dupla Jule Styne e Sammy Cahn, vencedora do Oscar, que mereceu sua melhor interpretação na voz de Frank Sinatra, OUÇA AQUI

https://www.youtube.com/watch?v=B1FZpyUfM5g


Anita  Ekberg em Dolce Vita.  Foto Divulgação

Em 1960, o diretor italiano Carlo Campogalliani lançou o filme Fontana di Trevi, uma comédia insossa. A grande referência cinematográfica da Fonte de Trevi é a cena da Dolce Vita, de Fellini, em que a atriz sueca Anita Ekberg se banha à noite em suas águas, na companhia de um embasbacado Marcello Mastroianni. VEJA AQUI

https://www.youtube.com/watch?v=The8Xi6fKOE

Neste domingo, encerrando a cúpula do G20, os chefes de estado foram à Fonte de Trevi jogar sua moedinha, seguindo a tradição: com a mão direita, de costas para a fonte. Mas não foi uma moedinha comum e sim a moeda de um euro cunhada especialmente para a ocasião, com a imagem do Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci. (O presidente brasileiro não acompanhou a turma, visitou a fonte na sexta-feira com o filho e membros da comitiva.) Em 2016 foram recolhidos um milhão e meio de euros, que foram destinados a projetos de beneficentes. 

 Em 2020 foi decidido que a fonte será cercada por uma barreira de vidro com um metro de altura para protegê-la de comportamentos inadequados e de vandalismos de alguns dos milhões de turistas que todos os anos visitam Roma.

O galo (bolsonarista) da discórdia

Se o seu vizinho for um bolsolarista ensandencido, cuidado. Em Petrópolis, Marcos Ferreira,  admnirador do "mito", foi preso sob a acusação de assassinar o moradoir ao lado. Ocorre que o matador tinha um galo ao qual ensinou cantar "Bolsonaro". O vizinho Ricardo Montojos vinha reclamando do barulho do galinheiro. A cantoria do galo fascista acabou com o que restava da sua paciência e ele se queixou ao bolsonarista. Este deu-lhe um tiro e, com a vítima caída, ainda golpeou sua cabeça com um pedra. 

domingo, 31 de outubro de 2021

Um zumbi em Roma

Reprodução vídeo Twitter. Link abaixo

por José Esmeraldo Gonçalves

Na reunião do G-20  - na verdade G-19, porque o brasileiro foi o nada absoluto - os chefes de Estado deram um perdido em Bolsonaro. Ele vagava pelos salões como uma alma penada, como mostra o vídeo e comenta a midia. Desimportante, foi praticamente ignorado.  Vai ver os participantes alertaram: "disfarça que lá vem o samsonite. E amanhã não avisa que a gente vai à Fontana di Trevi"
De fato, os líderes foram ao famoso monumento de Bernini e não chamaram o presidente do Bananão, como dizia Ivan Lessa.  Bolsonaro conseguiu trocar algumas palavras com garçons que eram obrigados a ouví-lo. Deve ter pedido apoio para o Brasil entrar na OCDE, sim porque não teve chance de falar sobre isso com mais ninguém. Houve um breve momento em que o brasileiro falou com Angela Merkel para um papo. Para abrir a conversa teria dito "eu não sou tão mau quanto dizem". Bolsonaro tem razão ao não querer ir à Conferência do Clima em Glasgow. São encontros como esses que o levam a chorar no banheiro.

sábado, 30 de outubro de 2021

Por falar em Itália: já viu essa frase em algum lugar?

Publimemória: anúncio da País&Filhos em 1982

Reproduzido do site Propaganda Histórica

Batendo um bolão na Itália. A charge é do jornal La Repubblica

Os homens e os seus nomes: pensata em tempos vazios

por J.A.Barros

De repente me perco, pensando nos grandes homens que marcaram a sua presença nesse histórico mundo. Mundo  onde,  na Idade da Pedra, o homem ainda carregava nas suas rudes e calosas mãos um machado, um machado de pedra, para abater a presa que o alimentava e, ao mesmo tempo, se defender das feras famintas que o cercavam e que também o queriam como presa. 

Do machado de pedra, o homem de hoje chegou à arma automática capaz de disparar 30 balas para matar o inimigo que o espreita atrás de cada esquina. Hoje, o homem não se defende das feras famintas, se defende do próprio homem.

Essa é a luta do homem para sobreviver e viver dias de glória  e dias de  luto neste mundo em que ele nem sabe o que está fazendo e nem como nele veio parar. Mas é preciso ir em frente e construir na vida algo perene que justifique a existência e fique para os que vierem depois. Algo que os faça entender o mundo que recebem para viver. 

E me perco pensando nos homens que pela sua força, sua história, sua inteligência e sua coragem construíram impérios e civilizações. Penso em Júlio Cesar, o conquistador da Gália, que deu a Roma o maior império do mundo. Em Justiniano, que de Bizâncio construiu o Império Romano Oriental. Ou no conquistadores que vieram da Ásia e invadiram mundo conhecidos ou inexplorados. Penso em Carlos Magno, criador a dinastia Carolíngea. Nos guerreiros mongóis, Ghengis Khan que criaou o Império Mongol e Tamerlão, que o renovou. Kublai Khan, neto do herói das planícies asiáticas, Ghengis Khan, que conquistou a China e no seu trono permaneceu.

E penso em Pedro, o Grande, que trouxe à Rússia a civilizaçao do mundo europeu e penso nos outros Impérios que se seguiram. Grandes homens. Napoleão, que trazia nos seus sonhos a unificação da Europa. Além de Abrahão Lincoln, sempre me vem à cabeça o nome de Franklin Delano Roosevelt, que transformou a América do Norte no país que é hoje, mas penso também em Churchil, o ministro que deu à Inglaterra a coragem de lutar contra as forças nazistas que ameaçavam a liberdade da civilização ocidental.

Grandes nomes, grandes homens. E fico a pensar porque neste Brasil, tão imenso e tão rico, até hoje não surgiu um nome, um homem que desse ao país todo o esplendor e a grandeza de que é merecedor.

A IstoÉ não pode reclamar: a capa do Morump continua repercutindo

Reprodução Twitter

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Você conhece o Gilberto Tumscitz? • Por Roberto Muggiati

Gilberto Braga. anos 70, quando ainda era
Tumscitz. Foto Arquivo Pessoal.
Muita gente famosa começou anonimamente na Manchete. Cito alguns, aleatoriamente: o Mago Paulo Coelho (foi correspondente em Londres), o bailarino Carlinhos de Jesus (trabalhou na administração), o repórter-mártir da TV Globo Tim Lopes (foi contínuo na redação, ali ganhou o apelido pela cabeleira à Tim Maia), o saxofonista Leo Gandelmann (era fotógrafo), o roqueiro Júlio Barroso (da Gang 90 & Absurdettes, foi da Sucursal em Nova York), o autor cult Paulo Leminski (em 1969 passou sem deixar traços pelo Departamento de Pesquisa da Bloch), Belisa Ribeiro, assessora de comunicação do Presidente Collor (foi repórter da Manchete) e muitos outros.

Um deles, um rapaz tímido na casa dos vinte anos – formado em Letras pela PUC e professor na Alliança Francesa – começou escrevendo na reportagem da revista Manchete sob o nome  de Gilberto Tumscitz (o sobrenome materno), os colegas o chamavam afetuosamente de Gilberto Tumtum.

Já escrevi aqui no Panis sobre a figura especial do Serge Elmalan, diagramador que Justino Martins contratou para as revistas da Bloch em Paris.  Certa noite, Serge convidou-me para uma “reuniãozinha” em seu apartamento no Lido, num prédio vintage, no estilo art déco. Ao entrar, surpreendo-me com um “petit comité” de celebridades: a romancista Françoise Sagan (Bonjour Tristesse), a Begum Aga Khan (viúva de um dos homens mais ricos do século e mãe do playboy Ali Kahn, ex-marido de Rita Hayworth), o cineasta Jacques Deray (dirigiu Alain Delon em Borsalino, um precursor francês de O poderoso chefão). A imprensa brasileira nunca chegou a saber da visita destas personalidades ao Rio – mesmo porque sua única visita deve ter sido ao apartamento do Serge. Da Manchete, só eu e Gilberto Tumscitz, acompanhado pela mãe. (Depois do trauma de perder o pai de infarto fulminante aos 17 anos, Gilberto presenciou, aos 27, o suicídio da mãe, que se atirou do apartamento de Copacabana onde moravam, perdas brutais que se refletiriam em muitos dos seus enredos.) 

Sentindo-se estagnar na Bloch, Gilberto foi escrever críticas de teatro e cinema no jornal O Globo. Em 1973 o ex-foca da Manchete iniciava na TV Globo o que seria uma carreira vitoriosa de quase meio século como um dos melhores autores de telenovelas do país.


Gilberto Braga (1945-2021): o mago das novelas foi repórter da revista Manchete.





Gilberto Braga morreu hoje, no Rio, aos 75 anos. Foi um grande autor de novelas que seduziram milhões de pessoas. Com muito merecimento, nesses tempos sombrios, sua trajetória é lembrada pela mídia. 

Ele começou sua carreira em 1972 e se tornou um dos mais bem-sucedido novelistas da TV Globo onde escreveu "Dancin’ Days” (1978), “Vale tudo” (1988), "Celebridade" (2003) e "Paraíso Tropical" (2008), "Anos dourados" (1984) e "Escrava Isaura" (1976). "Babilônia", em 2015, foi seu último trabalho na Globo. Não conseguiu emplacar mais nada. A máquina anda, a máquina descarta. 

Em 1974, Manchete registrou a estreia do seus ex-repórter na TV.

Poucos vão lembrar, mas Gilberto Braga, quando assinava como Gilberto Tumscitz, foi repórter da revista Manchete.  Tinha 26 anos quando fez as matérias acima reproduzidas.

VEJA NOS LINKS ABAIXO ALGUMAS MATÉRIAS DE GILBERTO BRAGA PARA A MANCHETE


http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pesq=Gilberto%20Tumscitz&pagfis=110279

http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pesq=Gilberto%20Tumscitz&pagfis=111910

http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=004120&pesq=Gilberto%20Tumscitz&pagfis=113691


Gourmet pandêmico • Por Roberto Muggiati

Com o corpo confinado, é a cabeça que tem de se virar. Aí passei então a inventar todo tipo de coisas malucas na cozinha. E olhem que não tenho nem gás aqui. Microondas não ajuda muito, tenho de me virar com um fogão elétrico de duas chapas e um forno elétrico que mais parece a Siderúrgica de Volta Redonda: bobeou, torrou... 

A última encrenca em que me meti deu um bom trabalho, mas, depois de vários ensaios, cheguei a uma pequena receita gostosa e digna, a Caponata Ecumênica de Jiló, com berinjela, abobrinha, alho porró, pimentão verde, pimentão vermelho, passas e uma base de cebola e alho picado. Não me perguntem as medidas, elas não existem, a coisa toda é feita no instinto, à bangu, pra quem saca a boa gíria da malandragem carioca. Levei algum tempo para criar a versão definitiva – a que foi para a fotografia – mas tudo correu com fluidez e leveza.

Em nossa era de fast tudo, somos bombardeados por pequenas dicas de saúde: “meia hora de atividade física por dia para blindar o cérebro”, “fazer faxina pode ajudar a saúde mental”, “exercícios noturnos ajudam os hipertensos”, “cinco minutos diários de meditação transformam a estrutura do cérebro”. 

Nesse quesito eu acredito. Mas não naquela visão caricata da meditação: o sujeito na posição da flor de lótus, como um bodisatva, aquele ser budista iluminado pela compaixão. De repente, na faina de separar e aquecer al dente cada um dos oito ingredientes, com seus diferentes tempos de cozimento, me dei conta de que, apesar da intensa atividade física e intelectual, minha mente estava a eons de distância, numa espécie de “meditação dinâmica” – enfim, lanço aqui também o conceito, com a receita descolada.

Dedico o prato aos mestres Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, compositor e letrista de Qui nem jiló, um dos clássicos da Era do Rádio, do ano redondo de 1950.

Ouçam aqui

https://www.youtube.com/watch?v=CzBnMePEIk8

E a letra:


Qui nem Jiló

Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira

Se a gente lembra só por lembrar

O amor que a gente um dia perdeu

Saudade inté que assim é bom

Pro cabra se convencer

Que é feliz sem saber

Pois não sofreu

Porém se a gente vive a sonhar

Com alguém que se deseja rever

Saudade, entonce, aí é ruim

Eu tiro isso por mim

Que vivo doido a sofrer

Ai quem me dera voltar

Pros braços do meu xodó

Saudade assim faz roer

E amarga qui nem jiló

Mas ninguém pode dizer

Que me viu triste a chorar

Saudade, o meu remédio é cantar

Saudade, o meu remédio é cantar

Ai quem me dera voltar

Pros braços do meu xodó

Saudade assim faz roer

E amarga qui nem jiló

Mas ninguém pode dizer

Que me viu triste a chorar

Saudade, o meu remédio é cantar

Saudade, o meu remédio é cantar

 


Afogados do Sena: o massacre de 17 de outubro de 1961 • Por Roberto Muggiati

1961: manifestantes argelinos presos em Paris. Foto de Fernando Parizot/AFP
que você pode ver neste link


"Aqui afogamos os argelinos". Foto L'Humanite/Keystone que você pode ver neste link

Hemingway disse: “Se você teve a sorte de morar em Paris quando jovem, aonde quer que vá, a cidade o acompanhará pelo resto da vida.” Tinha razão: a memória do ano e meio que vivi em Paris, há sessenta anos, ainda dorme toda noite e acorda todo dia comigo. 

Paris guardava cicatrizes de muitas lutas de muitas épocas em seus mais diversos quartiers. Da Revolução, da Comuna, da Ocupação nazista. Quando ia toda noite a pé do metrô de Luxembourg até a Cinémathèque na rue d’Ulm, me deparava com uma cabeça enfiada na ponta de lança de uma grade de ferro – uma cópia em argila da cabeça original, humana, decepada pela guilhotina na época da Bastilha. Prédios e paredes na rive gauche ostentavam furos de balas dos tiroteios da Segunda Guerra, quando os alemães foram rechaçados de Paris, episódio descrito no filme Paris está em chamas? Em abril de 1961, morando na Île de la Cité, vivi na pele o malogrado putsch dos generais da Argélia, quando quatro cinco estrelas de pijama ameaçaram não só tomar conta do poder na colônia – onde os gaullistas já negociavam a libertação da Argélia – mas invadir aeroportos estratégicos da França com paraquedistas, ameaça que foi detectada pelo serviço de inteligência do primeiro ministro Debré. Em 22 de abril, todos os voos e decolagens foram proibidos em aeroportos parisienses e o exército foi mobilizado para resistir ao golpe. No dia seguinte, o presidente Charles De Gaulle fez um famoso discurso na televisão, vestindo seu uniforme vintage de general dos anos 1940, conclamando o povo francês a apoiá-lo. Na noite de 24 de abril, voltando para meu hotel do lançamento do livro American Express, do poeta beat Gregory Corso, encontrei todas as pontes que levavam à ilha bloqueadas por fileiras de velhos ônibus e centenas de gendarmes – com suas casquettes e pélerines –fazendo a triagem de cada passante: “Vos papiers, s’il vous plaît?”

Felizmente, naqueles tempos difíceis, eu andava sempre com o passaporte e a Carte de Séjour de bolsista. O putsch dos generais fracassou, mas a conspiração da direita seguiu firme (lembram o filme O dia do chacal, que mostra a tentativa de assassinato de De Gaulle?).  O episódio mais chocante de toda aquela época foi a morte de 200 argelinos na mais violenta repressão de uma manifestação pacífica depois da Segunda Guerra. Operários argelinos vieram desarmados em marcha da periferia para o centro de Paris protestar contra o toque de recolher, que só atingia os “franceses muçulmanos da Argélia”. O ataque violento dos policiais foi ordenado pelo Préfet de Police Maurice Papon, responsável pela deportação dos judeus de Bordeaux durante a guerra. Pelo menos duas centenas de argelinos morreram e muitos corpos foram jogados no rio Sena. Numa das pontes os assassinos ainda rabiscaram acintosamente: “ICI ON NOIE LES ARGELIENS”, “aqui afogamos os argelinos”.

O massacre praticamente não foi noticiado pela imprensa, foi totalmente censurado, os arquivos oficiais trancados para os historiadores. Naquele dia eu estava a quase mil quilômetros de Paris, paquerando uma italianinha que tinha saído de um curso de inglês diante do túmulo de Dante Alighieri em Ravena, o grande poeta morreu no exílio longe da sua amada Florença. Só fiquei sabendo do episódio sangrento muito tempo depois.

De volta a Paris em novembro, depois do meu Grand Tour de dois meses pela Itália, encontrei a cidade visivelmente mais tensa. Até o fim do ano, houve uma escalada de explosões por Paris inteira, mas o movimento anticolonialista, liderado pela Frente de Libertação Nacional (FLN) seguiu em frente e a independência da Argélia foi assinada entre o governo francês e o governo provisório da República Argelina nos Acordos de Évian, em 18 de março de 1962. A esta altura, eu estava de volta a Curitiba, não posso dizer seguro e tranquilo, o horizonte brasileiro já estava carregado com as nuvens negras do golpe militar iminente. Apesar de tudo, consegui fazer de Paris uma festa só para mim, mas jamais esqueci os momentos sombrios da cidade aterrorizada de 1961.

Brasil a ânus luz da civilização

por O.V.Pochê 

O roteirista do Brasil está embalado. A sucessão de acontecimentos bizarros que fazem a atual conjuntura é de deixar o Febeapá (Festival de Besteiras que assola o País) de Stanislaw Ponte Preta, uma espécie de manual das asneiras da ditadura militar lançado na década de 60, a ânus luz de distância. E a loucura nacional acomete o governo e os políticos e desanda os cidadãos comuns e até os incomuns, caso existam. "Doidêra" como se diz.

* Em Goiatuba, Goiás, o pastor Carlos Rodrigues bateu as botas mas garantiu às suas ovelhas que iria ressuscitar três dias depois de morto. Deixou até horta marcada e documento assinado por testemunhas onde informava a quem interessase que a ressureição era uma missão que Jesus lhe dava. A mulher do evangélico exigiu que as autoridades permitissem a espera. O velório do corpo que, segundo o pastor, seria algo como uma soneca, atraiu uma multidão. Na falta do que fazer, o povo ficou de prontidão esperando o enviado de Jesus. Não rolou. O novo endereço do indigitado é o cemitério local, a sete palmos do resto da humanidade.

* O Maracanã vai ser novamente leiloado. O Estado do Rio de Janeiro, que tem o bolsonarista Claudio Castro à frente, lançou um edital onde determina que os empresários ou os clubes que conquistarem a concessão do estádio deverão ceder no mínimo 21 mil ingressos por ano para o governo estadual. Detalhe: são cinco camarotes (200 ingressos e bufê) por partida. Isso sem falar que o estado administra 600 cadeiras perpétuas que ainda não foram recadastradas por proprietários ou seus herdeiros. O velho Maracanã perdeu a gerale ganhou um feudo político. Se o futuro concessionário quiser se livrar da obrigação bastaria exigir ficha limpa ou prontuário policial dos "torcedores estatais".Ia sobrar muito lugar nesses camarotes.

* A comitiva brasileira enviada à ONU tinha mais de 60 alegres autoridaes. A delegação que acompanhou o general Mourão à África para tentar limpar a barra da Igreja Universal tinha uma galera de responsa. Para a Cop 26 o Brasil deve levar 100 titulares da boca livre internacional. E isso para dizer que o aquecimento global é coisa de "cuminista e ateu". 

* Bolsonaro disse em live que vacina provoca Aids. O psicopata deve pedir desculpas aos gays. Quando o HIV surgiu, em 1980, ainda na ditadura, a mídia, sob aplausos do governo militar, chamava de "peste gay". Vai ver a culpa era só culpa das vacinas da época.

* Depois de gozar da repórter dizendo que ela queria “dar o furo”, agora quem deu o furo foi Bolsonaro: no teto fiscal do Guedes.

* As pedaladas fiscais da Dilma (que motivaram o golpe) são brincadeiras comparadas com as “motociatas” fiscais do Bozo.

* O vocabulário do Renan Calheiros está muito rico. Imagino esse tipo de diálogo:

 - Pai, o que é caviloso?

- Sei lá filho, acho que é algo a ver com o homem das cavernas...

* Zé Trovão, o suposto caminhoneiro que é o "Zapata" da direita fugiu para o México, não gostou da pimenta local, voltou para o Brasil, a polícia não percebeu, apesar do elemento estar com prisão decretada, e resolveu se esconder. Homiziou-se-se na própria casa, seu antigo endereço, onde ficou por dois dias antes de se entregar. É o único caso do fugitivo com CEP conhecido.

   

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Manchete como fonte de pesquisa bibliográfica e jornalística

Manchete é provavelmente a revista brasileira mais presente em livros. Seja através da reprodução de conteúdo jornalístico relevante, seja por meio de compilação de crônicas ou de reportagens,  entrevistas e pesquisa histórica. Livros com textos de Rubem Braga e de Nelson Rodrigues escritos para a revista ou entrevistas feitas por Clarice Lispector no tempo em que colaborou com Manchete (e Fatos & Fotos) foram reproduzidas em obras recentes. A pesquisa jornalística e fotográfica também tem na revista um indicativo muito procurado. Na matéria acima, sobre o arquiteto Lúcio Costa, Manchete é citada como coadjuvante. Mais precisamente é lembrada pela Folha de São Paulo uma reportagem da revista na casa do arquiteto. Fora das bancas desde os anos 2000, Manchete sobrevive como fonte, hoje mais acessível por ter sua coleção digitalizada pela Biblioteca Nacional.

Pandora Papers: o paraíso fiscal saúda a imprensa, pede passagem e sai de fininho

Cadê o escândalo que estava aqui? Sumiu. 

Os documentos obtidos pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, na sigla em inglês), sediado em Washington D.C., nos Estados Unidos, alimentaram os chamados Pandora Papers. Mais de 600 jornalistas de 149 veículos de 117 países mergulharam nas águas turvas dos paraísos fiscais. No Brasil, você leu sobre isso no Poder360, que faz parte da investigação e revelou as contas offshores de empresários e autoridades, entre as quais o ministro da Economia Paulo Guedes. Os principais jornais do mundo integraram o consórcio que levantou as lebres fiscais. Nenhum do Brasil. The Washington Post, BBC, Radio France,  Die Zeit e a TV NHK, entre outros veículo questionaram suas autoridades e elites financeiras sobre a prática que, apesar do sol do Caribe, tem zonas de sombra.

Você deve terreparado que a grande mídia brasileira inicialmente ignorou o assunto. Deu um pouco mais de relevância dois ou três dias depois da revelação do Poder 360, mas aí com a conveniência, para eles, de destacar a defesa de Paulo Guedes. Mesmo assim, o assunto durou pouco nos véiculos dos grandes grupos. Lá fora, resultou até em demissões importantes de envolvidos. O ministro da Indústria da Espanha pediu o boné. O presidente de um banco austríaco saiu de fininho. o primeir-minostro da Islândia entregou o cargo.  No Brasil, se não acabou em pizza, foi saboreado com peixe crioulo, patacones e mojitos típicos do Caribe.

A falta de atenção da mídia conservadora aos Pandora Papers envolve uma curiosa coincidência: milhões de dólares de empresários do setor de comunicação estão hospedados nos paraísos fiscais onde curtem a dolce vita da desvalorização do real. Cada vez que a moeda brasileira desce a ladeira a fortuna de Paulo Guedes e dos donos da mídia citados pela investigação jornalística escalam o borderô offshore. 

Observem que aqui ou em qualquer país um ministro da Economia e a imprensa têm o poder intencional ou não de fazer oscilar o dólar. Um fala, a outra repercute. Revelações ou comentários em um dia e eventuais desmentidos 24 horas depois - e isso acontece com certa frequência - dão um sacode no dólar pra cima, pra baixo, pros lados, não importa. Digamos que um sortudo adivinhe essa gangorra e faça seu jogo no mercado com base, digamos de novo, na intuição. Vai se dar bem e comemorar nas redes sociais: "papai tá on", dirá. 

O nome disso é felicidade.  

Leia no Poder 360 a matéria sobre os barões de mídia no off shore. AQUI

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

“A China está nos estuprando!” • Por Roberto Muggiati

Chapéu de padeiro veio de
Foshan,China,
via Curitiba.

No outro polo dos paraísos fiscais estão os infernos da mão-de-obra barata. Não bastasse isso, vivemos o tempo dos presidentes grossos e boquirrotos. Mas Trump acertou na mosca ao chiar sobre produtos que, mesmo vindos do outro lado do mundo, custam bem mais baratos aqui  do que aqueles da produção local. 

Aqui na Rua das Laranjeiras, no que eu chamo de Baixo Glicério, existe um mini-camelódromo debaixo da marquise do Bradesco. Já encontrei ali bons livros, CDs e DVDs a preço de banana. (Alguns romances da Elena Ferrante novos em folha a três por dez reais. ) E roupas também. Na barraca da Thereza tenho achado coisas boas e baratas. Calças e camisas em estado novo a 20 reais cada. Como minhas malas estão há um ano num guarda-móveis, foi um jeito conveniente de remediar meu guarda-roupa. Afinal, na pandemia impera a moda pauvre chic. 

Descrevo alguns itens para vocês terem uma ideia da variedade incrível de procedências. Um short cinza escuro de moletom da ZARA Paquistão. Uma calça comprida marrom claro da ZARA Turquia. (Lembro-me de um amigo que fotografou em Istambul um quiosque que se gabava de vender “genuine fake watches”.) Uma camisa polo cor-de-abobora da NIKE Vietnã. Uma calça comprida preta da VILLA VITTIN Portugal. Sombreros Panamá do Ecuador made in China.  Outros originários da RPC, o que dá na mesma: República Popular da China. 

Foshan: o entreposto global

Também comprei alguma coisa pela internet. O site de roupas Shein promovia um simpático “chapéu de padeiro” por apenas R$ 38. Demorou a chegar, via Curitiba, descobri depois que era fabricado em Foshan, na província de Cantão, no poético Delta do Rio das Pérolas, não fosse Foshan uma megalópole industrial de oito milhões de habitantes. Apelando para o título brasileiro de um filme que no original tinha apenas cinco letras, Giant, “assim caminha a humanidade...”

Com Chaplin, confinamento sem crise • Por Roberto Muggiati


No apagão do som, a genialidade de Chaplin em Em busca do ouro.

Nossa dependência da tecnologia é terrível, lembrem o recente apagão do Whatsapp. Meu caso é mais modesto, mas para mim assume dimensões gigantescas. Nos últimos dias, meu computador ficou mudo, por mais que eu tentasse não consegui reinstalar o som em músicas, filmes e tudo mais. 

Estou à espera de uma alma caridosa que me socorra e faça ouvir de novo. Ou de um técnico que aceite um cheque pré-datado para o próximo 5º dia útil de novembro.

Desde que a Manchete faliu, continuei trabalhando em casa, fazendo colaborações para a imprensa e traduções. Com o trabalho escasso, conheci a liberdade ilimitada de escrever de graça – o fato é que há 67 anos, desde que comecei a trabalhar na Gazeta do Povo de Curitiba, em 15 de março de 1954, não me afastei um dia sequer do teclado. Meu sonho é bater o recorde do Henrique Nicolini, um redator esportivo de São Paulo: ao morrer, aos 91 anos em 2017, ele detinha o Recorde Guinness de jornalista mais longevo na profissão no mundo, com 70 anos de batente. Para isso, basta eu viver mais uns quatro anos – minha primeira matéria assinada é de 1955, uma entrevista exclusiva com Portinari quando ele esboçava no seu ateliê do Leme o mural Guerra e Paz para o edifício da ONU em Nova York.

A imagem original em P&B

E a mesma cena colorizada


Voltemos ao ponto: ao fim de cada jornada de trabalho, eu refresco a cabeça vendo um filme no computador (meu toca-DVDs e TV ainda estão num guarda-móveis com a TV desde a diáspora de Botafogo para Laranjeiras há mais de um ano.) Vejo muita coisa boa pelo YouTube. Sem som fiquei ao léu. Mas, como dizia o grande filósofo greco-carcamano Frank Platão Zappa, “a necessidade é a mãe da invenção” e lembrei de repente que existem filmes fabulosos sem som. (Certos críticos radicais defendem que o único cinema válido é o mudo.) Charles Chaplin, por exemplo. Ao escrever estas linhas, estou revendo o maravilhoso A corrida do ouro, de 1925. Por mais vezes que tenha visto esse clássico, sempre topo com a novidade de um detalhe ou outro. O filme é disponibilizado ainda na versão colorizada, dei uma espiada para conferir (comparem as versões da mesma cena em preto-e-branco e colorizada). A tentativa de colorir clássicos em p&b não deu em nada – aliás, a fotografia é uma arte que se afirma no preto e branco, com a sua linguagem própria, sem a menor pretensão de “imitar” a realidade. 

Em busca do ouro: o happy end.


Só Chaplin para fazer da fome um tema cômico. E o happy end selado por um beijo, a mocinha e o milionário travestido em vagabundo. No filme seguinte, Luzes da cidade, o final é o oposto: a mocinha que volta a enxergar descobre que o seu sonhado milionário dos tempos de cegueira é um vagabundo. O gênio de Chaplin termina o filme em aberto.


 Clouzot descobriu o Danúbio Azul 15 anos antes de Kubrick


 
Em 2001, a coreografia da nave no ritmo da trilha sonora que O salário do medo usou.
Depois que Stanley Kubrick mostrou o acoplamento de uma nave espacial com uma estação orbital ao som do Danúbio azul em 2001: uma odisseia no espaço, nunca ninguém ouviu mais a velha valsa de Strauss da mesma maneira. Essa é a marca do gênio.



A dança de Vera Amado Clouzot

E o bilhete do metrô de Paris


Mas a coisa não é bem assim: outro cineasta já tinha dançado esta valsa quinze antes do Kubrick: Henri-Georges Clouzot, em O salário do medo, de 1953. O filme se passa num buraco da Venezuela, onde reina a miséria e um punhado de europeus desgarrados passa fome sonhando com o dinheiro da passagem de avião para Paris. Uma catástrofe traz a oportunidade para quatro eleitos numa missão suicida. Duas duplas têm de dirigir seu caminhão carregado de nitroglicerina até o local do incêndio de um lençol petrolífero ao longo de estradas de terra batida que atravessam a selva. A dupla que vai à frente explode, a dupla que segue atrás atola no lago de petróleo que vaza dos oleodutos no local da explosão. Um dos pilotos tem a perna esmigalhada na tentativa de desencalhar o caminhão. O sobrevivente, Yves Montand, chega ao destino abraçado na boleia ao companheiro moribundo e  é recebido como herói com sua preciosa carga de nitroglicerina. Mais spoilers: grana no bolso, eufórico ao volante do caminhão vazio, Montand volta à cidade onde deixou a namorada (a brasileira Vera Amado Clouzot). 

Em shots alternados, Clouzot mostra Vera valsando na taverna e Yves valsando com o caminhão nas curvas da montanha. De repente, a mocinha cai desmaiada e o chofer se projeta no abismo. Na imagem final (veja no link), em meio ao caminhão em chamas, um detalhe de Montand morto: um bilhete do metrô de Paris que guardava como fetiche da cidade amada. Tudo isso ao som de... Danúbio Azul...

https://www.youtube.com/watch?v=ZkhKRT8tc-o