Jornalismo, mídia social, TV, atualidades, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVII. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
sábado, 14 de maio de 2022
Carlinhos (de) Oliveira, na aparente simplicidade...
Carlinhos [de] Oliveira - Rio, 1978 - Foto: Guina Araújo Ramos
por Guina Araújo Ramos (do blog Bonecos da História)
Há algum tempo eu queria publicar esta foto nos Bonecos da História, não só porque a considero interessante, mesmo não sendo tão especial assim, mas principalmente porque retrata a transcendente e complexa simplicidade de quem, com tanta sutileza quanto acidez, observava a vida da cidade do Rio de Janeiro e do Brasil em meados do século passado.
Trata-se da foto do capixaba José Carlos Oliveira. Sugerindo a tal simplicidade, ele era mais conhecido (embora também o registrassem, talvez para dar ao nome uma sonoridade que correspondesse a seus textos, como Carlinhos de Oliveira) por, simplesmente, Carlinhos Oliveira.
Quer posso dizer sobre Carlinhos [de] Oliveira?... Não sou, de maneira alguma, conhecedor, ao menos razoável, de obra, mas mero leitor antigo e ralo, apenas do final dos seus 22 anos como cronista do Jornal do Brasil (de 1961 a 1983).
É evidente que sua obra precisa (e merece) forte ressurgência, que até parece começar a acontecer em espaços da Internet (que não sei o quanto são lidos): no Portal da Crônica Brasileira (do IMS), na cobrança de Ricardo Soares, no incômodo de Álvaro Costa e Silva na Folha, a resenha existencialista da revista digital Rubem e também em textos acadêmicos, especialmente sobre o livro Diário da Patetocracia, que reúne crônicas do ano de 1968 publicadas no JB.
Ainda antes de ser meu “colega” no JB, fiz eu esta foto (à época, com o crédito Aguinaldo Ramos), que foi inserida dentro da entrevista, parte de uma muito sensível série da revista Fatos & Fotos assinada pelo jornalista Renato Sérgio, outro grande jornalista/cronista carioca.
A conversa aconteceu no apartamento de Carlinhos, no Leblon, em rua bem afastada da praia, em frente ao então quartel da PM. Os dois (e eu também) sentados na varanda apertada, em uma conversa tão descontraída (para mim, sentado no chão, algo desconfortável...) quanto a imagem que a ilustra.
Fatos & Fotos Nº 885, 07/08/1978 - Foto: Guina Araújo Ramos |
Por valorizar ainda mais a foto, louve-se o trabalho da redação, que a Fatos & Fotos produzia edições gráficas altamente criativas (por exemplo, outra de que gosto muito, o uso de três fotos de Chico Anysio, em show no Canecão, que dá movimento quase cinematográfico à página impressa).
Não por acaso, Fatos & Fotos foi dos lugares mais prazerosos em que trabalhei como fotojornalista.
O problema é que, estando “sumido” o arquivo fotográfico de Bloch Editores e ainda não digitalizada e disponível a coleção da revista (como já acontece com a revista Manchete na BN), a minha única fonte de recuperação da imagem foi o recorte da publicação original, guardada por mais de 40 anos, de onde “retirei” a imagem através do imprescindível Photoshop, coisa trabalhosa e de resultado certamente apenas razoável.
Seleção do Brasil ou da Islândia?
Foto Getty Images\ Reprodução Placar |
“Por que diabos todo islandês tem o nome acabado em ‘son’” – perguntou a revista Placar em 2018, quando a seleção da Islândia se tornou o país menos populoso a disputar uma Copa do Mundo em toda a história. “A explicação é simples — e pitoresca. Nesse pequeno — e gelado — país de 334.000 habitantes, não há sobrenome de família e as pessoas são batizadas pela filiação. A fórmula é simples: pega-se o primeiro nome da mãe ou do pai e soma-se a ele o sufixo ‘son’, palavra islandesa que significa, como no inglês, “filho”, no caso dos meninos. Portanto, se Neymar fosse islandês, se chamaria Neymar Neymarsson, e não Neymar Jr.” (RM)
Alcaraz: o Dia da Vitória
A vitória na Espanha foi o segundo título consecutivo em casa na temporada de 2022 – venceu o ATP 500 de Barcelona em abril – e o quarto acumulado do ano. Alcaraz venceu o Rio Open em fevereiro e o Masters 1000 de Miami em abril. Com a campanha em Madri, o prodígio do tênis mundial sobe para a sexta posição no ranking da ATP. Com o tornozelo inchado e uma bolha inflamada, Alcaraz resolveu poupar-se, não disputando o torneio de Roma esta semana. Afia as garras para seu primeiro Grand Slam – Roland Garros, em Paris – que começa no dia 16 de maio. Nosso Guga tinha vinte anos quando venceu seu primeiro Roland Garros em 1997. Alcaraz pode bater essa marca. Faz sentido: Guga começou a jogar tênis aos seis anos de idade. Alcaraz? Aos quatro... (ROBERTO MUGGIATI)
quinta-feira, 12 de maio de 2022
Buraco Negro na Via Láctea pode devorar o planeta. Pode ser a solução para o Brasil
A "selfie" do fim do mundo. Foto EHT |
por O.V.Pochê
Cientistas de vários países conseguiram fotografar pela primeira vez um buraco negro na Via Láctea. A notícia divulgada hoje pode ser finalmente uma solução para o Brasil. Não por acaso semelhante a um conhecido órgão humano, o gigantesco orifício foi captado pelo Event Horizon Telescope, um consórcio que reúne 11 radiotelescópios espalhados pelo mundo. Buraco negro é um monstro cósmico que atrai para si e engole sem pena tudo o que está na frente.
Em termos astronômicos esse abismo é nosso vizinho, já que divide com a merreca conhecida pela alcunha de Terra uma vaga na mesma galáxia, a Via Láctea. Se o Brasil não deu certo em 522 anos e segue dando vexame, ser deglutido por um brioco pode ser um fim aceitável. Algo como desligar os aparelhos de um doente desesperançado. Claro que no caso dessa mega catástrofe, o Brasil não vai sozinho. Todo o planeta vai junto. Merecido. O mundo não aprendeu nem mesmo a viver sem guerras. Pode levar. Também não é o caso de dizer "pra quem fica, tchau". Se depender do buraco negro não fica ninguém. Aviso aos religiosos: não vão encontrar nenhum deus no fundo do poço. Relaxem, o abismo cósmico já traçou as divindades há muito tempo.
Frase do Dia: fundamentais
"As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre em todos os sentidos dando-lhe
Do filme O homem que amava as mulheres, de FRANÇOIS TRUFFAUT.
terça-feira, 10 de maio de 2022
Fotomemória da redação: Portugal em 1970 segundo Manchete (com o ditador Salazar "lelé da cuca", como se dizia na época)
segunda-feira, 9 de maio de 2022
Pedro Jack Kapeller (1938-2022): a última página
Do site Janela Publicitária, de Márcio Ehrlich
"Faleceu no sábado, 07/05, Pedro Jack Kapeller, conhecido como Jaquito por uns e Jackito por outros, sobrinho mais jovem de Adolpho Bloch e que, além de homem forte por muitos anos na Bloch Editores, comandou o grupo após a morte de seu fundador, em 1995. Ele tinha 83 anos — nascido em outubro de 1938, faria 84 este ano — e sofreu um ataque cardíaco em sua casa no Rio de Janeiro.
Quando a TV Manchete quebrou, em 1999, por dívidas com INSS e Embratel, entre outras, Jaquito tentou desesperadamente vender a emissora, chegando a fazer acordo com a Igreja Renascer em Cristo, de Estevan Hernandez e Sônia Hernandez, o que acabou não indo adiante, já que os religiosos não pagaram nem mesmo a primeira parcela do valor combinado. Depois, acabou fechando com Amílcare Dallevo, no que se transformou na RedeTV!
Segundo fontes da Internet, ele ainda estaria controlando a empresa Bloch Som e Imagem, responsável por manter preservadas as novelas produzidas após 1995, além de ser sócio da BCD Consultores e da Rádio Manchete, arrendada para outros grupos de comunicação.
Jaquito era casado com Doris Kapeller e teve como filhos Jacqueline, Carla, Boris, Rosana e Daniela".
(Da Janela Publicitária, com a colaboração da jornalista Renata Suter)
No complexo de revistas e gráfica.
Como executivo, Pedro Jack Kapeller esteve à frente da Editora Bloch e da Gráficos Bloch no período áureo das Revistas Manchete, Fatos&Fotos, Amiga, Desfile, Mulher de Hoje, Ele Ela, Geográfica, Pais&Filhos, Sétimo Céu e demais publicações do complexo jornalístico presidido por Adolpho Bloch e que encerrou suas atividades no ano 2000.
domingo, 8 de maio de 2022
Artistas gravam o novo clipe "Lula Lá"
Chico César, Maria Rita, Lenine, Pablo Vitar, Duda Beat, Paulo Miklos, Martinho da Vila, Zelia Duncan, Mart'nália, Otto, Tereza Cristina, Odair José, Gilson, Russo Passapusso, Mateo, Antonio Grassi, Francis Hime, Olívia Hime, Daniel Ganjamen, Dadi Carvalho, Luciana Worm, Rogério Holtz, Ju de Paulo e Flor Gil (a menina que aparece na abertura, filha de Bela Gil) estão no clipe com a nova versão do jingle "Lula Lá", a música "Sem medo de Ser Feliz", usado pelo PT na campanha de 1999. Ontem, no lançamento oficial da pré-campanha 2022 de Lula, em São Paulo, o novo clipe foi a surpresa reservada para o candidato por sua noiva, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja. "Sem medo de Ser Feliz" viraliza nas redes sociais.
VEJA AQUI
Fotomemória da redação: como 'frila' da Manchete, Lacerda entrevistou Tom Jobim
Foto Manchete |
Em outubro de 1970, Carlos Lacerda já estava cancelado pela ditadura que ajudou a implantar, como um dos principais líderes civis do golpe de 1964, quando Adolpho Bloch convidou o ex-governador para colaborar com entrevistas para a Manchete. Assim como abrigou na redação vários jornalistas de esquerda perseguidos pelo regime militar, a revista recebeu figuras da direita golpista como Lacerda e David Nasser. Como free lancer, Lacerda dedicaava-se a fazer longas entrevistas. Geralmente os entrevistados, como Tom Jobim, o recebiam em casa. Nesse caso, o encontro se estendeu por dias.
sábado, 7 de maio de 2022
"Vão pra casa, Zelensky e Putin!
Olena Zelenska |
Alina Kabaeva |
Como diria Jô Soares: "Vai pra casa, Padilha!". Era o bordão que o personagem do programa "Planeta dos Homens" ouvia dos amigos indignados com Padilha por deixar seu mulherão em casa.
Talvez seja a hora de trocar os negociadores da paz. Sai a agressividade dos "falcões", entra a elegância das "garças". Melhor dizendo, chegou a hora de dar voz às duas personagens mais discretas entre as figuras em guerra: Alina Kabaeva, ex-ginasta olímpica, medalha de ouro nos Jogos de Atenas em 2004 (trocou o esporte pela política), é atual mulher de Putin; e Olena Zelenska, arquiteta e roteirista, primeira-dama da Ucrânia.
Quem sabe elas seriam capazes de dar uma chance à paz. Na pior das hipóteses, representariam melhor as mães que querem tirar os filhos das trincheiras.
Documentário "O Povo Pode?" revela como o Brasil construiu o caos político e social nos seis últimos anos.
Foi lançado ontem em São Paulo "O Povo Pode? - um país pelo olhar de brasileiros". O filme agrega os fatos que trouxeram o Brasil ao lixão institucional representado pelo bolsonarismo e foi realizado por um grupo de cineastas e jornalistas independentes. No roteiro, o ambiente político e tóxico dos últimos seis anos, desde o golpe contra a presidente Dilma Rousseff. A caminhada do Brasil rumo ao contexto atual é comentada sob o olhar de trabalhadores. Em entrevista (*) à TV 247, o diretor Max Alvim falou sobre o papel da mídia nesses seis anos de construção do caos. Para retratar esse pilar do golpe e da degradação política e social do país, foram analisados mais de três mil conteúdos da imprensa. "O Povo Pode?" é uma produção do Instituto Alvorada Brasil, a Rede TVT e o Canal iProduções.
(*) Com informações da TV 247
sexta-feira, 6 de maio de 2022
Fotomemória da redação: Justino Martins e Ruy Guerra no 25º Festival de Cannes em 1971
Ruy Guerra e Justino Martins em Cannes, 1971. Foto Manchete |
Para o diretor da Manchete, Justino Martins, cobrir o Festival de Cannes, todo ano, era uma rotina que ele cumpria com prazer. Sob a direção de Justino, Manchete fez intensa cobertura do Cinema Novo e seus diretores, como Ruy Guerra, atores e atrizes, apoiando os cineastas daquela geração. Os arquivos desaparecidos da Manchete guardavam milhares de imagems dessa fase do cinema brasileiro. A foto acima só existe porque a Biblioteca Nacional digitalizou
A Democracia torturada
quinta-feira, 5 de maio de 2022
Um Rayo brasileiro na noite mágica do Real Madrid
Veja trechos omitidos pela mídia neoliberal na entrevista de Lula à TIME, principalmente opiniões sobre a guerra na Ucrânia
A seguir, leia 13 trechos da entrevista com Lula feita pela repórter Ciara Nugent, da TIME em fins de março e publicada na mais recente edição.
1 - Quando o Supremo Tribunal Federal restaurou seus direitos políticos no ano passado, você já estava, segundo a mídia brasileira, se preparando para uma vida mais tranquila, fora da política. Você decidiu imediatamente voltar à política quando isso aconteceu?
Eu na verdade nunca desisti da política. A política está em cada célula minha, a política está no meu sangue, está na minha cabeça. Porque o problema não é a política simplesmente, o problema é a causa que te leva à política. E eu tenho uma causa. Quando deixei a Presidência em 2010, efetivamente eu não pensava mais em ser candidato à Presidência da República. Entretanto, o que eu estou vendo, doze anos depois, é que tudo aquilo que foi política para beneficiar o povo pobre— todas as políticas de inclusão social, o que nós fizemos para melhorar a qualidade das universidades, das escolas técnicas, melhorar a qualidade do salário, melhorar a qualidade do emprego—, tudo isso foi destruído, desmontado. Porque as pessoas que começaram a ocupar o governo depois que deram o golpe na presidenta Dilma [Rousseff] eram pessoas que tinham o objetivo de destruir todas as conquistas que o povo brasileiro tinha obtido desde 1943.
2 -A situação do Brasil hoje — a polarização política, a economia, o panorama internacional — é muito diferente do que quando você ganhou a Presidência pela primeira vez. Não vai ser mais difícil governar desta vez?
O futebol americano tem um jogador, que aliás é casado com uma brasileira que é modelo, e que é o melhor jogador do mundo há muito tempo. A cada jogo que ele faz, a torcida fica exigindo que ele jogue melhor do que no jogo anterior. No caso da Presidência é a mesma coisa. Só tem sentido eu estar candidato à Presidência da república porque eu acredito que eu sou capaz de fazer mais e fazer melhor do que eu já fiz. Eu tenho clareza de que eu posso resolver os problemas [do Brasil]. Eu tenho a certeza de que esses problemas só serão resolvidos quando os pobres estiverem participando da economia, quando os pobres estiverem participando do orçamento, quando os pobres estiverem trabalhando, quando os pobres estiverem comendo. Isso só é possível se você tiver um governo que tenha compromisso com as pessoas mais pobres.
3 - Muitas pessoas no Brasil dizem que houve muitas encarnações do Lula, especificamente em política econômica. Qual Lula temos hoje?
Eu sou o único candidato com quem as pessoas não deveriam ter essa preocupação, porque eu já fui presidente duas vezes. E a gente não discute política econômica antes de ganhar as eleições. Primeiro você precisa ganhar para depois saber com quem você vai compor e o que você vai fazer. Quem tiver dúvida sobre mim olhe o que aconteceu nesse país quando eu fui presidente da República: o crescimento do mercado. O Brasil tinha dois IPOs. No meu governo fizemos 250 IPOs. O Brasil devia 30 bilhões, o Brasil passou a ser credor do FMI, porque emprestamos 15 bilhões. O Brasil não tinha um dólar de reserva internacional, o Brasil tem hoje 370 bilhões de dólares de reserva internacional. […] Então as pessoas precisam ter em conta o seguinte: ao invés de perguntar o que é que eu vou fazer, olhe o que eu fiz.
4 -Quero falar da Ucrânia. Você sempre teve orgulho de poder falar com todos—Hugo Chávez e também George Bush. Mas o mundo de hoje é muito fragmentado diplomaticamente. Quero saber se sua abordagem na diplomacia ainda funciona. Você poderia falar com Putin depois da invasão da Ucrânia?
Nós, políticos, colhemos aquilo que nós plantamos. Se eu planto fraternidade, solidariedade, concórdia, eu vou colher coisa boa. Mas se eu planto discórdia, eu vou colher desavenças. Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema.
5 -Você acha que a OTAN foi a razão da Rússia para invadir?
Esse é o argumento que está colocado. Se tem um segredo nós não sabemos. O outro é a [possibilidade de a] Ucrânia entrar na União Europeia. Os europeus poderiam ter resolvido e dito: ‘Não, não é o momento de a Ucrânia entrar na União Europeia, vamos esperar’. Eles não precisariam fomentar o confronto!
6 -Mas acho que tentaram falar com a Rússia.
Não tentaram. As conversas foram muito poucas. Se você quer paz, você tem que ter paciência. Eles poderiam ter sentado numa mesa de negociação e passado 10 dias, 15 dias, 20 dias, um mês discutindo para tentar encontrar a solução. Então eu acho que o diálogo só dá certo quando ele é levado a sério.
7 -Então se você fosse presidente neste momento, o que você faria? Você seria capaz de evitar o conflito
Eu não sei se seria capaz. Eu, se fosse presidente hoje, teria ligado para o [Joe] Biden, teria ligado para o Putin, para a Alemanha, para o [Emmanuel] Macron, porque a guerra não é saída. Eu acho que o problema é que, se a gente não tentar, a gente não resolve. É preciso tentar. Às vezes eu fico preocupado. Eu fiquei muito preocupado quando os Estados Unidos e quando a União Europeia adotaram o [Juan] Guaidó [então líder da assembleia nacional da Venezuela] como presidente do país [em 2019]. Você não brinca com democracia. O Guaidó para ser presidente da Venezuela teria que ser eleito. A burocracia não substitui a política. Na política são os dois chefes que mandam, os dois que foram eleitos pelo povo, que têm que sentar numa mesa de negociação, olho no olho, e conversar. E agora, às vezes fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. O Saddam Hussein era tão culpado quanto o Bush. Porque o Saddam Hussein poderia ter dito: ‘Pode vir aqui visitar e eu vou provar que eu não tenho armas’. Ele ficou mentindo para o seu povo. Agora, esse presidente da Ucrânia poderia ter dito: ‘Olha, vamos deixar para discutir esse negócio da OTAN e esse negócio da Europa mais para frente. Vamos primeiro conversar um pouco mais.’
8 -Então Zelensky tinha que falar mais com Putin, mesmo com 100,000 soldados russos na sua fronteira?
Eu não conheço o presidente da Ucrânia. Agora, o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ou seja, ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no parlamento inglês, no parlamento alemão, no parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação.
9 - Não seria um pouco difícil dizer isso a Zelensky? Ele não queria guerra, mas ela chegou.
Ele quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]! Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’
10 -O que você acha de Joe Biden?
Eu fiz até um discurso elogioso ao Biden quando ele anunciou o primeiro programa econômico dele. O problema é que não basta você anunciar um programa, é preciso executar o programa. E eu acho que o Biden está vivendo um momento difícil. E acho que ele não tomou a decisão correta nessa guerra Rússia e Ucrânia. Os Estados Unidos têm um peso muito grande e ele poderia evitar isso, e não estimular. Poderia ter falado mais, poderia ter participado mais, o Biden poderia ter pegado um avião e descido em Moscou para conversar com o Putin. É esta atitude que se espera de um líder. Que ele tenha interferência para que as coisas não aconteçam de forma atabalhoada. E eu acho que ele não fez.
11 -Biden deveria ter feito mais concessões a Putin?
Não. Da mesma forma que os americanos convenceram os russos a não colocar mísseis em Cuba em 1961, o Biden poderia falar: ‘Vamos conversar um pouco mais. Nós não queremos a Ucrânia na OTAN, ponto’. Não é concessão. Deixa eu lhe contar uma coisa: se eu fosse presidente da República e me oferecessem ‘o Brasil pode entrar na OTAN’, eu não ia querer.
(...)
É urgente e é preciso a gente criar uma nova governança mundial. A ONU de hoje não representa mais nada. A ONU de hoje não é levada a sério pelos governantes. Porque cada um toma decisão sem respeitar a ONU. O Putin invadiu a Ucrânia de forma unilateral, sem consultar a ONU. Os Estados Unidos costumam invadir os países sem conversar com ninguém e sem respeitar o Conselho de Segurança. Então é preciso que a gente reconstrua a ONU, coloque mais países, envolva mais pessoas. Se a gente fizer isso, a gente começa a melhorar o mundo.
12 -No Brasil, durante a pandemia, a população negra sofreu um risco de mortalidade maior que os brancos, e uma taxa maior de desemprego também. E os problemas com a violência policial pioraram durante o governo do Bolsonaro. Você tem coisas que vai fazer para melhorar o mundo para os brasileiros negros especificamente?
Olha, eu li muito sobre a escravidão quando eu estava preso e eu às vezes tenho dificuldade de compreender o que foram 350 anos de escravidão. E eu tenho mais dificuldade de compreender que a escravidão ela está dentro da cabeça das pessoas, o preconceito está dentro da cabeça das pessoas. Aqui no Brasil, na periferia brasileira, milhares de jovens são mortos quase todo mês, todo ano. Então não é possível isso continuar. Quando eu estava na presidência nós criamos uma lei para que a história africana fosse contada na escola brasileira. Para que a gente aprendesse sobre a história africana para não ver os africanos como cidadãos inferiores. Então nós precisamos começar essa educação dentro de casa, na escola. E o Bolsonaro despertou o ódio, despertou o preconceito. Aí tem outros presidentes também na Europa, na Hungria, [que fazem o mesmo]; está aparecendo muito fascista, muito nazista no mundo.
13 -O Bolsonaro tem culpa pelo racismo hoje no Brasil ou é um país racista?
Eu não diria que ele tem culpa pelo racismo porque o racismo é crônico no Brasil. Mas ele estimula.
Na política, o golpe anunciado
Ruy Castro , na Folha de São Paulo de hoje |
Na economia, a catatonia
Muito antes da pandemia e da crise provocada pela guerra na Ucrânia, o governo já buscava desculpas externas para a economia paralisada. A OCDE, o country club onde o Brasil maltrapilho de Bolsonaro e Guedes quer ser penetra, acaba de divulgar que o país tem a maior inflação entres os integrantes do G20. A crise afeta a todos, mas somos os piores na crise. Haja desculpas: excesso de chuvas, falta de chuvas, ano eleitoral, preço do petróleo, a queda na bolsa do Tuvalu, a taxa de juros em São Tomé e Príncipe...
quarta-feira, 4 de maio de 2022
O mapa furado das grandes celebridades da Europa
terça-feira, 3 de maio de 2022
O primeiro muguet de maio • Por Roberto Muggiati
Vendedoras de muguet de 1° de maio. Paris, virada dos anos 1950/1960. Place Victor Basch. Foto de Izis, fotógrafo francês (1911-1980). Divulgação/ArtNet |
No 1º de maio, eu subia o Champs com a amada na mão e uma ideia na cabeça. Perto da Étoile ficava o palacete de Paulo Berredo Carneiro, embaixador do Brasil na Unesco. Sua mulher se recusava a deixar o Brasil, Paulo se dava bem na sua solteirice em Paris. Seu sobrinho, Octávio Carneiro Lins, meu melhor amigo, morava com ele. Eu tinha livre acesso à mansão do 19 rue Auguste Vacquerie, sempre com a porta literalmente aberta, nem chave tinha. Aquele salon era para mim o Du Côté de chez Carneirô. Adentrei o palacete com Jacqueline – a francesinha ficou impressionada – não havia ninguém por lá, logo nos pusemos à vontade, deitamos e rolamos nos sofás do salão neorrococó.
Conhecedor profundo da alma humana, Paulo sabia muito bem os usos galantes que sua entourage fazia de sua casa, até mesmo os estimulava. Por isso – elegante como só ele – costumava chegar sempre assobiando bem alto para alertar os eventuais transgressores. Foi o tempo justo para que Jacqueline e eu nos recompuséssemos e cumprimentássemos o embaixador, que apenas sorriu de leve. A minha “primeira vez”, em Curitiba, dez anos antes, fora marcada pelo cheiro acre dos maços de arruda que a polaca tosca tinha na sua mesinha de cabeceira. Agora, em Paris, Veni, vidi, vici: da minha primeira vez com uma francesa, ficou para sempre o suave aroma do muguet.
Grandes times querem Liga Nacional de Futebol. É solução ou confusão?
Matéria no Globo de hoje anuncia reunião para a formação de uma "liga independente" no futebol. Pode ser um grande passo para a modernização do futebol brasileiro.
Pode?
O problema é que quase tudo por aqui começa torto. A tentativa de formação da liga é comandada por instituições financeiras interessadas em comprar o "produto". Uma dessas corretoras é, como se lê no Globo, "conectada ao grupo formado pelo Flamengo e cinco paulistas da primeira divisão". Bom os demais clubes e SAFs ficarem ligados. A futura" liga independente" pode não ser tão independente assim. Se não houve direitos reconhecidos para todos os times que integrarem a nova liga e um regulamento equilibrado pode rolar dissidência. Não seria a primeira vez. Entre 1933 e 1937, o futebol carioca teve duas ligas e campeonatos separados. Conflitos entre amadores e profissionais e entendimento racistas de alguns clubes de "elite" motivaram a briga.
Nada impede que times insatisfeitos ou excluídos formem outra liga. Há pontos sensíveis. Os direitos de transmissão dos jogos nas várias plataformas. Na lei brasileira o time que tem o mando de campo negocia com TV, You Tube e demais redes sociais e de streaming. Os futuros donos da liga respeitarão a lei? Os clubes participarão da formação de tabela de jogos. Haverá relacionamento com sites de apostas? Haverá regra de fair play financeiro? A distribuição do faturamento com direitos de transmissão será mais justa, como na Premier League, ou beneficiarão exageradamente os principais times, com faz a Bundesliga onde só dá Bayern de Munique?
ATUALIZAÇÃO EM 03-5-2022 - A reunião dos clubes, hoje em SP, citada no texto acima, terminou sem acordo coletivo. Os participantes ainda não se entenderam quanto aos detalhes para formação da liga. União apenas, como previsto, de Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos, Red Bull Bragantino e Flamengo. Estes e mais Ponte Preta e Cruzeiro assinaram um documento que prevê a eleição de um Conselho. A grande maioria dos times favoráveis à formação de uma liga nacional não gostou que os clubes de SP e mais Flamengo já aparecessem com uma espécie de estatuto pronto. Achavam que iriam começar a discutir justamente o estatuto. Foi marcada nova reunião na CBF, no dia 12 de maio. A divergência agora é que os clubes que asisnaram o documento afirmam que a liga está criada. Os demais não pensam assim. Houve até quem dissesse que se não houver justiça e equilíbrio é melhor o grupo liderado por Flamengo e Palmeiras criar uma lliga só para eles. A confusão começou bem mais cedo do que se imaginava.
Brasil cancelado
segunda-feira, 2 de maio de 2022
Memórias da redação: quando uma crônica valia um angu
Nosso colaborador sênior Niko Bolontrin garimpou um recorte do tempo em que em que era cronista da Última Hora e nos enviou para publicação. E contou que a maioria dos seus textos tinha bares cariocas como cenário. Esse aí "aconteceu" no Rainha do Leme original, que hoje é passado, mas era muito frequentado por jornalistas boêmios como Bolontrin. Ele confessa que citar um bar em uma crônica dava direito a chope a angu de graça. Muitos coleguinhas da época praticavam essa "instituição" mais conhecida como "permuta amiga". Era uma compensação para os baixos salários pagos pelos antigos jornais cariocas. Tempo, diz Niko, em que o décimo-terceiro era um garrafão de vinho Sangue de Boi e uma marmita de Natal enviada pelo Capela.
Crônica de Niko Bolontrin. Clique na imagem para ampliar |
DJ é obrigada a tirar as calças em aeroporto
As calças da discórdia |
Frase do Dia: fora da caixa
“A imaginação deveria ser usada não para fugir da realidade, mas para criá-la".
COLIN WILSON, autor de The Outsider (1956).
Vai partir o "bateau" do PSG. Neymar pode ser um dos "passageiros"
por Niko Bolontrin
A "barca" vai desatracar. No jargão do futebol, o PSG vai lotar um ferry boat cheio de jogadores que serão negociados ao fim da temporada 2021-2022. Praticamente um feirão. A torcida parisiense vem sistematicamente vaiando o time na reta final do campeonato francês. O título de campeão chegou por antecipação mas não acalmou os ânimos. Segundo o site Fanáticos, Neymar será um dos passageiros da "barca". Um dos interessados seria o Newcastle, da Premier Ligue. O PSG estaria pedindo 90 milhões de euros para passar adiante o polêmico craque brasileiro. Em 2017 os qatari, donos do time francês, pagaram 222 milhões de euros para tirar Neymar do Barcelona. O jogador renovou contrato até 2025. Com Mbappé de saída para o Real Madrid (o PSG ainda tenta segurar o francês) e Messi com vínculo por mais um ano, o trio MNM poderá se desfazer sem ter emplacado.