sexta-feira, 28 de maio de 2021

Você já foi penetra nessas casas...

por Ed Sá

A cenografia digital revolucionou o cinema. Os computadores são capazes de criar praticamente todos os elementos de um filme. Casas, mansões e palácios, por exemplo. Mas isso não quer dizer que todos os diretores aderiram ao design cenográfico. Muitos saem a caça de locações reais, ainda seguindo a prática dos cineastas do século passado. Casas que foram cenários de filmes clássicos ou de grande sucesso e se tornaram cults. Algumas até hoje incluídas em roteiros turísticos. E, de tempos em tempos, algumas dessas referências cinematográficas voltam ao mercado imobiliário dos milhões de dólares.

Relembre protagonistas arquitetônicas inesquecíveis. 

No filme Batman, de 1989, essa é a casa da família Wayne, do bilionário Bruce Wayne. Longe de Hollywood, fica em Londres. É a Knebworth House, residência em estilo gótico
bem próprio de Gotham City.  



Casa de Dublê de Corpo, de Brian de Palma. Foi projetada em 1960, é atração em Los Angeles, conhecida como Casa Chermosphere e chama atenção por sua geometria circular. 

Você viu essa casa no filme Flores Raras. Era o cenário das personagens Elizabeth Bishop e Lota Macedo Soares. Na vida real era o residência de Edmundo Cavanelas. Fica em Pedro do Rio,
projeto de Oscar Niemeyer. 



Lembrou do Scarface? Essa mansão, em Miami, foi o lar de Tony Montana. Miami, na tela. A casa fica, na verdade, em Montecito, na Califórnia. Conhecida como El Fureidis, era a sede de
uma antiga fazenda.



A Villa Malaparte, em Capri. No filme de Goddard, O Desprezo, Brigitte Bardot tomou sol no terraço. 

Parte do filme O Quatrilho foi filmado nessa casa. Fica em Bento Gonçalves e é atualmente
a sede de uma vinícola.

Essa é a única casa-cenário desse post. Foi construída em Nice para o filme Meu Tio, de Jacques Tati, de 1958. Tati a usou para representar a modernidade que assolava a França no pós-guerra. Entra nessa lista porque foi baseada em uma casa verdadeira, a Villa Savoye, projetada por Le Corbusier, em 1928,
nos arredores de Poissy.   

Essa casa , na Gávea, Rio, hoje sede do Instituto Moreira Salles, foi cenário do documentário Santiago, de João Moreira Salles. Foi projetada por Olavo Redig de Campos em 1948. 
A Noviça Rebelde foi babá nessa casa em Salzburgo


E essa? Lembra. Uma dica: Cary Grant escalou esses telhados. Isso mesmo, Ladrão de Casaca foi filmado aí, na Riviera Francesa

Nelson Sargento na Revista Família Tupi - a última exclusiva...



Clique 2x nas imagens para ampliar. 

David Junior entrevistou, Alex Ferro fotografou, a Revista Família Tupi publicou. Com muita honra. Nessa bela matéria, Nelson Sargento revelou que aos 96 anos não contava o tempo, mas os projetos que ainda desejava colocar em prática. 

Em setembro do ano passado, ele foi fotografado em casa, poucas vezes abriu seu espaço mais pessoal.  A equipe testada e seguindo rigorosamente todos os protocolos, mantendo distância, e ele resguardado, cuidando-se, tirou a máscara apenas por breves segundo na hora no clique. Reclamou da quarentena. "Tenho que ficar aqui dentro de casa, esperando o que Deus quiser. Vou preenchendo o tempo, fazendo o que gosto e aguardando. Já fiz até umas lives". 

Meses depois, embora vacinado com duas doses, não foi poupado pela Covid-19. 

O genial cantor e compositor cumpriu sua trajetória e deixa os projetos que prometeu. O talento do baluarte da Mangueira não vai embora. Além do patrimônio musical já conhecido, ficam 40 letras inéditas em parceria com o amigo Agenor de Oliveira. Material que seria - ou será - selecionado para o "9.7", o álbum que comemoraria seus 97 anos e que, agora, certamente festejará sua eternidade. 

terça-feira, 25 de maio de 2021

A noite em que estraçalhei o Corvo no pingue-pongue • Por Roberto Muggiati


"Golpes de mestre" contra o golpista renitente. Foto Arquivo Nacional

Além do lendário Repórter Esso, e do Prêmio Esso de Reportagem, a multinacional do petróleo sustentou por poucos anos um projeto louvável: trazia para estagiarem em jornais cariocas jovens jornalistas das dez principais capitais brasileiras. Como redator da Gazeta do Povo de Curitiba, coube-me trabalhar durante duas semanas num dos jornais mais revolucionários de então, o Diário Carioca, com sede e oficinas na Avenida Rio Branco, 25. (O dono era Horácio de Carvalho, a primeira-dama Lily de Carvalho, depois Lily Marinho, primeira-dama de O Globo. O filho, Horacinho de Carvalho, morreria em 1966 num acidente da carro na Região dos Lagos com sua namorada, a cantora de bossa Sylvinha Telles.) Antes do estágio, fizemos uma visita protocolar ao lendário presidente da ABI, Herbert Moses, que nos recebeu numa sala no último andar do prédio da Esso, à avenida Beira-Mar. Guardo até hoje a lembrança do encontro. Foto Acervo Pessoal

Carlos Frederico Werneck de Lacerda, 46 anos, raquete na mão, me esperava com um riso sarcástico e as garras afiadas do Corvo. Era uma noite de maio de 1960, ele deputado federal, 46 anos, eu jornalista de Curitiba, 22 anos, fazendo um estágio no Diário Carioca. Estávamos sob o teto acolhedor do escritor Aníbal Machado, que abria sua casa aos domingos para a intelectualidade e o que mais pintasse. Rua Visconde de Pirajá, 487, Ipanema. Era uma casa de dois andares simpática, com um pequeno jardim e um grande quintal. 

Um parêntese: por que Carlos Frederico? Tão elementar que pouca gente sabe. Filho único de Maurício Paiva de Lacerda, defensor de operários e anarquistas, dirigente do Partido Comunista Brasileiro, preso em 1936 acusado de participar da Intentona Comunista, o pai homenageou no nome do filho os autores do Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels. Pai e filho, comunistas ardorosos, viraram a casaca no pós-guerra e aderiram ao partido de direita União Democrática Nacional (UDN), visceralmente anticomunista. Carlos, então com 30 anos, dizia: “Quem não foi comunista aos dezoito anos não teve juventude, quem é depois dos trinta não tem juízo”. 

Lacerda era daqueles políticos que se amava ou se odiava. Entrou para o folclore político como “O Corvo do Lavradio” (rua do seu jornal, a Tribuna da Imprensa.). Suas seguidoras eram as “mal-amadas”. Pertenceu à “banda de música da UDN” – também chamada de “as cassandras da oposição” – um grupo notável de políticos de direita que não aceitavam os governos democráticos de Getúlio (pós-50), JK e Jango. Envolveu-se num golpe para impedir a posse de JK, Presidente eleito democraticamente em 1955. 

A bordo do Almirante Tamandaré, os golpistas foram contidos pelo General Lott, líder legalista, depois que a artilharia do exército alvejou o cruzador (foi o último tiro disparado na baía de Guanabara.). Nos anos 60 o Rio foi infernizado por uma praga de insetos: o humor carioca os batizou na hora de lacerdinhas. Carlos Lacerda levou dois tiros no pé. Um real, no atentado da Rua Tonelero, em 1954; outro simbólico, um tiro que ele disparou contra si mesmo ao apoiar o golpe de 1964 na vã tentativa de usar os militares para assumir a Presidência da República, seu sonho dourado. Desiludido, já em 1966 participava da Frente Ampla com os ex-adversários JK e Jango. Os militares o castigaram no AI-5, cassando seus direitos políticos.

Pois bem, naquela noite em que Lacerda me desafiou “para uma partidinha” na domingueira do Aníbal, como democrata e esquerdista eu fui à forra e estraçalhei o Corvo. Afinal, eu era um campeão forjado desde criança na lendária mesa de pingue-pongue do meu tio e padrinho Muggiati Sobrinho em Guaratuba. O revide contra o golpista renitente foi na base de golpes de mestre, com saques indefensáveis e solertes raquetadas de efeito.

Só reencontraria Carlos Lacerda dezesseis anos depois, eu na função de editor da revista Manchete, ele como colaborador. O dono da empresa, Adolpho Bloch, se reconciliara com Lacerda na trágica noite da morte de JK, quando houve uma longa disputa pelo local do velório entre Niomar Moniz Sodré, presidente do MAM, e Adolpho. O voto de Lacerda a favor de Adolpho fez com que o ex-presidente fosse velado no prédio da Manchete, no Russell. Como prêmio, Lacerda ganhou uma página dupla semanal na revista Manchete. O problema era que, além de escrever muito mais do que cabia em duas páginas, ele queria descarregar naquele espaço todo o seu rancor contra os militares. O Presidente de plantão era Ernesto Geisel, o quarto na linha de cinco generais que tivemos de aturar em 21 anos de ditadura. Na segunda-feira eu fechava a Manchete num ritmo alucinante, às vezes trinta ou quarenta páginas com os acontecimentos do fim de semana. Não teria tempo para lidar com o Lacerda. Então o diplomático Zevi Ghivelder foi escalado por Adolpho – que não queria encrenca com os generais – para passar o dia inteiro negociando com Lacerda cada palavra, cada vírgula do seu artigão.

Desgostoso da vida, Carlos Lacerda morreu de infarto num hospital da Zona Sul carioca em 21 de maio de 1977, aos 63 anos. Correu o rumor de que a causa foi uma injeção equivocada que lhe deram. As mortes de Zuzu Angel, JK, Jango (em abril, agosto e dezembro de 1976) e Lacerda, cinco meses depois – se prestaram à Teoria do Complô de que foram todos eliminados pela ditadura. Se non è vero, è ben trovato...

Fotografia: Coletivo Latino-Americano ganha prêmio ao retratar a pandemia na região. Grupo reúne 18 fotógrafos entre os quais três brasileiros

Foto de Victor Moryama mostra o Copom, prédio tradicional de São Paulo> Moradores batem panelas em protesto contra Jair Bolsonaro, um militante que se orgulha de e propaga
o negacionismo da Covid-19.  

Foto de Ana Carolina Fernandes, Copacabana, Rio de Janeiro. Cruzes na areia homenageia brasileiros mortos pela Covid-19 no dia em que a país atingiu a marca de 40 mil vítimas fatais. Hoje, o número da tragédia se aproxima dos 500 mil. 

Foto de Rafael Vilela. Covas abertas na Vila Formosa. A geometria das perdas imensas.

Foto de Andrea Hernandez, Venezuela. A idosa Martina Veranea Rodriguez, de 87 anos, fez uma colagem de fotos de seus parentes como lembrete para tê-los sempre por perto
em seu apartamento em Caracas.

Foto de Federico Rios, Colômbia. A bandeira vermelha é um pedido de socorro, o alerta desesperado
 das famílias mais pobres

Foto de Pablo. E. Piovano, Argentina, fotografou o próprio pai, também fotógrafo.

Foto de Danielle Volpe, Guatemala. Idoso contaminado padece em frente
a um hospital

Foto de Eliana Aponte, Cuba. Guevara é testemunha. A Praça da Revolução, Havana, vazia em pleno 1° de Maio, uma das datas mais festivas da Ilha.

A arte e a cultura em geral reagem ao vírus. Também funcionam como um imunizante poderoso contra a insensibilidade e interpretam a tragédia como um apelo à vida. O coletivo Covid Latam O olhar de 18 fotógrafos latino-americanos sobre a Covid-19 na região ganhou o prêmio FotoEvidence Book Award - World Press Photo. Três brasileiros - a carioca Ana Carolina Fernandes e os paulistas Victor Moriyama e Rafael Vilela - estão entre os vencedores, ao lado de profissionais da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Bolívia, Brasil, Equador, El Salvador, Guatemala, México, Peru, Uruguai e Venezuela. O prêmio do WPP reconhece projetos que documentem violações dos direitos e da dignidade humanos. Na América Latina, a pandemia tem desdobramentos dramáticos desde o número de mortos à precariedade da vacinação ao agravamento da desigualdade crônica da região. O Covid Lata produziu quase mil imagens  que estarão no livro Red Flag que será lançado em Amsterdã, durante a próxima edição do World Press Photo, e também em Nova York, no Bronx Documentary Center. O título do livro remete ao gesto das famílias mais pobres da Colômbia que colocavam nas casas um bandeira vermelha como sinal de um desesperado pedido de ajuda.

A notícia da premiação está no Media Talks, onde você poderá ver mais fotos  AQUI

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Aretha Duarte no topo do mundo

 




Fotos de Gabriel Tarso/Instagrem

Que o Brasil está em baixa não é segredo. 

Pelo menos uma brasileira está em alta. Mais precisamente a 8.448 metros, no Monte Everest. Primeira mulher negra latino-americana a conquistar o pico mais alto do planeta, a paulista Aretha Duarte concluiu ontem a escalada de cinco dias. Nesse momento ela efetua a descida, que levará dois dias. Aretha é experiente e já escalou várias vezes o Aconcágua, na Argentina. Esforço, determinação e coragem. 

Motocaricatura...

 

Reprodução Twitter

domingo, 23 de maio de 2021

Angelim, jatobá e maçaranduba: não é a boiada, é a Floresta que está passando

Angelim Reprodução Flickr


Jatobá Reprodução Twitter


por Ramos S. de Carvalho
Na sexta-feira, 21 de maio, a embaixada dos Estados Unidos mandou um ofício à Polícia Federal brasileira. O documento, assinado pelo adido do Serviço de Pesca e Vida Silvestre, equivalente norte-americano ao nosso Ibama, informa sobre a apreensão de três carregamentos ilegais de madeira brasileira que tinham como destino os portos de Nova Orleans e Seattle. São 74 mil quilos de madeiras de espécies nativas da Amazônia, como angelim, jatobá e maçaranduba.

No ofício, a embaixada afirma que o governo americano vai “solicitar o compartilhamento das investigações e das evidências produzidas no Brasil e nos Estados Unidos sobre crimes relacionados à exportação de produtos florestais entre os dois países, inclusive aquelas atinentes à Operação Akuanduba."

Akuanduba é uma divindade dos índios Araras, habitantes do Pará: segundo a lenda, se alguém cometesse uma transgressão à norma, um crime contra a natureza, a divindade fazia soar uma flauta, restabelecendo a ordem.

Resumindo: o ministro investigadopela PF por “grave esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais”, com o devido desrespeito, é um tremendo cara de pau.

sábado, 22 de maio de 2021

O país onde o vírus tem passe livre ( ou passando a boiada das novas cepas)

O Brasil tem portas abertas para o vírus. Desde o começo da pandemia, no ano passado, não foram adotadas medidas rigorosas de controle de aeroportos, portos e fronteiras terrestres. Muito menos foram rastreados contatos de viajantes infectados. E a irresponsabilidade sanitária permanece como prática usual do governo federal. Nada mudou.

Todas as novas cepas vieram passear no Brasil, sem entraves. Agora, é a vez da variedade indiana do Covid-19. Chegou ao Maranhão através de um navio que partiu da Índia e fez escala na África do Sul. Autoridades estaduais providenciaram isolamento e aguardam análises que apontarão se já há contaminação local e comunitária ou se o perigo está contido a bordo. 

Em Fortaleza, no dia 9 de maio, quando a Índia já era um alerta mundial, dois brasileiros que desembarcaram no aeroporto estão agora sob suspeita de  contaminação com a nova cepa, também a depender de análises. Há suspeitas e Belém do Pará. Se for confirmada a circulação da cepa indiana nesses estados e constatada a contaminação comunitária seria normal um controle de entrada e saída dessas regiões, algo que, a julgar pelo modo desleixado com que o Brasil combate a pandemia, dificilmente ocorrerá (No fim da tarde de hoje, o Ministério da Saúde anunciou controle de rodoviárias e aeroportos com testagem mas sem bloqueios)

A explosão da peste no país asiático, que atingiu proporções apocalípticas, se deu precisamente pela velocidade com que a nova cepa se espalha. Essa é a nova tragédia das tragédias que pesa sobre nossas cabeça; E a interrupção da vacinação por falta de imunizantes só agrava o quadro.  Brasil apostou na Ceifadora, quase 500 mil mortes e tristeza sem fim. 


sexta-feira, 21 de maio de 2021

Ultrassonografia do Brasil. As notícias não são boas. O paciente agoniza. Vejam 10 sintomas

por O.V. Pochê

1)  CPI da Pandemia está contaminada por "pinóquios". Além disso, é um Tribunal de Nurembrega.

2) O país precisa de PHDs mas o que tem de sobra são MCs

3) O mundo corre contra o tempo e já vacinou 1 bilhão e 500 mil pessoas. No Brasil, nesse momento, faltam vacinas. 

4) A preservação de florestas é uma bandeira cada vez mais global. No Brasil, o ministro do Meio Ambiente é acusado de favorecer contrabando de madeira ilegal. 

5) O Brasil desmoraliza até o neoliberalismo. Aqui os Chicago's Boys têm "orçamento secreto" para gastar na surdina

6) JK teve a bossa nova. A trilha sonora de Bolsonaro é a dos sertanejos. Conhece as letras? Uma conta o caso de um amante ciumento que ateou fogo em um motel onde a esposa o traia; outro monitora a mulher com cãmeras e gravadores e diz que é "excesso de cuidado"); há quem descreva a mulher como "filé mignon". A lista de taras machistas sertanejas é grande.

7) Folha de São Paulo informa que consumo de carne no Brasil caiu ao menor nível em 25 anos. A popu lação de calangos corre risco de ir parar na panela.

8) STF obriga governo a fazer censo. Ok, melhor assim. Mas já se sabe o que vai dar: 20% de comunistas, 20% de bovinos. 20% de "bispos" e ovelhas, 10% de milicianos, 10% de juízes e procuradores, 5% de comentaristas de telejornais, 2,5% de entregadores de aplicativos, 2,5%  de empresários sonegadores, 2,5% vítimas de "rachadinha" e 2,5% de musas fitness

9) Os economistas reclamavam do "custo Brasil", supostamente de impostos e custos estatais. Mas não reclamam do novo custo Brasil privado: pedágio, gás, energia elétrica, gasolina, diesel, carne, derivados de soja, planos de saúde, transportes, colégios... 

10) Tem o presidente que tem. Nem radioterapia e nem enema de querosene salvam.

Já temos Paris de volta • Por Roberto Muggiati

 

Torre Eiffel volta a atrair turistas.


O brinde de champanhe consolatório de Bogart a Bergman em Casablanca “Sempre teremos Paris”está mais atual do que nunca. 

Depois de seis meses de rigoroso lockdown, a cidade voltou a suas atividades normais na terça-feira 18 de maio com a reabertura parcial de museus, centros culturais, monumentos turísticos (como a Torre Eiffel) e restaurantes e cafés (restritos às mesas de calçada). 

Cafés recuperam o .movimento


Macron na reabertura.

O próprio Presidente Emmanuel Macron comemorou a medida saindo para tomar um café com seu premier, Jean Castex, nas redondezas do Palácio do Eliseu. Disse Macron: “Este café é um momento de liberdade recuperada, fruto de nossos esforços coletivos”. 

Caso tudo corra bem, a retomada prosseguirá em 9 de junho, com a reabertura das áreas internas de restaurantes e cafés e a ampliação do toque de recolher até as 23 horas (no dia 19 de maio passou das 19h para as 21h e em 30 de junho poderá ser totalmente abolido).

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em Casablanca: um entre os milhares de filmes
que têm Paris como referênciaa 

No Cafe de Flore, a busca do passado perdido

O Louvre volta a se iluminar

A tradição de Paris como polo cultural da humanidade vem de longe – vocês sabiam que na época da Revolução Francesa os inconfidentes mineiros e os líderes da Independência dos Estados Unidos, como Thomas Jefferson, já conspiravam com os Enciclopedistas em cafés da rive gauche? Na segunda metade do século 19 e na Belle Époque, 

Paris fermentava com artistas e intelectuais estrangeiros, mas o grande boom ocorreu nos anos 1920, com a chamada lost generation (Hemingway, Fitzgerald), os espanhóis Buñuel, Dali, Picasso, etc, etc – parodiados na fantasia nostálgica de Woody Allen Meia-noite em Paris.


Quem contou melhor essa história foi talvez Ernest Hemingway, no livro póstumo de 1964 A Moveable Feast/Paris é uma festa, no qual afirma : “Se você teve a sorte de viver em Paris quando jovem,  aonde quer que vá depois, a cidade o acompanhará pelo resto da vida.”


Morei em Paris de outubro de 1960 a fevereiro de 1962, estudando jornalismo com bolsa do governo francês. Cheguei lá com 23 anos. A memória dos dezesseis meses que vivi em Paris, há sessenta anos, ainda dorme toda noite e acorda todo dia comigo. Com toda a força de sua magia, Paris ressurge agora – vamos torcer – como um símbolo do fim da pandemia e a esperança de novos tempos.


quinta-feira, 20 de maio de 2021

Onde anda você, Silvinha Maconha? • Por Roberto Muggiati


Não sou saudosista, curvo-me à dinâmica do tempo. De repente o futuro acontece e vivo um presente intenso que logo vira matéria de memória. Com uma diferença: aos 20 anos, eu não valorizava cada segundo como valorizo hoje, aos quase 84. Uma coisa é certa: os anos 1950 foram divinos...

Foi ouvindo jazz numa tarde de domingo na Boate do Hotel Plaza que conheci Silvinha Maconha. Voltava para Curitiba de uma daquelas viagens boca-livre da época, o Congresso Nacional dos Jornalistas em Fortaleza. Oportunidade também de fazer turismo. Em Fortaleza, fiz um empolgante passeio de jangada e, no aristocrático Clube Náutico, dancei com a filha do governador Parsifal Barroso. No Recife, conheci a Praia da Boa Viagem e provei o sarapatel famoso do Buraco da Otília. Em Salvador fui à Lagoa do Abaeté e depois comi um peixe frito inesquecível numa birosca de sapê na praia de Itapoã. O Rio ficou para o fim de semana, antes de pegar o batente segunda à noite na Gazeta do Povo. Era setembro de 1959, havia algo no ar além dos aviões de carreira: a corrida espacial URSS vs EUA. No dia 14, a sonda Luna 2 tornava-se o primeiro objeto da Terra a atingir a Lua. O foguete foi esterilizado para não contaminar o querido satélite com bactérias terrestres – vejam só como nós, terráqueos éramos atenciosos, até os comunistas... No dia 20, domingo, fim de tarde, eu e dois amigos jornalistas da minha idade ocupávamos uma mesa estratégica no Bar do Hotel Plaza, em Copacabana. Aconteciam ali jam sessions que ficaram famosas, jovens músicos como os irmãos Castro Neves começavam a fazer o seu nome. O jazz era a trilha sonora da nossa geração, que pautava seu estilo de vida naquele dos beats.

Ainda não se falava em revolução sexual, mas ela nos aguardava ali na esquina. Eu já me via totalmente fora do esquema ancestral noiva virgem + diploma = casamento. Sonhava com uma paixão existencialista, amor e sexo no mesmo pacote. E foi assim que surgiu do nada, no bar do Plaza, a garota da hora, sacudindo a cabeça ao suingue do bebop. Estava a poucas mesas de distância, eu a vi, ela me viu, nossos olhares não se desgrudaram mais. Como eram longos aqueles improvisos de jazz... No primeiro intervalo, fui até ela e a convidei à nossa mesa. Ofereci do nosso uísque, éramos aqueles rapazes curitibanos de terno e gravata que bebiam com o litro de Scotch na mesa. A música nos impedia de conversar, era tudo o que queríamos. Saímos para tomar um ar, a tarde caía na Prado Júnior, a rua lavada por uma pancada prenunciando a primavera. 

– Para onde vamos? – tateei.

– Hotel Cardoso. Chame aquele táxi ali. 

O táxi pegou a Avenida Atlântica rumo ao Vidigal. Ainda em Copacabana, minha companheira de viagem abre intempestivamente a janela do táxi e saúda a Princesinha do Mar com um generoso jato de vômito. Bebendo a tarde toda de barriga vazia, o upgrade da cerveja para o uísque foi fatal. O Cardoso, vovô dos motéis cariocas, ficava no começo da Niemeyer, perto do local onde plantariam o Sheraton nos anos 70. Um hotelzinho modesto, três andares, sem elevador, muito distante da futura arquitetura de motel de ostentação brega que assolaria o Rio. Minha amiga encontrou no banheiro um pequeno tubo amarelinho de Kolynos e o esgotou escovando os dentes com os dedos. Existencialistas com toda razão, fizemos o que mandava o nosso coração.


Na volta, pediu que a deixasse na domingueira que ainda rolava na casa de Aníbal Machado, na Visconde de Pirajá. Não trocamos telefones, acho que ela nem ficou sabendo meu nome. E como foi que eu descobri quem ela era? Acho que alguém disse aos meus amigos curitibanos no bar do Plaza: “Aquela é a famosa Silvinha Maconha.” Com o tempo, fui sabendo mais. Ruy Castro, que fez a arqueologia daqueles tempos em Ela é carioca/Uma Enciclopédia de Ipanema, traçou um miniperfil da musa: 

“A própria Silvinha ‘Maconha’ (n. 1934) tinha esse nome não por fumar maconha (pelo menos na época, ninguém a via usar o produto), mas por parecer ainda mais ‘marginal’ que a média das moças do Arpoador. Era morena, usava óculos escuros de Marlon Brando em O selvagem e tinha uma cicatriz no queixo (caíra da garupa de uma moto.) O que a tornava diferente das outras era o fato de ser bem liberal a respeito de com quem ia para o banco do jipe ou do Chevrolet – um dos privilegiados, Jomico Azulay, sete anos mais moço do que ela, definiria sua noite com Silvinha como ‘o mundo antes e depois de Copérnico’. Mas era também querida e respeitada: escrevia contos, recitava Jacques Prévert  (‘Rappelle-toi, Barbara/ Il pleuvait sans cesse sur Brest ce jour-là...’) e era assídua às jam sessions do Beco das Garrafas. As amigas a viam como ‘mais livre’, só isso.”

Que pena, não vi o mundo antes e depois de Copérnico com Silvinha, mas guardo do episódio – talvez justamente por causa dos seus desacertos – uma bela lembrança.

Outro dia me veio à cabeça: “A Silvinha, com 87 anos, seguramente já tomou a segunda dose da vacina”. Onde anda você, Silvinha Maconha? Você bem que podia me aparecer para trocarmos figurinhas sobre aquela tarde de setembro que nem sei mais ao certo se aconteceu...

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Quer comprar uma novela? Acervo de imagens (e um terreno) da Rede Manchete em leilão

Acima, a chamada para o leilão de um terreno em Campinas (SP), até 25 de maio.

Nesta reprodução, a chamada para o leilão do acervo de imagens que foi encerrado hoje




Tem algum dinheiro sobrando? Administra uma rede de televisão ou portal de streaming? Pois a Faro Leilões, sob autorização da 3ª Vara de Recuperações Judiciais e Falências de São Paulo, está batendo o martelo em cerca de 70 itens que pertenceram à TV Manchete, e que hoje fazem parte do patrimônio da Massa Falida da TV Manchete. 

Além das marcas Rede Manchete e TV Manchete, estão no pacote dezenas de novelas, programas jornalísticos, documentários, humorísticos, musicais como Bar Academia, carnaval, futebol,  documentários, reportagens e imagens de outros gêneros. 

São milhares de fitas. Há tempos não havia notícias sobre esse acervo. 







Justiça leiloa Pantanal, Dona Beija, Ana Raio e Zé Trovão, Guerra sem Fim, Antônio Maria, Kananga do Japão, Marquesa de Santos, Viver a Vida, além de várias minisséries. Até  O Marajá, uma novela que estava pronta e não foi exibida por impedimento judicial, aparece entre os itens que foram a leilão mas na forma de documentário. Fora da parte artística, o site de leilões Faro On Line  (em função da pandemia o evento é virtual) também oferece um terreno com uma edificação na cidade de Campinas (SP).   

A informação foi passada ao blog por um leitor de Porto Alegre que enviou inclusive o laudo de avaliação de tudo o que está à venda. 

As marcas Rede Manchete e TV Manchete também estavam no pregão por um lance mínimo de R$186.287,72.

Novelas e demais programas têm avaliação variável. Há itens que estimam valores entre pouco mais de 17 mil reais, 59 mil reais a 265 mil reais, aquelas novelas de maior porte e repercussão na época em que foram exibidas. Observando que, no leilão, os lances mínimos foram estabelecidos normalmente abaixo da avaliação.  

Novelas e demais itens de imagens receberam lances até hoje, 19/5/2021. O terreno de Campinas aceitará ofertas até 25/5/2021.

Ainda não há informação sobre nova data de leilão das novelas se o pregão de hoje não atingir o mínimo previsto. . 

Link do Faro On Line AQUI  



segunda-feira, 17 de maio de 2021

Meia Noite no Rio - À maneira de Woody Allen

Odete Lara canta no Bacará. Foto de Helio Santos/Manchete


Nara Leão em um dos seus shows no Bottle's. Foto de Hélio Santos/Manchete

por Ed Sá 

A Toca do Vinicius, em Ipanema, fechou logo no começo da pandemia. Há umapequena esperença de que reabra após a crise. Até lá, ficou mais difícil ainda encontrar um Rio um bar que que tenha pocket shows de bossa nova. 

Muitos turistas americanos, franceses e japoneses que procuram ouvir "Garota de Ipanema" e outros sucessos de Tom, Vinicius, João Gilberto, Roberto Menescal etc na cidade-berço da bossa nova vão parar em inferninhos movidos a funk. Isso até que descobrem o Bottles's, no histórico Beco das Garrafas, transversal da Rua Duvivier, em Copacabana. Lá, a depender da noite, é possível ouvir bossa nova. A casa foi revitalizada em 2017. Passaram por lá Marcos Valle, LanLan, Emanuelle Araújo, Joao Donato, Leny Andrade e outros. Não sei como está agora, quando a pandemia desafinou a noite carioca. Poderia ser o nosso Blue Note, o templo do jazz em Nova York. 

Se Woody Allen quisesse fazer no Rio um spin-off da sua fantasia "Meia Noite em Paris", o Beco das Garrafas e suas estrelas, como as duas vistas acima, seria o set de uma revisita romântica na noite carioca.

No auge do Beco das Garrafas, nos anos 1960, o fotógrafo Helio Santos, de Manchete, registrou, na mesma noite, shows com estrelas da bossa nova. Segue o fio, abaixo.