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sexta-feira, 21 de maio de 2021

Já temos Paris de volta • Por Roberto Muggiati

 

Torre Eiffel volta a atrair turistas.


O brinde de champanhe consolatório de Bogart a Bergman em Casablanca “Sempre teremos Paris”está mais atual do que nunca. 

Depois de seis meses de rigoroso lockdown, a cidade voltou a suas atividades normais na terça-feira 18 de maio com a reabertura parcial de museus, centros culturais, monumentos turísticos (como a Torre Eiffel) e restaurantes e cafés (restritos às mesas de calçada). 

Cafés recuperam o .movimento


Macron na reabertura.

O próprio Presidente Emmanuel Macron comemorou a medida saindo para tomar um café com seu premier, Jean Castex, nas redondezas do Palácio do Eliseu. Disse Macron: “Este café é um momento de liberdade recuperada, fruto de nossos esforços coletivos”. 

Caso tudo corra bem, a retomada prosseguirá em 9 de junho, com a reabertura das áreas internas de restaurantes e cafés e a ampliação do toque de recolher até as 23 horas (no dia 19 de maio passou das 19h para as 21h e em 30 de junho poderá ser totalmente abolido).

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em Casablanca: um entre os milhares de filmes
que têm Paris como referênciaa 

No Cafe de Flore, a busca do passado perdido

O Louvre volta a se iluminar

A tradição de Paris como polo cultural da humanidade vem de longe – vocês sabiam que na época da Revolução Francesa os inconfidentes mineiros e os líderes da Independência dos Estados Unidos, como Thomas Jefferson, já conspiravam com os Enciclopedistas em cafés da rive gauche? Na segunda metade do século 19 e na Belle Époque, 

Paris fermentava com artistas e intelectuais estrangeiros, mas o grande boom ocorreu nos anos 1920, com a chamada lost generation (Hemingway, Fitzgerald), os espanhóis Buñuel, Dali, Picasso, etc, etc – parodiados na fantasia nostálgica de Woody Allen Meia-noite em Paris.


Quem contou melhor essa história foi talvez Ernest Hemingway, no livro póstumo de 1964 A Moveable Feast/Paris é uma festa, no qual afirma : “Se você teve a sorte de viver em Paris quando jovem,  aonde quer que vá depois, a cidade o acompanhará pelo resto da vida.”


Morei em Paris de outubro de 1960 a fevereiro de 1962, estudando jornalismo com bolsa do governo francês. Cheguei lá com 23 anos. A memória dos dezesseis meses que vivi em Paris, há sessenta anos, ainda dorme toda noite e acorda todo dia comigo. Com toda a força de sua magia, Paris ressurge agora – vamos torcer – como um símbolo do fim da pandemia e a esperança de novos tempos.