quinta-feira, 16 de março de 2017

A MÍDIA E A MÉDIA: QUANDO A NOTÍCIA PROVOCA SOFRÊNCIA NOS EDITORES DOS PRINCIPAIS JORNAIS

por Flávio Sépia
Os principais jornais brasileiros, em sintonia com a especulação financeira, apoiam as reformas com que o "presidente" Temer quer empalar os brasileiros. 
Isso é óbvio, isso não é novidade. Afinal, manobraram para colocar o ilegítimo lá precisamente para fazer esse e outros trabalhos sujos em matéria de supressão de direitos. 
Ao exaltar essa tarefa em comentário sobre as manifestações de ontem, um colunista chama Temer, hoje, de estadista, com todas as letras, sem vergonha. 
Há fatos que incomodam a quem deve noticiá-los. Vários dos jornais abaixo - e isso é histórico - omitiram até onde puderam a campanha pelas Diretas Já, nos anos 1980. Na época não havia internet, ficava mais fácil. Atualmente, com a força das redes sociais é impossível ignorar acontecimentos desse tipo por mais que gostassem de não vê-los. Resta a alguns veículos da mídia dominante usar de recursos para minimizar os protestos. Desde a decisão editorial de quase escondê-los na primeira página ao já manjado macete de destacar a "violência" ou os "transtornos" à população na tentativa de estigmatizar um ato democrático. 
Em São Paulo, a propósito, um repórter de TV quebrou a cara ao tentar arrancar de um usuário do metrô que ia para o trabalho um comentário negativo sobre a paralisação. Foi surpreendido ao ouvir do trabalhador a declaração de que apoiava totalmente os manifestantes e lamentava não poder participar naquele momento. 
Veja, abaixo, primeiras páginas de jornais brasileiros - registre-se que alguns escaparam do vexame -, e confira parte da repercussão internacional dos protestos.

A Folha abriu a foto da Av. Paulista, foi neutra no título
e enfatizou no texto de abertura os transtornos e o vandalismo. 


O Globo deu a foto na Presidente Vargas na metade inferior da página. O título é
neutro mas o subtítulo destaca a pós-verdade de Temer. Segundo o "presidente" a reforma vai evitar o "colapso" da Previdência, o que é uma fantasia neo-liberal desmoralizada por vários especialistas que identificam desvios de verbas do setor e sonegação de empresas como os verdadeiros fatores do alegando "rombo". 

O Estadão assumiu o cinismo jornalistico. Para o jornalão,
a foto da escada parada foi o "must" e o título prefere destacar que
o protesto "travou" São Paulo. O que ficou travada foi a honestidade
intelectual que se diluiu na prioridade à não-notícia, a que está em "gestação", 

no título do alto da  página com a urgente "revelação' de que o governo 
"estuda" aumento de combustível... 

Para o Extra, os protestos mereceram a notinha que
os condena: "Manifestações terminam em confusão".
O Dia reconheceu a importância da notícia.

O Liberal não brigou com a notícia. 

O Agora deu praticamente o mesmo peso às manifestações e aos "prejuízos"
e tentou suitar a notícia: diz que supostamente Temer fará "adaptações" nas reformas,
o que, vá lá, é bem difícil a essa altura já que o "presidente" tem
que entregar a tarefa aos conspiradores que o levaram ao Planalto.  

A Tarde foi moderada, não agrediu o fato. 

O Correio Braziliense fez uma primeira página do tipo "sem querer
querendo", quase escondeu.


A Folha de Londrina, da terra da Lava Jato, mostrou os protestos
e o "vandalismo". E, para amenizar, deu a palavra a Temer no texto de abertura.

O Hoje em Dia fez a correlação entre a "pressão nas ruas"
e a lista de Janot que atinge exatamente os arautos da criminosa
supressão dos direitos trabalhistas e previdenciários. Deduz-se
que, em matéria de reformas, certos políticos só deviam
fazer as das próprias celas.    

O Diário do Nordeste abusou da parcialidade: a foto
é um 'selo' e a nota é milimétrica.. 
O Povo foi mais fiel à relevância da notícia. 

O Zero Hora deu uma chamadinha de leve e correu pro chimarrão.


A IMPRENSA INTERNACIONAL REPERCUTIU
AS MANIFESTAÇÕES DE ONTEM E NÃO DEIXOU DE REGISTRAR QUE OS PROTESTOS
NÃO SÃO APENAS CONTRA AS REFORMAS
MAS CONTRA O "REFORMADOR"
E  O POVO NAS RUAS TAMBÉM
PEDE ELEIÇÕES GERAIS, JÁ.






Não é reforma, é desmonte da Seguridade Social...


(do site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)


"A Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ – vem a público repudiar veementemente a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 287), apresentada pelo governo ilegítimo de Michel Temer. A PEC altera regras referentes aos benefícios da Previdência e da Assistência Social para prejudicar o(a) trabalhador(a) brasileiro(a).

A reforma proposta promove, na verdade, o desmonte da Seguridade Social, especialmente dos regimes de Previdências Públicas (Regime Geral da Previdência Social e Regimes Próprios de Previdência Social), que passarão a não garantir condições de aposentadoria para a maioria da classe trabalhadora.

Apoiada em um postulado neoliberal e antipopular, a PEC 287 estabelece a idade mínima para aposentadoria em 65 anos, para homens e mulheres, prejudicando especialmente as mulheres e categorias como professores e trabalhadores rurais.

A PEC também estabelece o período mínimo de 25 anos de contribuição e modifica a forma de cálculo de todas as aposentadorias, promovendo uma real redução dos valores a serem pagos. Para ter direito à aposentadoria integral, os(as) trabalhadores(as) terão de contribuir durante 49 anos.

Para os(as) jornalistas, o aumento no tempo de contribuição será desastroso. A precariedade das relações de trabalho empurra profissionais para a informalidade do “pejotismo”. O baixo número de vagas no mercado e alta rotatividade no emprego trazem períodos de descontinuidade no recolhimento, o que prejudicará a aposentadoria, ainda que proporcional.

As mulheres jornalistas – que são maioria na categoria – serão ainda mais prejudicadas. Ao igualar a idade de homens e mulheres para obter o benefício, o governo brasileiro ignora as condições reais que diferenciam os sexos na sociedade contemporânea.

Se implantadas, as novas regras previdenciárias obrigarão grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras a buscar alternativas na iniciativa privada, reforçando a ideia de um Estado Mínimo e privilegiando o poder do capital.

Esse é o grande objetivo da reforma em curso, pois, com o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos e a diminuição da conta da previdência, o governo ilegítimo garante o superávit necessário para remunerar o rentismo financeiro do capital especulativo, aumentando a concentração de renda e privilegiando o capital que fomentou o golpe político no Brasil.

Diante dessa grande ameaça, a FENAJ se une ao movimento social e ao conjunto da classe trabalhadora para resistir e impedir o avanço desse ataque violento aos direitos previdenciários e sociais conquistados pelo povo brasileiro.

Não queremos um país de miseráveis! Queremos vida digna para o(a) trabalhador(a) em atividade e para o(a) aposentado(a). Por isso, a Federação Nacional dos Jornalistas apoia a paralisação e mobilização nacional contra a reforma da previdência, na quarta-feira, 15, e conclama seus Sindicatos Filiados e a categoria à participação nas diversas atividades que serão realizadas para mostrar a contrariedade do povo brasileiro."

Nenhum direito a menos!

Brasília, 13 de março de 2017.

Diretoria da FENAJ.

Brasil diz não às reformas que o governo ilegítimo quer impor ao país...

Mais de 1 milhão de pessoas fora às ruas ontem em todo o Brasil. O Dia Nacional de Paralisação foi um marco na luta contra a supressão de direitos previdenciários e trabalhistas, a meta odiosa do governo golpista do "presidente" Temer. 
Brasília. Foto Mídia Ninja

Sáo Paulo. Foto de Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Foto de Paulo Pinto. Agência PT
Foto de Paulo Pinto/Agência PT
Rio. Foto AG.Brasil
São Paulo. Foto AG.Brasil
Rio.Foto AG.Brasil
São Paulo.Foto AG.Brasil
São Paulo. Foto Ag.Brasil
Brasília. Foto Lula Marques
Recife. Foto Frente Brasil Popular
Brasília. Foto AG Brasil

quarta-feira, 15 de março de 2017

Viu isso? Kombi adaptada vira truck beer com console para games Atari e Mega Drive...


Fotos: Divulgação
por Niko Bolontrin
O empresário paulista Thiago Batista adaptou uma Kombi 1975 como choperia móvel e acrescentou um detalhe que está fazendo sucesso: um monitor e console para Atari e Mega Drive. O truck beer tem atraído gerações de saudosos dos famosos games e pode ser contratado para eventos particulares. Chope gelado à mão e a reencontro com jogos clássicos como River Raid, H.E.R.O., Pitfall, do Atari, ou Street Fighter, Comic Zone e outros do Mega Drive.


Revista Veja é condenada a indenizar os deputados Carlos Minc e Marcelo Freixo. Ambos foram difamados por colunista


LEIA A SENTENÇA COMPLETA, CLIQUE AQUI

Deu na revista Piauí: O que há por trás da volta do Jornal do Brasil...



por Consuelo Dieguez (para a revista Piauí) 

O empresário Omar Resende Peres, conhecido pelo apodo de Catito, ganhou espaço na imprensa por recentes aquisições que ampliaram o espectro de seus negócios. Dono dos restaurantes La Fiorentina e Bar Lagoa, no Rio, ele também arrematou o combalido e folclórico Piantella, em Brasília, que reúne há décadas a nata da política nacional. Do ramo das panelas e fogões, Catito migrou para o do jornalismo. Ele está finalizando os termos do contrato de arrendamento da marca Jornal do Brasil, cujos direitos de uso pertencem, desde 2001, ao empresário baiano Nelson Tanure, dono da Companhia Docas do Rio de Janeiro, entre outros negócios. Em 2001, Tanure arrematou a marca da família Nascimento Brito, dona do jornal e da rádio JB, por um período de noventa anos. Catito disse acreditar que o negócio estará concluído dentro de três semanas. Seus planos para o Jornal do Brasil são ambiciosos. Na contramão da ordem mundial, ele quer ressuscitar a versão impressa do jornal, que deixou de circular em 2010. Desde então, o JB só existe na internet.

Durante uma conversa no Bar Lagoa, Catito me disse ter consciência de que os jornais em papel tendem a desaparecer e, por isso mesmo, ele não está criando uma nova marca. “O negócio só é viável porque se trata de uma marca tradicional, da qual os leitores cariocas ficaram órfãos em 2010. Jamais ousaria abrir um jornal impresso que não tivesse o peso do nome Jornal do Brasil”. Será lançado em papel com data para acabar. Ele estima que dentro de três anos o JB voltará a circular apenas na versão digital,. Então por que investir nesse negócio? “Acredito que não há forma de dar credibilidade a um meio online sem que tenha a sustentação de um jornal impresso.” Assim que a transação com Tanure for concretizada, o impresso, de acordo com suas estimativas, pode começar a circular em noventa dias, o que ocorreria entre julho e agosto.

A viabilidade da empreitada, segundo ele, será garantida pelo baixo custo da operação. O jornal terá apenas duas seções físicas: a de política e a de cidade, para as quais serão contratados cinquenta jornalistas que vão produzir conteúdo exclusivo para o JB.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NA REVISTA PIAUÍ, CLIQUE AQUI

terça-feira, 14 de março de 2017

Fotomemória da redação: nos anos 60, fotógrafos da Manchete posam a rigor no estúdio da Frei Caneca



A Bloch ainda não estava no prédio da Rua do Russel quando alguns fotógrafos da Manchete fizeram a rara pose acima para uma edição especial. Pena que a foto foi publicada sem legenda e não foi possível identificar todos.

A cena - todos vestidos a rigor - foi registrada aí pela metade dos anos 1960.

Em nome da Fotomemória, vale tentar identificar os possíveis protagonistas da foto.

O primeiro à esquerda é o Paulo Scheunstuhl (veja, abaixo, a correção). Na sequência, sobre a escada,  fila de trás, Antonio  Trindade. À frente dele, Juvenil de Souza. À esquerda de Trindade, Sebastião Barbosa. À esquerda da modelo, Nicolau Drei. Acima dele, flash na mão esquerda e câmera encobrindo o rosto, Orlando Abrunhosa. O fotógrafo que aparece ao lado do Drei, erguendo o flash, é o Domingos Cavalcanti. Faltam duas identificações: a do fotógrafo que está agachado; e o que aparece, apenas o rosto, atrás da modelo.

Esta Fotomemória fica em aberto caso alguém de melhor memória conclua as identificações.

ATUALIZAÇÃO: Nélio Barbosa Horta, brilhante diretor de Arte que atuou no Jornal do Brasil e em várias revistas da Bloch, entre as quais a Fatos & Fotos, EleEla e Pais & Filhos, corrige e amplia (abaixo) as identificações da foto. O blog agradece.   
"Espetacular Fotomemória: lembro de quase todos eles, grandes amigos, grandes profissionais. O primeiro, à esquerda é o Antônio Rudge, depois o Trindade, o Souza, o Orlandinho, o Nicolau Drey e o Domingos Cavalcanti. Os outros, não consegui identificar. Estúdio da Frei Caneca, onde tudo começou. Velhos tempos, belos dias..."

domingo, 12 de março de 2017

UMA AVENTURA EM CURITIBA: Baixando na Arena 59 anos depois

A foto do fato: eu na Arena da Baixada

Por Roberto Muggiati

Na segunda-feira, 6 de março, fui a Curitiba para a posse do meu querido amigo Ernani Buchmann na presidência da Academia Paranaense de Letras. Foi uma bela cerimônia solene na sede da OAB do Paraná, não muito longe da Polícia Federal, o “palácio” da Lavajato.

  
No Bar Stuart, os acadêmicos Dante Mendonça (atleticano), Ernani
Buchmann (o novo presidente da APL, já foi presidente do
Paraná Clube), Ney José de Freitas e este que vos fala.
No dia seguinte, Ernani combinou um encontro de fim de tarde mais descontraído no Bar Stuart, o mais antigo de Curitiba, fundado em 1904.

Com o dia inteiro praticamente livre, fui flanar por minha cidade natal em busca de vestígios do passado, tarefa que me exige, a cada nova viagem, mais memória, imaginação e alma de arqueólogo.

Na Avenida, passei pela Boca Maldita (longe de ser aquela que foi o ponto de partida da campanha nacional Diretas Já! em 1984). Depois, flashes da Rua Quinze: o Bar Triângulo, o rei do cachorro quente curitibano (ainda ostentando o au-au de néon na fachada); a lendária Confeitaria das Famílias; a sacada do antigo escritório de meu pai, da qual assistíamos aos desfiles do Sete de Setembro; em frente, o sobrado onde tive minhas primeiras aulas de inglês, aos dez anos, com Robert Charles Fulton; na Barão do Rio Branco espiei pela porta de entrada do prédio do Clube Curitibano (hoje sede da COHAB), com a chapelaria onde as madames e as debutantes guardavam seus casacos de pele; no subsolo também não havia mais a Caverna Curitibana, a antípoda das virginais debutantes; para dançar com as taxi girls, você comprava uma ficha e passava pela roleta até a pista de dança.

Do outro lado da rua, fui ver a vitrine dos instrumentos musicais da Casa Sartori, os saxofones de hoje fabricados no Vietnã ou na China. Não havia mais a Casa da Manteiga, nem o Grande Hotel Moderno, de portas fechadas, sua fachada art déco coberta por grafitos. Não achei a vitrina onde o faquir Silkh bateu um recorde mundial de jejum, deitado num colchão de pregos, vestindo apenas um fraldão e um turbante (diziam que na madrugada ele devorava cachorros do Triângulo e baurus e beirutes da Cometa). O Correio velho, onde em 1955 recebi pelo reembolso postal meu primeiro saxofone, um Ubaldo T. Abreu, de fabricação paulista; revi o belo prédio neo-helênico da Universidade do Paraná e os degraus de pedra da Faculdade de Engenharia, onde gazeteava vendo a passagem das normalistas. Fugi do Colégio Santa Maria, uma bela construção retangular que ocupava todo um quarteirão e foi estupidamente arrasada. No Passeio Público, encontrei os restos da Boate Tropical, à beira do velho lago, onde Raul de Souza singrava a madrugada num pedalinho com seu trombone para fazer serenata a um búfalo d’água. Vi o velho Île de France ainda de pé, cinco décadas depois, com a melhor “cuisine traditionelle  française”. Subi a Riachuelo degradada, por onde passava o bonde rumo ao Juvevê e Bacacheri.

Em frente à antiga Prefeitura, existe agora um magazine de roupas no lugar do Facilitário Muggiati do tio Aquiles, a primeira loja de vendas a prestação em Curitiba. Aonde eu ia religiosamente (heresia!) toda sexta-feira de Carnaval recolher minha caixinha de madeira com as três lança-perfumes gorduchinhas, as Rodo Metálicas.

Fiz uma pausa para o recolhimento na Catedral da Praça Tiradentes, para mim, por muito tempo, um templo gótico mais majestoso que a Notre Dâme de Paris ou a Abadia de Westminster. Na basílica da Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais acendi uma vela votiva para o horrendo Cristo crucificado logo à direita da entrada, sempre oculto na escuridão contra um vitral colorido. Lembro que meu pai madrugava na Catedral com os companheiros da opa, aquela capa roxa que vestiam na Semana Santa – as imagens da catedral todas cobertas de roxo também – antes de partirem em procissão com o Cristo na cruz, um dos mais sofredores que conheci em minhas andanças pelo mundo.

Tinha mais pela frente. A Biblioteca Pública do Paraná comemorava seus 160 anos. Fui lá ouvir um trio de jazz e bossa nova, o Helinho Brandão (estudou sax com o Mauro Senise, como eu) e o guitarrista Mário Conde, acompanhante do Raul de Souza, que conheci em Curitiba em 1958.

Conheci em pessoa meus colegas virtuais do jornal literário da Biblioteca, Cândido, Rogério Pereira e Luiz Rebinski. E dei um abraço-surpresa no Ruy Castro, que seria o entrevistado de Um Escritor na Biblioteca, para o Cândido, formando uma ponte Caratinga-Curitiba.

Ernani Buchmann já estava no Stuart às sete. Conversamos sobre canetas-tinteiro até chegarem os companheiros Dante Mendonça e Ney José de Freitas. Chope e Steinhager, como convém, o papo vai rolando, alguém menciona o jogo do Atlético na Baixada pela Libertadores. Comento que a última vez que fui à Baixada foi em 1958 para assistir à big band de Woody Hermann. Os EUA tinham sacado que o jazz era uma eficiente arma de propaganda na Guerra Fria e patrocinaram várias turnês. A banda de Dizzy Gillespie visitou o Brasil em 1956.

A banda de Woody Herman, em 1958, em apresentação na quadra de basquete do
Atlético.


Eu com Woody Herman, em Curitiba, no mesmo ano. 

Em 1958 foi a vez de Woody Herman. (De quem Allan Stewart Königsberg, Woody Allen, tirou seu nome artístico.) A banda de Herman hospedou-se em Curitiba no Mariluz Hotel, onde o entrevistei, e tocou no Guairinha, numa noite de sábado. No domingo, houve uma apresentação grátis na quadra de basquete do Atlético, no Joaquim Américo, um tremendo erro, porque o time da casa jogava no campo ao lado e os minguados espectadores da banda de Woody a toda hora acorriam às janelas laterais da quadra para espiar o futebol.

No embalo da lembrança, o Dante Mendonça me pergunta: “Quer ir à Baixada? Tenho uma cadeira lá." Não hesitei. Chegar ao estádio em cima da hora, no meio daquela confusão toda, foi um risco para um cidadão que vai comemorar os oitenta este ano. Mas a emoção do espetáculo valeu a pena. A torcida atleticana toda uniformizada, muitos jovens, garotas bonitas, mães com bebês, pais com filhos pequenos – e a adrenalina correndo a mil. A Arena da Baixada é também um dos estádios mais bonitos que já conheci, iluminadíssima, o telhado retrátil fechado por ameaça de chuva. Tudo organizado e limpíssimo, as novas instalações do Joaquim Américo impressionaram este veterano frequentador do Maracanã. O jogo também foi vibrante. O Atlético marcou logo aos cinco minutos, fez 2x0 aos 30 do segundo tempo.
Aos 40 minutos sofreu um apagão e o Universidad Católica de Chile fez dois e chegou ao empate. Um empate sofrido em casa, com gosto de derrota. Saí meio ressabiado, temendo que alguém da torcida apontasse um dedo acusador para mim: “É ele o pé frio!” Da Dublin de Joyce, onde está morando, meu filho escreveu: “Tem de sair cinco minutos antes do fim do jogo, Mick Jagger do Batel!”

Pé frio? Deixa pra lá. Na noite seguinte, já de volta ao Rio, a televisão me transportou para o Durival Britto e Silva, o estádio em Vila Capanema, para torcer pelo Paraná na Copa do Brasil contra o Bahia. O Paraná é um quinto da camisa do meu amado Ferroviário – time para o qual eu torcia até 1962, quando saí definitivamente de Curitiba. (O Ferroviário fundiu-se em 1971 com o Britânia e o Palestra para formar o Colorado; em 1989, o Colorado fundiu-se com o Pinheiros e formou o Paraná Clube.)

Foi no Durival Britto, que fiz aulas de ginástica no primeiro ano do ginásio, assisti aos dois jogos da Copa do Mundo de 50 em Curitiba e vi ainda na concha acústica um show inesquecível da orquestra de Xavier Cugat.  Voltando à Copa do Brasil de 2017: um prócer (belo palavrão) da CBF falou que o Bahia começaria mais tarde a terceira fase da Copa do Brasil, dando como favas contadas que o time da Boa Terra eliminaria o esquadrão das Araucárias. O Bahia protelou o jogo e catimbou o que pôde, mas o tricolor paranista foi lá e despachou o adversário com indiscutíveis dois a zero. Coisa que o Vasco não conseguiu contra o outro baiano, o Vitória. Mas isso já é outra história...

Atualização bqvMANCHETE: (Comentários postados no Facebook)



sábado, 11 de março de 2017

Indigestão política? Conheça um remédio para tomar de hora em hora...

Reprodução. Inteligência, 1940.

por Ed Sá 
Em 1940, circulava em São Paulo a revista Inteligência. Era uma publicação política, mensal, que reunia artigos de autores brasileiros e reproduzia conteúdo dos principais jornais internacionais.

São Paulo nem sonhava com João Doria, o Brasil não tinha pesadelos com Michel Temer, mas um dos anúncios da Inteligência antecipava cólicas e azias administrativas ligadas aos dois sobrenomes.

Curiosamente, uma ilustração quase surrealista listava os males representados por uma cabeça de cabrito e, entre os chifres, destacava um Não Temer, dito que hoje pode ser lido com um hipotético acento agudo na primeira sílaba.

O Não Temer era, aliás, o slogan que o elixir usava - muito antes do Fora Temer - em todas as suas propagandas. O remédio, como diziam as mensagens, era indicado para quem tivesse engolido uma indigesta cabeça de cabrito. Simbolicamente, claro. Assim como o Brasil e São Paulo, hoje.