quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Editora de revistas e agência de publicidade: trabalhando juntas para não morrerem abraçadas...

Para as revistas, é tempo de buscar novas estratégias. Ou dá ou desce. A American Media, que edita publicações de entretenimento e saúde (Star, OK, Flex, Muscle & Fitness), acaba de fazer com a Zimmerman Publicidade, uma parceria inovadora, que não tem relação direta e imediata com a venda de anúncios, segundo o Adweek. A agência fará pesquisa, análise de dados e consultoria estratégica alinhada com a pauta das revistas, temas e eventos. O objetivo é criar parcerias com grande eventos ou até eventos próprios. A prática não é inédita. No Brasil, revistas como a Contigo!, a Caras e a
Quem, para citar alguns exemplos, criam ou se associam a eventos, como prêmios, camarotes, ilhas, castelos etc e buscam patrocinadores, transformando fatos ou criando assunto que normalmente são do interesse do seu público leitor em oportunidades comerciais ou de difusão da marca. A novidade, no caso da AM, é um novo formato nesse campo: uma agência de publicidade, e não o seu próprio departamento de marketing, trabalhando e prospectando permanentemente oportunidades para os anunciantes. Ou seja; a Zimmerman será o radar da editora ligado dia e noite, em parceria com o faro jornalístico da redação. Se vai dar certo, só o tempo dirá. A expectativa da AM é expandir o público do impresso e do online e ganhar valor junto a anunciantes. Cabe à agência estudar os parceiros da revista e propor a criação de eventos ligados à marca. Por exemplo: um jogo de basquete em uma geleira da Antártica; um vôo em nave suborbital com celebridades; um torneio de aeróbica na Amazônia...
Haja imaginação. Não está fácil a vida das revistas.

Contas secretas dão indigestão na mídia...




CLIQUE AQUI

Direto de Paris: o Brasil bebeu?

por Jean-Paul Lagarride (ex-correspondente da Manchete, especial para o blog)
Amigos que adoram o Brasil estão preocupados. Nos últimos meses, a terra que deu a Bossa Nova ao mundo dá sinais de que o samba desafinou. Não fosse a idade (e a aposentadoria que derreteu nessa crise europeia que começou aguda e virou crônica), eu deixaria Vernon, onde nada acontece, para tentar desvendar o turbilhão brasileiro. Anotei no velho PC de pouca memória e tela curva, alguns dos sintomas nada animadores da atual conjuntura da antiga França Antártica. Tenho apenas perguntas e nenhuma resposta.
- Tenho lido na internet alguns dos principais veículos brasileiros. Acho que alguém precisa investigar porque quase sumiram as teclas HSBC dos computadores dos jornalistas. Pelo menos, quando trata de listar os figurões sonegadores e lavadores de dinheiro. Um jornalão já defende a tese de que os tais ricaços não poderão ser processados porque o vazamento da relação de fraudadores é ilegal. Defesa prévia? Aviso que aqui na Europa já corria um inquérito antes do vazamento. Seria demais suspeitar que o vazamento internacional veio depois para beneficiar os acusados? De qualquer forma, em Paris e Londres as teclas HSBC estão já gastas pelo uso nas últimas semanas.
- Quem é Eduardo Cunha? Um jihadista? Li que ele oferece a vida em sacrifício para impedir que seja votado um projeto que libera o aborto. É isso? Espera se imolar e ganhar vinte mil virgens no paraíso?
- É verdade que os brasileiros querem a volta da ditadura? Soube que em março acontecerão nas grandes cidades passeatas que pretendem derrubar a presidente Dilma Rousseff. Seria uma reedição das "marchas da família" que anunciaram as trevas em 1964.
- Conhecendo minhas ligações com o Brasil - se bem que a maioria dos jornalistas que eu conheci, já está no paraíso e sem direito a virgens - um tabloide parisiense me ligou para saber se eu conhecia o monsieur Bolsonarô. Há rumores de que ele assumirá o governo no próximo dia 31 de março.
- É verdade que o juiz que cuida do processo que envolve um milionário mandou aprender o Porsche e um piano do acusado, levou o carro e o instrumento musical para casa e foi visto dirigindo o bólido? Já foi fotografado teclando o piano?
- Um ex-presidente do Banco do Brasil, acusado de favorecer uma suposta milionária com empréstimos, voos em jatinhos oficiais, pagamento de anúncios no programa de televisão da referida socialite em uma rede que ninguém vê foi mesmo nomeado para "moralizar" a Petrobras?
- Leio nos jornais todos os dias detalhes do escândalo da Petrobras. Ao mesmo tempo, me informam que o processo corre em sigilo. Meus amigos dizem que o sigilo é relativo tanto que até hoje não vazou a lista dos políticos envolvidos com o esquema de pagamento de propinas. Dizem que está em andamento uma investigação sigilosa para apurar a quebra de sigilo. É isso mesmo?
- O Brasil vai tentar sair da crise cortando seguro-desemprego e pensões? Isso será mesmo suficiente? Não seria o caso de taxar grandes fortunas, combater a sonegação, os desvios de verbas públicas, cortar subsídios que beneficiam inclusive as corporações midiáticas, rever incentivos fiscais, cobrar as dívidas de empresas que recebem empréstimos públicos, taxar lucros de especulação? Não sei se é piada, mas dizem aqui que o ministro pretende tirar da informalidade os mendigos que atual nas grandes cidades brasileiras. Um estudo indicaria que taxar esmolas ajudaria no ajuste fiscal.
- É verdade que leis brasileiras de incentivo cultural e esportivo permitem que o governo financie desde shows da Beyoncé e Rihanna até torneios de tênis? Isso significa que o governo brasileiro pode transferir dinheiro dos impostos para ajudar no combustível dos jatinhos de tenistas milionários, golfistas idem e astros pop?
- É verdade que ao ser preso, menores que matam não são chamados de "presos" mas de "apreendidos". E a semântica ajudando a combater a violência?
- Soube que em São Paulo se faz protesto contra ciclovias? E há políticos que defendem a criminalização das ciclovias para evitar que se espalhem pela cidade. Isso é fato?
- Existe um aeroporto público no Brasil cuja chave do terminal é guardada por um fazendeiro bem relacionado?
- A polícia flagrou um helicóptero com 500 quilos de cocaína. Li sobre isso. A investigação teria identificado e prendido os transportadores da droga, o nome do proprietário do aparelho, o dono da fazenda onde pousou, o local onde foi reabastecido no trajeto desde a fronteira e não sabe até hoje a quem pertencia a droga?
- E verdade que os planos de saúde brasileiros cobram caro dos usuários e costumam encaminhá-los com frequência para a  rede pública sem que paguem nada por isso?
- No Brasil existe um "cassino" que especula com energia elétrica? Soube que quando o preço sobe nessa bolsa de especulação os investidores abocanham milhões de dólares e o consumidor para a conta?
- Vi um vídeo na internet que mostram um ex-ministro que levou a mulher para tratamento de câncer sendo hostilizado e sofrendo ameaças de agressão. Essa espécie de tropa SS seria formada por gente da equipe técnica do hospital mais caro do país e paciente milionários que estavam na sala de espera?  Então, a direita raivosa já chegou a esse ponto no Brasil?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Fotógrafo "rouba" foto e ainda leva a mulher do plagiado. Trinta anos depois, a verdadeira história da famosa imagem da "Tennis Girl"

Foto icônica virou poster que fez sucesso nos anos 80. Reprodução
Muitos vão lembrar dessa foto. É dos anos 70, mas ficou famosa no começo do 80, quando uma marca de tênis a usou em um anúncio. Virou poster, ganhou um título, como se fosse um quadro: era simplesmente a "Tennis Girl". Com a repercussão, a midia foi descobrir quem era a menina do doce balanço espontâneo e sensual. Foi identificada como a modelo Fiona Walker, então com 18 anos, e a foto, de autoria de Martin Elliot.  Só que outro fotógrafo - Peter Atkinson, 72 anos - alegava há muito tempo que a foto era sua, e que não se tratava de uma modelo profissional, mas de sua própria mulher, e foi feita em 1974. Ele não tinha como provar até a semana passada quando descobriu no eBay um cartão-postal com a famosa foto carimbada pelo correio com data de 1974, além de a imagem ter sido usada em um calendário do mesmo ano.  Elliot e a marca de tênis afirmavam que a foto havia sido feita em 1976. Mas a trama ganha ares ainda mais novelescos, segundo o jornal The Telegraph. Um ano depois de ter sido fotografada pelo marido, que além de fotógrafo era instrutor de tênis, Fiona passou a namorar Elliot, que teria oferecido a famosa foto para uma campanha. Mas a marca pediu-lhe que fizesse nova sessão de foto com Fiona. Ele recriou a imagem. Um plágio, de leve. O que Atkinson diz é que a foto escolhida para os anúncios acabou sendo a original feita dois anos antes. Elliot morreu há alguns anos. Os royalties da foto icônica são pagos à sua viúva. Fiona vive, mas segundo o ex-marido, não quer se envolver na história.

 LEIA MAIS NO THE TELEGRAPH, CLIQUE AQUI

A polícia até prende, mas a justiça parece achar que alguns crimes são de "brincadeirinha"...

Foto: Reprodução do Globo
Foto: Reprodução do site Conexão jornalismo

Junto com racismo, depredação de igrejas, homofobia e as quadrilhas de torcidas organizadas, como já foi dito aqui, setores da justiça parecem achar que desmatar florestas e agredir animais também são besterinhas penais, de menor importância, embora estejam gravadas como crime no Código. O elemento que maltrata cachorros e foi filmado praticando sua tara, vai receber um pena hilária; limpar privadas. Das duas uma: ou ele não vai ser fiscalizado e vai debochar da pena ou o estado terá que gastar dinheiro para vigiar o cumprimento. Preso não vai porque é réu primário, lei do tempo da ditadura criada para beneficiar o torturador Sergio Fleury. Podia, ao menos, ser condenado a pagar uma multa, danos morais, que seja, de 1 milhão de reais para cima. Algo que machuque o bolso do anormal. E que o dinheiro reverta em benefício de instituições que cuidam de cães e gatos abandonados.
O segundo caso, que também costuma não deixar ninguém atrás das grades, são os dos crimes contra o meio-ambiete. Foi preso o maior desmatador da Amazônia. Um elemento que destruiu cerca de 20% da floresta. Provavelmente não será condenado a lhufas. Logo, logo, estará de volta à motosserra. Se for julgado, a pena provavelmente será algo do tipo plantar alguns arbustos, colher uns cocos, levar umas bananas para um abrigo de idosos, colher umas alfaces pro sopão dos sem-teto. Além de cadeia, ele deveria é pagar imediatamente o prejuízo de 540 milhões de reais que causou a um patrimônio do povo brasileiro. Está na hora de fazer menos humor e mais justiça.

Rihanna em 25 capas...





O site VH1 publicou uma relação das 25 capas mais sexies já feitas com a cantora Rihanna. A Vogue Brasil entrou na relação, embora tenha encoberto com a chamada exagerada cerca de um terço da foto. Veja as demais capas, bem mais reveladoras, no VH1, clique AQUI

Charlie Hebdo: segundo número após o atentado...

"Aqui vamos nós outra vez" É o que diz, em tradução livre, a chamada de capa. Uma espécie do "ói nóis aqui traveis" daquela famosa canção - " voceis pensa que nóis fumo embora, nóis enganemo voceis..." - de Adoniram Barbosa. Charlie Hebdo lança o segundo número após o atentado. O primeiro teve uma circulação de mais de 7 milhões de exemplares. Este, que mostra um cachorro com o exemplar do jornal perseguido por uma matilha formada pelo Papa Francisco, Sarkozy, Marine Le Pen e um jihadista, rodou cerca de 2 milhões de cópias.
O CH estava há algumas semanas ausente das bancas. Gérard Biard, novo editor-chefe, justificou ao "France 24": "Nós precisávamos de uma pausa, um descanso ... Havia quem precisava trabalhar de novo imediatamente, como eu, e aqueles que queriam levar mais tempo. "Então, nós chegamos a um acordo e concordaram em 25 de fevereiro ... para começar de novo em uma frequência semanal."

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O dia em que a ditadura matou a Panair

Reprodução
por Pedro Porfírio (do Blog do Porfírio)
No dia 10 de fevereiro de 1965, a ditadura militar cassou arbitrariamente a concessão da Panair, então a maior companhia aérea do Brasil, abrindo o caminho para a decretação da sua falência e sua dilapidação. Para quem se empenhou de corpo e alma contra a destruição da VARIG, como eu, muito mais por sua corporação altamente preparada, lembrar a ignomínia que a ditadura militar perpetrou contra a Panair do Brasil, há exatos 50 anos, é mais do que um dever perante a história – é uma chamada à reflexão de todos os brasileiros, particularmente os profissionais da nossa aviação comercial sucateada. Há que se registrar, a bem da verdade histórica, que são bem distintas as razões que levaram ao fim da concessão da Panair, em 1965,  então líder da aviação brasileira. Nesse gravíssimo crime de tantos outros daqueles idos abomináveis, foi o governo ditatorial que paralisou suas atividades por deliberada e ostensiva perseguição política. Isso por abuso típico de um regime que ainda tem imprudentes nostálgicos entre nós.
Seus principais acionistas e executivos faziam parte de um grupo de empresários progressistas, que atuavam em várias áreas, como a exportação de café, e à frente da mais charmosa estação de tv do país, a Excelsior, igualmente retirada do ar pela ditadura militar com as mesmas motivações. A Panair era muito querida dos brasileiros pela qualidade dos serviços e uma identificação íntima com a nossa alma, mas a ditadura queria atingir seus executivos Celso da Rocha Miranda, Mario Wallace Simonsen e Paulo Sampaio. Por que entre todas que operavam em 1965, quando foi fechada "manu militari", era a que tinha melhor condição econômica e um grande prestígio internacional.
No seu auge, na era dos modernos Constellation, dos Caravelle e dos jatos DC-8, ficou famoso o chamado “Padrão Panair”, visto como excelência em aviação, incluindo o atendimento a passageiros com talheres de prata e copos de cristais, no que foi seguida também pela VARIG, aliás, a grande beneficiária de sua desativação, juntamente com a Cruzeiro do Sul, esta sob a direção de Bento Ribeiro Dantas, um aliado incondicional da ditadura. A companhia aérea foi ainda celebrada em canções, como a interpretada por Elis Regina em "Conversando no Bar" (Saudade dos Aviões da Panair), sucesso de Milton Nascimento e Fernando Brant (“A primeira Coca-Cola, foi, me lembro bem agora, nas asas da Panair...”). Ela também serviu de inspiração para o poema “Leilão do ar”, de Carlos Drummond de Andrade.
A Panair foi cassada pela ditadura e a aviação brasileira só não foi a pique então pelo elevado padrão de profissionalismo dos aeronautas e aeroviários, aos quais coube dar continuidade às suas linhas através da VARIG e da Cruzeiro do Sul, enquanto muitos dos seus colegas eram literalmente exilados em busca de outros ares. Mas estas também tiveram destinos trágicos, por motivos diferentes: no caso da VARIG, devido à incúria da Fundação Rubem Berta, formada por um grupo de funcionários, que a administrava de forma perdulária, e a própria crise mundial das aéreas desde o 11 de setembro de 2001.
Mas nem por isso, embora não tivesse responsabilidade direta na sua falência, o governo Lula podia ter se omitido, até por que as associações de seus empregados tinham elaborado um plano que a manteria no ar com o mesmo padrão de segurança e conforto. Mas essa é outra história.

COMISSÃO DA VERDADE CONFIRMA QUE AÉREA PANAIR FOI FECHADA POR MOTIVOS POLÍTICOS. ATÉ ENTÃO, ESTADO ALEGAVA PROBLEMAS ECONÔMICOS

(por Daniel Leb Sasaki, transcrito do Blog do Porfírio) (*)

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou e tornou público, ontem, o relatório final sobre as violações de direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988, que vinha apurando desde sua instalação, em maio de 2012. Os textos, divididos em três volumes que somam 4,4 mil páginas, são diretos e concisos. O caso único do fechamento da companhia aérea Panair do Brasil, em fevereiro de 1965 — objeto de audiência pública realizada em 23 de março de 2013 —, foi contemplado no Volume II do documento, que trata da relação da sociedade civil com o regime militar.
Sem rodeios, a CNV confirma que a empresa — líder em seu setor entre as décadas de 1940 e 1960 — foi liquidada por motivos políticos e não financeiros, e que esse processo contou com a participação de agentes da União e instituições como o SNI (Serviço Nacional de Informações), beneficiando concorrentes. “Alguns empresários não compactuaram com a conspiração e o golpe, defenderam a Constituição e foram perseguidos e punidos pelo regime ditatorial”, destaca o texto do relatório. “Um caso exemplar foi o de Mario Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda, que juntos detinham o controle acionário da Panair do Brasil, a segunda maior empresa privada do país”. Mais adiante, a CNV aponta: “O estrangulamento econômico sofrido por Mario Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda, mediante bem-urdidos Atos de Estado, é comprovado”.
Como a comissão tem a prerrogativa de se pronunciar em nome do Estado brasileiro, é a primeira vez que país admite, indireta porém oficialmente, responsabilidade sobre a derrocada da companhia, pioneira nos voos transcontinentais e responsável pela construção da maior parte da infraestrutura de telecomunicações aeronáuticas, além de alguns aeroportos, do Brasil.
“Meu pai e o Seu Mario eram identificados com os governos anteriores”, afirma Rodolfo da Rocha Miranda, filho de Celso da Rocha Miranda, um dos acionistas majoritários da Panair à época do fechamento, e atual presidente da empresa, que sobrevive no papel. “Com a divulgação da verdade dos fatos, a Família Panair [como os ex-funcionários se auto-denominam] pode, finalmente, descansar em paz. O relatório da Comissão da Verdade apresenta a nossa 'causa mortis'.”
“Nós não temos ódio nem amargura no coração. O importante é que a verdade apareceu. Os nomes dos nossos pais e da Panair, atacados durante muito tempo, foram reabilitados”, diz Marylou Simonsen, filha de Mario Wallace Simonsen, que faleceu um mês após o episódio, vítima de um colapso cardíaco. Ele era sócio de Celso Rocha Miranda na Panair.
A Panair do Brasil foi fundada em 1929 por um grupo norte-americano e inteiramente nacionalizada em 1961, pelas mãos da dupla Rocha Miranda-Simonsen, cujos grupos econômicos somavam mais de 40 empresas que se destacavam em diversos setores, como o de comercialização de café (base da economia da época), seguros e telecomunicações. A aérea operava a maior malha internacional entre as brasileiras, com voos regulares para países da América do Sul, Europa, África e Oriente Médio. Além disso, prestava serviço único em 43 localidades na Amazônia e possuía o mais avançado parque de manutenção do continente, que incluía a oficina Celma (em Petrópolis, hoje da GE).
Violência jurídica
Em 10 de fevereiro de 1965, o governo Castello Branco cassou as concessões de linhas da Panair sem aviso prévio, repassando-as às rivais Varig e Cruzeiro, que assumiram os voos no mesmo dia. Em seguida, o regime pressionou para que fosse decretada a falência, embora os balanços da aérea de Rocha Miranda e Simonsen apresentassem ativo muito superior ao passivo e a empresa não possuísse títulos protestados, ações de fornecedores ou funcionários, ou dívidas com a União maiores que as concorrentes.
Com parte do patrimônio desapropriado por dois decretos em 1966 e 1967, e pagos todos os débitos em apenas quatro anos, a Panair tentou ressurgir impetrando pedido de concordata suspensiva. Foi impedida pela promulgação em tempo recorde e com efeito retroativo de outros dois decretos-leis, baseados no Ato Institucional n°5: 469 e 669, de 1969, que retiraram das aéreas o direito de retomar as atividades após processos de falência e de pedir concordata (a legislação foi aplicada uma única vez na história, no caso da Panair).
Documento das próprias Forças Armadas obtido pela CNV comprova que as acusações levantadas contra a empresa e sua administração tinham se baseado em um laudo pericial que a Justiça, em plena ditadura, comprovou ser falso. “De fato a prova acusatória se resumia em cópias de informações do mandado de segurança impetrado pela Panair, veiculando graves acusações, mas só palavras, um laudo pericial, que a Justiça comprovou ser falso do Síndico da falência, o Banco do Brasil”, revela o dossiê. Em 1978, parecer da assessoria jurídica da Aeronáutica recomendou o arquivamento do processo criminal contra os acionistas. Assim foi feito. A falência só pode ser suspensa, sem interferência da União, em 1995. Apesar de parada por 30 anos e da dilapidação do patrimônio, a Panair ainda dispunha de cerca de US$ 10 milhões em caixa ao encerrar o processo. Porém, perdura até hoje a proibição de operar.
“Só lamento que eles não estejam mais vivos para presenciar este momento”, desabafa Luiz Paulo Sampaio, filho de Paulo de Oliveira Sampaio, que presidiu a Panair durante 16 anos, sendo o responsável pelos maiores avanços na empresa, como o estabelecimento dos primeiros voos noturnos no Brasil, em 1943, e de linhas intercontinentais, três anos mais tarde. “Até morrer, em 1992, meu pai sofreu com a destruição da obra de sua vida. Ele realmente vivia e respirava a Panair”.
Confira abaixo os principais trechos do relatório final da CNV sobre o caso:
“Alguns empresários não compactuaram com a conspiração e o golpe, defenderam a Constituição e foram perseguidos e punidos pelo regime ditatorial, o que deve ser assinalado sob pena de incorrermos em uma generalização equivocada. Um caso exemplar foi o de Mario Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda, que juntos detinham o controle acionário da Panair do Brasil, a segunda maior empresa privada do país."
(...)
"O estrangulamento econômico sofrido por Mario Wallace Simonsen e Celso da Rocha Miranda, mediante bem-urdidos Atos de Estado, é comprovado pelo(a):
— Fechamento e confisco dos armazéns de café (entrepostos aduaneiros), em Trieste, das empresas Wasim e Comal. Essas empresas figuravam entre as maiores exportadoras de café à época de seu confisco, abalando inclusive o conceito do Brasil como exportador.
— Suspensão, sem prazo determinado, das licenças de voo das linhas aéreas da Panair do Brasil S/A., o que levou à decretação de sua falência.
— Desmantelamento do patrimônio da Panair, coordenado por síndicos militares da falência, com a ativa participação do Serviço Nacional de Informações (SNI) e de procuradores especialmente nomeados com esse objetivo.
— Fechamento da TV Excelsior, pioneira no país na implantação da televisão a cores e que contava com técnicos e elenco de primeira grandeza no mercado nacional. Seu fechamento foi decorrente de pressões políticas por parte do governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, um dos patrocinadores do golpe civil-militar, que buscava, sem êxito, o apoio da rede à sua futura candidatura.
— Cancelamento de todos os seguros de órgãos do governo realizados pela AJAX Corretora de Seguros. Na oportunidade, a AJAX era a maior corretora de seguros da América Latina, contando em seus quadros com mais de 600 funcionários altamente qualificados. As mudanças abruptas das regras vigentes emanadas por decretos que visavam perseguir Celso da Rocha Miranda, como a criação de comissões de inquérito na Companhia Siderúrgica Nacional e em outros clientes da AJAX, com o intuito de identificar ligações políticas, eliminaram qualquer possibilidade de readequação da Companhia às novas regras da ditadura, levando-a ao fechamento, dois anos depois.
— Instauração da Comissão de Investigação Sumária da Aeronáutica (Cisar) – Centro de Informação de Segurança da Aeronáutica – PIS n°194/CISAR, cujo parecer secreto afirma:
'Celso da Rocha Miranda pode ser considerado o principal responsável pela maquinação criminosa e irresponsável que conduziu a Panair do Brasil S/A à situação de falência financeira e administrativa, em 1965...
Assim, Senhor Ministro, Vossa Excelência, atendendo sugestão do Cisar, expediu aviso ao Exmo. Sr. Ministro da Fazenda para que fossem postos à disposição desta Comissão, vários Fiscais do Imposto de Renda, indicados pelo Serviço Nacional de Informações, (SNI), a fim de examinarem os Livros de Contabilidade das diversas empresas pertencentes ao Sr. Celso da Rocha Miranda, sob orientação dessa Comissão.
Outrossim, uma cópia dessa Parte Conclusiva deve ser remetida ao Cenimar, CIE, SNI, DPS, Contel, e aos Setores de Segurança da Aeronáutica, tudo por intermédio do Centro de Informação da Aeronáutica (Cisa), que por sua vez deverá tomar as necessárias providências junto ao Gabinete de Vossa Excelência para que o Sr. Celso da Rocha Miranda seja processado por Crime de Sonegação Fiscal [...] Presidente do Cisar e Membros...'
— Instauração da Comissão Geral de Investigações – Estado da Guanabara – tentativa de enquadramento ao Ato Complementar n°42, que autorizava o confisco de bens de pessoas naturais ou jurídicas, sob a alegação de enriquecimento ilícito dos sócios e diretores. Proc. 218/69, encerrado em 1978, com base no seguinte parecer conclusivo de sua assessoria jurídica:
'Em síntese, de toda documentação carreada ao bojo dos autos, não emerge nenhum fato relevante, caracterizador da prática do locupletamento sem causa. (...) De fato a prova acusatória se resumia em cópias de informações do mandado de segurança impetrado pela Panair, veiculando graves acusações, mas só palavras, um laudo pericial, que a Justiça comprovou ser falso do Síndico da falência, o Banco do Brasil, o qual também é autor da duvidosa exposição de fís 62 e segs., l Vol, [...] acolhendo o parecer do Relator, concorda com o Parecer da Consultoria Jurídica e por unanimidade de votos, resolve arquivar o processo sob referência.'
(...)
"A própria liquidação do patrimônio de alguns favoreceu, direta ou indiretamente, grupos que tiveram crescimento significativo no período. No caso da Panair, por exemplo, é importante lembrar que a Varig, do empresário Ruben Berta, assumiu todas as linhas internacionais do país no exato momento em que a concorrente foi fechada pelo governo.”

* Daniel Leb Sasaki é jornalista e escritor, autor do livro "Pouso Forçado".



VISITE O BLOG DO PORFÍRIO, CLIQUE AQUI

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Capas: foco nos extremos, a dama e a ninfeta...

Nas bancas na mesma semana, 61 anos separam as personagens de duas capas de revistas. A New You traz a ex-modelo Carmen Dell'Orefice, 83 anos. Ex-modelo? Talvez não. Algumas velhinhas estão bombando. Veja: nos últimos seis meses, Helen Mirren, 68, estrelou um comercial para a L'Oréal Paris; Joan Didion, 80, tornou-se o "rosto" da Celine; Twiggy, 65, promove a l'Oréal Professionnel; Chatlotter Rampling, 68, protagoniza a campanha da Nars; e Jessica Lange, 65, é o novo "rosto" da Marc Jacobs Beauty.  
Já a V Magazine, na reta oposta, estampou a cantora e atriz Selena Gomez, 22 anos, com cara e corpo de ninfeta. 

Loura radical em anúncio "reality" do Mustang seduz incautos...


A campanha do novo Mustang lançado nos Estados Unidos é um mix de publicidade e reality show.
O loura Prestin Persson publicou na rede social convite para um encontro às cegas. Vários candidatos toparam encontrá-la em um bar. De lá, ela os convidava a sair, falava que o carro dela estava estacionado ali perto. Beleza, quem não toparia? Só que a loura é uma tremenda stunt driver. Os caras estão certo de que vão se dar bem. Tiram onda, falam que praticam esportes radicais. Mas quando ela acelera... Veja as reações dos rapazes, clique AQUI

Temporada de caça aos "diferenciados"...

A barra está pesada nos Estados Unidos para negros e imigrantes. Polícia, nos últimos meses, tem feito tiro ao alvo com pessoas dessas duas categorias. São impressionantes as cenas desse vídeo. Policiais de Pasco (Washington) tentaram abordar um imigrante mexicano que tentou escapar porque não tinha documentos e era clandestino no país. Não portava arma. Ao ser encurralado por três policiais que facilmente o dominariam, não teria entendido a ordem de deitar no chão. Foi sumaria e friamente executado. Um dos policiais afirmou que ele tinha uma pedra. Mas nem isso está provado. Em um tempo não muito distante, nesta mesma galáxia, uma polícia chamada SS também agia assim. Na época, os alvos eram judeus, comunistas, ciganos, eslavos, cegos, aleijados, testemunhas de Jeová, negros ou qualquer um que fosse considerado "diferenciado" e não tivesse um pé na Saxônia, onde Hitler achava que estava o DNA zero-um da raça ariana.
LINK PARA O VIDEO, CLIQUE AQUI (CENAS FORTES) 

Roma: torcida holandesa depreda a fonte Barcaccia, da Piazza di Spagna

Danos na fonte. Foto: Prefeitura de Roma

Restauradores avaliam os estragos. Foto Prefeitura de Roma

Torcedores holandeses quebraram a fonte para reforçar o arsenal de pedras contra a polícia. Foto Prefeitura de Roma.

Torcida organizada de time de futebol tem o mesmo DNA em qualquer país. Frequentemente, a ação organizada de torcedores desses grupos resulta em destruição de patrimônio público e em assassinatos. Na Europa, especialmente Inglaterra, Suécia, Alemanha, Itália e França, as polícias montaram bancos de dados de quem costuma se envolver em conflitos - que, na verdade, para eles é a prioridade, mais do que ver o jogo -, trocam informações, fotos e vigiam a movimentação em dias de jogos em uma tentativa de conter os holligans. No Brasil, o governo de instituir, há algum tempo, uma carteira de identificação dos integrantes das organizadas mas a iniciativa não prosperou de tão criticada que foi pela mídia. O resultado é que nem saiu a carteira nem qualquer providência para monitorar as gangues. As torcidas de clubes brasileiros, de vários estados, hoje, marcam brigas pela internet, invadem vestiários, campos de treinamento e até agridem jogadores. Costumam ser recebidas com tapete vermelho pelos cartolas interessados em apoio eleitoral. Sim, porque uma das estratégias deles é entrar para sócio dos clubes e passar a ter peso político.
Nessa semana, o Feyenoord holandês foi jogar contra o Roma. O jogo acabou em 1x1. Antes de voltar para casa, os holandeses circularam pela cidade e acabaram entrando em conflito com a polícia, que tentou impedir que a gangue depredasse a fonte Barcaccia - que tem mais de 400 anos e é assinada por Bernini - , na Piazza di Spagna. A intervenção evitou a destruição total da fonte, mas não os danos. O prefeito de Roma, Ignazio Marino, quer que o Feyenoord ou o Estado holandês pague os prejuízos.
Aqui no Brasil isso é fichinha e  faz parte daquela lista de crimes "menores" - racismo, agressão contra mulheres, contra homossexuais, invasão de igrejas católicas e terreiros de religiões afro, homicídios em acidentes de trânsito, entre outros - aos quais ninguém dá muita bola.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Qual é o pó? Pergunte ao Oscar. Estatueta cheira cocaína, em Hollywood. Tem "papel de 50" no caminho das celebridades...

Reproduzida do site Mashable
Um artista de rua chamado Plastic Jesus montou uma provocativa instalação em Hollywood, hoje, a 48 horas da entrega do Oscar, a maior premiação do cinema. A notícia está no site Mashable. Uma estatueta do Oscar, no tamanho aproximado de uma pessoa de altura mediana, cafunga duas carreiras de cocaína em plena calçada da badalada Hollywood Boulevard. A instalação ocupa um trecho que será interrompido para a passagem das celebridades a caminho do tapete vermelho. A placa não deixa dúvidas; "a melhor festa de Hollywood".


Memórias da redação: o FORUM (da EleEla)...

POR ALEXANDRE RAPOSO

Há muitos e muitos anos, em uma galáxia muito longe daqui, em uma época em que ainda não havia celular, Internet, sites pornográficos e encontros virtuais, um tempo de trevas e ignorância, sem BBB, sem Facebook, sem Twitter, sem nem mesmo um modesto ICQ, havia uma seção em uma extinta revista erótica sediada no Rio de Janeiro que mobilizava as atenções, corações, mentes e fantasias sexuais de legiões brasileiros, o Forum. Visto com olhos contemporâneos, tratava-se de uma bobagem: a mera transcrição de cartas enviadas pelos leitores — datilografadas ou escritas a mão! — narrando suas aventuras e fantasias sexuais. Naquele tempo porém, com o país recém-saído de duas longas décadas de ditadura, censura e feroz repressão às liberdades individuais, a seção tinha um enorme apelo.
Quando ainda em meu segundo ano de faculdade, mas já como redator contratado da revista, fui encarregado de administrar a seção, cargo que exerci por mais de um ano, até chegar outro calouro desavisado para ocupar o meu lugar. O texto abaixo reúne algumas lembranças desses tempos gloriosos em que o sexo era sem culpa, ninguém transava com camisinha, e a DST mais braba era curada com uma simples injeção de Benzetacil.

EM CERTA SEXTA-FEIRA após o expediente, a pretexto de comemorar o aniversário de um colega, a redação de Ele Ela se reuniu em um famoso bar da Glória para tomar o inevitável suco de laranja das 20h. É claro que o papo não podia girar a respeito de outra coisa a não ser a revista e, por extensão, mulher. Lá pelas tantas, já empolgados por uns três ou quatro refrescos, ouvimos uma voz feminina vinda do fundo do bar: “Aí, marmanjos! Vocês é que são os tais da ‘grutinha’?” Silêncio sepulcral. Todos os olhares convergiram na direção de onde vinha a voz e encontraram não uma, mas um grupo de quatro mulheres muito bem apanhadas, em uma congregação que mais lembrava um comitê popular do movimento feminista. E, a julgar pelos olhares que nos lançavam, evidentemente eram membros da ala radical.
Meio sem graça, alguém respondeu com a voz trêmula:
“É, mais ou menos, né...”
A pergunta veio direta, na bucha:
“Vem cá, esse Forum de vocês é verdade ou mentira?”
Não pudemos deixar de rir. Sempre a mesma pergunta! E claro que daí para frente as mesas se juntaram, as dúvidas foram esclarecidas e pelo menos dois redatores da revista tiveram pretextos de sobra para escreverem um Forum na manhã seguinte. Mas não o fizeram. Não era preciso. Nunca foi preciso.
Outro dia, conduzido pelo RP da empresa, um grupo de publicitários de diversas agências visitou a redação. Bastante inibido, um deles se adiantou ao grupo e explicou:
“Nós viemos aqui para...”
Não foi preciso terminar. Macaco velho, o chefe de redação emendou:
“Para saber se o Forum é verdade ou mentira, certo?” E, sem esperar a resposta, pousou sobre a mesa um caixote de madeira contendo aproximadamente 900 cartas de experiências íntimas dos leitores. “São as do mês...”, completou falsamente modesto.
E claro que, apesar dos insistentes apelos, não deixamos que vasculhassem a caixa. Afinal, entre outras virtudes, sempre nos gabamos do sigilo escrupuloso que oferecíamos aos nossos leitores. Mas até hoje fico a imaginar as loucuras que aquela junta publicitária não faria caso colocasse as mãos no material. Pois não havia gente que chamava o Forum de “termômetro informal da sexualidade brasileira”?
De uma vez por todas e daqui para frente: o Forum era verdadeiro e todas as cartas publicadas eram escritas por leitores ávidos por verem publicada sua peça erótica em nossas páginas amarelas. As centenas de cartas que chegavam por mês eram lidas por uma equipe de redatores e selecionadas a partir de critérios como qualidade do texto, erotismo e originalidade. Uma vez escolhidas as titulares, as cartas iam para o estaleiro onde — respeitando-se ao máximo o texto original — eram corrigidos erros de ortografia eventuais e substituídos os termos chulos por correspondentes publicáveis. Mas, igualmente de uma vez por todas, não fomos nós que inventamos esse papo de “grutinha do amor”.
Foi em novembro de 1973, na edição n. 55, que pela primeira vez se viu uma seção com o nome Forum. Entretanto, naqueles tempos bicudos, o Forum era completamente diferente da pícara seção que se tornou posteriormente e se apresentava assim: “Esta é a sua opinião. Escreva para a redação”. Ou seja, cumpria a função de uma seção de cartas e crítica dos leitores. Mas mudou devagarzinho.
Em meados da década de 70, o Forum já publicava cartas (ousadíssimas para a época) com ofertas de trocas de casais, e, por volta de março de 1977, abordava temas como sexo grupal, insatisfação, frigidez e esterilidade, fazendo as vezes de consultório sexual. Mas foi apenas na edição n. 98, de junho de 1977, que o Forum publicou pela primeira vez alguma coisa parecida com uma experiência (ou fantasia) de um leitor. A carta se chamava “Um Sabor Muito Feminino Para o Seu Chiclete” e dizia: “Admito francamente minha preferência pelo chamado sexo oral — mais precisamente, o delicioso cunnilingus. Só tenho outro xodó na vida: mascar chiclete. E a novidade, que certamente interessará aos leitores, é que consegui conciliar minhas duas paixões. Toda manhã, antes de sair para o trabalho, coloco um tablete desse chiclete tipo americano dentro das chamadas partes íntimas da minha mulher, enquanto ela faz a sua ginástica matinal. Quando ela termina, retiro o chiclete, refaço a embalagem e vou para o escritório. Passo umas três horas feito louco, antecipando aquele gostinho divino na minha boca, mas aguento firme até quase a hora do almoço, quando tiro do bolso o meu chiclete (que eu apelidei de chiclêta) e começo a mascar... Ah! Vocês não imaginam!”
Gradativamente, entremeadas por cartas curiosas, mas ainda do tipo “doutor, o que eu faço com o meu pinto?’’, as experiências dos leitores foram ganhando espaço na seção. No número 107 apareceu, enfim, o primeiro relato (com começo, meio e fim) de uma relação sexual, intitulado “Amor em Mar de Espanha”, onde a leitora inaugurou um dos maiores chavões da seção, o termo “cavalgar”: “... sentindo-o intensamente vivo sob mim, cavalguei-o, a princípio em trote lento, passando em seguida à marcha rápida, para chegar, com imenso prazer, ao galope largo, desatinado.”
Um dos principais argumentos de quem afirma que o Forum não era verídico — ou seja, que suas histórias eram forjadas na própria redação da revista — é o que costumam chamar de “linguagem pasteurizada”. Entre muitas cartas de leitores indignados com “a desfaçatez com que são impostas essas ‘cartas de leitor’; evidentemente criadas por imaginativos escritores”, a maior parte argumenta que “obviamente são escritas pela mesma pessoa, uma vez que se valem dos mesmos artifícios semânticos”. Ou seja, o que o indignado leitor queria dizer ao certo é que o Forum não era autêntico porque usava sempre os mesmos termos, como se fossem recursos estilísticos de um único autor. Ledo engano, para responder no mesmo estilo.
A verdade é que, uma vez que a seção se ampliou e se tornou a única desse tipo na grande imprensa brasileira, o Forum criou, por si mesmo, uma linguagem própria, democrática, pública, um estilo geral, gradualmente aperfeiçoado por seus muitos leitores-colaboradores.
Na edição n. 114, a seção Forum finalmente chegou à maturidade, ostentando em sua epígrafe: “Esta seção destina-se à publicação de cartas dos leitores sobre suas experiências sexuais e fantasias eróticas.” A essa altura, o Forum já era assunto de salão, mesa e alcova, e mais de uma faculdade de comunicação e psicologia premiara teses baseadas em seus relatos.
De fato, era uma experiência curiosa manusear aquelas cartas. Confirmando sua inteira confiança em nossa discrição, os leitores não só enviavam nome e endereço completos, como também cópias xerografadas de suas carteiras de identidade, embora isso fosse absolutamente desnecessário. Já os relatos eram entregas totais, e acreditamos que muitos de nossos correspondente não fossem tão sinceros nem mesmo com suas caras metades.
Muitas das cartas recebidas continham algum recado implícito para alguém. E isso ficava evidente quando, uma vez recusada, a mesma carta insistia em chegar, mês a mês, até a nossa capitulação (ou a desistência do leitor). Forum também serviu para aproximar tendências afins (a fim de tudo) e mais de uma vez , encantados com algum relato, os leitores escreviam pedindo o endereço deste ou daquele autor anônimo. Nossa atitude foi sempre a mesma: publicávamos a carta, tal qual era enviada, em nossa seção Cartas, na base do “se colar, colou”. O resultado disso foi que as cartas de Forum duplicaram em volume, pois, não bastando o relato original, nossos leitores não se privavam do prazer de contar as experiências sexuais resultantes de encontros travados por nosso intermédio. E Forum partiu para a metalinguagem — o que não tem nada a ver com sexo oral.
Podemos traçar toda a trajetória de Forum através dos tempos apenas através das mudanças estilísticas e de linguagem pelas quais passaram os depoimentos ao longo dos tempos. A princípio, os relatos apenas sugeriam o ato sexual, fixando-se mais na situação ou na descrição de ambiente e personagens. Termos como “partes pudendas” eram comuns nessa época.
Gradativamente, no entanto, a linguagem foi se sofisticando, tornando-se mais ousada e começando a procurar soluções mais originais. E chegou a época das “inhas”. Tudo era “inha”: era grutinha, xoxotinha, bundinha... os leitores caprichavam nos diminutivos, certamente procurando amenizar a crueza de seus relatos. Por isso, muita gente começou a achar que o Forum era escrito pela mesma pessoa.
É bom lembrar que escrever a respeito de experiências íntimas é tarefa complicada. Descrever sensações, tatos, cheiros... enfim, narrar o sexo de forma literária é um desafio instigante. Por isso, toda vez que algum leitor conseguia uma fórmula nova, imediatamente esta fórmula era adotada pelos outros correspondentes. Daí a “linguagem pasteurizada” de que se queixavam nossos críticos incrédulos.
Em certa época, fomos bombardeados por dezenas de cartas escritas pela mesma mulher, narrando as suas aventuras na África, e que invariavelmente citavam as dimensões avantajadas dos membros dos homens daquele continente. Publicamos uma, duas, três cartas, mas a empolgada leitora parecia ter um repertório inesgotável de trepadas africanas. Black is beautiful, sim, mas chegou um momento em que começou a encher o saco. Após a sétima carta publicada e a duodécima recebida, encerramos o safári. Continuou mandando suas aventuras africanas e tornou-se colaboradora exclusiva; mas nunca mais foi publicada. Mesmo porque, lá pela septuagésima aventura ela começou a se repetir, misturando aventuras já narradas com um ou outro elemento original, mas que não justificava a reprise.
Ao longo desses anos recebemos de tudo. Desde pelos pubianos caprichosamente aparados e enviados junto com as cartas (“para provar que não estou mentindo”), até relatos eróticos que poderiam ser classificados como boa literatura. E, quando não insistiam em falar no tamanho descomunal de seus membros avantajados, nossos leitores conseguiam criar peças cheias de humor e picardia, como a premiada “Adão, o Bananeiro”, uma das cartas mais sacanas e mais engraçadas que recebemos.
Ao longo dos tempos, Forum serviu como tribuna livre de nossos leitores, único espaço para a publicação de suas fantasias sexuais. Serviu também como intermediário para aventuras e como afrodisíaco para casais entediados. Na pior das hipóteses, Forum serviu, ao menos, para iniciar ótimas cantadas.
Como disse, todas as cartas publicadas eram verdadeiras, escritas pelos leitores, e nunca precisamos inventar nada. Nunca precisamos, o que não impediu que, uma vez na vida e outra na morte, algum de nós se sentasse à máquina para contar (por mero capricho) uma de suas aventuras. Era justo, era honesto. Afinal, também éramos humanos e alimentávamos nossas próprias fantasias...

Na rede social, internautas protestam contra a Rede Globo. Segundo o jornal O Dia, o canal não transmitirá o desfile das escolas campeãs do carnaval do Rio de Janeiro e não cederá as imagens para qualquer emissora

O blog Leo Dias, do jornal O Dia, afirma que a Globo não mostrará as escolas campeãs do Rio de Janeiro, neste sábado. Alega que não conseguiu vender patrocínio. E, segundo a nota, também não cederá as imagens para a Band, como já o fez em anos anteriores, quando optou por não exibir as Campeãs. Há alguma coisa que não bate aí. Primeiro, as audiências dos dois dias de desfiles e até da apuração dos resultados foi considerada muito boa, maior do que o que a Globo põe no ar nos respectivos horários. Segundo, seria prática da emissora vender um pacote de patrocínio, incluindo chamadas (Globeleza), intervalos no JN, além da cobertura do sambódromo propriamente dita. Nesse caso, não seria tão difícil encaixar as Campeãs nas chamadas cotas. Talvez, se realmente for verdade que estará ausente do sambódromo nesse sábado, seja puro desinteresse.
A Globo já demonstrou esse desinteresse, no passado. Havia uma profissional da emissora que, conta quem trabalhou com ela, detestava o Carnaval. Achava que dedicar tantas horas à "mesmice" das escolas não combinava com o "padrão Globo", nem era jornalismo. Figura de prestígio, ela teria sido ouvida. Por isso e por estar, na época, em briga aberta com o então governador Leonel Brizola, a Globo desistiu de cobrir o desfile de inauguração da passarela do samba, em 1984.
Manchete: absoluta no carnaval de 1984.
Abriu espaço, então, para a Rede Manchete, que ganhou audiência (derrubou novelas, filmes e shows da rival) e a simpatia popular tanto nas arquibancadas do sambódromo como entre sambistas e telespectadores do Brasil inteiro que não foram privados de ver os desfiles. E ainda vendeu cotas comerciais milionárias. Naquele ano, para completar, o carnaval foi disputadíssimo: deu Mangueira campeã, com "Yes, Nós Temos Braguinha", dividindo o ´titulo com a Portela, com o enredo "Contos de Areia". Como resultado da decisão desastrosa, teria ocorrido uma crise interna na Globo e prevalecido a avaliação de que não cobrir o desfile tinha sido uma cagada inesquecível, tanto que nunca mais a Globo ousou esnobar o samba. Havia transmitido nove desfiles, desde 1974, e a partir de 1985 transmitiu outros 30, até esse ano. 1984 ficou sendo o único ano em os executivos da emissora bateram o pezinho. Nos anos seguintes, com Brizola ou sem Brizola (que ainda voltou em um segundo mandato), ela estava lá. Não com exclusividade.
Em 1986, as redes passaram a dividir a transmissão
e os logos na passarela do samba. (Reprodução)
Precavida, a Liga das Escolas de Samba (Liesa) passou a vender os direitos para duas redes; a Manchete (que usava o slogan "Manchete, a estação primeira também neste carnaval") e a Globo, que dividiam câmeras, logística e as imagens principais, com cada uma levando suas respectivas equipes e algumas câmeras exclusivas. Essa parceria persistiu por anos.
O atual contrato, segundo a nota do Dia, obrigaria a Globo a transmitir as Campeãs ou passar o direito a outra rede. Fala-se que as imagens deste sábado estarão no G1, portal da internet do grupo, seria a saída para não desrespeitar o contrato. Pode ser que essa decisão se confirme ou não nas próximas horas, mas na rede social, muitos internautas já protestam contra a possível omissão da Globo, que, na prática, impedirá milhões de pessoas de assistirem pela TV sua escola desfilar. Talvez seja o caso de a Liesa, ano que vem, especificar com maior precisão no contrato que o Desfile das Campeãs deverá ser repassado para uma TV aberta, caso a titular dos direitos opte por não transmitir o evento. Será a forma de levar a festa a milhões de pessoas que não vão ao sambódromo.
Ou será que tudo isso é um sinal de que, no futuro, o Desfile das Campeãs estará disponível apenas no pay-per-view?


VEJA NO YOU TUBE UM CLIP SOBRE AS CAMPEÃS DE 1984 A 1994 EXIBIDO PELA REDE MANCHETE. CLIQUE AQUI 

Impostômetro existe. Mas cadê o sonegômetro? Bacanas brasileiros enviaram ilegalmente bilhões de dólares para "lavagem a seco" no exterior. Vai lá buscar essa grana, Joaquim Levy. Se conseguir, vira herói nacional e samba-enredo da campeoníssima Beija Flor

Reprodução Instagram


Repercussão do caso na midia internacional.Reproduções

CELEBRIDADES NA LAVANDERIA
LEIA MAIS, CLIQUE AQUI

SABÃO E DETERGENTE LTDA
A mídia brasileira tem abordado o escândalo do HSBC, que estourou na Suíça, de forma tímida, falando baixinho. O caso anda meio abafado por aqui. Dá para entender. Haveria um braço da evasão de divisas ligado supostamente à Lava Jato, mas, por incrível que pareça, é o braço menor em número. O polvo do HSBC tem mais uma dezena de membros superiores pilantras, bem superiores e bem ativos. Por enquanto é a porção ignorada pela mídia talvez por ser aquela que denuncia brasileiros poderosos que sonegam bilhões e remetem dinheiro para a devida lavagem no exterior. No caso, os extratos vão muito além da corrupção política partidária (embora tenham sido identificadas contas de figuras ligadas a governos desde os anos 90). Os "diretórios" dessa "coligação" estão nos Jardins, na Vieira Souto, Av. Paulista... O Brasil é um dos países com maior número de pessoas físicas envolvidas no escândalo do bancão que abriu uma "filial" de sabão e detergente da melhor qualidade. Os jornais europeus estão dando seguidas matérias de capa. Nos contracheques da sonegação em massa, há nomes de empresários, banqueiros, artistas, atletas, intelectuais, fazendeiros. Pelo menos um veículo brasileira teria em mãos a lista completa mas optou por divulgar apenas o que se relaciona com a investigação Lava Jato. O total sonegado e lavado por brasileiros, apenas no HSBC, passaria dos 20 bilhões de reais. 
Nos últimos dias, a mídia ocupa-se muito com a Guiné Equatorial e a Beija Flor, legítima campeão do Carnaval. Parece hipocrisia. Um biombo oportuno para deixar de falar da monumental sonegação e evasão fiscal? São crimes que fazem parte importante do complexo de corrupção que extrai recursos públicos que fazem falta em escolas e hospitais, em prevenção de doenças e saneamento. Provocam mortes, talvez até superem a condenável ditadura da Guiné Equatorial. Só que são registradas apenas em estatísticas, sem nome, nem rosto. Por enquanto, o Ministério da Justiça diz apenas que o caso "está sob análise". A Receita Federal anunciou que vai apurar operações em contas secretas de brasileiros na agência suíça do banco. Até aqui, o escândalo parece bem maior do que o interesse da mídia e das autoridades brasileiras.
O PLACAR DO SONEGÔMETRO
Em São Paulo, empresários são acometidos de orgasmo cívico ao exibir um painel da cobrança de impostos no país, o Impostômetro. Aguarda-se um painel ao lado capaz de medir a sonegação, o Sonegômetro. Sem o Sonegômetro, o Impostômetro é uma homérica babaquice que o Jornal Nacional gosta de alardear. Não é preciso ser economista para saber que quando uma conta não fecha, sobra para alguém. Uma instituição internacional, a Tax Justice, demonstra que o Brasil sonega 280 bilhões de dólares por ano, só perde para os Estados Unidos que têm uma economia várias vezes maior. Se muitos dos grandes contribuintes sonegam, todos, especialmente os honestos, acabam pagando mais. O ministro Joaquim Levy foi saudado como o homem que vai pôr em ordem as contas públicas. Beleza. Pena que a receita para isso não muda; arrocho, desemprego, cortes em áreas sensíveis como educação, saúde e segurança, direitos trabalhistas no alvo, investimentos, alta de juros. É o beabá neoliberal que prega arrancar uns trocados de quem já não tem.
LEVY PODE VIRAR SAMBA-ENREDO DA BEIJA FLOR
Levy poderia virar o herói nacional e até samba-enredo da Beija Flor se escalasse com prioridade o combate à sonegação e a captura de recursos ilegais remetidos para o exterior. Isso daria quase 15% do PIB, segundo a Tax Justice. 
O tal ajuste fiscal que o governo Dilma quer fazer, de menos de 2% do PIB, é merreca diante dessa montanha de dinheiro.

JORNAL INGLÊS OPTA POR CENSURAR O ESCÂNDALO. SÓ QUE LÁ VIROU DENÚNCIA


LEIA NO PORTAL IMPRENSA, CLIQUE AQUI

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Academia Brasileira de História em Quadrinhos, inaugurada no Rio, relembra Edmundo Rodrigues, artista que trabalhou na Bloch


Deu no Globo: foi inaugurada no Rio a Academia Brasileira de História em Quadrinhos. A instituição resulta de um pedido de Edmundo Rodrigues, um dos maiores quadrinistas do Brasil. Pouco antes de morrer, em 2012, aos 79, anos, ele pediu à sua produtora, Ágata Desmond, que não deixasse sua obra ser esquecida. Edmundo Rodrigues foi editor da Divisão de Quadrinhos da Bloch por mais de 20 anos. Abaixo, algumas das publicações da "Bloquinho".






LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO SITE DO GLOBO, CLIQUE AQUI

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Carnaval é na Manchete. Saíamos todos no Adolpho Bloco




 Por ROBERTO MUGGIATI

Nos meus tempos de rapaz, eu adorava Carnaval. Coisa curiosa, na última sexta-feira, o Rio já tomado pela folia, de repente me vi no final da Rua da Lapa, já na Glória, a caminho da casa de jazz TribOz. Dei-me conta então de que, 60 anos antes, eu caminhava pelo mesmo lugar, à mesma hora, no meu primeiro dia de Rio de Janeiro. Esbaldei-me no baile de domingo do Clube Curitibano e saí direto para o aeroporto Afonso Pena. Lá, pelas sete da manhã, peguei um Douglas DC3 no voo Curitiba-Rio e me hospedei no Hotel Regina, no Flamengo. Nada de descansar. Deixei as malas no quarto e sai pelas ruas do centro para acompanhar o Carnaval. No fim da tarde, naquele mesmo local na divisa Lapa-Glória, uma traveca mulata de dois metros de altura me deu uma patolada inesquecível, uma verdadeira epifania momesca. Enfim, vale esse nariz-e-cera para dizer que eu adorava o Carnaval.
Foi a partir de 1975 que começou minha overdose de Carnaval. Investido da função de diretor da revista Manchete – no lugar de Justino Martins – passei a ficar aqueles três dias prisioneiro das edições de Carnaval. Sim, naqueles tempos nós esgotávamos três edições seguidas: a pré-carnavalesca, a de Carnaval e ainda a de pós-Carnaval. A pré se valia de um evento que era um factoide criado pela própria revista. Com a cumplicidade do Comodoro do Iate Clube do Rio de Janeiro – que era amigo do Adolpho Bloch – a Manchete promovia o baile “Uma Noite no Havaí.” As mais bonitas garotas-de-programa da Zona Sul eram arrebanhadas pela produção da Manchete, enfiadas em ônibus fretados e desovadas no entorno da piscina do Iate, na Urca. Havia peitinhos à mostra, mas não se publicavam tais fotos – a revista seria recolhida. Ficávamos no limiar entre o erótico e o pornô. Para as garotas, aquilo era o seu catálogo – uma foto de página inteira valia um considerável aumento de michê. Fechávamos no sábado, com uma foto do baile na capa. Muitos cavalheiros nos telefonavam ou até procuravam na redação, temerosos de que publicássemos sua foto abraçado a uma “havaiana” – que certamente não era a sua “legítima metade.” (Na época, durante o verão, o Rio ficava entregue não às baratas, mas às “cigarras” – aqueles maridos que, pretextando negócios e trabalho, despachavam a família para a Serra, ou para a Região dos Lagos, e ficavam na calorenta metrópole... se esbaldando, é claro.)
Descansávamos até o sábado de Carnaval, quando começava a verdadeira pauleira. Resumindo: era preciso muita rapidez e jogo de cintura para editar uma revista em três dias e meio. Quilômetros de celuloide eram expostos e revelados. A qualidade exigia fotos em grande formato da Hasselbald, a sucessora da Rolleiflex. Cromos em 6x6 ou até em 7x5. As cenas mais dinâmicas eram flagradas em 35 milímetros. Os rolos de filmes dos diferentes eventos eram recolhidos por motoqueiros e trazidos para serem revelados no laboratório. Os banhos das emulsões químicas tinham de ser vigiados atentamente para evitar qualquer queima de filme. A edição das fotos era uma epopeia. As tiras de cromos subiam do laboratório envolvidas em plástico protetor. O Alberto de Carvalho fazia a pré-seleção, com seu lápis cera vermelho, marcando um X nas melhores fotos. Uma equipe cortava cada cromo e o emoldurava para a projeção. Os cromos grandes eram colocados na travessa linear; os 35cm, no carrossel. Todo mundo assistia à projeção – da alta diretoria aos contínuos. A reação daquela vintena de pessoas – de diferentes classes sociais – servia como uma espécie de pesquisa de opinião para o editor. Ele anotava mentalmente as imagens campeãs; e o Alberto anotava o número de cada foto e já colocava uma seleção das melhores na “churrasqueira”, uma mesa de quase dez metros de comprimento com visor de acrílico iluminado por lâmpadas frias (que faziam um calor danado). Aí o editor (eu) escolhia as fotos e desenhava a paginação para o chefe de arte, o grande Wilson Passos.
Não era só o desfile das escolas do Rio e de São Paulo (que construiu o seu sambódromo também), havia ainda o tititi dos camarotes, o desfile de fantasias do Hotel Glória, os Galas Gays e Scalas da vida e os bailes do Copacabana Palace e do Morro da Urca, a Feijoada do Amaral, etc. Tinha também a Bahia com seus afoxés e trios elétricos; e Olinda e Recife, com os bonecos e a apoteose do Galo da Madrugada. Todo esse material se deslocava fisicamente, nos primeiros voos, dentro de malotes, para ser revelado no Rio. Acompanhávamos o desfile das escolas de samba (Rio e São Paulo) e fechávamos as últimas páginas na manhã de terça-feira com as escolas cariocas da noite de segunda. Lembro que chegávamos à redação às quatro ou cinco da manhã e começávamos a esquadrinhar as fotos das últimas escolas. De repente, um sol rubro se erguia sobre a linha do horizonte marcada pelo mar na entrada da baía de Guanabara e banhava com seus primeiros raios as madeiras nobres e o assoalho em tábua corrida. Não tínhamos tempo de admirar a vista, mas ela estava ali, ao nosso alcance: o Pão de Açúcar à direita, a Fortaleza de São João à esquerda. Era a hora clássica do pão com ovo – nosso emblema gastronômico, que nomeia esse blog. Um prato dividido por um acirrado cisma ideológico: a natureza do pão era uma em Manchete, outra em Fatos&Fotos (o pão de forma versus o pão francês, já contamos essa história antes...)
Lá pelas onze da manhã, voltávamos para casa, com a consciência do dever cumprido. Às vezes, Adolpho Bloch nos levava, em petit comité, para almoçar em algum restaurante caro e arcava com a conta. A revista pós-Carnaval tinha uma capa definida. Reuníamos numa foto de estúdio cerca de dez destaques do Carnaval, das escolas, dos desfiles de fantasias e outras freguesias (um ano, por exemplo, a musa do Carnaval foi a estrelinha que acompanhava o Presidente Ithamar Franco no camarote presidencial e, no calor do samba, ergueu os braços num gesto que, suspendendo a camiseta, revelou que a moça esquecera as calcinhas em casa... ou em algum outro lugar.) O Tarlis Baptista, encarregado da produção, tornava-se naqueles dias a pessoa mais procurada do Rio de Janeiro: todo mundo queria sair naquela capa.
E assim se passaram 21 anos, até que, em 1996 – Adolpho Bloch morto no anterior – o Jaquito contratou uma troika de São Paulo para salvar a revista. Pela primeira vez em 21 anos, deixei a direção da Manchete. Vi-me investido da função de Editor de Projetos Especiais e deslocado para a cobertura do terceiro prédio do Russell, uma sala imensa que eu dividia com o Mauro Costa, da TV, também jogado para escanteio. Foi a melhor época da minha vida na Bloch, longe daquele insensato mundo, esquecido dos chatos – minha sala era acessada através de uma escada em caracol que só pessoas em plena forma física podiam galgar. Mas o sonho durou pouco. Quando chegou o Carnaval de 1997, Jaquito deu férias aos paulistas e me convocou para fazer a edição de Carnaval. Alegou: “Esses caras não entendem nada de Carnaval...” Ainda fechei as edições carnavalescas de 1998 e 1999. Em 2000, com o pé quebrado, fechei as edições de Fatos&Fotos – tinha a Fatos&Fotos Gay, bilingue, um hit, lembro de uma madrugada, revendo os últimos leiautes, a perna sobre uma cadeira, a muleta canadense ao lado – e passa pelo corredor das redações uma figura fantasmagórica, uma sílfide deslizando como se fosse alçar voo. Era a Isabelita dos Patins, sobre as rodinhas como sempre, e nos ajudando na consultoria de assuntos e gírias gays.

Todo esse trabalho, o desencanto com as engrenagens sórdidas do Carnaval comercializado, transformado em programa de TV, a euforia fingida das celebridades, me fez cansar do Carnaval. Sem mencionar que o de hoje, com subvenções até de um ditador de um país africano faminto, nada tem a ver com aquele de 1966, quando fui escalado para entrevistar um jovem talento da Princesa Isabel, Martinho da Vila. Seja como for, vale a lembrança: além de outras áreas, a Manchete pontificou –e muito – também no Carnaval.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Você viu neste blog, na última semana, a mega festa popular do Carnaval, certo? É feita nas ruas pelo folião comum que paga do próprio bolso para se divertir. Mas tem um tipo de ala bem mais esperta: é o cordão de quem ganha pra curtir... com a cara do povão..

Na montagem reproduzida do Brasil Post, os foliões autênticos e o alegre bloco engravatado dos "patrocinados".
Deu no Brasil Post (clique AQUI). O levantamento é do Contas Abertas (clique AQUI)

Aline Riscado: a musa do carnaval é a "Vera", a "Verão"

por Omelete
Carnaval é um gerador de musas. Algumas naturais, muitas anônimas (geralmente são as mais bonitas) e umas e outras subcelebridades tão deformadas por silicones, esteroides e hormônios que parecem uma bizarra experiência genética ambulante. Dito isto, ainda bem que a Itaipava botou no ar na sua campanha uma musa praticamente imbatível: "Vera", a "Verão", protagonizada desde o ano passado pela bailarina e modelo carioca Aline Riscado, 25 anos, casada, mãe de um menino. No ano passado, ela desfilou pela Caprichosos de Pilares. Este ano, foi vista no camarote da revista Quem, na Marquês de Sapucaí. Ex-bailarina do Faustão, ela era mais uma palco daquele Domingão entediante até que foi capturada pela cervejaria. Esqueça as anabolizadas, abra uma Itaipava, veja o mais recente filme da série e reveja algumas peças da campanha  "Verão é Nosso" que fazem sucesso pela beleza de Aline Riscado, pelo apuro na criação e produção e pelo humor na medida certa. A campanha é assinada pela Y&R.

VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI

VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI
VEJA O VIDEO, CLIQUE AQUI