quarta-feira, 5 de julho de 2017

TRÍVIA DA TRAVE: as redes eram assim... Ilha do Urubu faz uma viagem no tempo.

Ilha do Urubu: Flamengo revive a tradicional rede "Véu de Noiva" hoje banida dos grandes estádios. Foto Flamídia

por José Esmeraldo Gonçalves

No seu novo estádio, o Ilha do Urubu (“Urubuzão” para os íntimos), na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, o Flamengo resgatou a tradição da rede “Véu de Noiva” – na sua versão vintage, inclinada como um manto, muito próxima do travessão, descaindo depois num ângulo suave até o fundo do gol.

Os "velhinhos do Board", como João Saldanha apelidava o conservador International Football Association Board, conselho superior da Fifa encarregado de definir e atualizar as regras do futebol, nunca impuseram um modelo rígido, mas, durante muito tempo, o "filó" ou "barbante", no jargão de locutores esportivos, até que não mudou muito.

Na Copa de 1958, a rede com barra de ferro. Foto Manchete Esportiva


Em 1958, na Suécia, os organizadores da Copa montaram barras de ferro sustentando a rede. O modelo foi abandonado depois por questões de segurança. Além disso, a barra de ferro nada discreta no fundo do gol não raro devolvia a bola como se fosse um poste, o que confundia o torcedor no alto das arquibancadas.

Na Copa de 70, no México, as traves ganharam suportes um pouco maiores nos ângulos do travessão, que afastavam do goleiro, por quase um metro, o caimento da rede.

Na Copa de 1950, Giggia estufou a rede "Véu de Noiva" de Barbosa. O "barbante" visto aí
foi queimado anos depois junto com a lenha de um "churrasco de desabafo"
organizado por jogadores para exorcizar a derrota para o Uruguai. Funcionou. O Brasil foi campeão
do mundo antes do fim daquela década, em 1958, conquistando o primeiro título da série do Penta.
A propósito: que alguém localize imediatamente e faça um churrasco
com as duas redes azarentas do Mineirão, aquela dos 7 X 1  de 2014 de triste memória.

Na Copa de 1974, a da Alemanha, os suportes foram alongados e o gol ganhou um aspecto de "caixote". Os puristas, incluindo jogadores, criticaram o modelo  -  um "monstrengo", na visão deles. De fato, a rede esticada reduzia o impacto de uma imagem consagrada no futebol: a do gol que "balança a rede". Como o de Ghiggia, contra Barbosa, na Copa de 1950, no Maracanã.

1978: o argentino Kempes vai buscar a bola no fundo da rede esticada. Foto Fifa

Na Copa da Argentina, o suporte superior estava lá, embora ainda mantivesse a rede ligeiramente em diagonal. Uma das hipóteses para a evolução do formato estaria na tecnologia das câmeras de TV. O modelo quadrado tornou possível a instalação de microcâmeras no fundo do gol. Outro motivo seria melhorar a visão do árbitro, quando posicionado na lateral da grande área, e do bandeirinha.


Pelé, mil gols. FF
Sejam lá quais forem as razões da Fifa, o "Véu de Noiva" dava, para muitos, um toque extra às tramas e emoções do futebol. Que o digam os artilheiros, que após estufar as redes entravam no gol e se enrolavam no "filó". Como Pelé, em 1969, no Maraca, após o seu milésimo gol. Comemorar na rede é coisa que se tornou rara, a malha esticada não favorece. Hoje, os gols são festejados com "dancinhas" ou corridas em direção à câmera instalada no corner, para a alegria do patrocinador do uniforme.


Piqué: rede de lembrança
Naquele jogo, Pelé ficou com a bola, mas esqueceu a rede. Piqué, do Barcelona, não. Ao vencer a Liga dos Campeões, em 2009, arrumou uma tesoura, cortou a rede inteira do Estádio Olímpico de Roma e levou de lembrança pra casa.

Até o fim dos anos 1980, o Maracanã manteve-se fiel à tradição da "Véu de Noiva" até que, após uma reforma, a Suderj instalou uma rede retangular. Durou pouco. Houve reclamações e o modelo original foi recolocado. Pouco depois, foram montados pequenos suportes, semelhantes aos da Copa de 1970, e assim ficaram as traves até o fechamento do estádio para obras, em 2010.

Maracanã, Copa 2014.
Reprodução/Divulgação Fifa
Para a Copa de 2014, a Fifa "recomendou" uma mudança mais radical no Maracanã: a rede antes em diagonal foi esticada com uma corda presa a um mastro atrás do gol. E, em breve, deve receber definitivamente os sensores do árbitro de vídeo (o VAR, de Video Assistant Referee) que a Fifa testou na recente Copa das Confederações e que deve ser confirmado para a Copa de 2018, na Rússia.

E assim a "noiva" perdeu de vez o "véu", confiscado pelo

segunda-feira, 3 de julho de 2017

SEQUESTRO DE EMBAIXADOR - Como era bom o meu suíço

                           

O desfecho do sequestro na primeira página do Globo, em 16 de janeiro de 1971.  

Em 1967, o embaixador Bucher recebeu de Roberto Muggiati a edição da Manchete
que destacava a Suíça. Foto: Arquivo Pessoal

Por Roberto Muggiati

Deu no Estadão de domingo, 2 de julho agora: “SUÍÇA VENDEU ARMAS AO BRASIL NA DITADURA/Governo autorizou exportações de material bélico para o regime militar, mesmo sabendo das violações aos direitos humanos cometidas no País.”

Esclarece o jornal – na reportagem do enviado especial a Berna, Jamil Chade – que a Suíça não ouviu advertências do seu embaixador no Brasil, Giovanni Enrico Bucher. Já em 30 de outubro de 1968 – vinte dias depois da decretação do AI-5 – o embaixador suíço no Rio de Janeiro, em carta ao Conselheiro Federal e Chanceler Willie Spuehler, destacava “as ações de movimentos estudantis e dizia que os confrontos com as forças de ordem estariam causando ‘preocupações’.” 

Com a total abolição dos direitos políticos e de expressão pelo AI-5, as forças contrárias à ditadura militar – estudantes, líderes operários e até mesmo ex-militares, como o capitão Lamarca – só tiveram uma opção: partir para a clandestinidade. Já em setembro de 1969, militantes de esquerda, em ação espetacular, sequestravam no Rio de Janeiro o embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, trocado por 15 presos políticos. 

Em junho de 1970 – enquanto corria a Copa do Mundo do México – foi a vez do embaixador alemão, Ehrenfried von Holleben, sequestrado na sua residência carioca, na subida de Santa Teresa. Desta vez, a troca foi por quarenta presos políticos. 

E, ainda em 1970, no dia 7 de dezembro, foi a vez do embaixador suíço, Giovanni Enrico Bucher. As negociações para sua libertação foram mais complicadas: seus sequestradores exigiam sua troca por setenta presos políticos, mas membros da linha dura militar não concordavam com a quantia. Bucher esteve prestes a ser executado por seus captores e só foi salvo por intervenção do capitão Carlos Lamarca. Como líder da ação, ele assumiu a responsabilidade de aceitar as contrapropostas do governo, salvando a vida de Bucher.

No cativeiro, Bucher, que os guerrilheiros revelaram ser "cordial", jogava biriba com
o comandante Carlos Lamarca. Reprodução

Aliás, depois de mais de um mês de convivência diária com os sequestradores, com seu senso de humor e temperamento “italianado” (filho de um casal de hoteleiros, nasceu em Milão), Gianrico tinha caido nas graças dos guerrilheiros, tornando-se parceiro de biriba de Lamarca. Já no próprio momento da captura ele ironizou com toda a situação: “Não sou americano, sou suíço. Não tenho nada com isso. Rapazes, vocês certamente cometeram um engano.”

Libertado, o embaixador dá entrevista coletiva
ao lado da irmã, Marie Anne. Reprodução Manchete


Trocados pela libertação do embaixador, presos políticos da ditadura militar embarcam para o Chile em janeiro de 1971.


Em posterior interrogatório feito pelas autoridades militares, Bucher se recusou a reconhecer por fotografias qualquer um dos seus cinco captores: Carlos Lamarca, Alfredo Sirkis – que servia como seu intérprete – Tereza Ângelo, Gerson Theodoro de Oliveira e Herbert Daniel. Alegou que eles só se deixavam ser vistos com capuz, o que não era verdade. 

Ainda segundo a reportagem de O Estado de S. Paulo: “No cativeiro, Bucher acabou ficando amigo de uma sequestradora (...) que ajudou a filtrar mensagens do diplomata para parentes e amigos. Ela ainda permitia que, no mês em que Bucher esteve detido, mensagens fossem enviadas a ele.”

Solteirão convicto, Gianrico Bucher foi recebido, após sua soltura, pela irmã Marie-Anne. Na ocasião do sequestro, ele tinha 57 anos de idade. Eu o conheci por essa época, em 1967, quando editei para a revista Manchete uma reportagem especial sobre a Suíça. Era uma política da Bloch fazer estas matérias “de gala” centradas nos países que mais investiam no Brasil, elas vinham recheadas de anúncios das principais empresas dos homenageados. Quando as mais de 30 páginas de reportagem sobre a Suíça saíram publicadas na Manchete, fui entregar um exemplar em mãos ao embaixador. Recebeu-me com grande simpatia em seu escritório, que ficava no prédio da Casa da Suíça, com seu famoso restaurante. Elegante, vestia um terno branco em homenagem ao início da primavera. Mal suspeitava eu que, em pouco tempo, o cosmopolita Giovanni Enrico Bucher protagonizaria um episódio que quase terminaria em sangue e morte. 

Foi assim, muito rápida, a passagem do florido ano de 1967 para 1970 e os Anos de Chumbo...

Hoje deu Barata voa no Rio de Janeiro: Polícia Federal distribuiu vale-cadeia para empresários suspeitos de corrupção

Deu no Extra. Barata foi preso no Galeão. Em vez do check-in pra Lisboa, check-out rumo à PF. 

A Polícia Federal madrugou hoje no ninho dos Barata, os poderosos controladores do sistema de ônibus do Rio de Janeiro. A operação, que é parte da Lava Jato, investiga suspeita de pagamentos de propinas a políticos. O empresário Jacob Barata Filho foi preso no Galeão quando embarcava para Portugal. Outras equipes de policiais tocaram a campainha e casas e apartamentos de luxo de uma leva de suspeitos que integrariam o esquema. Se as operações alcançarem políticos, serão necessários vários ônibus para conduzir a turma ao ponto final: a cadeia.

Não é de hoje que são reveladas as ligações nada transparentes entre empresários de transporte urbano e políticos do Estado e do município do Rio de Janeiro Uma das suspeitas aponta o grupo, que é grande financiador de campanhas eleitorais em vários níveis, como responsável por desvio de rota de até enguiço de CPIs que tentaram apurar o nó público-privado que alimenta o setor.
Muito antes da Lava Jato, políticos independentes e manifestantes pediam publicamente que fossem apurados os estranhos poderes do setor junto às administrações públicas.

Para mostrar que os manifestantes tinham razão é só dá um Google no evento que ficou conhecido como o "Casamento da dona Baratinha".

Em julho de 2013, os Barata, políticos e empresários se reuniram no Copacabana Palace para celebrar o casamento da neta do patriarca do clã. A ostentação atraiu manifestantes que foram para a entrada do hotel para vaiar os noivos e seus convidados, entre os quais, segundo O Globo, o senador Tasso Jereissati e o ministro Gilmar Mendes.

Saudados com refrões como "Pego ônibus lotado, me dá um bem-casado" ou "Eu estou pagando esse casamento", convivas atiraram notas de 20 reais no grupo. Embora fosse um evento privado, uma tropa do Batalhão de Choque da PM foi prontamente convocado para proteger Baratas e baratinhas, como se vê nas reproduções abaixo.


Imagens vazadas na internet: Ronda Roussey leva uma "montada" dos hackers de fotos íntimas...


Ronda Roussey, a musa do UFC que depois de um segundo nocaute se afastou do octógono, é a mais nova vítima  de vazamento de fotos.

Em 2012, ela posou para um ensaio da revista ESPN Body Issue. Embora as fotos publicadas não mostrassem nudez explicita algumas imagens de bastidores não faziam segredo dos demais ângulos e curvas da lutadora.

A notícia foi publicada pelo site especializado em UFC, o BJPenn.

A ex-campeã não comentou o vazamento das fotos.

Quando posou para a revista, ela justificou a decisão insinuando que em algum momento poderiam vazar fotos e que ela preferia quebrar a novidade "Vou tirar fotos nua e vou publicá-las do meu jeito", decidiu.

domingo, 2 de julho de 2017

Leitura Dinâmica: Blue Note Jazz Club carioca abre em agosto

por Ed Sá

O New York Times publica matéria com Steven Bensusan, Presidente da Blue Note, que dá detalhes sobre a anunciada inauguração do Blue Note carioca. Será a oitava "filial" do lendário clube de jazz de Nova York no mundo e a primeira no Hemisfério Sul. Ele conta que há muitos anos via o Brasil como um destino para o jazz e sua relação com a música brasileira, especialmente a bossa nova. Luiz Calainho, L21 Participações, holding de entretenimento, é o parceiro do Blue Note, no Rio. Segundo o NYT, ele espera receber estrelas brasileiras com diferentes níveis de relacionamento com jazz - como o rapper Marcelo D2 e ​​os cantores Seu Jorge e Daniela Mercury em dupla, sempre que possível, com artistas americanos.
O Blue Note carioca será um espaço muito parecido com o de Nova York, diz a matéria, e funcionará onde era a casa  de show Miranda, no Lagoon, na Lagoa Rodrigo de Freitas.
Leia a matéria completa no NYT, AQUI


sábado, 1 de julho de 2017

Memória carioca - Quando Antonio Maria revelou na Manchete o roteiro secreto dos primeiros motéis

Na sua coluna na Manchete, em 1952, Antonio Maria "entregou" o roteiro dos primeiros motéis
do Rio de Janeiro e do Brasil. 

por Ed Sá 

Respeite a instituição. Ela acaba de emplacar 65 anos. Mas a data passa em banco nesse 2017. Os motéis do Rio de Janeiro, pioneiros no gênero no país, ganharam notoriedade em 1952.

Naquele ano, o cronista Antonio Maria "entregou" tudo na revista Manchete, onde mantinha uma coluna. O autor de "Ninguém me Ama" publicou um roteiro do que era então quase secreto e divulgado apenas no boca a boca, literalmente. Eram bares rústicos, quase sem mesas, que ofereciam discretamente, no quintal, quartos e o essencial, camas. Nada de suíte, os banheiros eram coletivos.

A revelação não deve ter feito muito sucesso entre os frequentadores que se davam bem com o segredo bem guardado. Para chegar à Barra, que muitos chamavam de "sertão carioca", era quase necessário levar um mapa no porta-luvas do Ford Mercury.

"Você começa a viagem no Hotel Leblon e vai indo pelo asfalto velho, cansado de tantos Circuitos da Gávea, de tantos automóveis em viagens de amor. Do lado direito, a pedra e à esquerda, o mar. Contam-se histórias de dezenas de suicídios e o caso mais comentado é aquele da moça inglesa, que caiu no mar, com automóvel e tudo, sem que alguém jamais soubesse do seu corpo ou mesmo pudesse garantir se foi suicídio ou desastre.
Uma ladeira brusca e, lá embaixo, o Colonial, lugar onde gente séria não vai, nome que senhora bem casada não ousa dizer. A faixa de asfalto é estreita e os carros que vêm em sentido oposto correm muito e não baixam os faróis. Cada curva é um susto e um risco de vida; e são dezenas de curvas fechadas, espremidas, que o guiador tem que fazer colado em sua direita, com o coração na mão, embora. de vez em quando, ponha a mão no coração da namorada.
Depois, a baixada, onde surgem, aos potes, os bares abandonados. com um garçon bem triste debruçado em cada balcão. A gente morre de pena do dono daquele lugar sem fregueses, às moscas, dia e noite. Mesas vazias, prateleiras empoeiradas e o garçon sonolento atrás do balcão, só para constar. No fundo, há um quintal enorme, cheio de automóveis e vinte ou trinta quartos, servindo a núpcias permanentes. Mesmo no auge da luta contra o amor ilegal e ambulante nunca mexeram com aqueles hotéis de fachadas comoventes. São os únicos lugares onde, sem o luxo de várias espécies de matrimônio, pode-se amar sem castigo", escreveu Maria.

"Rua dos Motéis", no Itanhangá, anos 1970. Reprodução Facebook
Não faz muito tempo, o G1 publicou uma matéria afirmando que o primeiro motel do Brasil surgiu em Itaquaquecetuba (SP), em 1968. O estagiário sem noção errou por 16 anos e algumas centenas de quilômetros, como se vê pelo relato de Antonio Maria. Ninguém tira esse mérito do Rio.

Em 1975, o jornal alternativo Opinião publicou uma matéria sobre os motéis. O Opinião também errou. Dava como ano zero dos motéis 1967. Vacilo. Naquele ano, o transômetro da Barra já teria ultrapassado a casa dos milhões. Apesar de um certo toque moralista - a reportagem criminalizava os motéis - é um bom retrato da indústria em que os "hotéis de curta permanência" se transformaram, muito mais do que sonhariam os antigos proprietários dos bares com quartos no quintal revelados pela Manchete. Leia trechos, abaixo.







Maria foi profético nas últimas linhas da sua coluna na Manchete naquele distante 1952:

"Aí termina o roteiro Niemeyer. Há poucos lugares do mundo onde a semente do amor tenha proliferado tanto. Que Deus o conserve e abençôe os seus visitantes."

Era mentira! Justiça condena jornalista por divulgar fake news


(do GGN)
O juiz Rodrigo Cesar Fernandes Marinho, da 4ª Vara Cível de São Paulo, condenou a jornalista Joice Hasselmann a indenizar Luiza de Aguirre Nassif, filha do jornalista Luis Nassif, por danos morais. Em fevereiro passado, a ex-funcionária da Veja publicou que Luiza estava em Nova York e liderou um protesto contra o juiz Sergio Moro, símbolo da Lava Jato. Joice ainda insinuou que a atitude da filha de Nassif estava vinculada a supostos pagamentos de "governo petista" ao veículo de comunicação dirigido por ele. A postagem repercutiu entre blogs de direita e Luiza sofreu ataques na internet.


Na sentença, proferida no último dia 23, Marinho apontou que a filha de Luis Nassif, formada em administração de empresas, foi confundida com a homônima Luiza Nassif Pires, estudante de Economia da New School. "Ainda que não tenha existido dolo ou má-fé por parte da requerida, não há como se afastar o reconhecimento de que agiu com negligência, pois não verificou a veracidade do fato descrito antes de publicá-lo, extrapolando assim os direitos de informação e da liberdade de imprensa, que não são absolutos e encontram limites na garantia da inviolabilidade da honra e da intimidade das pessoas", disse o juiz.

Em sua defesa, Joice sustentou que "publicou informação equivocada em relação à autora, porém não agiu de má-fé, tampouco teve a intenção de ofender a imagem da requerente". Ela ainda disse que apagou a postagem do Facebook no dia seguinte e deu espaço a uma resposta da autora, redigida por Luis Nassif. Assim, para Joice, o fato não era suficiente "para justificar a indenização por dano moral pleiteada".

O juiz, por outro lado, entendeu que "o fato de ser conhecida jornalista aumenta a potencialidade lesiva e a repercussão negativa da notícia em relação à honra e à imagem da autora, sendo insuficiente, para afastar o reconhecimento da existência do dano moral sofrido, a retirada da notícia no dia seguinte, bem como a publicação de resposta subscrita pelo pai da requerente."

Leia a matéria completa no GGN, AQUI

Fantasia de favelado e de trabalhador é o "must" da temporada

Nem faz tanto tempo assim. Historicamente. Em 1937, indígenas eram exibidos em zoológico parisiense. E, em 1958, passeios de domingo na Bélgica incluíam uma visitinha, com direito a pipoca, a uma jaula habitada por uma família de negros africanos.

Duas notícias dessa semana trazem de volta em outras proporções esse espírito da curiosidade elitista.

O colégio particular Ceneticista Pedro Antonio Fayal, de Itajaí, Santa Catarina, anunciou uma "Festa  da Integração" e enviou um comunicado aos pais pedindo que parte dos alunos fossem ao evento fantasiados de "favelados do Rio". A outra metade se vestiria de médico, advogado etc. Muitos internautas repudiaram a festa performática e preconceituosa. Depois da péssima repercussão, o colégio pediu desculpas mas detalhou que o bafafá burlesco era um espécie de encenação da música "Alagados", dos Paralamas do Sucesso, que cita a Favela da Maré, no Rio. O notícia foi publicada no jornal O Dia.

O Vale do Itajaí sofre frequentes e catastróficas inundações em época de chuvas. O Brasil inteiro sabe disso, o Rio, inclusive, porque muitos cariocas já enviaram roupas e remédios para as vítimas em uma dessas tragédias. Imagine como seria vexatório se um colégio aqui organizasse uma festa "didática" e pedisse aos alunos que se fantasiassem de "desabrigados do Itajaí".

Favelas há muito perderam o "romantismo".Tráfico e violência oprimem populações inteiras. Não dá pra festejas.

Na mesma semana, juízes do Tribunal Regional do Trabalho do Rio, segundo o Globo, revelaram que no mês de agosto suas excelências esqueceriam as togas para experimentar a vida de brasileiros "subalternos". Isto é,
jardineiros, copeiros, garis, cobradores de ônibus etc. Para quem vive no ar condicionado e tem salário nada subalterno e penduricalhos de altas castas deve parecer mesmo exótica a vida dos trabalhadores fora desse mundo.

Pegou mal.

Podiam fazer o contrário: oferecer aos "subalternos" um mês de vida como autoridade, incluindo o gostinho dos proventos e demais vantagens.

Protestar contra a reforma trabalhista de Temer e asseclas que vai tornar o trabalhador ainda mais "exótico" também ajudaria.


quinta-feira, 29 de junho de 2017

Pesadelos urbanos: quando o fake business ataca no Rio de Janeiro

por Niko Bolontrin

Talvez por o Rio ser, apesar de tudo, uma vitrine do Brasil, a cidade é o palco ideal para mirabolâncias e aventuras empresariais.

Dá mídia, o empreendedor aparece, dá entrevista e a fake news do fake business rende matérias e notas. Missão cumprida, o empreendimento é esquecido ou nunca concluído e não se fala mais nisso. Políticos também usam muito o artifício - o recente projeto do Trem Bala Rio-São Paulo é um exemplo - , mas os em destaque aqui são os mágicos privados que tiram da cartola grandes iniciativas, às vezes até começam a realizá-las, param no meio, deixam escombros, mas faturam alguma fama.

Ruínas do Glória
O Hotel Glória, um símbolo do Rio, foi transformado em escombros por um desses espetaculosos empreendedores. Não apenas o prédio, mas móveis e objetos históricos, obras de arte, peças vintage, tudo foi quebrado ou leiloado e descaracterizado. Perdeu,  Rio. Ou melhor, ganhou Rio.... mais uma ruína...

Não muito longe, no Morro da Viúva, o  edifício Hilton Santos - que o Flamengo construiu em terreno doado pela Prefeitura do então Distrito Federal, nos anos 40/50, e com recursos federais fornecidos pelo governo Dutra e, em seguida, pelo populista Getúlio Vargas -, seria transformado em hotel. Foi esburacado, abandonado, invadido e está lá até hoje como um monumento à picareta. Dizem que será vendido novamente. Difícil vai ser alguém investir em um hotel no Rio nos próximos anos. A vizinhança e o visual vão ter que conviver com o pardieiro por mais algum tempo.

E o Cine Rian, a lendária sala de exibição carioca, que ficava na Av. Atlântica, esquina de Constante Ramos? Um empresário anunciou que reinstalaria o cinema na mesma avenida, no Leme. Rendeu pauta, o sujeito usufruiu da repercussão. Tem filme hoje? Não. O lugar vai virar uma agência bancária. No caso, ninguém foi enganado, só as expectativas, a sala não saiu do papel, mas notinhas foram plantadas em colunas sociais e vaidades foram recompensadas.

Verdade que o fake business não é tão novo assim e já causou danos maiores. Na década de 1960, empresários venderam milhares de títulos para financiar a construção do Hotel Panorama Palace, no alto do Cantagalo. As obras começaram, o esqueleto foi erguido e a ideia micou. Pessoas que compraram títulos ficaram com papel podre nas mãos. Décadas depois, no governo Leonel Brizola, o que restou do prédio foi desapropriado pelo governo estadual e transformado em um Ciep.

Gávea Tourist abandonado. Reprodução Pinterest
O que seria o Gávea Tourist Hotel, em São Conrado, tem história parecida. O empreendimento foi lançado em 1953 e a construtora responsável vendeu milhares de cotas a investidores que, como constataram depois, atendiam pelo nome de incautos. O prédio jamais concluído, a coisa virou briga jurídica. Antes de falir a empresa transferiu a propriedade para duas pessoas físicas. Muitos do lesados já morreram, mas as ruínas do Palace continuam lá. Viraram atração para trilheiros e montanhistas.

Um empresário acordou um dia com o sonho de construir um restaurante onde é hoje o histórico Forte Tamandaré, na Ilha da Lage, no meio da Baía da Guanabara. Anunciou que ficaria pronto para a Olimpíada. Deu entrevista, falou que tinhas todas as licenças etc. O restaurante ia oferecer transporte de barcas ao fregueses para enjoos de praxe na volta e não funcionaria em dia de ressaca. Não rolou.

Por falar em enjoo, haveria também, segundo outro projeto, linhas de transporte marítimo do Centro do Rio à Barra da Tijuca. Beleza. Uma autoridade fez um test drive com convidados e o vomitório foi geral. Não se falou mais no plano. Talvez porque tivesse que incluir estoques monumentais de Plasil.

No lugar do Aeroporto Santos Dumont,
Praça Monumental de Alfredo Agache
O arquiteto Alfredo Agache imaginou construir nos anos 1920, no local onde é hoje o Aeroporto Santos Dumont uma praça de onde partiriam grandes avenidas. Seria a "Entrada Monumental do Brasil". Ficou no desenho.

Até Donald Trump produziu seu fake business carioca. O hoje presidente dos Estados Unidos anunciou a construção de várias torres no novo porto do Rio. Você já viu? Nem eu...

No caso de alguns projetos, contudo, a cidade ficou melhor sem que fossem tirados do papel.


Um prefeito sem noção, provavelmente inspirado por um semelhante que nos anos 30 queria construir uma linha férrea aérea do Centro a Copacabana. Outro propôs fazer um elevado na Rua São Clemente, que viraria uma sombria Paulo de Frontin,  para passagem de trens rumo à Barra da Tijuca.

O mesmo mané pensou em cercar a Lagoa Rodrigo de Freitas de elevados para trens magnéticos. Uma grande corporação queria construir prédios de luxo no Aterro e um nova linha de condomínio na área aterrada da Av. Atlântica, além de um cemitério vertical onde é hoje o Parque Lage, que seria demolido. A atual Avenida Chile deveria prosseguir destruindo todo o casario antigo da Lapa. Felizmente, houve reações e o projeto parou na Rua Lavradio, hoje um dos mais charmosos points cariocas. Um arquiteto queria construir uma rede de rodovias e áreas residencias nas encostas das montanhas do Rio.

Outro pensou em erguer um complexo de lojas, teatro, estacionamento no ponto onde o canal do Jardim de Alá encontra o mar, no Leblon.

Le Corbusier, o arquiteto modernista quis fazer de parte da Quinta da Boa Vista uma Cidade Universitária com edifícios contemporâneos.

Uma rede internacional de hotéis queria demolir o antigo prédio da Esso no centro da cidade para construir um monstrengo inacreditável.

Não deu.

O edifício art déco foi tombado a tempo de evitar essa escultura retorcida cravada no Centro do Rio.

Outras ideias virão. O fake business não desiste.


quarta-feira, 28 de junho de 2017

Libération: jornal que Sartre fundou estuda encerrar edição impressa...


Sartre dirigiu o jornal durante pouco mais de um ano.
Quatro meses depois de lançado o Libération enfrentou a primeira crise. A estratégia do diretor
foi botar o pé na estrada e despachar uma caravana para percorrer a França e conquistar assinantes.
Reprodução Arquivo Pessoal

por José Esmeraldo Gonçalves 

Declarações de Alain Weill, diretor da SFR Media, que controla o Libération, demonstram que o jornal francês pode abandonar a edição impressa. A notícia foi publicada no site Jornalistas na Web.
Weill constata que "não há um jornal em papel que conheça o crescimento, 60% dos jornais em papel não se vendem. Este modelo está condenado”.

O Libération foi lançado por Jean-Paul Sartre em fevereiro de 1973 como uma tribuna para discutir questões levantadas a partir dos protestos de Maio de 1968. Não era ligado a partidos, mas tinha orientação de esquerda (maoísta), não aceitava publicidade paga, todos os funcionários recebiam salários iguais, e pretendia sobreviver de vendas em bancas e de assinaturas. Era um forma de manter a independência. O nome de Sartre como diretor, abaixo do logotipo vermelho, como se vê na reprodução, não durou muito. Pouco mais de um ano após a estreia, o escritor pediu as contas.

Sua tarefa não era fácil. Um livro - "Libé - A obra impossível de Sarte" - de Bernard Lallement, mostra a dificuldade do criador do jornal para exercer funções administrativa e financeira em interface obrigatório com o capitalismo do mercado em um diário maoísta. Complicado.

O Libération foi fonte de inspiração para uma geração de jornalistas que começava a trabalhar nos difíceis anos 70, no Brasil, e um espelho para imprensa alternativa que tentava romper o cerco à liberdade de expressão promovido pela ditadura militar.

O jornal manteve-se íntegro à proposta original durante poucos anos até rolar para a social-democracia e centro-esquerda. Mas os seus ideais originais se desfizeram no ar muito antes de, em 2005, ser vendido ao milionário Edouard de Rothschild, o que diz tudo. Sartre deve ter provocado um pequeno sismo de indignação no Cemitério de Montparnasse, onde repousa desde 1980.

Simone de Beauvoir e Sarte na redação do
Libération, em 1973. Sobre a mesa,
o número 1 do jornal.
Com apenas três meses de existência, o Libération, que chegou a ser influente, enfrentou a primeira crise financeira, ainda sob o comando de Sartre. A fórmula para superar problema de caixa ou "tédio" financeiro foi, digamos, algo existencialista com um improvável aditivo romântico. O número 40, de junho de 1973 (guardo um exemplar histórico, com apenas oito páginas), avisava aos leitores que a circulação seria suspensa por dois meses e que, nesse período, equipes do jornal percorreriam, ao estilo da prova ciclística Tour de France, que mobilizava milhares de fãs, um circuito de cidades ao longo de 4 mil quilômetros para divulgar o Libé. como era carinhosamente chamado. A ideia era atrair novos leitores, debater rumos, etc. O roteiro incluía, além do Tour, vistar praias em pleno verão europeu para tentar angariar assinaturas. Um pequeno editorial - "La Lutte Continue!" - informava que o tabloide ficaria fora das bancas em julho e agosto.

Sob o título "Autópsia de uma Sociedade", o número 40, o último antes da pausa forçada, trazia uma entrevista com Daniel Cohn-Bendit marcada por alguma desesperança e muita nostalgia para celebrar os "5 ans après Mai 68".

Que, aliás, ano que vem, comemorará 50 anos e vai merecer muitas outras "autópsias" na midia mundial.

Fatos&Fotos Gente: Bruna Marquezine quebra a internet

Reprodução Instagram
por Clara S. Britto

Bruna Marquezine está quebrando a internet com uma foto que postou hoje na sua conta do Instagram.

A atriz recorda uma viagem que fez ao Caribe, há três meses.

Como Bruna terminou o namoro com Neymar há poucos dias, segundo sites de celebridades, a imagem reeditada carrega um certo toque de "olha o que perdeu", como diz a música Baba Baby, de Kelly Key.

Ela escreveu na foto: "que saudades dessa viagem, desse mar, do meu bronze...".

Se bem que o jogador do Barcelona, em férias no Brasil, está solto na pista, ou melhor, na sua badalada mansão em Angra, onde recebeu amigos na última segunda-feira.

Olha isso: Sniper que combate terroristas escapa de tiro e ri. É a "mulher maravilha" da vida real... Veja o vídeo

Bombardeios aéreos das potências ocidentais e da Rússia causam danos e sufocam o Daesh (autodenominado Estado Islâmico), mas no fim cabe aos combatentes em terra a dura missão de recuperar territórios dominados pelos terroristas.

Para curdos, iraquianos e sírios é questão de sobrevivência derrotar os assassinos fundamentalistas. Militares e civis se engajam na luta rua por rua, casa por casa.

Circula na internet desde ontem um vídeo impressionante. Uma jovem atiradora das forças curdas, em combate na cidade de Raqqa, na Síria, se posiciona em uma janela de um prédio semidestruído e atira contra os terroristas. Em segundos, a sniper é alvo de um revide. O tiro passa pouco acima da sua cabeça. A mulher ri.
A cena da reação inusitada da combatente foi postada no You Tube e no Twitter e viraliza na web.

A coragem da sniper remete a uma famosa franco-atiradora da Segunda Guerra Mundial. Com a jovem curda, a soviética Lyudmila Pavlichenko, à direita, então com 24 anos, lutou no Exército Vermelho, casa por casa, em Odessa e Sebastopol, contra os invasores alemães.

Ela é considerada a sniper mais letal de todos os tempos. A vida da atiradora foi contada no filme
"Batalha de Sevastopol" do diretor Serguey Mokritskiy, já exibido no Rio de Janeiro, durante a Semana de Filmes Russos no Espaço Itaú de Cinema, patrocinada pelo Ministério da Cultura da Federação Russa, Sputnik Brasil e Mir Midia.

Lyudmila matou 309 soldados de Hitler. A União Soviética tinha cerca de duas mil mulheres franco-atiradoras. Apenas 500 sobreviveram. Como a sniper curda, a soviética contou com a sorte e sobreviveu à guerra. Ela morreu em 1974 e até hoje é celebrada pelos russos nos eventos de comemoração da vitória contra os nazistas.

VEJA O VÍDEO DA SNIPER CURDA, CLIQUE AQUI

terça-feira, 27 de junho de 2017

Serena Williams na capa da Vanity Fair. A fotógrafa Annie Leibovitz faz um "plágio" de outra famosa foto...


por Ed Sá

A campeã Serena Williams, 35, é capa da Vanity Fair, edição de agosto próximo, fotografada por Annie Leibovitz.

A fotógrafa repete um estilo que inaugurou em 1991, quando fez a capa da VF com Demi Moore, então com 28 anos, grávida e nua.

Nas últimas décadas, revistas do mundo inteiro replicaram a pose com numerosas outras celebridades. Talvez seja uma das capas mais imitadas de todos os tempos. Tantos a copiaram que 26 anos depois ela decidiu plagiar a si mesma.

Em pelo menos duas ocasiões, com Luma de Oliveira e Maitê Proença, a Manchete embarcou na fórmula Leibovitz.

Até a revista Casseta Popular entrou na onda em uma capa com Bussunda devidamente "grávido".




Revista Imprensa 30 anos: o que mudou no jornalismo



A revista Imprensa comemora 30 anos. Lançada na segunda metade dos anos 1980, quando o Brasil discutia a Constituinte, a revista registra desde então as mudanças no jornalismo e na sociedade.

Como escreve o diretor da Imprensa, Sinval Itacarambi Leão, "o objetivo editorial desde seu primeiro número foi cobrir jornalisticamente o jornalismo com a metodologia do contraditório".
O texto completo de Sinval e reproduções de capa pode ser acessados no site Portal Imprensa AQUI

Mundo Estranho lança enciclopédia de memes brasileiros


A revista Mundo Estranho lança o livro "Os 198 Maiores Memes Brasileiros que Você Respeita", na verdade, um enciclopédia de A a Z que reúne memes da internet brasileira. O autor é o jornalista Kleyson Barbosa. Já nas livrarias.

Estadão pede que Temer pegue leve e exagera no cinismo editorial...

Reprodução
O trecho, acima, do editorial do Estadão, ontem, é um primor do cinismo jornalístico. Pede que o presidente indiciado por corrupção "administre com maior parcimônia as concessões que faz". Entende-se que o editorialista de análise fluída legitima o leilão de cargos, a liberação de verbas para fins políticos (na prática, a compra de apoios políticos), os favores a corporações,  rolagem de dívidas privadas (do tipo ampliar refis ao infinito), renúncias fiscais, as "concessões", enfim. Um exemplinho: Temer recebeu Joesley no palácio como parte - segundo as gravações - de conversinhas para garantir "sua permanência". O jornalinho não se arrepia com a jogada, pede apenas "maior parcimônia".
Pode, ok, mas só a cabecinha com "parcimônia".
É difícil um editorial cair mais fundo no poço do cinismo.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Memórias da redação: no tempo em que "trolar" era "tirar sarro"...

(do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", edição on line)

Trolar é uma gíria da internet para zoar, tirar sarro, gozação. O termo é novo mas a prática é antiga.

Na Manchete, duas figuras eram mestres na arte de criar situações fazendo uso de falsos memorandos ou falsas cartas: Alberto Carvalho e Carlos Heitor Cony. A dupla tinha o requinte de guardar papeis timbrados que chegavam à redação e recortar logotipos e cabeçalhos para "oficializar " memorandos ou comunicados. Os textos recriados em tom oficial eram montados na xerox, onde ganhavam uma certa autenticidade. Forjavam assim cartas de cobrança de dívidas, de convite para viagens internacionais e até de intimação policial.

"Uma Noite no Mar Cáspio" enlouquece marqueteiro 

Houve uma época, lá pelo comecinho dos anos 1970, em que foi contratado um executivo cuja função era introduzir na revista modernas técnicas de marketing. Dizem que o sujeito era uma usina de ideias, mas nada do que ele apresentava nas reuniões ia pra frente. O próprio Adolpho Bloch não botava fé nas estratégias do especialista. Para o patrão, o marketing mais importante era a capa da revista que se resumia em duas categorias: "vendeu" ou "encalhou".

Apesar disso, os "projetos" não paravam de jorrar nas reuniões de pauta. Um dia, Cony resolveu sacanear o marqueteiro. Mandou um memorando endereçado para ele próprio, para os setores engenharia, de segurança, de bufê etc e para o expert em marketing, convocando uma grande reunião para discutir um evento chamado "Uma Noite no Mar Cáspio".

Segundo o comunicado, a festa aconteceria ao redor da piscina, no terceiro andar do prédio do Russell e celebraria as origens russas de Adolpho Bloch, ao mesmo tempo em que associava sua trajetória de sucesso à importância da marca Manchete. Seria um evento lítero-musical, como pedia o memorando "da presidência".  A reunião preparatória efetivamente ocorreu. Cony se engajou na própria farsa, compareceu ao local marcado e ouviu, a sério, as várias ideias que foram postas à mesa, enquanto o marqueteiro e coordenador do evento anotava tudo e discutia os comes e bebes, a contratação de um solista de violino, uma projeção de fotos, a lista de convidados etc. Antes de fazer uma saída triunfal da reunião, Cony embaralhou os trabalhos e enlouqueceu o "comitê organizador" ao despejar suas próprias sugestões, que iam de espetáculo pirotécnico à apresentação de um coral de funcionários. Só ao voltar à sua sala, o perplexo executivo, novo na casa, descobriu que "Uma Noite do Mar Cáspio" era tão autêntica quanto "Uma Noite nos Mares do Sul", o famoso baile de carnaval que a Manchete cobria todo ano.

Editor em crise de depressão  

Outra trolagem: Em 1970, o jornalista Raul Giudicelli assumiu a direção da Fatos & Fotos. Talvez para sair do trivial e deixar sua marca na revista partiu pro delírio total: vestiu uma fantasia do Fantasma e convenceu Chico Anysio a fazer uma entrevista com o personagem. A matéria surreal foi publicada na revista.  Cony desencavou nos Serviços Editoriais (o setor da Bloch que recebia material de agências e revistas estrangeiras) um papel timbrado da todo-poderosa King Features Syndicate, detentora dos direitos do Fantasma. Recortou a matéria da Fatos & Fotos e anexou uma carta dirigida ao "Editorial Director Mr. Raul Giudicelli" informando que os advogados da empresa entrariam com um processo por uso indevido de imagem do Fantasma. A causa, dizia o "documento", estava estipulada em 100 mil dólares. Cony só assumiu a brincadeira quando soube que o pobre do Raul Giudicelli estava em crise de depressão e não comparecia ao trabalho havia dois dias, sem saber como dar a Adolpho Bloch a notícia de que a empresa ia entubar um processo milionário.

Jornalista é convocado a comparecer ao Crematório Municipal

Essa foi do Alberto. Um colega redator que já havia ultrapassado a barreira dos 60 anos e era particularmente hipocondríaco (embora gozasse de saúde perfeita) recebeu um dia uma "carta" da Secretaria de Administração Civil do Rio de Janeiro, cujo teor era o seguinte:
DCP/RJ 19/09/
Controle de População
Lei 32.694 de 02/06/1946
Prezado senhor:
Conforme registro do nosso cadastro de controle, verificamos que V. Sª atingiu o limite de idade previsto por lei. Nossos estudos estatísticos indicam que a sua idade não oferece mais nenhuma vantagem para a sociedade. Muito pelo contrário, acarreta uma carga complementar às entidades assistenciais de sua comunidade, bem como o desagrado daqueles que o rodeiam.
Por este motivo, V. Sª deverá apresentar-se ao Crematório Municipal até 8 (oito) dias após o recebimento desta, a partir das 9h00 da manhã, diante do Forno Nº 5, Ala Norte, para que possamos proceder vossa incineração.
Na oportunidade, V. Sª deverá apresentar-se munido dos seguintes documentos e acessórios:
1. Carteira de identidade (original);
2. Protocolo do atestado de óbito em andamento;
3. Comprovante de pagamento da taxa de cremação (autenticada);
4. Comprovante de pagamento do IR dos últimos 5 (cinco) anos;
5. 1 (um) saco plástico (sem propaganda de supermercado) para as cinzas;
6. 2 (dois) metros cúbicos de lenha seca, ou dez litros de gasolina de alta octanagem.
Para evitar qualquer contratempo ou perigo de explosão, fica estipulado que até 48 (quarenta e oito) horas antes V.Sª não deverá ingerir qualquer bebida alcoólica ou mesmo comer batata doce ou repolho, pois provocam reações incontroláveis de alta periculosidade ao ecossistema.
Antecipadamente agradecemos vossa valiosa colaboração e.... ADEUS!!!
Atenciosamente (assinatura)
Subchefe Adjunto Substituto do Assessor do DCP- Departamento de Controle da População.

A redação inteira da Manchete ficou observando o hipocondríaco ler a carta, circunspecto. Ele coçou a cabeça antes de levantar a vista da carta sinistra, ouvir a explosão de gargalhadas na sala e tomar mais um Lexotan.