Talvez por o Rio ser, apesar de tudo, uma vitrine do Brasil, a cidade é o palco ideal para mirabolâncias e aventuras empresariais.
Dá mídia, o empreendedor aparece, dá entrevista e a fake news do fake business rende matérias e notas. Missão cumprida, o empreendimento é esquecido ou nunca concluído e não se fala mais nisso. Políticos também usam muito o artifício - o recente projeto do Trem Bala Rio-São Paulo é um exemplo - , mas os em destaque aqui são os mágicos privados que tiram da cartola grandes iniciativas, às vezes até começam a realizá-las, param no meio, deixam escombros, mas faturam alguma fama.
Ruínas do Glória |
Não muito longe, no Morro da Viúva, o edifício Hilton Santos - que o Flamengo construiu em terreno doado pela Prefeitura do então Distrito Federal, nos anos 40/50, e com recursos federais fornecidos pelo governo Dutra e, em seguida, pelo populista Getúlio Vargas -, seria transformado em hotel. Foi esburacado, abandonado, invadido e está lá até hoje como um monumento à picareta. Dizem que será vendido novamente. Difícil vai ser alguém investir em um hotel no Rio nos próximos anos. A vizinhança e o visual vão ter que conviver com o pardieiro por mais algum tempo.
E o Cine Rian, a lendária sala de exibição carioca, que ficava na Av. Atlântica, esquina de Constante Ramos? Um empresário anunciou que reinstalaria o cinema na mesma avenida, no Leme. Rendeu pauta, o sujeito usufruiu da repercussão. Tem filme hoje? Não. O lugar vai virar uma agência bancária. No caso, ninguém foi enganado, só as expectativas, a sala não saiu do papel, mas notinhas foram plantadas em colunas sociais e vaidades foram recompensadas.
Verdade que o fake business não é tão novo assim e já causou danos maiores. Na década de 1960, empresários venderam milhares de títulos para financiar a construção do Hotel Panorama Palace, no alto do Cantagalo. As obras começaram, o esqueleto foi erguido e a ideia micou. Pessoas que compraram títulos ficaram com papel podre nas mãos. Décadas depois, no governo Leonel Brizola, o que restou do prédio foi desapropriado pelo governo estadual e transformado em um Ciep.
Gávea Tourist abandonado. Reprodução Pinterest |
Um empresário acordou um dia com o sonho de construir um restaurante onde é hoje o histórico Forte Tamandaré, na Ilha da Lage, no meio da Baía da Guanabara. Anunciou que ficaria pronto para a Olimpíada. Deu entrevista, falou que tinhas todas as licenças etc. O restaurante ia oferecer transporte de barcas ao fregueses para enjoos de praxe na volta e não funcionaria em dia de ressaca. Não rolou.
Por falar em enjoo, haveria também, segundo outro projeto, linhas de transporte marítimo do Centro do Rio à Barra da Tijuca. Beleza. Uma autoridade fez um test drive com convidados e o vomitório foi geral. Não se falou mais no plano. Talvez porque tivesse que incluir estoques monumentais de Plasil.
No lugar do Aeroporto Santos Dumont, Praça Monumental de Alfredo Agache |
Até Donald Trump produziu seu fake business carioca. O hoje presidente dos Estados Unidos anunciou a construção de várias torres no novo porto do Rio. Você já viu? Nem eu...
No caso de alguns projetos, contudo, a cidade ficou melhor sem que fossem tirados do papel.
Um prefeito sem noção, provavelmente inspirado por um semelhante que nos anos 30 queria construir uma linha férrea aérea do Centro a Copacabana. Outro propôs fazer um elevado na Rua São Clemente, que viraria uma sombria Paulo de Frontin, para passagem de trens rumo à Barra da Tijuca.
O mesmo mané pensou em cercar a Lagoa Rodrigo de Freitas de elevados para trens magnéticos. Uma grande corporação queria construir prédios de luxo no Aterro e um nova linha de condomínio na área aterrada da Av. Atlântica, além de um cemitério vertical onde é hoje o Parque Lage, que seria demolido. A atual Avenida Chile deveria prosseguir destruindo todo o casario antigo da Lapa. Felizmente, houve reações e o projeto parou na Rua Lavradio, hoje um dos mais charmosos points cariocas. Um arquiteto queria construir uma rede de rodovias e áreas residencias nas encostas das montanhas do Rio.
Outro pensou em erguer um complexo de lojas, teatro, estacionamento no ponto onde o canal do Jardim de Alá encontra o mar, no Leblon.
Le Corbusier, o arquiteto modernista quis fazer de parte da Quinta da Boa Vista uma Cidade Universitária com edifícios contemporâneos.
Uma rede internacional de hotéis queria demolir o antigo prédio da Esso no centro da cidade para construir um monstrengo inacreditável.
Não deu.
O edifício art déco foi tombado a tempo de evitar essa escultura retorcida cravada no Centro do Rio.
Outras ideias virão. O fake business não desiste.
4 comentários:
Já quiseram botar parque de diversões e circo no Aterro
A destruição do Hotel Gloria é um crime imperdoável. O autor desse vandalismo deveria estar preso em solitária pelo resto de suas vida. Era um prédio majestoso no alto da Gloria que emprestava ao Rio o seu estilo arquitetônico inimitável. Era um Hotel de estilo clássico e soberano na colina da Glória.
Bem, pelo menos não estão mais confundindo Rio de Janeiro com Argentina, o que já é um grande avanço
Parece um Sandwiche do Mac.
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