quinta-feira, 19 de maio de 2022

Memória da redação: bota fé...

Houve uma época em que a redação da Manchete fazia duas chamadas de capa principais. Uma, a que ia para as bancas; outra, para consumo interno, apenas saudável deboche. Fechamentos de revistas são às vezes tensos e a chamada de capa, que deveria funcionar como um apelo de venda da edição, quase um slogan, era geralmente uma das últimas coisas a fazer antes da happy hour. Uma espécie de pênalti cobrado aos 45 minutos do segundo tempo.  
Alberto Carvalho, secretário de redação da Manchete, usava seu humor certeiro para fazer a chamada alternativa impublicável. Uma vez, diante da foto de capa com dois dos maiores ídolos do Brasil, ele mandou essa: "o craque e o perna de pau". A capa reproduzida acima seria própria para muitas variações em torno do tema o padre e a moça. Bota fé... na bunda, bem que poderia ser uma das sacadas diretas do Alberto. A justificativa da Manchete para essa capa com o padre Marcelo Rossi e a Tiazinha é um primor de cinismo. "Usando batina ou chicote, eles têm um ponto em comum: são o grande fenômeno da mídia dos últimos tempos". A imagem é obviamente uma montagem. O padre, em modo meio sorriso, jamais imaginou que se fundiria com a  modelo. Esta, por sua vez, também não sabia que morderia um chicote, com expressão sadô, provocando o reverendo. Para essa capa o poeta romano Horácio mandaria ao par sua famosa mensagem: carpe diem. Em bom portugues, curta o momento. (José Esmeraldo Gonçalves)

2 comentários:

Nilton Muniz disse...

Saboroso texto. Parabéns!

Abrs.

J.A.Barros disse...

Alberto Carvalho, espirituoso e inteligente, Alberto não deixava escapar nada, que não fizesse uma observação oportuna, sagaz e inteligente
Alberto deixou a sua marca em todos aqueles que com ele viveram e trabalharam. Jamais será esquecido e confesso, sem menosprezar aqueles com quem já trabalhei, foi um dos companheiros mais companheiro e amigo. Conhecedor dos corredores - quando sombrios - da Bloch Editores. aos amigos alertava para tempestades que ameaçam desabar sobre Redações, causando, ás vezes, estragos sem volta. A sua ausência ainda é muito sentida, por todos com quem ele trabalhou. A todos emprestava um adjetivo, até irônico, mas respeitoso. Ao Diretor Editor da revista Manchete, Eremita, lhe deu este adjetivo. Hoje, quando me lembro da figura deste Editor, alto de barba enorme, muito magro, uma pré calvice, sempre de camisa de mangas compridas, sapatos tamanho 48, via realmente um eremita diante mim. A mim, Barros, passou a me chamar de " Greg", e acredito por achar alguma semelhança com o cantor Gregorio Barrios. ele acreditava que " qualquer semelhança, é mera coincidência".