À direita, Chico Anysio caracterizado como Salomé (1979). Segundo a revista Manchete, Djanira teria servido de inspiração para Salomé (Manchete, 16 jun. 1979). |
A história brasileira é rica em codinomes e identidades c(h)ifradas. Essa do Aristides - fake news que começou no Twitter e se espalhou pelas redes sociais - lembrou logo uma série de notórios apelidos que se tornaram tão famosos quanto seus codificados. Dr. Rui era o nome em código da amante de Adhemar de Barros (aquele do “rouba, mas faz”). O então governador de São Paulo parava qualquer reunião quando um assessor entrava na sala e cochichava: "Dr. Ruy está esperando no local combinado". A militante Dilma Rousseff (codinomes Wanda, Patrícia, Estela, Luiza) não participou diretamente da ação armada que "desapropriou" o famoso cofre de Adhemar, e sim do seu desdobramento: disfarçada de turista estrangeira, ajudou a trocar os milhares de dólares, muitos deles no Copacabana Palace. Quando presidente, Dilma deu um estrelato meteórico a um tal de Bessias (na verdade, o servidor Jorge Messias, que não é parente de Jair Messias, também conhecido entre seus apoiadores como Mito) em famoso telefonema a Lula grampeado pelo presidenciável da Lava Jato Sérgio Moro (a quem os procuradores chamavam de Russo) que escorregou no vernáculo com um acaipirado “cônje”...
Ainda no atual (des)governo, um bisonho Ministro da (des)Educação metamorfoseou o sobrenome do famoso autor checo num prato do cardápio árabe, chamando-o de Franz Kafta... Também na política recente, um delator contou à justiça que o “Departamento de Propinas” da Odebrecht usava apelidos para que os funcionários do “baixo clero” que supostamente faziam os repasses irregulares não ficassem sabendo para quem ia o dinheiro. Alguns bastante sugestivos: Abelha, Coxa, Barbie, Inca, Roxinho, Babão, Balzac, Chorão, Garanhão, Desesperado, Escritor, Fodinha, Menino da floresta, Mercedes, Musa, Duro, Oxigênio, Primo, Princesa, Viagra, A lista completa com dezenas de nomes, foi publicada em 2017 pelo G1. Os políticos relacionados aos codinomes negaram as acusações do delator.
Leonel Brizola era um especialista em demolir adversários com apelidos que grudavam nos alvos: Gato Angorá era Moreira Franco; Sapo Barbudo colou no Lula e Filhote da Ditadura era Paulo Maluf durante a campanha eleitoral de 1989.
Um codinome já foi responsável por encerrar uma recente sessão na Câmara onde deputados ouviam explicações de Paulo Guedes. Instalou-se uma confusão quando o deputado Zeca do PT cravou no ministro de Economia um condimone inspirado na letra de um funk do Bonde do Tigrão; "Vem tchutchuca linda / Senta aqui com seu pretinho / Vou te pegar no colo / E fazer muito carinho…” Tchutchuca, no sentido pejorativo, é usado como menina vulgar e promíscua que não serve para um relacionamento sério.
No imaginário político nacional, várias figuras ficcionais surgiram na mídia, principalmente nos cartuns, nas crônicas dos jornais e nos programas humorísticos da TV. Uma das mais destacadas foi Salomé, criada e interpretada por Chico Anysio no programa Chico City, em 1979. Falando num gauchês acentuado, a senhorinha de Passo Fundo, RS, interpelava em seus telefonemas quase diários João Baptista Figueiredo com críticas e cobranças. Ex-professora de Figueiredo, Salomé tratava o Chefe da Nação como “guri” ou “João”, mostrando intimidade ele. Ao final, bradava seu implacável bordão: “Eu faço a cabeça de João Baptista ou não me chamo Salomé".
Um comentário:
No Brasil não tem jeito. A operação Lava Jato foi derrotada pelos políticos. A corrupção venceu.
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