por Niko Bolontrin
Autonomeados especialistas em economia esportiva são entusiastas da venda de clubes brasileiros de futebol para empresas, fundos de investimento, especuladores e milionários em geral.
Se isso vai dar certo e curar as finanças da maioria dos clubes, o tempo dirá. Mas será imensa a mudança cultural.
O colunista do Globo, Lauro Jardim, diz que árabes estão interessados em comprar o Botafogo e Cruzeiro. Segundo outras fontes, o Vasco também pode entrar na bacia das almas que vai, asseguram os especialistas, refundar o futebol brasileiro. Seremos a Premier League do baixo hemisfério, dizem os promoters do clube-empresa.
Há dúvidas, claro. Inclusive morais e éticas. Por exemplo, as ditaduras do Golfo estão provocando reações em vários países ao adquirir clubes tradicionais. Reino Unido e França têm registrado essas reações. Anunciantes parceiros dos clubes dominados por Catar, Emirados Árabes e Arábia Saudita, onde os diretos humanos não entram em campo, começam a sofrer pressões nas redes sociais. Como a grana manda, esse processo não vai parar. A Copa do Mundo é no minúsculo Catar que a FIFA deve achar que é potência do futebol.
Vejam o caso da Fórmula 1, que hoje vende provas para os três países citados acima e mais o Bahrein. Todos ditaduras religiosas. Dinheiro na mão e o que vale.
Voltando ao futebol, o torcedor brasileiro vai ter que se adaptar? Se fecharem negócio, vão carregar bandeiras do Cruzeiro-Catar, Botafogo-Arábia, Vasco-Emirados? E tem mais, é comum o investidor revender o time para realizar lucros e ai as bandeiras vão mudando. Nos Estados Unidos, investidores compram e vendem times de basquete, futebol americano e beisebol. Há casos em que o comprador leva a sede do time para outra cidade. Ao gosto do comprador, o Cruzeiro pode ir, por exemplo, para Forianópolis; o Vasco se mudar para Campo Grande; o Botafogo ser levado para Brasília. Por que não? Também há no mundo desconfiança de uso de transações futebolísticas para lavagem de dinheiro. Clube-empresa vai ajudar ou atrapalhar essa suspeita? O que acontecerá com as carteiras de socio-torcedor que representam entrada de recursos para os clubes associativos atuais? Acabam?O torcedor vai entrar com uma grana para engordar o investidor? Torcedor vai pagar uma espécie de dízimo para os sheiks? Quero ver as torcidas nós estádios gritando "ei, ei, ei, o sheik é nosso rei"; "a benção, Muhammad, nosso povo te abraça": ou, ainda, "uma vez, Arábia, Arábia até morrer".
Um comentário:
Isso vai ser o paraíso dos picaretas
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