Brincando na cozinha neste fim de ano, acabei inventando – em função da grana escassa – um “batatalhau” dos mais dignos e saborosos. Na verdade, fiz uma apropriação do Bolo de Batata Finlandês, receita do livro |NOVA| ALEGRIA DE COZINHAR, de Helena B. Sangirardi (Edições Bloch).
A Bloch tinha dois grandes livros – esse da Sangirardi, que considero um dos melhores guias de culinária brasileiros – e A VIDA DO BEBÊ, do Dr. Rinaldo Delamare. Eram presentes imbatíveis. Quando a moça casava, ganhava o tijolaço ALEGRIA DE COZINHAR. Conquistava o marido pela boca com o livro da Helena e, depois de algumas receitas mais picantes, engravidava e ganhava A VIDA DO BEBÊ. Ambos se tornaram best-sellers ao longo das últimas quatro décadas do século 20. Hoje você os encontra nas estantes virtuais da vida por preços que variam de 20 a 100 reais. (Vi até um A alegria de cozinhar na primeira edição de luxo com capa de couro da Martins Fontes por cerca de 1.200 reais).
Helena Sangirardi era uma peça, eu me lembro dela circulando pela Manchete com seus vestidões, no final dos anos 70, quando preparou com Hélio Carneiro e Lincoln Martins a nova edição do livro pela Bloch, atualizada e com ricas fotos em cores.
O sobrenome italiano é enganoso, ela nasceu em Ribeirão Preto em 1905, Helena Bechuath, de ascendência sírio-libanesa, com marcada tradição culinária familiar. Foi uma das figuras luminares da Era do Rádio, trabalhou na Nacional de 1939 a 1955 apresentando o programa Consultório Sentimental. Em 1963, passou a produzir seu programa Alegria de Cozinhar na TV Rio. Na década seguinte destacou-se como apresentadora do Hebe Camargo Show. Finalmente entre 1972 e 1977 comandou seu próprio show, o Programa Helena Sangirardi.
Conheci também nos corredores da Bloch uma de suas duas filhas, a figurinista e agitadora cultural Sílvia Sangirardi, que a leucemia levou cedo, em 1999, aos 52 anos. Sílvia tinha um humor finíssimo, a atriz Maria Padilha contou ao JB, às gargalhadas, este episódio:
“Teve um dia em que ela e o Antônio Pedro (seu marido) estavam tendo uma dessas brigas típicas de casal e uma hora ele falou ‘Por que você não vai embora?’. Ela imediatamente respondeu: ‘Porque dos malas, o menor’ (aludindo a sua pequena estatura). Ele teve um ataque de riso e a briga terminou na hora”.Saudades daqueles 35 anos em que trabalhei num império de comunicação cujo* dono, Adolpho Bloch, definia nessa frase irônica: “Somos um grande restaurante que, por acaso, também imprime revistas...”Enfim, vamos à minha receita, é muito fácil – e, nestes tempos de pandemia, bastante acessível:
Batatalhau finlandês do italiano, Natal 2021
Num refratário, untado com azeite de oliva, superponha camadas de bacalhau em lascas, rodelas de batata, rodelas de cebola e retângulos de pimentão verde. Polvilhe as camadas com pitadas de Lemon & Pepper (do moedor da BR Spices). Junte batata e bacalhau na camada superior e cubra com queijo ralado para gratinar. Acrescente (tratando-se de um refratário pequeno) 200 ml de leite e um ovo batido. Leve ao forno por aproximadamente meia hora.
*Adolpho detestava a palavra “cujo”, concordo com ele: mesmo na escrita, você tem de dar sempre atenção ao seu ouvido musical... Aliás, cacófatos abundavam na Manchete. Uma frase clássica do nosso folclore:“Se você não obedecer a ordem que Adolpho deu, ou aquela que Jaquito havia dado, então o Oscar ralha!...”
3 comentários:
A Helena Sangirardi, não teria. também, trabalhado na revista O Cruzeiro, onde lançou um livro de receitas culinárias, na década de 50? Ledo Ivo,o imortal, trabalhou na redação da revista O Cruzeiro e no seu currículo, não aparece esse emprego. Há outros casos de jornalistas que trabalharam no O Cruzeiro, mas nunca citam essa passagem profissional, naquela que foi a maior revista da América Latina, e por ocasião da morte do então presidente deste brasil, alcançou uma tiragem de 1 milhão de exemplares e vendendo essa tiragem em bancas de jornais. Será que era vergonhoso, profissionalmente, trabalhar na Revista O Cruzeiro?
Cometi um erro de falta de informação, no primeiro texto sobre o assunto em pauta. O presidente do brasil, que morreu em 1954, foi o dr. Getúlio Vargas. Sofrendo forte pressão de seus opositores e sob ameaça de ser destituído cargo, deu fim à sua vida, com um tiro no peito, no seu quarto, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro.
Minha previsão é Brasil campeão no Qatar
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