domingo, 22 de dezembro de 2019

Rua e prédios fantasmas: os "ativos financeiros" que prejudicam Rio

Rua da Carioca: quase sem vida após virar "ativo financeiro". Foto J.E.Gonçalves
A Rua da Carioca já foi uma das mais movimentadas do Rio. Suas lojas, várias com mais de um século de existência, eram a alma viva da cidade. Hoje, percorrer a via é como passar por um cenário de filme abandonado. A Carioca virou um cemitério de negócios. Em 2012, o Grupo Opportunity comprou 18 imóveis na rua. Desde então, aumentos dos aluguéis foram afastando inquilinos e cerrando portas. A crise econômica se encarregou de fechar outros pontos de venda e impor ao local um certo ar fantasmagórico.

Reproduzido do Globo - 22/12/2019
A Rua da Carioca chama atenção por reunir dezenas de prédios desativados. Mas há outros pontos icônicos do Rio que são vítimas da especulação financeira. O antigo Hotel Serrador, ali perto, e o ex-Hotel Glória, um pouco mais distante, também sucumbiram ao baixo jogo financeiro e se transformaram em meros "ativos" nas mãos de instituições do mercado ou de manipuladores individuais. Para estes, não é essencial transformar os imóveis em algo produtivo. Como "ativos" são o negócio em si que a aposta financeira movimenta. O Glória já virou moeda de troca de fundos financeiros. Foi do Mubadala e agora o Globo noticia que passará para o portfólio do Brookfield. De mão em mão, o prédio, do qual só restou a fachada, continua no modo ocioso. Houve várias promessas de reconstrução que não vingaram. Um grupo até plantou notinhas do tipo "balão de ensaio" acenando com a demolição do que restou e a construção de um prédio moderno para condomínio residencial. Surgiram protestos na mídia por descaracterizar o imóvel e o suposto projeto não decolou. O prédio que é uma referência carioca permanece como "ativo" financeiro fantasma.

Reproduzido do Globo - 22,12,2019. 
O Serrador também tem história. Era um hotel conceituado, referência da antiga Cinelândia. Ali funcionaram um teatro e a famosa boate Night and Day, palcos de peças e shows memoráveis.

Mais recentemente, o Serrador teve destinação pouco nobre ou ética. Virou o mega suspeito bunker de Eike Batista, empresário já condenado por manipulação do mercado, pagamento de propinas, corrupção e lavagem de dinheiro. O Globo informa hoje que o prédio acaba de ser adquirido por um "investidor argentino".

Há outros casos semelhantes no Centro do Rio. Em levantamento de 2017, a prefeitura calculou em apenas um trecho da região central cerca de 600 edificações estavam fechadas e algumas com sinais de abandono. Cerca de 85% das construções sem uso são privadas. Muitas certamente nem alugadas são por desinteresse dos "investidores". Permanecem na função de "ativo financeiro", isso apesar da Constituição Federal, de 1988, estabelecer que esse tipo de propriedade privada no Brasil precisa ter uso. Em países desenvolvidos há mecanismos, como impostos progressivos, para evitar o abandono de imóveis sejam históricos ou não. Aqui, tais prédios são apenas um item a mais no portfólio dos fundos. Dane-se o destino deles, desde que a especulação os valorize como "ativos" do jogo financeiro.


Um comentário:

J.A.Barros disse...

Esqueceram de mencionar a Rua Larga, ou Marechal Floriano, a rua que começa na Avenida Rio Branco e vai terminar em frente ao Ministério da Guerra e é a rua onde se encontra o Palácio do Itamaraty. Essa rua, que era um grande rua de comércio ativo, onde os vendedores ficavam nas calçadas pegando e cativando seu futuros compradores, que podia ser um terno, camisa, cuecas, ou mesmo um relógio de pulso, enfim uma. variedade comercial em plena atividade. E, de repente, a rua começou a se apagar, seus vendedores das calçadas foram sumindo e a rua e o seu comércio se acabou. Algumas lojas resistem até hoje , mas com pouca frequência de compradores. Quase na esquina da Marechal Câmara com a rua Camerino, tem um Edifício de uns 8 andares, inteiramente fechado. Hoje, não sei se essa rua recuperou o seu comércio, mas era no passado uma rua famosa no Rio de Janeiro.