A criatividade anda solta nos becos e botecos. Uma das palavras mais ouvidas em 2019 foi "empreendedorismo". Todo mundo só fala nisso: "empreender". "Reinventar', também. Com 12 milhões de desempregados ao redor, o brasilino tem mais é que buscar esses sinônimos bestas de "se virar". O Flamengo, por exemplo, tentou as duas coisas, se reinventar e empreender. Conseguiu realizar o primeiro verbo, mas não foi capaz de "empreender" o Mundial de Clubes.
Acontece.
Já Ruan de Freitas, um ex-motorista de Uber que abriu um boteco na Tijuca, acertou nesse palpite duplo. Posso garantir, pois fui ver o jogo no Pão de Alho do Gordo, o nome do lugar, e digo que o melhor da tarde não estava na distante Doha, mas logo ali na mesa. Trata-se de um sanduba que por si só é praticamente um startup de tanto sucesso que faz. Leva coração de galinha e queijo no pão de alho. Esses são os ingredientes. O modo de fazer é segredo da casa. Comi três.
Só digo o seguinte: se Arrascaeta e Everton Ribeiro levassem para o Catar o sandubão do Gordo não precisariam ter saído de campo por cansaço.
Ou, ainda, se forrassem o estômago com outro sucesso gastronômico da temporada - este criado por Francisco Fonseca, nada menos que um cachorro-quente que vem com oito salsichas, vinagrete, maionese, mostarda, batata palha, milho, ervilha e queijo ralado - teriam enquadrado o fish and chips do Liverpool.
O Flamengo também poderia ter levado para Doha uma joia gastronômica criada por Roberto Muggiati. Gentilmente, o autor da iguaria oferece aqui a sua receita exclusiva para a mesa de Natal dos leitores do blog. Jesus, não o aniversariante da data, mas o técnico do Flamengo, não sabe o que perdeu.
Pullum et coturnix super panis cum ovum
CHICKEN AND QUAIL SPECIAL
PANIS BURGER
Um pão árabe recheado com ovo frito de galinha à la façon fechamento Manchete/Fatos&Fotos, meia dúzia de ovos de codorna fatiados, um hambúrguer de peru, uma pitada de batata palha extrafina e folhas de rúcula, azeite extravirgem, se é que está disponível na praça....
Ideologicamente corretíssimo, com abertura para o Islã e o vegano. Em ampla sintonia com a tendência gourmet-comportamental que nosso Alan Richard Way, do alto da sua sapiência, endossado por Enrique Renteria, indicaria ao Prêmio Nobel de Gastronomia (já é hora, acadêmicos de Estocolmo, de dar ouvidos ao ronco dos estômagos globais e – pasmem – isso vai acontecer logo logo, e este é mais um insight do nosso espertíssimo Panis cum ovum...
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