por Niko Bolontrin
2018 é ano pra esquecer. O futebol brasileiro mais uma vez deu vexame em uma Copa do Mundo. E, antes da virada para 2019, Palmeiras e Grêmio desabam diante do Boca e do River.
E olha que o futebol argentino também está em crise e fez ridícula participação em Moscou.
Difícil ver o fim do túnel. Assim como favorece a transferência de recursos dos países pobres ou em desenvolvimento para as potências desenvolvidas, a globalização transformou os antigos centros do futebol - Brasil, Uruguai e Argentina são os exemplos mais evidentes - em meros fornecedores de mão de obra para a Europa, Inglaterra e, agora, China. Três obstáculos são praticamente intransponíveis: a moeda forte, que faz com que os clubes da América do Sul não possam segurar seus jovens valores, a hegemonia da Europa nas decisões da Fifa e o crescente influência da UEFA. Como exemplo, a decisão de promover a Liga das Nações, um torneio que ocupa as chamadas datas Fifa de amistosos e praticamente impede o confronto de seleções europeias com as sul-americanas. O resultado é, como se viu nessa temporada pós-Copa, o baixo nível dos adversários de Brasil e Argentina na retomada da preparação das suas seleções. Só conseguiram, com exceção do jogo entre si, amistosos pé-rapado enquanto as seleções europeias marcaram disputas de alto nível. E eles ainda dispõem da Eurocopa, que já rivaliza em importância - e até supera em nível técnico - com a própria Copa do Mundo.
O império romano espalhou em três continentes arenas para torneios de gladiadores. Era o "esporte" de massa da época. A grandes maioria dos lutadores era recrutada entre a população das regiões dominadas por Roma. Escravos, prisioneiros e soldados inimigos que demonstravam habilidades marciais eram importados dos territórios onde hoje estão a Turquia, Espanha, Alemanha, França, Romênia, Hungria, Síria, Marrocos etc e incorporados aos "times" formados por "empresários" para distrair multidões e movimentar um rico mercado de apostas.
Com as óbvias adaptações civilizatórias, o êxodo dos boleiros não é compulsório, mas digamos que o euro substituiu as correntes como o apelo irresistível para a garotada sul-americana.
João Saldanha dizia que o fim dos campos de pelada de subúrbios e várzeas, dizimados pela urbanização, e a decadência do futebol de praia inibiam a formação de futuros craques de futebol. Hoje, empresários de olho na revenda financiam as "escolinhas" independentes ou vinculadas às divisões de base dos clubes. Mas o claro objetivo dessa estrutura não é levar qualidade aos clubes brasileiros, mas apenas preparar o produto para exportação. Só que transformar o futebol brasileiro e sul-americano em entreposto comercial pode levar ao desinteresse e, em médio prazo, talvez nem tantos jovens procurem as escolinhas.
Craques sul-americanos ainda são importantes para o futebol europeu, mas não tão absolutos. Basta dizer que na última Copa, onde Messi, Neymar e companhia não brilharam, o mundo vibrou com Mbappé, Modric, Griezmann, Lukaku, Pickford, Cheryshev... Além disso, o futebol que privilegia a posse de bola "tecnocrática" e a infindável troca de passes depende bem menos dos dribles geniais, da imprevisibilidade e da irreverência. Imagine alguém com o DNA de um Garrincha chegando hoje para fazer um teste em um clube europeu. Pense em um jogador que se planta diante do seu marcador e passa alguns segundos balançando o corpo e se divertindo com um adversário que se transforma em pêndulo antes de ser ultrapassado pela direita. Sou capaz de apostar que o teste acaba ali.
Tudo isso junto explica porque o Brasil e a Argentina estão hoje na segundona ou terceirona do futebol mundial.
Em 1996, quando sediou a Eurocopa, a Inglaterra, que inventou o jogo, criou um slogan genial: "o futebol está voltando pra casa"
Vinte e dois anos depois, a frase virou profecia.
2018 é ano pra esquecer. O futebol brasileiro mais uma vez deu vexame em uma Copa do Mundo. E, antes da virada para 2019, Palmeiras e Grêmio desabam diante do Boca e do River.
E olha que o futebol argentino também está em crise e fez ridícula participação em Moscou.
Difícil ver o fim do túnel. Assim como favorece a transferência de recursos dos países pobres ou em desenvolvimento para as potências desenvolvidas, a globalização transformou os antigos centros do futebol - Brasil, Uruguai e Argentina são os exemplos mais evidentes - em meros fornecedores de mão de obra para a Europa, Inglaterra e, agora, China. Três obstáculos são praticamente intransponíveis: a moeda forte, que faz com que os clubes da América do Sul não possam segurar seus jovens valores, a hegemonia da Europa nas decisões da Fifa e o crescente influência da UEFA. Como exemplo, a decisão de promover a Liga das Nações, um torneio que ocupa as chamadas datas Fifa de amistosos e praticamente impede o confronto de seleções europeias com as sul-americanas. O resultado é, como se viu nessa temporada pós-Copa, o baixo nível dos adversários de Brasil e Argentina na retomada da preparação das suas seleções. Só conseguiram, com exceção do jogo entre si, amistosos pé-rapado enquanto as seleções europeias marcaram disputas de alto nível. E eles ainda dispõem da Eurocopa, que já rivaliza em importância - e até supera em nível técnico - com a própria Copa do Mundo.
O império romano espalhou em três continentes arenas para torneios de gladiadores. Era o "esporte" de massa da época. A grandes maioria dos lutadores era recrutada entre a população das regiões dominadas por Roma. Escravos, prisioneiros e soldados inimigos que demonstravam habilidades marciais eram importados dos territórios onde hoje estão a Turquia, Espanha, Alemanha, França, Romênia, Hungria, Síria, Marrocos etc e incorporados aos "times" formados por "empresários" para distrair multidões e movimentar um rico mercado de apostas.
Com as óbvias adaptações civilizatórias, o êxodo dos boleiros não é compulsório, mas digamos que o euro substituiu as correntes como o apelo irresistível para a garotada sul-americana.
João Saldanha dizia que o fim dos campos de pelada de subúrbios e várzeas, dizimados pela urbanização, e a decadência do futebol de praia inibiam a formação de futuros craques de futebol. Hoje, empresários de olho na revenda financiam as "escolinhas" independentes ou vinculadas às divisões de base dos clubes. Mas o claro objetivo dessa estrutura não é levar qualidade aos clubes brasileiros, mas apenas preparar o produto para exportação. Só que transformar o futebol brasileiro e sul-americano em entreposto comercial pode levar ao desinteresse e, em médio prazo, talvez nem tantos jovens procurem as escolinhas.
Craques sul-americanos ainda são importantes para o futebol europeu, mas não tão absolutos. Basta dizer que na última Copa, onde Messi, Neymar e companhia não brilharam, o mundo vibrou com Mbappé, Modric, Griezmann, Lukaku, Pickford, Cheryshev... Além disso, o futebol que privilegia a posse de bola "tecnocrática" e a infindável troca de passes depende bem menos dos dribles geniais, da imprevisibilidade e da irreverência. Imagine alguém com o DNA de um Garrincha chegando hoje para fazer um teste em um clube europeu. Pense em um jogador que se planta diante do seu marcador e passa alguns segundos balançando o corpo e se divertindo com um adversário que se transforma em pêndulo antes de ser ultrapassado pela direita. Sou capaz de apostar que o teste acaba ali.
Tudo isso junto explica porque o Brasil e a Argentina estão hoje na segundona ou terceirona do futebol mundial.
Em 1996, quando sediou a Eurocopa, a Inglaterra, que inventou o jogo, criou um slogan genial: "o futebol está voltando pra casa"
Vinte e dois anos depois, a frase virou profecia.
2 comentários:
Em resumo: o Euro
A torcida virou palhaço. Não comemora título comemora venda de jogador por milhões. Caso de Paquetá e Vinícius Júnior.
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