domingo, 3 de julho de 2016

A receita para a crise

Há 30 anos, a revista Fatos N.º 50 publicava uma receita para a crise que bem pode ser adaptada para os difíceis dias de hoje. Leia trechos da crônica "A Grande Mágica das Favas", de  Carlos Heitor Cony. 

Sempre que a situação nacional entra em parafuso, costumo consultar um livro que herdei de meus maiores, intitulado O Verdadeiro Livro de São Cipriano, título que consta do index da Santa Madre Igreja e, apesar de escrito na Idade Média, tem surpreendente atualidade. São mais de duzentas receitas de feitiços testados através dos séculos, e, entre todos, o que mais me parece adequado à situação é a Grande Mágica das Favas, de vasta serventia para entaladelas pátrias, convulsões sociais, cataclismos econômicos e generalizada perda de memória ou esperança.” (...) 

Diz o santo em sua edificante receita: Pega-se um marreco branco e uma pomba virgem, esgana-se o marreco e corta-se o pescoço da pomba, findo o que, extrai-se uma tripa do marreco e com ela se amarra o bico da pomba. Espera-se pela Sétima Lua e coloca-se o marreco e pomba ao relento, com dois fios de azeite virgem e um ovo de codorna num tacho de cobre que nunca tenha sido usado. Pela manhã, procura-se um corcunda que nunca tenha comido pombas, marrecos e ovos e que nunca tenha encontrado um soldado municipal, um esmoler cego e uma viúva de Creta. Satisfeitas essas exigências, obriga-se o corcunda a comer tudo cru, marreco, pomba e ovo de codorna. Não sei por que, enquanto o locutor da EBN lia os parágrafos, incisos e alíneas que se combinavam ou se anulavam em busca da salvação de nossa economia, pensei seriamente em promover uma Grande Mágica das Favas, a capricho. A receita de São Cipriano é menos complicada do que o pacote do Ministro Funaro, embora deva se abrir um crédito patriótico às suas boas intenções. Tal como a receita das favas e sua grande mágica, a grande mágica do pacote é dar esperança de melhores dias.

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