por Flávio Sépia
O Papa Francisco criticou, na ONU, os especuladores. "Os organismos financeiros internacionais devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países e não promover a submissão asfixiantes destes por sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência", disse o papa. Para ele, nenhum individuo ou grupo tem o direito de passar por cima dos outros. A suposta má gestão da economia global só é má para a economia pública de muitos países, mas para os traficantes de capitais, a situação é a ideal. Depois da crise de 2008, houve movimentos para regulamentar o mercado, impor limites. As tentativas ou naufragaram ou não passaram de um simples maquiagem no funcionamento dos carteis financeiros.
Operadores internacionais já avaliam que o Brasil está sob ataque especulativo. O país hoje dispõe de reservas - um resultado positivo da política econômica raramente destacado, é a sexta maior reserva do mundo - para enfrentar o risco. Mas não é imune. A especulação atua em um sistema infernal, globalizado, do qual as corporações de comunicação são instrumentos fundamentais. Cabe à mídia apertar o botão de pânico que leva muita gente a perder dinheiro enquanto os operadores do caos anunciado faturam milhões. O Brasil ainda vive a particularidade de uma crise política da qual os grandes grupos de comunicação são parte interessada, com clara filiação partidária. Só complica. Daí, a pressão é grande. Todo e qualquer abalo, rapidamente disseminado pela grande mídia, ou superdimensionado pelas análises feitas sob ótica política, impulsionam a especulação. Ou seja: existem os erros do governo, existe a submissão de um governo fraco às pressões neoliberais, existe a crise doméstica, a crise global é evidente e existe a retroalimentação midiática da crise. Quer um exemplo? Há quase dois anos, analistas e colunistas, em coreografia, alardeiam a alta de juros nos Estados Unidos. Invariavelmente, bolsas reagem, dólar sobe, em seguida. Dias depois,fica claro que o FED não mexerá na taxa e os indicadores sofrem queda. Para os "otários" que perderam dinheiro, tarde demais; para os 'tubarões" que emplacaram mais uma, champanhe e caviar. Dois ou três meses depois, tais comentaristas garantem que "dessa vez" os juros subirão nos Estados Unidos e o Brasil afundará mais uns metros. A alta não vem, o que vem é mamão com abóbora na boquinha dos traficantes de capitais. Hoje, matéria informam sobre sinais de recuperação da economia americana. Pode apostar que amanhã você lerá, mais uma vez, que agora a alta de juros do FED vem aí. Claro que uma hora, consolidando-se a recuperação dos Estados Unidos, o alta de juros virá. Mas é com o chute e com a falsa previsão dos "especialistas", não com os fatos, que os especuladores riem dos manés.
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