sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Imigrantes: uma tragédia em movimento...



por Flávio Sépia
A foto do menino sírio morto na praia em meio à leva de imigrantes desesperados que buscam nova vida na Europa tornou-se o símbolo da crise e provocou uma discussão sobre a mídia em geral. Muitos jornais foram acusados de pretender chocar mais do que informar. E leia-se 'chocar' como sinônimo de vender impressos e colecionar cliques nas páginas digitais. A foto viralizou nas redes sociais ao mesmo tempo em que o fotógrafo justificou a imagem como capaz de denunciar a tragédia e tirar a Europa da letargia. Alguns veículos certamente deixaram claro na composição das primeiras páginas o apelo sensacionalista. Outros foram mais comedidos. A questão tem sido debatida, há argumentos respeitáveis para cada ângulo da análise. No Brasil, o jornal Extra optou por não dar a foto da criança na capa, ilustrando-a apenas com o foto do resgate, com o policial de costas. Houve quem analisasse a exploração da imagem como uma sinal de uma escalada midiática que supostamente levará à publicação, a cada dia, de imagens ainda mais brutais. E, diante da ausência de atitude dos líderes europeus, o fato dramático certamente produzirá mais fotos idem.
É impressionante como os governantes da Europa se mobilizaram e viraram noites comendo sanduíches para encurralar a Grécia mas não perdem o mesmo tempo para cuidar da questão dos imigrantes. Ok, dá para entender: em um caso, a motivação é dinheiro, no outro o que está em jogo é uma mercadoria banal, meros direitos humanos.
Se o olhar for para a história, a Europa é responsável pelo que fez com a África e pela exploração predatória das colônias. Se o foco for no passado recente e no presente, tem digitais no Oriente Médio, seja na desorganização étnica e política de regiões inteiras após a primeira metade do século passado, com a criação de "monarquias" de laboratório, seja na maneira como agiu diante do fundamentalismo religioso, selecionando as ditaduras "amigas", às quais abraça por interesses econômicos, e combatendo os "inimigos" determinados pelos mesmos interesses. Uma política tão confusa que, não raro, as potências europeias, geralmente adotando relações externas rascunhadas em Washington, chegaram a apoiar grupos rebeldes que se revelaram, não muito tempo depois, organizações terroristas; e sustentaram regimes para depois derrubá-los sem nada para pôr no lugar. Para deter a onda de imigrantes seria necessária uma política de recuperação, uma espécie de Plano Marshall, para os países em crise. Mas, no caso, da Líbia estilhaçada, com que conversar? Quem, de fato, controla o país? E na Síria, cujo território está dividido entre forças do governo e dos rebeldes, quem seria o interlocutor?
Alguns analistas temem que já tenha passado a hora para uma iniciativa desse porte. E novas e incontroláveis forças, como o chamado Estado Islâmico, impossibilitariam uma cooperação com essas regiões críticas. Por isso, a Europa, um continente que já viveu terríveis dificuldades que geraram grandes fluxos emigratórios para os Estados Unidos, Brasil, Canadá, Austrália, Argentina, entre outros países, terá que conviver com seus novos habitantes. Fácil, não será. Racismo, preconceito e religião serão obstáculos manipulados por radicais, mas há organizações sociais que, antes dos governos, estão se mobilizando para a questão humanitária, providenciado abrigos, alimentação e aulas de idioma para os imigrantes. Bom lembrar que, entre os que fogem de guerras, há também professores, médicos, engenheiros e pesquisadores. Uma opinião corrente vê um ponto positivo: a Europa envelhece e os índices de natalidade são baixos, o que leva o continente a precisar de jovens que entrem no mercado de trabalho e criem renda para sustentar, por exemplo, os futuros e atuais aposentados. Melhor recebê-los e não deixá-los morrer na praia, como diz o Extra.

2 comentários:

Neto disse...

Diria que os lideres europeus não estão sem ação: alguns montam cerca de arame farpado e botam tropas para conter a imigração. Não demora muito vão puxar o gatilho.

J.A.Barros disse...

A história da Europa é uma história escrita com o sangue derramado da população européia. É um continente que sempre viveu em guerra e pela guerra entre eles mesmos. E hoje, no mundo atual não vai ser diferente. Muitos refugiados aInda morrerão sob as baionetas e balas dos "civilizados "europeus.