Seria cômico, além de ser trágico. Pouco depois do pronunciamento de Barack Obama, emissoras de TV acordaram "especialistas" para "explicar" a morte de Bin Laden. Patético. Os caras estavam sonololentos, obviamente não tinham informação, alguns souberam do que se tratava enquanto ajeitavam a gravata e um produtor apressava: "Vamos lá, o Bin morreu", o amigo vai entrar no ar em 10 segundos". Claro, passavam a jogar conversa fora sobre o desfecho da caçada ao homem mais procurado do mundo. Limitavam-se a teorizar e especular sobre a fala do presidente americano, como se o cidadão comum fosse incapaz de ouvir e entender, e ainda com tradução, o pronunciamento oficial que acontecera minutos antes. O besteirol dos "especialistas" teve um lado bom: trouxe o sono de volta para aqueles que haviam sido acordados por Obama.
Razão tinha John Steinbeck, que já escreveu: "As notícias deixaram de ser novidade, pelo menos as que interessam a todo mundo. Em vez disso, tornaram-se um assunto de especialistas. Sentado a uma mesa em Washington ou Nova York, um fulano lê os telegramas e os arranja de maneira que se adaptem ao esquema de seu modo de pensar ou de sua coluna. Hoje, muito do que lemos como notícia está bem longe de ser isso, não passando da opinião de meia dúzia de especialistas quanto ao significado daquela notícia". E olhe que Steinbeck escreveu isso nos anos 40, ainda falava em "telegrama". E não imaginava que ao "descobrir" os "especialistas" a televisão brasileira conseguiria piorar o que já era ruim. Tem gente "explicando" trem-bala, Complexo do Alemão, explosão de bueiro, desvendando em detalhes porque a Praça da Bandeira inundou, porque a Serra Fluminense desabou, porque o casamento de William e Kate vai influir na camada de ozônio, porque a beatificação de João Paulo 2° pode ajudar na queda do dólar.
Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, compôs em 1968 o "Samba do Crioulo Doido". O que não faria hoje com os "especialistas" pirados que atormentam a audiência?
Quer saber? Melhor ouvir o samba de Sérgio Porto: "Foi em Diamantina / Onde nasceu JK / Que a Princesa Leopoldina / Arresolveu se casá / Mas Chica da Silva / Tinha outros pretendentes / E obrigou a princesa / A se casar com Tiradentes...
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4 comentários:
Ótimo e preciso texto, Gonça. Parabéns. Só para lembrar/: o Lalau também dizia que "televisão é máquina de fgaqzer doido". Pelo visto endoidou de vez os "especialistas" e quer nos endoidar mais ainda. É por isso que não se pode levar a televisão a sério.Nem os "especialistas"
Ótimo e preciso texto. Só para lembrar: o Lalau diz também que televisão é máquina de fazer doido. Pelo visto endoidou os "especialistas" e que nos endoidar aina mais.É por isso que não se pode levar a televisão a sério. Nem os especialistas.
E o pior que esses especialistas na ânsia de tentarem explicar o que ocorreu confundem as explicações, deixando os telespectadores sem saber se eles estão defendendo Bin Laden ou acusando os EUA de mentirosos. Engraçado que até agora esses especialistas" – pelo menos os que vi e ouvi – eram da PUC. Por que?
é isso Eli, debarros, o recurso de convidar "especialista" está sendo usado à exaustão. Há dois erros aí: primeiro, os jornalistas devem estar preparados para levar, interpretar e contextualizar a informação; segundo, o blá, blá, bla dos especialistas tem sidop usado para substituir apuração e informação. Ou seja: é jornalismo-enrolação.
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