segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Roberto Muggiati escreve: A primeira sessão de cinema

ACONTECEU HÁ QUASE 60 ANOS - Uma das primeiras projeções da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio,
no Auditório Oscar Guanabarino, da ABI, em 13 de maio de 1958. O filme exibido foi O ferroviário, de Pietro Germi.
Na primeira fila, no centro (de óculos e bigode), Dejean Magno Pellegrin, um dos maiores incentivadores do cineclubismo no Brasil. Na extrema esquerda, Mary (futura Sra. Zuenir) Ventura. Na segunda fila, Leon Hirszman, futuro cineasta. Na terceira (ao centro, de óculos), Walter Lima Jr., idem. Ainda na terceira fila, Sarah de Castro Barbosa (futura Sra. Joaquim Pedro de Andrade). Na quarta fila, o jornalista Cláudio Mello e Souza, que dirigiu a Fatos & Fotos e foi apelidado de "O Remador do Ben-Hur" por Nelson Rodrigues. Também nessa fila, os futuros cineastas Carlos Diegues e David Neves. Na sexta fila, Tereza Aragão (futura Sra. Ferreira Gullar).
Foto de Robert Léon Chauvière * Arquivo Pessoal de Djean Magno Pellegrin


Por Roberto Muggiati

Sou de uma geração perdida – não aquela do Hemingway – mas perdida de amor pelo cinema, uma geração com o coração de celuloide. Desde o primeiro filme, embaçado nas névoas da memória – O mágico de Oz, primeiro filme também de Salman Rushdie, que escreveu um livro a respeito – desde aquela primeira viagem fantástica com Judy Garland não me afastei mais do escurinho do cinema.

Ainda de calças curtas, escambava gibis na calçada do Cine Broadway, em Curitiba, antes de encarar a matinê de domingo, que começava às duas e ia até o fim da tarde, com direito a trailers, cinejornais, filme de abertura, filme principal e os seriados tipo Flash Gordon (“Continua na próxima semana...”)

Dejean Magno Pellegrin
Como cinéfilo, ganhei um upgrade no meu ano e meio de Paris, de fins de 1960 a começo de 1962: via dois filmes por dia, um deles inevitavelmente na Cinémathèque. Foi também lá que conheci Dejean Magno Pellegrin, que se tornaria meu personal de cinema (na época não se usava essa expressão, nem guru). Um dia ainda vou fazer um perfil mais aprofundado com o título Dejean: Le Chevalier Galant du Septième Art.

Nos primeiros meses de Paris, morei na Cité Universitaire, na Maison du Brésil: uma máquina de morar tramada em 1957 por Lúcio Costa e Le Corbusier. Era acolhedora, cada quarto com calefação e seu chuveiro próprio – uma dádiva em Paris – mas a gente pagava um preço por aquele conforto. A Cidade Universitária ficava quase fora de Paris, confinava com o Boulevard Périphérique, isso diz tudo: pertencia à periferia. E a Casa do Brasil era um gueto tupiniquim, com feijoada e rodas de violão aos sábados.

Em fevereiro de 1961, com uma primavera precoce, temperatura de vinte graus e alguns afoitos nadando nas águas do Sena, eu já estava instalado num hotelzinho barato, mas admiravelmente bem situado, no coração de Paris, na Place Dauphine, vizinho do casal Yves Montand-Simone Signoret.

Conheci Dejean ainda na Cité Universitaire, num bistrô das redondezas frequentado por cineastas e cinéfilos brasileiros. Joaquim Pedro morava lá, estudava no IDHEC (Institut de Hautes Études Cinematographiques), ficamos amigos. No fim do ano foi um festival, vieram de Roma Paulo César Sarraceni e Gustavo Dahl, que estudavam cinema em Roma, tinham um colega italiano chamado Bernardo Bertolucci. Déjean morava perto, dividia um apartamento com o pianista Artur Moreira Lima em Montrouge.

Le Champo ou Le Champollion, em Paris.
Hoje é o Espace Jacques Tati

Minha mudança de endereço para a Place Dauphine, na Île de la Cité, não rompeu meu contato com Dejean. Bolsista do governo francês, eu só tinha aulas à noite, no Centre de Formation des Journalistes. Uma de nossas ocupações era caçar filmes de Ingmar Berman por toda a cidade. Dejean aparecia com a revistinha La Semaine de Paris debaixo do braço: “Está passando Törst num cinema de bairro perto da Mairie du 9ème, cara, vamos nessa.”

E lá íamos nós, fazendo três ou quatro “correspondances” (trocas de trem) no metrô de Paris. Törst, de 1949, era Sede em português, no Brasil se chamaria Sede de Paixões. Na França tinha o título poético de La Fontaine d’Arethuse, alusão a um recanto da Sicília mencionado no filme, que trata basicamente da DR de um casal numa viagem de trem da Itália à Suécia, atravessando a Alemanha devastada pela guerra. A evocação da ninfa Aretusa seria a metáfora da impossibilidade do amor.

O filme, embora um Bergman menor, me tocou fundo e levou a visitar a Fonte de Aretusa, em Siracusa, no meu Grand Tour daquele verão. E a revisitar Siracusa em 1999, 38 anos depois.

Havia muito Bergman a descobrir. Antes de Morangos silvestres, de 1957, ele tinha rodado dezessete longas. Fazíamos também concursos para ver quem lembrava mais títulos originais: Det regnar på vår kärle (Chove sobre nosso amor), Kvinnors väntan (Quando as mulheres esperam) En lektion i kärlek (Uma lição de amor) Sommarnattens leende (Sorrisos de uma noite de amor), o quebra-línguas Smultronstället (Morangos silvestres), Ansiktet (O rosto) e o belíssimo Gycklarnas afton (Noites de circo), que teve traduções inspiradas em francês (La Nuit des Forains/A noite dos circenses) e inglês (Sawdust and Tinsel/Serragem e purpurina). Eu levaria a mania pela vida afora: um dos títulos mais geniais para mim é o de Gritos e sussurros (1972): Viskningar och Rop. Claro, os franceses, inventores e cultores da sacrossanta Sétima Arte, projetavam estes filmes em v.o. – versão original – o áudio em sueco, com legendas. Assim, pela persistência das falas, sempre aprendíamos alguma coisa: Jag älskar dig (Eu te amo); ingen tingen (nada).



Outro cineasta que me arrebatou na época foi Michelangelo Antonioni, com L’Avventura, de 1960. Eu ignorava que ele tinha feito anteriormente dezessete filmes, começando em 1943. Dejean me apresentou a La Signora senza camelie/A dama sem camélias (1953), Le Amiche/As amigas (1955), baseado numa história de Cesare Pavese, e Il Grido/O grito (1957), já inserido no hábito italiano de usar atores americanos, nesse caso Steve Cochran (atuou em Copacabana com Groucho Marx e Carmen Miranda) e Betsy Blair (ex-Sra. Gene Kelly). Talvez eu tenha levado o título no meu inconsciente para o do meu livro Rock: o grito e o mito (1973).

Estranha coincidência naquela nossa escolha de colecionar Bergmans e Antonionis. Os dois diretores morreram com horas de diferença em 30 de julho de 2007: Bergman no começo da manhã, aos 89; Antonioni poucas horas depois, aos 95. Ambos com uma obra sólida: Antonioni com sua Trilogia da Incomunicabilidade (A aventura, A noite, O eclipse), de 1960-62; Bergman com sua Trilogia do Silêncio (Através de um espelho, Luz de inverno, O silêncio), de 1961-62. Escrevendo sobre as analogias na obra de ambos e a sincronicidade de sua morte, um crítico definiu sua obra como “um retrato da alienação do homem moderno num universo sem Deus.”

Em Paris, Dejean trabalhava na Radiodiffusion Télévision Française, fazendo programas em português para o Brasil. Amigo generoso, me encaminhou para uns frilas na RTF, mas não me dei bem na estreia e não me chamaram mais. Eu mal podia imaginar que no ano seguinte, 1962, seria contratado para trabalhar durante três anos no Serviço Brasileiro da BBC de Londres. Uma experiência inesquecível: cheguei numa Inglaterra ainda vitoriana, saí de lá com a Swinging London a todo vapor. Pertencíamos ao que eu chamo de A Legião Estrangeira do Rádio. Tive colegas que trabalharam em The Voice of America em Washington e na BBC de Londres: o saudoso Telmo Martino e José Guilherme Correa.

Quando fui conhecer Estocolmo no verão, Dejean me encaminhou ao carioca Jack Soifer, que trabalhava na Rádio Suécia e foi para mim um cicerone generoso e hospitaleiro. Havia ainda a Rádio Canadá (nosso chefe de reportagem da Manchete, João Resende, quase foi parar lá) e a Deutsche Welle, em Colônia, para os mais afoitos que conheciam o alemão, em geral descendentes. Mas Dejean parece que levou a coisa da Legião Estrangeira a sério, inspirado também naqueles filmes épicos da antiga como Beau Geste, Lanceiros da Índia e As quatro penas brancas. (Quando você é cinéfilo de verdade, a ficção das telas muitas vezes comanda suas escolhas no mundo real.) Ele foi trabalhar no Serviço Brasileiro da Rádio do Cairo, onde se tornaria parceiro de transmissão do gaúcho Francisco Bittencourt, crítico de arte que se tornaria meu amigo em 1970. Imaginem só o que é viver na cidade do Cairo no final dos anos 1960, na república presidida por Gamal Abdel Nasser, que destronou o Rei Faruk. (Bem humorado, Faruk comentou: “Em breve só haverá quatro reis: o Rei da Inglaterra e os quatro reis do baralho…”)

Um corte rápido, coisa de cinema. Em 1969, Dejean está morando em Moscou como oficial de chancelaria na Embaixada do Brasil. Na época, uma das grandes salas moscovitas exibia em noite de gala 2001: Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick. Ao final da sessão, os russos na plateia vaiaram o filme, que acharam recheado de mensagens religiosas, principalmente no destaque dado ao misterioso monólito negro. Irritado, Dejean fez um tremendo discurso em inglês, arrasando com os comunistas: “Vocês são uns ignorantes, não entenderam porra nenhuma!”

Foi em Moscou que Dejean conheceu sua primeira e única mulher, Michèlle, uma francesa que trabalhava na Embaixada da França. Tiveram uma filha, cujo nome Dejean tirou – é claro – de um filme, On a Clear Day You Can See Forever/Num dia claro de verão (1970), de Vincente Minnelli: Melinda, a protagonista interpretada por Barbra Streisand. Belo nome. Woody Allen o escolheu para um filme genial de 2004, Melinda e Melinda. Pura coincidência.

Cassado pela ditadura militar, Dejean teria seus direitos parcialmente reintegrados em 1990, mas a família ainda hoje continua lutando por seus direitos. Demitido, Dejean seguiu com Michèlle para uma segunda temporada na Rádio do Cairo.

Humano, muito humano, Dejean era uma contradição ambulante. Esquerdista ferrenho, adorava o cinema americano acima de todas as coisas.  E sua cultura era assombrosa. Há uns dez anos, propus a uma destas “casas do saber” cariocas um curso de quatro palestras sobre O filme noir e os Caminhos do cinema. Convidei Dejean para ser meu parceiro. Eu achava que sabia tudo de noir, mas ele me veio com uma peça rara: um filme de 1952, The Thief/O espião invisível, com Ray Milland, só de música e ruídos, sem nenhuma fala.

De volta ao Brasil, Dejean coordenou um festival de cinema que teve como convidada especial a musa da nouvelle vague Bernadette Lafont. Uma paixonite o levou a morar de novo em Paris, mas o timing conspirou contra ele: Bernadette na época ficou terrivelmente abalada com o desaparecimento da filha caçula, Pauline Lafont, 25 anos também atriz, que percorria sozinha trilhas do sul da França. Caiu de um penhasco e seu corpo só foi encontrado vinte dias depois. Dejean se deixou ficar por alguns tempos na Rue des Entrepreneurs, na Paris que tanto amávamos. Nos últimos anos nos víamos esporadicamente, seu endereço dificultava bastante os encontros:

Dejean morava num belo condomínio na Floresta da Tijuca, dez minutos de táxi além do Museu do Açude. Fui lá uma vez só, a vista era realmente magnífica, do alto das montanhas da Mata Atlântica num dia claro você podia ver o mar da Barra da Tijuca. As paredes do apartamento eram forradas pelos doze mil filmes de Dejean – e a coleção não parava de se avolumar, com as doações dos companheiros que já iam partindo. Antes, almoçamos no Bar da Pracinha, diante da entrada da Floresta da Tijuca, dividimos um belo filé à francesa (évidemment) com chope, discutindo apaixonadamente, como sempre, nosso assunto predileto.


A última vez que vi Dejean foi na ABI, no centro do Rio, em setembro de 2010, na cerimônia de descerramento da foto famosa que abre esta matéria, seguida da projeção do mesmo Il Ferroviere, de Pietro Germi, exibido na sessão histórica de 1958 – sutileza típica do Dejean. O amigo cinéfilo morreu do coração um ano e meio depois, aos 81, e sua cremação, no Cemitério do Caju, foi a única a que compareci até hoje.

No dia seguinte, um domingo, um incêndio destruíu totalmente o Cine Teatro Ouro Verde, um dos templos da minha adolescência cinéfila. Vi naquilo não uma mera coincidência, mas uma imolação do destino à altura do querido Dejean.


Executivo da Televisa citado no escândalo das propinas da Fifa é assassinado no México. Há poucos dias, outro empresário denunciado no mesmo esquema morreu na Argentina...


Em menos de uma semana, morreram dois executivos envolvidos no escândalo de propinas da Fifa em pagamento de compras suspeitas dos direitos de transmissão de Copas do Mundo. 

Ambos foram citados na delação de Alejandro Burzaco à Justiça dos Estados Unidos durante o julgamento do ex-presidente da CBF (e ex-governador de São Paulo nomeado pela ditadura militar), José Maria Marin. 

Na Argentina, Jorge Alejandro Delhon, da empresa de marketing esportivo Torneos y Competencias, foi encontrado morto após supostamente se jogar na frente de um trem em movimento, no dia 14 desse mês, nas imediações de Buenos Aires. A polícia local ainda apura as circunstâncias. 

No México, hoje, foi assassinado a tiros Adolfo Lagos Espinosa, vice-presidente de telecomunicações da Televisa, a rede mexicana apontada pelo delator Burzaco, ao lado da Fox Sports e da Globo (as três empresas de mídia acusadas negam participação em qualquer negociação irregular), como envolvida no pagamento de propinas a dirigentes esportivos. As primeiras informações da imprensa mexicana falam em assalto. Espinosa teria sido abordado por homens armados que supostamente queriam levar sua bicicleta. A polícia mexicana investiga o crime. 

Perdeu o apetite?




Das últimas quatro capas da Veja, apenas uma foi dedicada à política e, mesmo assim, para uma matéria mais analítica do que de apuração: o ainda improvável embate entre Bolsonaro e Lula nas eleições de 2018.

Escândalos não faltam, mas aparentemente, nessa editoria, a revista fez uma pausa para discutir a relação.

Luciano Huck, a nova aposta, Geddel e as novas revelações, o caso Fifa/Marin e a Globo,  Picciani... não fizeram a revista piscar.

Se não secaram, as fontes de "vazamentos" parecem que entraram em fase de estiagem.

O último ritual: morre Charles Manson, o guru que mandou matar a atriz Sharon Tate...


Suástica na testa. l.A.
Há poucas horas, Debra Tate, irmã da atriz Sharon Tate, recebeu uma ligação do Departamento de Correção e Reabilitação de da Califórnia. Era um funcionário da prisão avisando da morte de Charles Manson, aos 83 anos, de causas naturais.

O telefonema fechou um ciclo que começou nos dias 9 e 10 de agosto de 1969, quando Manson e seguidores da sua seita assassinaram nove pessoas, aleatoriamente, em bairros ricos de Los Angeles. Entre as vítimas estava a atriz Sharon Tate, 26 anos, casada com o diretor Roman Polanski, de quem esperava o primeiro filho.

A caminho do julgamento. Reprodução Instagram
No final da década de 1960, Charles Manson liderava um culto apocalíptico - à Rolling Stone, ele contou que se "inspirou no Beatles" e se descreveu como uma reencarnação de Jesus Cristo, "não me importa se vocês acreditam ou não" - e seus seguidores esperavam que a onda de crimes fosse atribuída a negros e desencadeassem uma guerra racial na cidade nas grandes cidades. Desse apocalípse, ele acreditava que nasceria o "novo mundo".





A  morte de Sharon Tate ocupou a mídia mundial. Revistas conservadoras como a Life e a Manchete generalizaram a tragédia e atribuíram os crimes aos "hippies". Para Life, era o 'a face escura da vida hippie"; para a Manchete, "a fúria assassina dos hippies". O Sunday News apostou em ritual; o Globo em oferenda a Satã.

Manson foi condenado à morte em 1971. Posteriormente, quando a Califórnia aboliu a pena de morte, teve a sentença comutada para prisão perpétua.

Ele jamais se declarou arrependido.

Nos últimos anos, em foto dos arquivos policiais e em vídeos no you Tube, apareceu com uma suástica tatuada na testa.


domingo, 19 de novembro de 2017

Roberto Muggiati escreve: BRASILEIRÃO 2018 - Sai de baixo que a gralha azul vem aí!


Roberto Muggiati

Vibrei neste sábado com a classificação do Paraná Clube para voltar à Série A do Campeonato Brasileiro, depois de dez terríveis anos na Segundona, correndo por vezes o risco de cair para a terceira divisão.

O engraçado nisso tudo é que nem torcedor paranista eu era. Nascido em Curitiba e morando lá até 1960, eu torcia para o glorioso Clube Atlético Ferroviário, o time da RVPSC (não é “répondez s’il-vous plait”, mas Rede Ferroviária Paraná Santa Catarina). Aliás, vocês nem imaginam a quantidade de times ferroviários que existem ou existiram no Brasil, meu amigo paranista Ernani Buchman, presidente da Academia Paranaense de Letras, contou esta história magistralmente em seu livro Quando o Futebol Andava de Trem/Memória dos times ferroviários brasileiros (Imprensa Oficial do Paraná, 2004), listando quase uma centena de agremiações nos trilhos.

Nada melhor para explicar o que era o Ferroviário do que a analogia com os partidos políticos da época: o Atlético, o Furacão, era o PSD (centrista); o Coritiba era a UDN, de direita; foi fundado por um grupo de jovens do Clube Ginástico Teuto-Brasileiro Turnverein e por muitas décadas, arianista, só admitia jogadores brancos, daí o apelido de Coxa Branca; e o Ferroviário era o PTB, centro esquerda, o time do povão.

Fundado em 1930, o Clube Atlético Ferroviário ganhou o apelido de "Boca-Negra", nome de um grupo indígena descoberto na selva brasileira na época. Além de gloriosas conquistas esportivas, o Ferroviário inaugurou em 1947 o estádio Durival Britto e Silva, em Vila Capanema, o terceiro maior do Brasil depois de São Januário e Pacaembu, quando ainda não havia o Maracanã.

Além de torcer para o Ferroviário, calhou que no ano de 1949 – quando o Colégio Estadual do Paraná ainda não havia inaugurado seu fabuloso campus junto ao Passeio Público – eu tinha aulas de ginástica, no primeiro ano do Ginásio, no Durival Britto.


O estádio tinha uma concha acústica (demolida depois), onde vi um fabuloso show da Orquestra de Xavier Cugat, com sua coleante rumbeira e mulher Abbe Lane – a sex symbol latina está viva e mora em Brooklyn, onde nasceu há 84 anos numa família judia com o nome de Abigail Francine Lassman. Já Xavier Cugat – regendo a banda com seu cachorrinho chihuahua no bolso do summer jacket – que todo mundo julgava cubano ou mexicano, era catalão e amigo de infância de Salvador Dalí.

Ou seja, vivemos num mundo de aparências. Cugat na época era um dos grandes nomes dos musicais da Metro, o que não impediu um daqueles torcedores malucos do Ferroviário – todo time tem o seu – o Paraquedista, de atrapalhar o show na concha acústica falando um monte de baboseiras.

Foi no Durival de Britto que – aos doze anos, com meu pai, ele de terno e chapéu – vi os dois jogos curitibanos da Copa de 1950: Espanha 3x1 Estados Unidos e Suécia 2x2 Paraguai, um deles apitado pelo lendário referee brasileiro Mario Vianna. A seleção americana era um saco de gatos, formada por um bando de imigrantes – americano que se prezava na época só jogava o seu football, com aquela bola entortada, e desprezava o soccer. Pois não é que os carcamanos dos EUA, uma semana depois, eliminaram por 1x0 o English team, um dos favoritos da Copa de 50?

Também no Durival Britto eu me deliciava com os Torneios Início, um dos adoráveis cacoetes do futebol brasileiro nos anos 40/50. O leitor de hoje talvez nem tenha ouvido falar. O Torneio Início – e acontecia em quase todos os estados – era um aperitivo dos campeonatos estaduais e confrontava todos os times em partidas de 20 minutos (10 por tempo). A final era maior: 60 minutos (30 por tempo). O desempate era resolvido ou pelo número de escanteios ou por disputa de pênaltis. Enfim, um domingo inteiro de futebol, verdadeiro piquenique, e dava cada zebra...

Parti de Curitiba para o mundo em 1960 e nunca mais vi o Ferroviário jogar. Em 1970, o Ferroviário – sei lá por que – se fundiu com o Britânia e o Palestra Itália para formar o Colorado. E em 1989 – pouco depois da queda do Muro de Berlim, que não teve coisa nenhuma a ver com essa história – o Colorado fundiu com o Pinheiros, o antigo Água Verde – o “hidro-esmeraldino” no jargão dos locutores de futebol – para formar o Paraná Clube.


As camisas, vermelha do Colorado e azul do Pinheiros, foram cortadas na vertical em duas metades, o que deu uma estranha camisa de jóquei para o Paraná, talvez única no Brasil.

Em 2007 o Paraná complicou-se com a Libertadores e foi rebaixado para a série B do Brasileirão. Pastou os dez últimos anos na grama amarga da Segundona, assolado pelo espectro da queda para a terceira.

Fotos: Site Oficial Paraná Clube
Este ano, mostrou sua maior qualidade: a garra. Teve muitas trocas de técnicos, o incidente maluco com o Lisca, mas se deu bem no final com Matheus Costa, o técnico mais jovem de todas as divisões brasileiras de hoje, na flor dos seus 30 anos. Dos quatro classificados para a série A, o Internacional, apesar dos fortes investimentos e do apoio da grande  torcida, decepcionou. O América mineiro mostrou força e coesão e passou à frente. O Ceará também fez valer sua energia. E o Paraná, mais do que com valores individuais, conquistou o seu lugar graças ao espírito de grupo e ao amor à camisa, acima de tudo. Vai precisar de um bom investimento para encarar a elite em 2018. Mas o principal, a garra, está garantido. Se cuidem que a gralha azul vem com tudo!

Já viu uma foto irônica?


por Jean-Paul Lagarride 

Essa foto é ótima. Aos 93 anos, o ditador Mugabe, do Zimbábue, estava no poder desde 1980. Na semana passada, militares ocuparam com tanques ruas e avenidas e tomaram o país. Mas houve por parte das forças armadas uma certo e inusitado pudor em assumir o golpe. Mugabe foi inicialmente isolado em casa em meio a "negociações", até que lhe deram 24 horas para renunciar ou enfrentar um impeachment.

The Sun publicou a foto acima acompanhada de um título que é um primor de ironia: "Robert Mugabe concordou em desistir depois de 37 anos como presidente do Zimbábue..."

Concordou? E o cara tinha outra saída numa sala cheia de milicos? Deve ser humor inglês.

O texto ainda registra que Mugabe parecia meio atordoado. Parecia? Acorda, estagiário!

Dizem que um dos argumentos finais do exército era deixar que manifestantes entrassem na luxuosa mansão do ditador, caso ele não concordasse em pular fora. Mugabe deve ter se lembrado do fim de Kadhafi.

Mugabe era um ditador cruel, mas não sei se o Zimbabue vai melhorar. O seu substituto atende pelo apelido de The Crocodile. E não é por usar sapatos de fino couro da espécie.

Agência de viagem leva seu boneco de pelúcia para passear...

Reprodução Facebook




por O.V.Pochê 

É mais comum do que se pensa. Ao viajar, muitos adolescentes, crianças e até adultos não se separam dos seus bichos de pelúcia de estimação. Há poucos anos, a rede inglesa de hotéis Travelodge constatou em pesquisa que quase um terço dos seus hóspedes dormia abraçado com seus ursinhos de pelúcia da infância A maioria revelou que o hábito era relaxante. A média de idade dos bichos era de 27 anos.

Uma viagem a Tóquio é cara. Mas o destino é procurado por muitos turistas ou executivos que levam na bagagem suas Hello Kitty ou seus Teddy. Agora, mesmo que você não possa bancar esse custo, uma agência japonesa criou um opção bem mais em conta.

A Unagi Travel organiza um tour para que seu boneco de pelúcia visite o Japão. Ele vai, você fica.

Basta contratar um pacote de pouco mais de 200 reais por dia, enviar o boneco pelo correio e os guias japoneses percorrerão pontos turísticos e enviarão fotos e selfies do seu "amigo" em um animado tour. E você poderá sugerir o roteiro mais indicado para seu boneco de pelúcia: um passeio espiritual, por templos; aventureiro, por picos e trilhas; noturno, por boates e clubes; por parques de diversão, estádios, viagens no trem-bala etc.




Você, por exemplo, um brasileiro que comprou um "pato da Fiesp" ou um Pixuleco, levou a dupla às ruas para denunciar a corrupção e agora tem que aturar Micheleco Temer, Picciani etc, e está vendo seu "amigo" triste e deprimido, seus problemas acabaram: pode mandá-lo passear em Tóquio para, quem sabe, recuperar o ânimo e bater umas panelas no Monte Fuji. Consulte a Unagi Travel, clique AQUI 

"Foi assim", a autobiografia de Wanderléa...


Aos 73 anos, a cantora Wanderléa lança sua autobiografia. "Foi assim" (Record) revela sua trajetória profissional e não deixa de abordar os bons em tristes momentos da sua vida pessoal. Manchete, Fatos & Fotos, e, principalmente, Amiga e Sétimo Céu acompanharam passo a passo os anos de glória  da Jovem Guarda e da sua musa. Capas, entrevistas e milhares de fotos registraram aqueles dias de explosão da música jovem no Brasil.


Até fotonovela Wanderléa fez na Sétimo Céu.

Uma entrevista que vale reprisar é essa da Amiga, feita pela repórter Emilse Barbosa, com fotos de Sebastião Araújo.




Clique nas imagens para ampliar

Fotomemória da redação: cenas do 'bunker' do Russell

Anos 1980, o redator e chefe de reportagem João Resende, o fotógrafo Paulo Scheunsthul e...

...a repórter e redatora Suzana Tebet e o fotógrafo Antonio Rudge na redação da Manchete.

sábado, 18 de novembro de 2017

Playboy: Hugh Hefner em edição limitada e fotos inéditas



A Playboy americana lança uma edição especial sobre o seu fundador, Hugh Hefner, morto há menos de três meses. "The Limited Edition: Hugh Hefner Special Tribute" reúne fotos inéditas e pode ser adquirida no site PlayboyShop.

Twitter expulsará neonazistas...

O Twitter dá um ultimato aos neonazistas: se não pararem com o discurso de ódio até o dia 18 de dezembro serão chutados definitivamente do microblog.
A empresa anuncia que monitorará o comportamento de usuários ligados a organizações violentas dentro e fora da plataforma, e que promovam ações de ameaças e intolerância.
O prazo até dezembro se explica em função da legislação de alguns países que exigem avisos prévios sobre mudanças de políticas internas para os usuários. A notícia está no Mashable.

Na revista Época: O closet de mãinha Geddel...



Botou a mãe no meio, meu rei?

A matéria de capa da revista Época dessa semana mostra que o caso Geddel Vieira de Lima pode ganhar contornos rodriguianos. 

Nelson Rodrigues, um mestre na arte de levar os leitores do antigo Última Hora direto para os porões emocionais da vida-como-ela-é, adoraria a denúncia de Job Ribeiro Brandão, ex-assessor do deputado Lúcio Vieira de Lima, irmão de Geddel. 

Job, que tenta fazer delação premiada sobre o bunker de R$ 51 milhões, como ficou conhecido o apê onde o político baiano guardava suas "economias", entregou em depoimento que, antes de ser levada para o condomínio onde a PF flagrou, a montanha de cédulas ficava guardada no closet de Marluce, a genitora dos acusados.

Se confirmada a delação do assessor, provavelmente mãínha Marluce deverá ser chamada para explicar o fato. Dizer, por exemplo, se viu a dinheirama no seu closet ao pegar um vestido e se teve a curiosidade de tentar saber o que diabos aqueles 51 milhões faziam na sua suíte. 

Vai ver pensou que era apenas o dinheiro que os meninos Geddel e Lúcio estavam economizando para comprar abadá do carnaval no Circuito Barra-Ondina de trios elétricos...  

Professora "manda nudes" como dever de casa...



por Omelete 

Na Colômbia, a escola é sem partido mas com nudes no celular.

A professora Yokasta, de Medellin, resolveu inovar na didática e introduziu métodos de alta tecnologia na sala de aula.

Ela usava um celular de última geração para mandar nudes aos seus alunos adolescentes com sugestões sobre o que deviam fazer para passar de ano.

Segundo o portal peruano La República, do Peru, ela dizia claramente que o caminho para a aprovação nos exames finais passava pela sua cama.

Era pegar ou largar. A professora foi presa e o marido está pedindo divórcio. Para ele era difícil concorrer com as turmas que buscavam aprovação no "enem" colombiano.

Leve pra cabine eleitoral em 2018. A página 6 do Globo de hoje é o Guia do Eleitor...


Na hora de teclar na cabine eleitoral em 2018, o eleitor fluminense não pode reclamar de falta de informação sobre prováveis candidatos a reeleição.

Na página 6 da edição de hoje, o Globo publica um "guia do eleitor".  Trata-se da relação com foto 3x4 do placar da votação da Assembléia Legislativa doo Rio de Janeiro que resgatou da cadeia o presidente Jorge Picciani e os deputados Paulo  Mello e Edson Albertassi, todos do PMDB: 39 deputados abriam a porta das celas dos investigados por corrupção, enquanto 19 preferiam deixar os políticos curtirem uma cadeia exemplar.  Curiosamente, entre os aguerridos defensores dos colegas acusados de participar de um "confraria do crime" estão políticos que ensaiam usar a bandeira anticorrupção nas eleições do ano que vem. Fique de olho.

Enquanto isso, lá fora da Assembléia, prédio histórico construído no lugar da Cadeia Velha, que é o nome da operação que caça meliantes, a polícia lançava bombas de gás e balas de borracha contra manifestantes que protestavam contra a "sessão da vergonha".

Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro usa "Lei Aécio", mostra quem manda e solta políticos investigados por corrupção... Tá pensando o que?

Assembleia Legislativa RJ. Protestos contra a libertação dos político presos. Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Nos anos 70, o delegado do Dops Sérgio Fleury foi condenado por chefiar esquadrões da morte. Quase imediatamente, a ditadura militar impôs uma lei casuística que garantia ao "réu primário e de bons antecedentes", ele mesmo, o torturador Fleury,  responder a processos em liberdade. A inovação ficou conhecida como "Lei Fleury".

O fato vem sendo lembrado desde que o STF analisou o Caso Aécio Neves.

Naquela ocasião, por 6 votos a 5, os ministros do STF determinaram que seria necessário o aval do Legislativo para o afastamento de deputados e senadores de seus mandatos por ordem da Corte. O enunciado era genérico mas o  beneficiado tinha nome e sobrenome: Aécio Neves, que, logo em seguida, foi liberado pela Senado.

Essa interpretação do STF entra para a história como a "Lei Aécio".

É justo que se diga que os ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e o decano Celso de Mello votaram contra; Alexandre de Moraes, Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli empataram a questão. Em uma avaliação final que se tornou antológica pela confusão, indecisão  e aparente insegurança demonstrada ao vivo na TV, a presidente do STF, ministra Carmen Lúcia, desempatou a favor da "Lei Aécio".

A ministra tinha nas mãos sólidos argumentos constitucionais, espacialmente de Luis Roberto Barroso, o relator, e de Celso de Mello, o decano, mas preferiu dar um salto sem rede.

E deu-se o caos.

Depois que o Senado abraçou Aécio Neves, investigado por corrupção, Assembleias Legislativas e até Câmara de Vereadores passaram a considerar que têm a chave da cadeia e podem liberar colegas com foro privilegiado com base na "independência dos Poderes" e aval da exótica decisão do STF.

Investigados como participantes de um crônico esquema de corrupção no Rio de Janeiro, o presidente da Assembleia Legislativa e os deputados Paulo Mello e Edson Albertassi, todos do PMDB de Temer, tiveram prisão decretada pelo Tribunal Federal da 2ª Região. Durou pouco a cana dura de suas excelências. Depois de votação-relâmpago, a Assembleia mandou carros oficiais entrarem no presídio para resgatar os presos. A situação foi tão absurda que os políticos dispensaram até o alvará de soltura, documento que é expedido por juízes. Apenas de posse da resolução da Assembleia o comboio de carros oficiais entrou no presídio e soltou os políticos. Jogo rápido. Tudo isso em menos de 24 horas.

Manda quem pode, não é STF?.

Piadinhas de chuteira...

por Niko Bolontrin 

• Chico Nascimento no Bom Dia Brasil:
"Na Segundona, cumpriu-se a profecia do Trump: AMERICA FIRST!

• No Fla, nova versão do anúncio da Lusitana:
"O mundo gira e o Renaldo Rueda!..."

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A entrevista que não houve

por Ruy Castro (para a Folha de São Paulo)

RIO DE JANEIRO - Por esses dias de novembro de 1967, há inacreditáveis 50 anos, eu estava telefonando para Guimarães Rosa em nome da revista "Manchete", pedindo uma entrevista.

Naquela semana, Rosa finalmente tomaria posse de sua cadeira na Academia Brasileira de Letras, para a qual fora eleito por unanimidade em 1963. Ainda não a assumira porque, médico e cardíaco, temia não sobreviver à cerimônia. Mas agora era a hora.

Nunca entendi por que Justino Martins, diretor da "Manchete", me confiou a tarefa. A revista estava cheia de repórteres experientes —dois deles os poetas Lêdo Ivo e Homero Homem, certamente amigos de Rosa. Eu tinha, se tanto, seis meses de profissão e acabara de chegar à "Manchete". Mas foi assim. Justino convocou-me à sua mesa, deu-me o número do telefone de Rosa e só me recomendou que chamasse o homem de embaixador —o que Rosa também era.

Naquele mesmo dia, telefonei. O próprio Rosa atendeu e, muito amável, se desculpou, alegando que estava escrevendo seu discurso de posse e não podia parar para dar entrevistas, mesmo que fosse para "Manchete". Eu insisti, "Mas, embaixador...". E ele, firme. Talvez tocado pela evidente juventude do repórter, sugeriu que eu telefonasse no dia seguinte —quem sabe já teria terminado o discurso. Fiz isto, mas, não, ele não havia terminado. Como consolação, disse que, se eu fosse à cerimônia, me daria uma cópia do texto.

Rosa tomou posse na quinta-feira, 16. Ao fim do discurso e sob a chuva de aplausos, saiu pelo salão apertando mãos, como se levitasse. Parecia encantado, não via ninguém –só a mim cumprimentou duas vezes, sem saber quem eu era. E o coração resistiu bem, não o traiu.

Deixou para traí-lo três dias depois, na noite de domingo, 19, no seu apartamento, em Copacabana.

E eu me esquecera de pedir-lhe o discurso.

O doce ano em que trabalhei com um Krajcberg nas costas



Roberto Muggiati

Julho de 1996 a outubro de 1997 marcou para mim o único momento em que fui feliz na Bloch. Afastado da direção da revista Manchete, nomeado Editor de Projetos Jornalísticos, fui despachado para o local geograficamente mais remoto do Titanic do Russel: a cobertura do terceiro prédio do Russell, à qual se tinha acesso por uma escada em caracol. Era um salão imenso – uns dez metros de frente por setenta ou oitenta de fundos – assoalho de tábuas corridas, tapetes persas, sala de visitas com sofá e poltronas e obras de arte nas paredes. Ali eu trabalhava com o João Américo Barros, meu chefe de arte, e o Sérginho, meu factótum e fiel escudeiro. Com sua ironia fina, Alberto de Carvalho batizou o lugar de degredo de “Santa Genoveva”, alusão ao asilo de idosos em Santa Teresa em que os velhinhos, ao invés de serem cuidados, sofriam maus tratos. 

Longe do insensato mundo da Bloch, fiz bons trabalhos ali. A reedição da série de fascículos sobre a História do Brasil, lançada em 1972, atualizada para o ano de 1997. Foram 52 fascículos inseridos na Manchete semanalmente – um ano exato – oferecendo um algo mais à revista que lutava para sobreviver. Editei também o número especial dos 45 anos de Manchete, com 350 páginas e uma receita publicitária fabulosa. E dirigi a edição especial de Fatos&Fotos – a primeira a chegar às bancas – sobre a morte de Princesa Diana. Lancei também meu livro A Revolução dos Beatles, em comemoração dos 35 anos da primeira gravação dos Fab4 em Abbey Road. 

Na "Santa Genoveva". Foto: Arquivo Pessoal R.M

Atrás da minha mesa no Santa Genoveva (o apelido colou imediatamente) havia um Krajcberg na parede, uma assemblage de galhos de árvore pintados de branco, praticamente uma versão reduzida da obra de arte do saguão de entrada da Manchete.

No Santa Genoveva eu fiquei protegido dos chatos (devem ter algum problema com escadas em caracol) e da histeria manchetiana (os Bloch e os colegas da revista não tinham tempo, ou coordenação motora, para chegar até lá.) Sentia pena do Herculano Mathias, historiador que redigia semanalmente os novos fascículos da História do Brasil, cuja idade dificultava escalar aquela escada íngreme. Eu era o dono do pedaço e podia ligar e desligar o ar condicionado ao meu bel prazer, coisa inimaginável nas outras redações, onde o ar só era ligado por ordem do seu Adolpho, ou sucessores. Tinha sempre um bom scotch à mão para a happy hour, um dos habitués era o milanês Carlo Rizzi, autor do novo design da Manchete, ficamos logo amigos – os Muggiati eram oriundi de Stradella, nos arredores de Milão.

Mal sabia eu que aquela alegria não ia durar muito. O primeiro sinal foi o Carnaval. Eu antevia, pela primeira vez em 22 anos, um feriado tranquilo no meu chalé em Itaipava, longe do fechamento da edição de Carnaval. Mas Jaquito me convocou para editar a Manchete carnavalesca: “Esses paulistas não entendem porra nenhuma da Carnaval.” E lá fui eu amargar as madrugadas de pão com ovo, o sol surgindo, bonito mas ordinário, uma bola vermelha entre o Pão de Açúcar e o Saco de São Francisco. Pior ainda: a diagramação computadorizada infernizou a edição, saudades da paginação analógica do grande Wilson Passos e da fotocomposição do Carlão. O uso do Macintosh acabou com cem empregos e sobrou problema para a redação e os diagramadores. E mais: o sucessor do doce Vincenzo Scarpelini – que se apaixonou por nossa repórter paulista e foi trabalhar na Folha – o Massimo Gentile, que de gentil não tinha nada, estava numa ressaca mortal no início dos trabalhos no sábado e tudo e todo mundo parado. Foi preciso o Layrton ir busca-lo à força em casa e entupi-lo de café preto. Triste lembrança: ambos jovens, tanto Vincenzo como Massimo já se foram. Carma da Bloch? Você decide.

Um pouco da minha história na Manchete. Voltando de três anos na BBC de Londres, meu amigo Narceu de Almeida, chefe da sucursal de Paris, no Rio para o 1º FIC – me levou à Manchete em Frei Caneca, onde Jaquito me contratou como repórter especial, começando no dia seguinte ao feriado da República de 1965 – cara, exatamente há 52 anos hoje... Em março de 1968, sentindo-me sem perspectiva na Bloch, fui participar da equipe inicial de Veja em São Paulo como um dos quatro editores do capo Mino Carta. Minha primeira mulher não se adaptou à Pauliceia e voltei em setembro de 1969 para dirigir Fatos&Fotos. Um daqueles cavalos de rodeio em que você só consegue se segurar alguns instantes. Em setembro de 1970 o Cony me chamou para ser seu chefe de redação no EleEla. Em 1972, o Justino Martins me chamou para ser o seu “segundo” na Manchete. Editei a revista nas férias de maio de Justino, Cidadão Cannes, que ia todo ano ao festival. Em 1975, Adolpho tirou o Justino da Manchete e me colocou como editor. Justino voltou à direção em 1981, me mantendo sempre como seu “segundo”. Em 1983 – aí é que começam os problemas das revistas, com a conquista da Rede Manchete. A TV vai ao ar, um mês depois Justino morre de um câncer fulminante, uma morte simbólica. Volto à direção da revista. Depois de um breve interregno da dupla Hélio Carneiro-Janir de Holanda, reassumo direto até 1996. 

Por essa época, o Titanic já estava fazendo água. As vendas caíam, mais por uma contingência editorial-gerencial da Bloch do que pela qualidade dos seus jornalistas. 

Reprodução do Jornal do Brasil. Arquivo pessoal R.M

Uma tentativa de me tirarem da direção da Manchete foi feita pelo Oscar (Bloch Sigelmann) em 1992. Convidou o Augusto Nunes, paulista que à época dirigia o jornal Zero Hora em Porto Alegre. Ofereceu-lhe um salário cinco ou seis vezes superior ao meu. Augusto Nunes, macaco velho, veio, viu e voou (para longe). Bastou um almoço com vista panorâmica no restaurante do Russell, e o papo do Oscar, para que percebesse o perigo que corria. Outro convidado, o Elio Gaspari, também não caiu na conversa. (Vejam os recortes das notas publicadas pelo Zózimo no JB). Jaquito costumava me chamar em crise: “Muggiati, precisamos fazer alguma coisa, por nossos filhos!” Osias (Wurman), mais sotto voce, buzinava: “Muggiati, fique atento senão um dia chega aí um paulista com uma pastinha de executivo para pegar o teu lugar.” Não deu outra. Em meados de 1996 Roberto Barreira assumiu interinamente a direção e em outubro a troika paulistana tomou o poder: Tão Gomes Pinto, com Otávio Costa e Nunzio Briguglio. Tão, que, como eu, foi subeditor de Mino Carta no início da Veja, tinha sofrido um AVC que deixou seu braço direito molenga. E o Nunzio era incauto o bastante para proclamar “Eu sou o braço direito do Tão”. Com Otávio e Nunzio se odiando ostensivamente e Tão morando num apartamento na Barra, totalmente deslocado, não podia dar certo. 

Minha saída aconteceu meses depois da morte de Adolpho, que foi enterrado no cemitério de Vila Rosali em 20 de novembro de 1995, a primeira vez em que se respeitou o feriado de Zumbi, uma segunda-feira em que choveu o dia inteiro. Achavam que o Adolpho, sentimental demais, jamais me tiraria da direção da Manchete. Na verdade, o velho sabia mais que os outros. Àquela altura, uma simples troca de técnico não ajudaria o time em crise. Pior ainda seria chamar um “colombiano”, como o Flamengo fez.

Uma coisa de que me dou conta só agora, é que a Bloch era uma confraria de oprimidos, muito forte e coesa e, quem quisesse liderar qualquer coisa, tinha de entender isso. Foi o que aprendi desde cedo, intuitivamente, e aderi àquela maravilhosa legião de “proscritos da terra” (está lá, na letra do nosso hino, a Internacional). No Dia das Bruxas de 1997, Tão Gomes Pinto pediu as contas e Jaquito me convocou, mais uma vez, para editar a Manchete. O que fiz, da melhor maneira que pude, até maio de 1999. A revista já era uma nau à deriva, e a empresa também. E deu no que deu, no pedido de falência em 1º de agosto de 2000. Mas nunca esquecerei os dias felizes vividos com a escultura do Krajcberg nas minhas costas no Santa Genoveva.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Frans Krajcberg: lembranças de um artista nas paredes da memória...

Frans Krajcberg, janeiro, 2016.
Foto de Tatiana Zeviche/
Setur/BA
“ Se eu grito na rua me colocam em um hospital de louco. 
A única coisa que posso fazer é exprimir a minha revolta com o minha arte.” (F.K)

O escultor e pintor Frans Krajcberg morreu ontem, no Rio, aos 96 anos. Nascido na Polônia, o judeu Kracjberg lutou na Segunda Guerra Mundial como oficial do exército do seu país e, depois da invasão nazista, ingressou em uma divisão de soldados poloneses formada no exílio, na União Soviética.

Sua família foi devastada no Holocausto.

Quando a guerra acabou, Krajcberg foi para a Alemanha e matriculou-se na Academia de Belas Artes de Stuttgart. Em 1948, emigrou para o Brasil com uma passagem de 3ª classe paga por Marc Chagall. Menos de dez anos depois, naturalizou-se brasileiro e passou a construir uma obra que reflete a natureza ameaçada do país que o adotou.

Foto reproduzida do livro Museu Manchete

Quem trabalhou na Manchete acostumou-se a passar diante de um dos seus "gritos" ao cruzar, diariamente, o grande hall do prédio 804, na Rua do Russell. O painel "Relevo em Branco", que recriava raízes contorcidas em alto e baixo relevo a romper do concreto, se sobressaia na parede à direita da entrada principal.

E o Museu Manchete, instalado no foyer do Teatro Adolpho Bloch, exibia quadros de Krajcberg como parte da Coleção Manchete de Arte Moderna Brasileira. O curador do Museu Manchete era o competente Zé do Mato (José Alves), assessor e um dos grandes amigos do escultor, a quem conheceu em 1960, em Minas Gerais, quando Krajcberg passou uns tempos em uma caverna no Pico de Cata Branca, região de mineração de Itabirito. "Tinha 17 anos quando conheci o Frans e comecei a trabalhar como seu ajudante. Ele morava numa caverna, pois queria fugir dos homens. Parecia um animal machucado. Ali, ele fez as primeiras gravuras na pedra e esculturas”, contou Zé do Matto à Casa Cláudia.

Para Adolpho Bloch, Zé do Mato era o consultor indispensável na aquisição de obras empreendida pela extinta empresa na ampliação do acervo do Museu Manchete. A ele deveu-se a presença destacada de Krajcberg na valiosa e hoje desfeita coleção.

Vegetação, 1957. Reprodução do livro Museu Manchete
Abstração, 1957. Reprodução do livro Museu Manchete

Borboletas, 1957. Reprodução do livro Museu Manchete
Krajcberg partiu provavelmente sem saber do destino dessas obras. A escultura que ficava no hall da sede foi desmontada após a falência da Bloch Editores e levada por um credor - o Banco Rural. A peça estaria ainda sob pendência judicial. Quando aos quadros de Krajcberg e as demais obras da Coleção Manchete, 17 anos após o fim do grupo de comunicação, permaneceriam armazenadas em um depósito, sob custódia da Massa Falida da Bloch, enquanto aguardam a Justiça marcar a data de um leilão.

Mais fácil do que rever essas obras retidas é encontrar na internet um documentário sobre Frans Krajcberg exibido pela Rede Manchete em 1987. 

Um ano antes, o cineasta Walter Moreira Salles Júnior acompanhou o artista a Juruena, no Mato Grosso, e da expedição resultou o documentário "Krajcberg – o Poeta dos Vestígios", produzido pela Rede Manchete, dirigido por Walter, com roteiro de João Moreira Salles 

O artista vivia em seu sítio Natura em Nova Viçosa, no sul da Bahia. 


Ali fica o Museu Frans Krajcberg.

Obra de Krajcberg em Nova viçosa. Foto de Tatiana Zeviche/Setur

Foto de Tatiana Zeviche/Setur
À entrada da cidade, uma placa permanecerá anunciando: “O artista sem fronteira, para nosso orgulho, vive aqui”.

ATUALIZAÇÃO/CORREÇÃO - José Carlos Jesus, presidente da Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores, esclarece: A obra "Relevo em Branco", que ficava no hall da sede da Manchete, estaria inicialmente entre as obras cedidas pela Bloch ao Banco Rural como parte de negociação de dívida realizada antes da falência da empresa. Contudo, outras obras foram entregues e a cessão de "Relevo em Branco", especificamente, não se concretizou ao final daquela negociação. Essa obra de Krajcberg pertence atualmente à Massa Falida da Bloch e não ao Banco Rural como equivocadamente o post acima registra. Como centenas de outras peças, o painel "Relevo em Branco" aguarda decisão da Justiça em relação a pendências entre o  espólio de Adolpho Bloch e a Massa Falida da Bloch e a posterior realização de leilão destinado a levantar recursos para pagamento de indenizações trabalhistas e correção monetária dos valores devidos aos trabalhadores da extinta Bloch. José Carlos ressalta que os ex-empregados permanecem confiantes nas decisões corretas da 5ª Vara Empresarial, que tem à frente a Exma. Juíza Maria da Penha Nobre Mauro. 

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

É guerra fria! Tio Trump quer organizar um torneio internacional paralelo para esvaziar a Copa da Rússia ?

Com a volta da Guerra Fria, analistas não descartavam um possível boicote americano à Copa da Rússia 2018. Mas a seleção americana foi eliminada e essa possibilidade deixou de existir.

Mas surgem outros caminhos para a geopolítica de Trump tentar colocar algumas pedras no caminho de Moscou. A Copa do Mundo centraliza as atenções globais e isso parece inaceitável para a direita radical levada à Casa Branca no embalo do topete de Tio Trump. A intensificação de investigações sobre a Fifa, requentar denúncias de doping, estimular protestos durante a torneio, podem ser algumas dessas táticas.

Por enquanto, surgiu o que pode ser opção no campo esportivo. A informação vem do Washington Post e do site americano da ESPN. A federação americana pretende criar um torneio pré-Copa com Itália, Holanda, Chile e outras seleções que foram desclassificadas nas Eliminatórias. A Copa paralela seria disputada nos Estados Unidos, naturalmente, às vésperas do Mundial, teria a participação da ESPN e patrocinadores, e não seria restrita apenas a seleções que ficaram de fora da Copa da Rússia, países classificados poderiam participar, caso queiram. O projeto seria apoiado pela Major League Soccer que dirige o incipiente futebol no país. Como seria impossível conseguir "datas Fifa" para a Copa Paralela, os organizadores pretendem usar o mês de maio quando várias das seleções desclassificadas estarão fazendo amistosos. Há dúvidas ainda se os clubes aceitarão ceder seus atletas, a não ser que recebam bons cachês para isso.