sábado, 12 de março de 2016
Nota oficial da Fenaj: Em defesa do Jornalismo e dos Jornalistas
A Federação Nacional dos Jornalistas novamente vem a público manifestar preocupação com a segurança, integridade e trabalho dos jornalistas brasileiros. Nesse momento em que novos atos de rua estão programados para os próximos dias, a FENAJ:
1 – Dirige-se ao ministro da Justiça, exigindo que garanta a integridade e o trabalho dos jornalistas; que respeitada a autonomia dos Estados, oriente às forças policiais a não só evitar agressões como salvaguardar aos jornalistas o livre exercício da profissão;
2 – Dirige-se às empresas de comunicação para que adotem o Protocolo de Segurança proposto pela Federação, no sentido de: a) constituir comissões de segurança para avaliar a pertinência das pautas que coloquem em risco a integridade dos profissionais; b) fornecer equipamentos de proteção individual e treinamento, a fim de capacitar os profissionais para coberturas de risco; e c) permitir aos jornalistas executar um trabalho com a qualidade que a sociedade merece, ou seja, pautado no interesse público;
3 – Dirige-se à sociedade para que reconheça na atividade jornalística e nos seus profissionais um elemento fundamental de sustentação da democracia;
A liberdade de imprensa é uma prerrogativa da atividade jornalística no cumprimento do seu dever maior, que é o de garantir a liberdade de expressão que pertence ao povo brasileiro.
O cidadãos têm todo o direito de protestar e criticar as instituições do país, inclusive a própria imprensa, mas, no entanto, os excessos devem ser evitados, pois só interessam aos inimigos da democracia.
Liberdade de imprensa e de expressão são pilares fundamentais do estado de Direito.
A verdade, o combate à corrupção e a liberdade conquistados com a redemocratização não devem ser destruídos por interesses autoritários e estranhos à soberania nacional;
A FENAJ e os Sindicatos dos Jornalistas dizem não à intolerância, ao autoritarismo, à prevalência de interesses privados em detrimento do interesse público no Jornalismo e a qualquer forma de violência contra a categoria.
Diretoria da FENAJ.
Brasília, 10 de março de 201
(site da Fenaj)
Para entender o golpe....
por Luis Nassif (do GGN)
Para entender o nosso jogo de xadrez é importante clareza sobre um divisor de águas: a condução coercitiva de Lula a Congonhas.
Para o juiz, os procuradores justificaram que a intenção seria proteger a imagem e a integridade de Lula. Na nota oficial, os procuradores sustentam que pretenderam conferir a Lula o mesmo tratamento aplicado em 114 réus anteriores. Quem está enganando quem?
A operação fugiu do padrão escracho da Lava Jato. Lula foi conduzido em sigilo à sala VIP do aeroporto de Congonhas, na beira da pista, com um jatinho da Polícia Federal no hangar pronto para decolar.
Pesados todos os fatos e possibilidades, a hipótese mais robusta foi levantada por José Gregori, ex-Ministro da Justiça do governo FHC: a intenção era, de fato, prender Lula e conduzi-lo a Curitiba.
No interrogatório havia quatro delegados da PF e quatro procuradores. À medida que o tempo avançou e divulgou-se a localização de Lula, de dentro da sala era possível ouvir os urros da multidão do lado de fora.
Seja lá o que ocorreu, a ida de deputados do partido a Congonhas, a aglomeração de manifestantes, o fato é que não se consumou a operação.
No final do dia, um Sérgio Moro visivelmente assustado com os riscos da operação, soltou a nota oficial explicando que o pedido partiu dos procuradores, enfatizando a intenção de preservar a imagem e a integridade de Lula e lançando um apelo pela paz e pela concórdia.
Mesmo com a perspectiva de acirramento de conflitos de rua, os procuradores da Lava Jato trataram de botar mais óleo na fervura, soltando a nota em que desmentiam as razões invocadas por Moro e se comportavam como deuses ex-machina lançando raios do Olimpo.
A história reconhecerá no futuro a enorme contribuição do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima para expor a conspiração quase em tempo real. Seu estilo grosseiro, tosco, atropela e expõe uma estratégia muito mais refinada. Tão refinada que parece difícil que tivesse sido planejada em Curitiba.
A estratégia se completa com a matéria de ontem da Folha, de que a Lava Jato prepara um conjunto de ações de improbidade visando impedir Lula de concorrer novamente (http://migre.me/tbiYy), confirmando, aliás, os cenários que venho traçando.
Os dois comunicados, mais as informações adicionais, colocam, de uma vez, quatro peças a mais no nosso quebra-cabeças.
Peça 1 – A radicalização é alimentada pelos procuradores da Lava Jato.
Mais do que explicações, a nota oficial dos procuradores é um libelo, antecipando a peça final da acusação.
Peça 2 – Moro não é nem nunca foi o cérebro por trás da operação.
Uma operação dessa envergadura não poderia ter sido obra de um juiz de primeira instância, de um estado pouco relevante politicamente, conhecido por seu conservadorismo, rígido nas sentenças, mas tímido, tosco até fora dos limites dos autos. Foi só recuar para ser atropelado pela Força Tarefa.
Peça 3 – A Polícia Federal é um mero instrumento nas mãos dos procuradores.
Domingo, o Estadão publicou matéria condenando os abusos da operação, atribuindo-os à Polícia Federal. Ora, a PF limitou-se a cumprir um mandado requerido pelos procuradores e autorizado pelo juiz Moro. Já os procuradores formam um todo coeso, obedecendo a uma estratégia nítida: a inabilitação política de Lula.
Peça 4 – Em meio às turbulências políticas, houve o risco de confrontos entre manifestantes se alastrarem por todo o país. Um mero Procurador Regional de Curitiba pode definir, por si, a oportunidade de um libelo político com aquele grau de temperatura?
Aí cabem duas hipóteses:
Hipótese 1 – O Ministério Público Federal é um arquipélago formado por comitês, regionais independentes, cada qual com poderes de interferir até nos aspectos psicossociais do país, sem nenhuma forma de coordenação ou de controle interno.
Hipótese 2 – há um comando central, de nível hierárquico superior ao dos procuradores do Paraná.
Em qualquer hipótese se abre um enorme flanco na armadura institucional do Ministério Público. Quando o modelo de atuação torna o país refém de um juiz de 1a instância armado por procuradores regionais beligerantes, há algo de errado na história.
Para entender o jogo, vamos relembrar o histórico da perseguição a Lula.
A perseguição a Lula
As declarações reiteradas dos procuradores – que investigam fatos e não pessoas – foram desmentidas cabalmente pela última operação.
A perseguição a Lula pela Lava Jato começou em março do ano passado, em cima das investigações da Bancoop pelo Ministério Público Estadual (MPE).
O site Jota contou em detalhes essa história, em reportagem de Laura Diniz (http://migre.me/tbiZP).
Em março de 2015 o promotor José Carlos Blat, do MPE paulista, foi procurado por integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, para compartilhar informações. Em maio teriam surgido fatos novos em relação à Bancoop, OAS e o prédio de Guarujá. Blat comunicou à juíza Cristina Ribeiro Leite Costa, da 5a Vara Criminal da Capital. Em despacho de 10 de junho, a juíza informou que novas informações deveriam ser investigadas em separado.
Resolveu-se rapidamente o problema através de um artifício, uma Representação Criminal combinada com três escritórios de advocacia que já atuavam no caso Bancoop, dirigidas diretamente ao procurador – atropelando o conceito de promotor natural, aquele designado por sorteio..
Com o estratagema, o tríplex entrou na Lava Jato, diz a matéria. E “caídas literalmente do céu”, segundo a reportagem, as informações sobre a offshore Murray e a Mossak Fonseca, que serviram de pretexto para a Operação Triplo X.
Caíram do céu da mesma maneira que as informações iniciais sobre a Petrobras caindo no colo do juiz Moro.
Na mesma época, um obscuro deputado federal do PSDB do Acre pega matéria de Veja, que falava do sítio de Atibaia, com informações erradas – atribuindo as obras à OAS – e fez uma representação ao MPE paulista. O MPE recusou e encaminhou a representação para a Procuradoria Geral da República. No dia 15 de julho, o próprio PGR Rodrigo Janot encaminhou a Curitiba, abrindo o segundo duto de bombas contra Lula (http://migre.me/tbj0y).
Na nova etapa, a primeira investida foi sobre a Mossak Fonseca. A Força Tarefa invadiu os escritórios, deteve funcionários, recolheu computadores e e-mails. Pouco depois vazou a informação das ligações da Murray com a casa atribuída à família Marinho em Parati. Imediatamente a operação Mossak sumiu dos noticiários, os detidos foram imediatamente liberados, contradizendo todo o padrão da operação até então, demonstrando que a Lava Jato não investigava fatos, mas pessoas. Aliás, algumas pessoas.
A perseguição a Lula ficou mais nítida no dia 2 de fevereiro, por volta das 18 horas, quando quatro procuradores da Força Tarefa foram à casa do trabalhador Edivaldo Pereira Vieira. Eram eles, Athayde Ribeiro Costa, Roberto Henrique Pozzobon, Januario Paludo e Júlio Noronha.
Não tinham mandado, intimação, apenas suas carteiras de promotores e o autoconferido poder de investigar. Pressionaram, constrangeram e intimidaram Edivaldo, um sexagenário humilde, porque era irmão de Élcio Pereira Vieira, caseiro do Sítio Santa Bárbara – levado em condução coercitiva na 24a fase da Operação. Ao final dessa típica batida policial, os procuradores deixaram um telefone de Curitiba, para o caso de sua presa decidir "colaborar".
Finalmente, com a operação de sexta, se valeram do estratagema de envolver esposa e filhos de Lula, visando derrubar emocionalmente o adversário
No decorrer de todo o ano, os vazamentos da Lava Jato, planejados pelos Procuradores da República e Delegados Federais, lançaram no ar toda sorte de factoides.
Qualquer suspeita, por mais ridícula que fosse, era transformada em sentença condenatória, misturando fatos relevantes com bobagens monumentais. Essa mistura ajudou a alimentar dois sentimentos conflitantes. Nos especialistas, a convicção de que a Lava Jato perseguia pessoas, depois ia atrás de qualquer fato que incriminasse o alvo. Nos leigos a certeza de que havia um ladrão de galinhas no Planalto, pois até suspeitas de desaparecimento de estátuas e adagas foram ventilada pelo escoadouro montado na Lava Jato.
E aí alguns fatos incômodos começam a invadir o raciocínio. Toda a estratégia de mídia foi montada em Brasília, pela própria Procuradoria Geral da República, assim como o reforço da Força Tarefa e a ênfase na cooperação internacional.
Seria Janot responsável direto por todos esses absurdos, ou meramente abriu a porteira e perdeu o controle da boiada?
Vamos avançar no nosso quebra-cabeça, sem nenhum juízo de valor definitivo.
A Primavera brasileira no início de tudo
O ponto de partida foram as manifestações de junho de 2013, que deixaram claro que o Brasil estava preparado para a sua “Primavera”, a exemplo das que ocorreram nos países árabes e do leste europeu. Essa possibilidade alertou organismos de outros países, como o próprio FBI e acendeu alerta na Cooperação Internacional – a organização informal de procuradores e polícias federais de vários países, que se articularam a partir de 2002 para combate ao crime organizado.
Evidência: informação me foi confirmada por Jamil Chade, correspondente do Estadão em Genebra, para explicar porque o FBI decidiu só agora investir contra a FIFA. As manifestações teriam comprovado que a opinião pública brasileira estaria suficientemente madura para apoiar ações anticorrupção – e de interesse geopolítico dos EUA, claro.
Atenção - não significa que as primeiras manifestações foram articuladas de fora para dentro. O início foi de um grupo acima de qualquer suspeita, o MPL (Movimento Passe Livre). Foi a surpreendente adesão de todos os setores, da classe média à extrema esquerda que mostrou que a sede de participação, trazida pelas redes sociais, havia transbordado para as ruas. As manipulações das manifestações passam a ocorrer mais tarde devido à absoluta insensibilidade do governo Dilma e do proprio PT em entender o momento.
É a partir daí que, em contato com a cooperação internacional, começam a ser planejadas as duas grandes operações mundiais anticorrupção do momento: a Lava Jato, que visaria desmontar a quadrilha que se apossou da Petrobras e a do FBI contra quadrilha que se apossou da FIFA e da CBF.
Houve movimentos internos relevantes que antecederam o início do jogo. No bojo das manifestações de 2013 ficou nítida a parceria da Globo com o MPF.
Evidência - Do nada começaram a pipocar cartazes pedindo a derrubada da PEC 37 – que proibia procuradores de realizar investigações por conta própria. Os veículos da Globo passaram a dar cobertura exaustiva à campanha, ajudando na derrubada da PEC. Matérias no Jornal Nacional (http://migre.me/tbj1a e http://migre.me/tbj1I) conferindo dimensão nacional ao movimento. E propondo não apenas derrubar a PEC, como aprovar nova PEC que garantisse explicitamente o poder do MP de investigar (http://mcaf.ee/auivz5).
No mesmo mês de junho de 2013 surge outro fato revelador: o vazamento de informações da NSA (Agência de Segurança Nacional) pelo ex-técnico Edward Snowden.
Na primeira semana, foram vazados documentos de casos internos de espionagem. Depois, a espionagem sobre outros países. Na enxurrada de documentos vazados, fica-se sabendo que a NSA espionava preferencialmente a Petrobras.
De repente, um juiz de 1a instância em Curitiba, Sérgio Moro, tendo como fonte de informação apenas um doleiro, Alberto Yousseff, tem acesso a um enorme volume de informações sobre a Petrobras e consegue nacionalizar um processo regional.
Até hoje a Lava Jato não revelou como chegou às primeiras informações sobre a Petrobras, que permitiram expandir a operação para todo o país.
O que se viu, dali em diante, foram dois dutos de informação montados entre o MPF brasileiro e a cooperação Internacional: o duto da Lava Jato e o duto da FIFA. Pelo duto da Lava Jato vieram informações centrais para o desmantelamento da quadrilha da Petrobras. Já o duto da FIFA ficou obstruído. As informações de lá para cá esbarraram em uma mera juíza de 1a instância do Rio de Janeiro e até hoje não foram destravadas. E as informações daqui para lá não fluíram. Por todas as informações levantadas em Genebra, a Globo era peça central do esquema FIFA-CBF.
Depois disso, a cooperação internacional torna-se instrumento central nas investigações da Lava Jato. Mas nas investigações da FIFA, o braço brasileiro da cooperação internacional falha. A Globo está sendo poupada.
Evidência - A entrevista de Jamil Chade (http://migre.me/tbj35) informa o desagrado do FBI com a demora do MPF em atender às suas solicitações sobre a Globo. Diz ele: “Um dos únicos países que não colabora nesse caso (é o Brasil), ironia total. O craque que montou é brasileiro e parte fundamental atuação foi dos dirigentes brasileiros. O Departamento de Justiça já deixou muito claro ao Brasil que estava muito incomodado com essa falta de colaboração”.
A estratégia midiática da Lava Jato
Um levantamento sobre as intervenções norte-americanas nas Primaveras que sacudiram o Oriente Médio, mostra que todas elas vieram acompanhadas de uma estratégia de comunicação através das redes sociais. E com foco na corrupção e na defesa da democracia.
A Lava Jato foi montada seguindo todo o receituário das Primaveras. Receita pronta, ou recolhida de algum manual ou aulas particulares com especialistas.
1. Acesso a informações críticas sobre a quadrilha que atuava na Petrobras.
2. Identificação de algum inquérito regional que pudesse ser nacionalizado. Não havia nenhum melhor que Sérgio Moro, testado na AP 470 – como assessor da Ministra Rosa Weber – tendo atuado no caso Banestado.
3. Montagem imediata de um aparato de comunicação, contratando assessorias especiais, montando hotsites de maneira a potencializar as denúncias de corrupção. O que foi feito pela Procuradoria Geral da República.,
Outro know-how adquirido foi o da criação de personagens para atuar como polos nas batalhas pelas redes sociais.
Nas eleições de 2010, com seus consultores estrangeiros a campanha de Serra registrou pela primeira vez o uso científico das redes sociais. Criavam perfis fakes, capazes de galvanizar ilhas de influência no Twitter. Havia o jovem curitibano de vinte anos, vítima de uma doença fatal; o músico negro da periferia de São Paulo, capaz das maiores baixarias (aliás, o fato de conferir esse perfil a um músico e negro é indicativo do jogo conservador).
Na Lava Jato, investiram em duas imagens reais. Numa ponta, a imagem evangelizadora de rapaz do bem, o procurador Deltan Dallagnol; na outra, do homem mau, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, uma imagem tão marcadamente detestável que, infelizmente, será a imagem do MPF durante bons anos para grande parte da opinião pública.
Obviamente, não me refiro ao procurador, que nem conheço, mas à imagem propagada. O MPF não tem mais a cara dos procuradores que ajudaram a institucionalizar direitos sociais, democracia, direitos das minorias, a punir os crimes da ditadura. É de Carlos Fernando e seu olhar rútilo, de matador, a nova cara do MPF.
Nas redes sociais e movimentações de rua surgem, da noite para o dia, movimentos como o “Movimento Brasil Livre” e “Estudantes Pela Liberdade”. Constatou-se, com o tempo, que eram financiados pelo Charles Kock Institute, ONG de dois irmãos, Charles e David, herdeiros donos de uma das maiores fortunas dos Estados Unidos.
Os Kock ficaram conhecidos por financiar ONGs de ultradireita visando interferir na política norte-americana (http://migre.me/tbj3w). E tem obviamente ambições de ampliar seu império petrolífero explorando outras bacias fora dos EUA.
Para selar de vez a parceria com a cooperação internacional, o próprio PGR Rodrigo Janot foi aos Estados Unidos comandando uma equipe da Lava Jato para dois eventos controversos.
O primeiro, levar informações da Petrobras para possíveis processos conduzidos pelo Departamento de Justiça contra a estatal brasileira. O segundo trazer de lá informações que explodiram na Eletronuclear, depois de encontro com advogada do Departamento de Justiça ligada a escritório de advocacia que atende o segmento nuclear por lá.
A geopolítica da cooperação internacional
Desde os anos 70, a parceria com ditaduras militares mostrou-se inconveniente para a diplomacia norte-americana. De um lado, pela dificuldade em justifica-la perante a opinião pública liberal norte-americana. De outro, pelo fato dos governos militares terem nítido cunho nacionalista – como se viu com o governo Geisel, no Brasil, ou a ditadura militar argentina deflagrando a guerra das Malvinas.
Gradativamente, a diplomacia e as instituições norte-americana foram mudando o eixo, aproximando-se dos sistemas judiciários nacionais, das polícias federais, de procuradores e estimulando ONGs, especialmente aquelas voltadas para a defesa do meio-ambiente. A internacionalização da Justiça tornou-se um fator legitimador, para fortalecer outro polo de influência nos sistemas nacionais, acima dos partidos e do Congresso.
Tornou-se conhecido o modelo de desestabilização no Oriente Médio com as diversas primaveras nacionais. Insuflava-se a classe média com denúncias de corrupção. Seguiam-se as manifestações de rua que, devido ao clima de catarse criado, descambavam para a violência. Depois, a intervenção de alguma força visando trazer a ordem e implantar a democracia. Foi assim nas ações desastrosas no Iraque, Afeganistão e Líbia – conforme explicou o professor Moniz Bandeira em longa entrevista concedida esta manhã ao GGN. Em todos esses casos, desmontou-se um regime autoritário e deixou-se como herança o caos, a destruição de nações e regimes muito mais restritivos dos direitos individuais, quase todos marcadamente conservadores nos hábitos morais.
O problema está no lado oficial da história. E aí entra o papel da cooperação internacional na nova geopolítica do poder.
Desde a viagem de Janot aos Estados Unidos começamos a desconfiar que os EUA estavam se valendo dessa cooperação para impor suas estratégias geopolíticas.
A Lava Jato não pode mais ser vista como uma operação de investigação isolada. Ela é tudo o que gerou de forma associada, e teve a ajuda central de organismos internacionais – caso contrário jamais teria chegado às quadrilhas que operavam na Petrobras.
Ambos –operadores da Lava Jato e do Congresso - estão umbilicalmente ligados. No plano econômico e social, a contraparte da Lava Jato é a flexibilização da Lei do Petróleo e dos gastos sociais, acabando de vez com o legado social dos últimos governos.
Evidências – as operações de impacto da Lava Jato sempre caíram como uma luva, sincronizadas com as estratégias de impeachment seja no Congresso seja em dobradinha com Gilmar Mendes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Toda a pressão em cima de Dilma têm, do lado político-econômico, a intenção precípua de obter concessões nas áreas de petróleo e de gastos sociais.
No plano social, a Lava Jato conseguiu despertar a comoção popular, o afloramento de uma ideologia da classe média, ultraconservadora e intolerante, muito longe da vitalidade juvenil do MPL. No plano econômico, além da flexibilização da lei do pré-sal e do fim dos gastos sociais obrigatórios, ganhou corpo a criminalização das estratégias de desenvolvimento autóctone – como o avanço diplomático na África e o financiamento às exportações, as políticas de conteúdo nacional (que podem ser liquidadas com o fim da Lei do pré-sal.
Ou seja, não dá para desvencilhar a Lava Jato de todo esse leque de princípios ultraconservadores e ultraliberais. Fazem parte do mesmo pacote político.
Na falta de estudos mais apurados sobre o tema, alguns comentaristas julgaram estar frente a uma dessas teorias conspiratórias que povoa o universo das redes sociais.
No Brasilianas de ontem, o professor Luiz Felipe de Alencastro (recém aposentado da Universidade de Sorbonne) informou que nas últimas semanas, o tema ganhou repercussão nos círculos acadêmicos internacionais.
Em breve, a Lava Jato deixará de ser estudada meramente como uma imensa operação anticorrupção para se transformar em um case sobre as estratégias geopolíticas norte-americanas na era das redes sociais, da globalização e da alta tecnologia.
O presidencialismo de coalizão do MPF
E aí se entram nas questões internas do Ministério Público Federal.
Trata-se de uma organização admirável que, desde a Constituição de 1988, foi protagonista de inúmeros avanços civilizatórios no país.
Com o tempo, algumas de suas maiores virtudes – como a independência de cada procurador – transformaram-se em alguns dos seus maiores problemas. A sucessão de representações contra Lula, partindo de todos os cantos, mostra que, hoje em dia, qualquer procurador que queira participar do jogo político basta pegar um factoide qualquer e transformar em representação, valendo-se do poder que lhe foi conferido pela Constituição. E nada acontecerá com ele, sequer o repúdio dos colegas.
Os procuradores se organizam em grupos, de acordo com suas convicções e áreas de atuação. Há desde grupos envolvidos com direitos humanos até os que atuam na área criminal. E há, também, uma enorme gana de protagonismo político por parte de alguns grupos, de participar de cargos executivos, a exemplo de colegas de MPs estaduais.
Quando Lula sancionou a eleição direta para escolha do PGR, abriu a caixa de Pandora. Os candidatos são indicados pela ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República) – que representa apenas uma classe de procuradores e é uma associação sindical, de defesa dos interesses corporativos da classe. Não participam os procuradores estaduais, os dos Tribunais de Contas, os militares.
Recentemente, o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) avançou na questão de permitir que procuradores ocupem cargos no Executivo – hipótese vedada pelo STF.
Na própria campanha eleitoral, os candidatos a PGR vão firmando acordos políticos capazes de viabilizar sua eleição. E, com isso, diluindo poder e capacidade de intervir em abusos.
Em Brasília, há integrantes isentos do Judiciário que defendem Janot, consideram-no uma pessoa equilibrada e responsável. Sustentam que ele perdeu o controle da situação. Ou seja, abriu a caixa de Pandora quando estimulou o vazamento da Lava Jato e agora não conseguiria controlar sua tropa.
Mas há um conjunto de atos e omissões inexplicáveis:
1. A visita aos EUA levando informações da Petrobras e trazendo da Eletronorte.
2. A blindagem ao senador Aécio Neves. Na única vez que conversei com Janot ele assegurou que até abril (do ano passado) daria parecer no inquérito que investiga contas de Aécio em Liechtenstein. Não só não desengavetou como desqualificou três delações sobre ele.
3. A incapacidade de conduzir um inquérito sequer sobre as Organizações Globo.
Será possível que, com a enorme capacidade jurídica acumulada entre seus procuradores mais velhos, com as inúmeras referências de direitos humanos, cidadania, responsabilidade para com o Estado brasileiro, o Ministério Público Federal tenha se transformado em uma corporação dominada pelo sindicalismo?
É a última incógnita desses tempos turbulentos. Todas as demais peças já foram devidamente encaixadas.
Para entender o nosso jogo de xadrez é importante clareza sobre um divisor de águas: a condução coercitiva de Lula a Congonhas.
Para o juiz, os procuradores justificaram que a intenção seria proteger a imagem e a integridade de Lula. Na nota oficial, os procuradores sustentam que pretenderam conferir a Lula o mesmo tratamento aplicado em 114 réus anteriores. Quem está enganando quem?
A operação fugiu do padrão escracho da Lava Jato. Lula foi conduzido em sigilo à sala VIP do aeroporto de Congonhas, na beira da pista, com um jatinho da Polícia Federal no hangar pronto para decolar.
Pesados todos os fatos e possibilidades, a hipótese mais robusta foi levantada por José Gregori, ex-Ministro da Justiça do governo FHC: a intenção era, de fato, prender Lula e conduzi-lo a Curitiba.
No interrogatório havia quatro delegados da PF e quatro procuradores. À medida que o tempo avançou e divulgou-se a localização de Lula, de dentro da sala era possível ouvir os urros da multidão do lado de fora.
Seja lá o que ocorreu, a ida de deputados do partido a Congonhas, a aglomeração de manifestantes, o fato é que não se consumou a operação.
No final do dia, um Sérgio Moro visivelmente assustado com os riscos da operação, soltou a nota oficial explicando que o pedido partiu dos procuradores, enfatizando a intenção de preservar a imagem e a integridade de Lula e lançando um apelo pela paz e pela concórdia.
Mesmo com a perspectiva de acirramento de conflitos de rua, os procuradores da Lava Jato trataram de botar mais óleo na fervura, soltando a nota em que desmentiam as razões invocadas por Moro e se comportavam como deuses ex-machina lançando raios do Olimpo.
A história reconhecerá no futuro a enorme contribuição do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima para expor a conspiração quase em tempo real. Seu estilo grosseiro, tosco, atropela e expõe uma estratégia muito mais refinada. Tão refinada que parece difícil que tivesse sido planejada em Curitiba.
A estratégia se completa com a matéria de ontem da Folha, de que a Lava Jato prepara um conjunto de ações de improbidade visando impedir Lula de concorrer novamente (http://migre.me/tbiYy), confirmando, aliás, os cenários que venho traçando.
Os dois comunicados, mais as informações adicionais, colocam, de uma vez, quatro peças a mais no nosso quebra-cabeças.
Peça 1 – A radicalização é alimentada pelos procuradores da Lava Jato.
Mais do que explicações, a nota oficial dos procuradores é um libelo, antecipando a peça final da acusação.
Peça 2 – Moro não é nem nunca foi o cérebro por trás da operação.
Uma operação dessa envergadura não poderia ter sido obra de um juiz de primeira instância, de um estado pouco relevante politicamente, conhecido por seu conservadorismo, rígido nas sentenças, mas tímido, tosco até fora dos limites dos autos. Foi só recuar para ser atropelado pela Força Tarefa.
Peça 3 – A Polícia Federal é um mero instrumento nas mãos dos procuradores.
Domingo, o Estadão publicou matéria condenando os abusos da operação, atribuindo-os à Polícia Federal. Ora, a PF limitou-se a cumprir um mandado requerido pelos procuradores e autorizado pelo juiz Moro. Já os procuradores formam um todo coeso, obedecendo a uma estratégia nítida: a inabilitação política de Lula.
Peça 4 – Em meio às turbulências políticas, houve o risco de confrontos entre manifestantes se alastrarem por todo o país. Um mero Procurador Regional de Curitiba pode definir, por si, a oportunidade de um libelo político com aquele grau de temperatura?
Aí cabem duas hipóteses:
Hipótese 1 – O Ministério Público Federal é um arquipélago formado por comitês, regionais independentes, cada qual com poderes de interferir até nos aspectos psicossociais do país, sem nenhuma forma de coordenação ou de controle interno.
Hipótese 2 – há um comando central, de nível hierárquico superior ao dos procuradores do Paraná.
Em qualquer hipótese se abre um enorme flanco na armadura institucional do Ministério Público. Quando o modelo de atuação torna o país refém de um juiz de 1a instância armado por procuradores regionais beligerantes, há algo de errado na história.
Para entender o jogo, vamos relembrar o histórico da perseguição a Lula.
A perseguição a Lula
As declarações reiteradas dos procuradores – que investigam fatos e não pessoas – foram desmentidas cabalmente pela última operação.
A perseguição a Lula pela Lava Jato começou em março do ano passado, em cima das investigações da Bancoop pelo Ministério Público Estadual (MPE).
O site Jota contou em detalhes essa história, em reportagem de Laura Diniz (http://migre.me/tbiZP).
Em março de 2015 o promotor José Carlos Blat, do MPE paulista, foi procurado por integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, para compartilhar informações. Em maio teriam surgido fatos novos em relação à Bancoop, OAS e o prédio de Guarujá. Blat comunicou à juíza Cristina Ribeiro Leite Costa, da 5a Vara Criminal da Capital. Em despacho de 10 de junho, a juíza informou que novas informações deveriam ser investigadas em separado.
Resolveu-se rapidamente o problema através de um artifício, uma Representação Criminal combinada com três escritórios de advocacia que já atuavam no caso Bancoop, dirigidas diretamente ao procurador – atropelando o conceito de promotor natural, aquele designado por sorteio..
Com o estratagema, o tríplex entrou na Lava Jato, diz a matéria. E “caídas literalmente do céu”, segundo a reportagem, as informações sobre a offshore Murray e a Mossak Fonseca, que serviram de pretexto para a Operação Triplo X.
Caíram do céu da mesma maneira que as informações iniciais sobre a Petrobras caindo no colo do juiz Moro.
Na mesma época, um obscuro deputado federal do PSDB do Acre pega matéria de Veja, que falava do sítio de Atibaia, com informações erradas – atribuindo as obras à OAS – e fez uma representação ao MPE paulista. O MPE recusou e encaminhou a representação para a Procuradoria Geral da República. No dia 15 de julho, o próprio PGR Rodrigo Janot encaminhou a Curitiba, abrindo o segundo duto de bombas contra Lula (http://migre.me/tbj0y).
Na nova etapa, a primeira investida foi sobre a Mossak Fonseca. A Força Tarefa invadiu os escritórios, deteve funcionários, recolheu computadores e e-mails. Pouco depois vazou a informação das ligações da Murray com a casa atribuída à família Marinho em Parati. Imediatamente a operação Mossak sumiu dos noticiários, os detidos foram imediatamente liberados, contradizendo todo o padrão da operação até então, demonstrando que a Lava Jato não investigava fatos, mas pessoas. Aliás, algumas pessoas.
A perseguição a Lula ficou mais nítida no dia 2 de fevereiro, por volta das 18 horas, quando quatro procuradores da Força Tarefa foram à casa do trabalhador Edivaldo Pereira Vieira. Eram eles, Athayde Ribeiro Costa, Roberto Henrique Pozzobon, Januario Paludo e Júlio Noronha.
Não tinham mandado, intimação, apenas suas carteiras de promotores e o autoconferido poder de investigar. Pressionaram, constrangeram e intimidaram Edivaldo, um sexagenário humilde, porque era irmão de Élcio Pereira Vieira, caseiro do Sítio Santa Bárbara – levado em condução coercitiva na 24a fase da Operação. Ao final dessa típica batida policial, os procuradores deixaram um telefone de Curitiba, para o caso de sua presa decidir "colaborar".
Finalmente, com a operação de sexta, se valeram do estratagema de envolver esposa e filhos de Lula, visando derrubar emocionalmente o adversário
No decorrer de todo o ano, os vazamentos da Lava Jato, planejados pelos Procuradores da República e Delegados Federais, lançaram no ar toda sorte de factoides.
Qualquer suspeita, por mais ridícula que fosse, era transformada em sentença condenatória, misturando fatos relevantes com bobagens monumentais. Essa mistura ajudou a alimentar dois sentimentos conflitantes. Nos especialistas, a convicção de que a Lava Jato perseguia pessoas, depois ia atrás de qualquer fato que incriminasse o alvo. Nos leigos a certeza de que havia um ladrão de galinhas no Planalto, pois até suspeitas de desaparecimento de estátuas e adagas foram ventilada pelo escoadouro montado na Lava Jato.
E aí alguns fatos incômodos começam a invadir o raciocínio. Toda a estratégia de mídia foi montada em Brasília, pela própria Procuradoria Geral da República, assim como o reforço da Força Tarefa e a ênfase na cooperação internacional.
Seria Janot responsável direto por todos esses absurdos, ou meramente abriu a porteira e perdeu o controle da boiada?
Vamos avançar no nosso quebra-cabeça, sem nenhum juízo de valor definitivo.
A Primavera brasileira no início de tudo
O ponto de partida foram as manifestações de junho de 2013, que deixaram claro que o Brasil estava preparado para a sua “Primavera”, a exemplo das que ocorreram nos países árabes e do leste europeu. Essa possibilidade alertou organismos de outros países, como o próprio FBI e acendeu alerta na Cooperação Internacional – a organização informal de procuradores e polícias federais de vários países, que se articularam a partir de 2002 para combate ao crime organizado.
Evidência: informação me foi confirmada por Jamil Chade, correspondente do Estadão em Genebra, para explicar porque o FBI decidiu só agora investir contra a FIFA. As manifestações teriam comprovado que a opinião pública brasileira estaria suficientemente madura para apoiar ações anticorrupção – e de interesse geopolítico dos EUA, claro.
Atenção - não significa que as primeiras manifestações foram articuladas de fora para dentro. O início foi de um grupo acima de qualquer suspeita, o MPL (Movimento Passe Livre). Foi a surpreendente adesão de todos os setores, da classe média à extrema esquerda que mostrou que a sede de participação, trazida pelas redes sociais, havia transbordado para as ruas. As manipulações das manifestações passam a ocorrer mais tarde devido à absoluta insensibilidade do governo Dilma e do proprio PT em entender o momento.
É a partir daí que, em contato com a cooperação internacional, começam a ser planejadas as duas grandes operações mundiais anticorrupção do momento: a Lava Jato, que visaria desmontar a quadrilha que se apossou da Petrobras e a do FBI contra quadrilha que se apossou da FIFA e da CBF.
Houve movimentos internos relevantes que antecederam o início do jogo. No bojo das manifestações de 2013 ficou nítida a parceria da Globo com o MPF.
Evidência - Do nada começaram a pipocar cartazes pedindo a derrubada da PEC 37 – que proibia procuradores de realizar investigações por conta própria. Os veículos da Globo passaram a dar cobertura exaustiva à campanha, ajudando na derrubada da PEC. Matérias no Jornal Nacional (http://migre.me/tbj1a e http://migre.me/tbj1I) conferindo dimensão nacional ao movimento. E propondo não apenas derrubar a PEC, como aprovar nova PEC que garantisse explicitamente o poder do MP de investigar (http://mcaf.ee/auivz5).
No mesmo mês de junho de 2013 surge outro fato revelador: o vazamento de informações da NSA (Agência de Segurança Nacional) pelo ex-técnico Edward Snowden.
Na primeira semana, foram vazados documentos de casos internos de espionagem. Depois, a espionagem sobre outros países. Na enxurrada de documentos vazados, fica-se sabendo que a NSA espionava preferencialmente a Petrobras.
De repente, um juiz de 1a instância em Curitiba, Sérgio Moro, tendo como fonte de informação apenas um doleiro, Alberto Yousseff, tem acesso a um enorme volume de informações sobre a Petrobras e consegue nacionalizar um processo regional.
Até hoje a Lava Jato não revelou como chegou às primeiras informações sobre a Petrobras, que permitiram expandir a operação para todo o país.
O que se viu, dali em diante, foram dois dutos de informação montados entre o MPF brasileiro e a cooperação Internacional: o duto da Lava Jato e o duto da FIFA. Pelo duto da Lava Jato vieram informações centrais para o desmantelamento da quadrilha da Petrobras. Já o duto da FIFA ficou obstruído. As informações de lá para cá esbarraram em uma mera juíza de 1a instância do Rio de Janeiro e até hoje não foram destravadas. E as informações daqui para lá não fluíram. Por todas as informações levantadas em Genebra, a Globo era peça central do esquema FIFA-CBF.
Depois disso, a cooperação internacional torna-se instrumento central nas investigações da Lava Jato. Mas nas investigações da FIFA, o braço brasileiro da cooperação internacional falha. A Globo está sendo poupada.
Evidência - A entrevista de Jamil Chade (http://migre.me/tbj35) informa o desagrado do FBI com a demora do MPF em atender às suas solicitações sobre a Globo. Diz ele: “Um dos únicos países que não colabora nesse caso (é o Brasil), ironia total. O craque que montou é brasileiro e parte fundamental atuação foi dos dirigentes brasileiros. O Departamento de Justiça já deixou muito claro ao Brasil que estava muito incomodado com essa falta de colaboração”.
A estratégia midiática da Lava Jato
Um levantamento sobre as intervenções norte-americanas nas Primaveras que sacudiram o Oriente Médio, mostra que todas elas vieram acompanhadas de uma estratégia de comunicação através das redes sociais. E com foco na corrupção e na defesa da democracia.
A Lava Jato foi montada seguindo todo o receituário das Primaveras. Receita pronta, ou recolhida de algum manual ou aulas particulares com especialistas.
1. Acesso a informações críticas sobre a quadrilha que atuava na Petrobras.
2. Identificação de algum inquérito regional que pudesse ser nacionalizado. Não havia nenhum melhor que Sérgio Moro, testado na AP 470 – como assessor da Ministra Rosa Weber – tendo atuado no caso Banestado.
3. Montagem imediata de um aparato de comunicação, contratando assessorias especiais, montando hotsites de maneira a potencializar as denúncias de corrupção. O que foi feito pela Procuradoria Geral da República.,
Outro know-how adquirido foi o da criação de personagens para atuar como polos nas batalhas pelas redes sociais.
Nas eleições de 2010, com seus consultores estrangeiros a campanha de Serra registrou pela primeira vez o uso científico das redes sociais. Criavam perfis fakes, capazes de galvanizar ilhas de influência no Twitter. Havia o jovem curitibano de vinte anos, vítima de uma doença fatal; o músico negro da periferia de São Paulo, capaz das maiores baixarias (aliás, o fato de conferir esse perfil a um músico e negro é indicativo do jogo conservador).
Na Lava Jato, investiram em duas imagens reais. Numa ponta, a imagem evangelizadora de rapaz do bem, o procurador Deltan Dallagnol; na outra, do homem mau, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, uma imagem tão marcadamente detestável que, infelizmente, será a imagem do MPF durante bons anos para grande parte da opinião pública.
Obviamente, não me refiro ao procurador, que nem conheço, mas à imagem propagada. O MPF não tem mais a cara dos procuradores que ajudaram a institucionalizar direitos sociais, democracia, direitos das minorias, a punir os crimes da ditadura. É de Carlos Fernando e seu olhar rútilo, de matador, a nova cara do MPF.
Nas redes sociais e movimentações de rua surgem, da noite para o dia, movimentos como o “Movimento Brasil Livre” e “Estudantes Pela Liberdade”. Constatou-se, com o tempo, que eram financiados pelo Charles Kock Institute, ONG de dois irmãos, Charles e David, herdeiros donos de uma das maiores fortunas dos Estados Unidos.
Os Kock ficaram conhecidos por financiar ONGs de ultradireita visando interferir na política norte-americana (http://migre.me/tbj3w). E tem obviamente ambições de ampliar seu império petrolífero explorando outras bacias fora dos EUA.
Para selar de vez a parceria com a cooperação internacional, o próprio PGR Rodrigo Janot foi aos Estados Unidos comandando uma equipe da Lava Jato para dois eventos controversos.
O primeiro, levar informações da Petrobras para possíveis processos conduzidos pelo Departamento de Justiça contra a estatal brasileira. O segundo trazer de lá informações que explodiram na Eletronuclear, depois de encontro com advogada do Departamento de Justiça ligada a escritório de advocacia que atende o segmento nuclear por lá.
A geopolítica da cooperação internacional
Desde os anos 70, a parceria com ditaduras militares mostrou-se inconveniente para a diplomacia norte-americana. De um lado, pela dificuldade em justifica-la perante a opinião pública liberal norte-americana. De outro, pelo fato dos governos militares terem nítido cunho nacionalista – como se viu com o governo Geisel, no Brasil, ou a ditadura militar argentina deflagrando a guerra das Malvinas.
Gradativamente, a diplomacia e as instituições norte-americana foram mudando o eixo, aproximando-se dos sistemas judiciários nacionais, das polícias federais, de procuradores e estimulando ONGs, especialmente aquelas voltadas para a defesa do meio-ambiente. A internacionalização da Justiça tornou-se um fator legitimador, para fortalecer outro polo de influência nos sistemas nacionais, acima dos partidos e do Congresso.
Tornou-se conhecido o modelo de desestabilização no Oriente Médio com as diversas primaveras nacionais. Insuflava-se a classe média com denúncias de corrupção. Seguiam-se as manifestações de rua que, devido ao clima de catarse criado, descambavam para a violência. Depois, a intervenção de alguma força visando trazer a ordem e implantar a democracia. Foi assim nas ações desastrosas no Iraque, Afeganistão e Líbia – conforme explicou o professor Moniz Bandeira em longa entrevista concedida esta manhã ao GGN. Em todos esses casos, desmontou-se um regime autoritário e deixou-se como herança o caos, a destruição de nações e regimes muito mais restritivos dos direitos individuais, quase todos marcadamente conservadores nos hábitos morais.
O problema está no lado oficial da história. E aí entra o papel da cooperação internacional na nova geopolítica do poder.
Desde a viagem de Janot aos Estados Unidos começamos a desconfiar que os EUA estavam se valendo dessa cooperação para impor suas estratégias geopolíticas.
A Lava Jato não pode mais ser vista como uma operação de investigação isolada. Ela é tudo o que gerou de forma associada, e teve a ajuda central de organismos internacionais – caso contrário jamais teria chegado às quadrilhas que operavam na Petrobras.
Ambos –operadores da Lava Jato e do Congresso - estão umbilicalmente ligados. No plano econômico e social, a contraparte da Lava Jato é a flexibilização da Lei do Petróleo e dos gastos sociais, acabando de vez com o legado social dos últimos governos.
Evidências – as operações de impacto da Lava Jato sempre caíram como uma luva, sincronizadas com as estratégias de impeachment seja no Congresso seja em dobradinha com Gilmar Mendes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Toda a pressão em cima de Dilma têm, do lado político-econômico, a intenção precípua de obter concessões nas áreas de petróleo e de gastos sociais.
No plano social, a Lava Jato conseguiu despertar a comoção popular, o afloramento de uma ideologia da classe média, ultraconservadora e intolerante, muito longe da vitalidade juvenil do MPL. No plano econômico, além da flexibilização da lei do pré-sal e do fim dos gastos sociais obrigatórios, ganhou corpo a criminalização das estratégias de desenvolvimento autóctone – como o avanço diplomático na África e o financiamento às exportações, as políticas de conteúdo nacional (que podem ser liquidadas com o fim da Lei do pré-sal.
Ou seja, não dá para desvencilhar a Lava Jato de todo esse leque de princípios ultraconservadores e ultraliberais. Fazem parte do mesmo pacote político.
Na falta de estudos mais apurados sobre o tema, alguns comentaristas julgaram estar frente a uma dessas teorias conspiratórias que povoa o universo das redes sociais.
No Brasilianas de ontem, o professor Luiz Felipe de Alencastro (recém aposentado da Universidade de Sorbonne) informou que nas últimas semanas, o tema ganhou repercussão nos círculos acadêmicos internacionais.
Em breve, a Lava Jato deixará de ser estudada meramente como uma imensa operação anticorrupção para se transformar em um case sobre as estratégias geopolíticas norte-americanas na era das redes sociais, da globalização e da alta tecnologia.
O presidencialismo de coalizão do MPF
E aí se entram nas questões internas do Ministério Público Federal.
Trata-se de uma organização admirável que, desde a Constituição de 1988, foi protagonista de inúmeros avanços civilizatórios no país.
Com o tempo, algumas de suas maiores virtudes – como a independência de cada procurador – transformaram-se em alguns dos seus maiores problemas. A sucessão de representações contra Lula, partindo de todos os cantos, mostra que, hoje em dia, qualquer procurador que queira participar do jogo político basta pegar um factoide qualquer e transformar em representação, valendo-se do poder que lhe foi conferido pela Constituição. E nada acontecerá com ele, sequer o repúdio dos colegas.
Os procuradores se organizam em grupos, de acordo com suas convicções e áreas de atuação. Há desde grupos envolvidos com direitos humanos até os que atuam na área criminal. E há, também, uma enorme gana de protagonismo político por parte de alguns grupos, de participar de cargos executivos, a exemplo de colegas de MPs estaduais.
Quando Lula sancionou a eleição direta para escolha do PGR, abriu a caixa de Pandora. Os candidatos são indicados pela ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República) – que representa apenas uma classe de procuradores e é uma associação sindical, de defesa dos interesses corporativos da classe. Não participam os procuradores estaduais, os dos Tribunais de Contas, os militares.
Recentemente, o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) avançou na questão de permitir que procuradores ocupem cargos no Executivo – hipótese vedada pelo STF.
Na própria campanha eleitoral, os candidatos a PGR vão firmando acordos políticos capazes de viabilizar sua eleição. E, com isso, diluindo poder e capacidade de intervir em abusos.
Em Brasília, há integrantes isentos do Judiciário que defendem Janot, consideram-no uma pessoa equilibrada e responsável. Sustentam que ele perdeu o controle da situação. Ou seja, abriu a caixa de Pandora quando estimulou o vazamento da Lava Jato e agora não conseguiria controlar sua tropa.
Mas há um conjunto de atos e omissões inexplicáveis:
1. A visita aos EUA levando informações da Petrobras e trazendo da Eletronorte.
2. A blindagem ao senador Aécio Neves. Na única vez que conversei com Janot ele assegurou que até abril (do ano passado) daria parecer no inquérito que investiga contas de Aécio em Liechtenstein. Não só não desengavetou como desqualificou três delações sobre ele.
3. A incapacidade de conduzir um inquérito sequer sobre as Organizações Globo.
Será possível que, com a enorme capacidade jurídica acumulada entre seus procuradores mais velhos, com as inúmeras referências de direitos humanos, cidadania, responsabilidade para com o Estado brasileiro, o Ministério Público Federal tenha se transformado em uma corporação dominada pelo sindicalismo?
É a última incógnita desses tempos turbulentos. Todas as demais peças já foram devidamente encaixadas.
O golpe nas ruas. Já sem máscara. Polícia invade sindicato
por Gilson AS (publicado no site GGN)
Denúncia:
Como nos tempos da Ditadura Militar polícia de Alckmin invade plenária em Diadema.
Nem a presença de deputados petistas como Vicentinho impediu a ilegalidade cometida hoje pela PM paulista na Sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em Diadema.
Seguem os relatos:
Relato de Luiz Fernando:
"Houve uma situação que nos lembrou-o período de exceção e reflete o momento que passamos hoje: dois PMs, um tenente e um soldado invadiram a plenária, armados de revólveres e metralhadora, argumentando que queriam saber o que estava acontecendo no local.
Logo após chegaram ao local muitas viaturas posicionadas fechando a rua em frente ao prédio do sindicato, e PMs armados com metralhadoras e revólveres. Parecia uma praça de guerra do lado de fora.
Estávamos eu, o Barba e o Luiz Turco, juntamente com a diretoria do Sindicato a cobrar explicação dos policiais e ficou claro: foram ali para intimidar. Infelizmente, a polícia tucana a serviço da tentativa de golpe. A coisa tá braba!!”
Relato de Luiz Turco:
"Estávamos na plenária em solidariedade ao Filipi e ao Lula, quando fomos surpreendidos com a entrada da polícia.
Na verdade isso faz parte de todo processo de pressão que vem pela frente.
O diretor do sindicato colocou os policiais em uma sala até que eu o Barba e Luiz Fernando fomos conversar com eles para saber o motivo daquilo.
Eles disseram que ficaram sabendo que era uma reunião em apoio o Lula e foram até lá. O maior absurdo! A coisa está feia.
Conclusão: o sindicato ficou cercado pela polícia. Os PM estavam armados até os dentes, metralhadora e tudo!
No fim conseguimos negociar com eles e aí foram embora. Porém, antes anotaram os documentos meu e do Luiz Fernando e nós anotamos os deles também. Vamos tomar providências legais.
A plenária seguiu foi ótima!
sexta-feira, 11 de março de 2016
Heil Trump!
Tem tanta gente comparando Donald Trump a Adolf Hitler que a comediante Sarah Silverman resolveu ligar o figurino à pessoa. Ela foi ao programa do Conan O' Brien vestida de "Hitler". Outro comediante, Louis C K, mandou um email para a Variety alertando que Trump já deixou de ser engraçado como parecia no começo da campanha. "Esse cara é Hitler. E com isso quero dizer que podemos voltar à Alemanha dos anos 30", disse, lembrando que, na época, muitos achavam engraçadinhos o bigode e o penteado do líder nazista, assim como o penteado do Trump provoca risos. Para C K, o teatro gestual do pré-candidato republicano já não disfarça ideias insanas. "Por favor, parem de votar no Trump. É um cara perigoso", diz.
Para a Stylist chegou a hora de a Casa Branca ser comandada por uma mulher
por Clara S. Britto
A mais recente edição da Stylist deixou muito claro que está na hora de a Casa Branca ter uma mulher no comando. A chamada não diz, mas Hillary Clinton é a bola da vez. Se isso acontecer, também será a primeira vez que um ex-presidente (Bill Clinton) voltará a morar na Casa Branca como coadjuvante. Espera-se que, nesse papel, ele não apronte de novo com estagiárias no Salão Oval. Afinal, Hillary volta como a dona de casa mais poderosa do mundo.
E se o golpe se consumar?
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Reprodução/Tijolaço |
O golpe sai às ruas neste domingo - e já está tecnicamente dado.
Faltam detalhes e a certidão.
Se consumado, o Brasil voltará às mãos de quem sempre o infelicitou.
Doutores, bacharéis, sebosos letrados.
Picaretas provincianos.
Clérigos enriquecidos.
Mauricinhos e dondocas.
Mervais, Constantinos, Olavos e Ataulfos.
Radicais de esquerda.
Pelo que se vê na Argentina, a primeira medida será queimar os US$ 370 bi de reservas e pedir mais outro tanto emprestado, com juros elevados que ninguém no mundo paga.
Dólar barato, ponte aérea para Miami, Los Angeles e Nova York.
Campanhas de alerta quanto ao perigo do imperialismo chinês e do neocomunismo russo.
Encolher a Petrobrás até sumir. Entregar as reservas do pré-sal às empresas anglo-americanas.
Parar Belo Monte e qualquer obra que implique incorporação econômica da Amazônia ao Brasil.
Entregar para não integrar.
Alinhamento automático com a "pujante economia do Ocidente".
Forte transferência de recursos públicos para os oligopólios de mídia.
Concentração das acusações de corrupção em pessoas e empresas ligadas de alguma forma ao governo nos últimos anos.
Fim do emprego, corte dos "privilégios trabalhistas", regulação do trabalho pelo Código Civil. Toda força à negociação sindical por empresa. Congelamento do salário mínimo.
Aplicação dos recursos orçamentários para educação e saúde via empresas privadas do ramo, na forma desregulamentada de "organizações sociais". Fim da gratuidade no ensino superior.
Algumas coisas serão oferecidas à esquerda: expansão das áreas ocupadas por "nações" indígenas, reflorestamento de áreas agriculturáveis, combate aos agrotóxicos, contenção do agronegócio, subsídio a atividades culturais selecionadas (filmes, peças de teatro, festivais ), apoio às minorias culturais e tolerância com comportamentos incomuns - qualquer coisa, por mais crítica que seja, desde que não envolva conflitos de classe social. Dessa perspectiva, ampla liberdade.
As forças armadas poderão comprar, se quiserem, brinquedos bélicos de último modelo e talvez sejam admitidas em campanhas secundárias em guerras que virão em breve. Por ora, cuidarão do contrabando de fronteira.
Com o dinheiro dos empréstimos, haverá forte incentivo ao consumo e à importação de bens sofisticados, embelezamento das cidades e clima de euforia nos lugares mais visíveis.
Até se completar o ciclo.
Cinco anos, hoje. E Fukushima ainda é um acidente nuclear ativo e em andamento...
por Jean-Paul Lagarride
O Japão tem uma forte tradição de isolamento frente à comunidade internacional. Foi apenas em 1853, após dois séculos de fronteiras absolutamente fechadas, que o país recebeu quatro navios americanos. Na décadas seguintes, passou por uma lenta mudança do feudalismo para algo que se aproximasse de uma sociedade capaz de permitir aos seus cidadãos mínimos direitos, como circular livremente.
Tornou-se uma grande nação especialmente após a Segunda Guerra Mundial quando foi beneficiado pela Guerra Fria. Em nome da geopolítica, os americanos deixaram de condenar um criminoso de guerra - o imperador Hiríoto - sob cuja responsabilidade o Japão praticou carnificina, estupros coletivos em cidades invadidas na China e torturas e violências inimagináveis durante o conflito no Pacífico.
Por temer a influência da URSS e da China na região, os Estados Unidos despejaram os bilhões de dólares que impulsionaram a recuperação do antigo inimigo. Em troca, o Japão recebeu bases militares e assumiu o compromisso de tornar-se aliado incondicional de Washington. Mesmo assim, não perdeu algumas características milenares de isolamento. Não mais no plano geográfico, mas agora em relação a muitas demandas internacionais.
O Japão se, recusa, por exemplo, a interromper a caça à baleia. Ao contrário, abre novas frentes de extermínio agora na Antártida, desafiando tratados diplomáticos.
O país também pratica uma política de extermínio de tubarões por acreditar que sua barbatanas têm um poderoso efeito-viagra. Há um lobby no Congresso japonês que reúne deputados da "bancada da baleia", corrompidos pela indústria, e que aprova até subsídios crescentes para os autores da matança de baleias e tubarões.
No caso do acidente nuclear de Fukushima, o Japão reacendeu a velha síndrome do isolamento e tem mostrado desprezo pelas consequências no mundo. Cinco anos depois, o governo continua subestimando os níveis de radioatividade, a usina permanece vazando água contaminada no Pacífico e no lençol freático. Sem falar que a empresa proprietária não sabe o que fazer com 320 mil toneladas de água contaminada armazenada em tanques precários (um deles já vazou para o oceano).
O Greenpeace divulgará em breve um estudo sobre o impacto ambiental do acidente. Mas já se sabe que denunciará elevadas concentrações de radiação, mutação em árvores e animais, alterações no pólen etc.
Apesar disso, o governo japonês pressiona a comunidade internacional para suspender a proibição de exportação de alimentos (agricultura, pecuária e pesca) produzidos nas zonas que foram contaminadas.
O mais grave: em 2018, o governo despejará mais de 50 mil evacuados desde o acidente. Isso significa que eles não terão alternativa a não ser voltar para suas casas abandonadas em regiões com altos níveis de radiação. E, a partir daquele ano, o governo deixará de obrigar a empresa Tepco, proprietária da usina, a indenizar vítimas.
O acidente aconteceu em 2011 mas só recentemente três dirigentes da empresa foram indiciados por negligência, sem data para julgamento.
Além dos erros de construção, por minimizar eventuais efeitos de tsunamis comuns na região, são computadas a reação atrapalhada logo após o acidente e as falhas mais graves e continuadas que, segundo especialistas, têm sido cometidas por falta de transparência, por economia de custos e por repetida incompetência técnica.
Para citar apenas uma das maracutaias: a empresa anunciou, não faz muito tempo, que os níveis de radiação em torno dos tanques era de 100 milisierverts (unidade adotada para avaliação do impacto da contaminação em seres humanos). Na verdade, observadores internacionais descobriram depois que era de 2.200 milisieverts. A explicação da empresa: o medidor utilizado só ia até 100.
Desde o desastre nuclear, em 11 de março de 2011, uma rede de vigilantes voluntários - a Radiation Watch (Observadores da Radiação) - passou a fazer o monitoramento do níveis de radiação de Fukushima no planeta e identificou níveis de radiação e alterações ambientais em regiões litorâneas dos Estados Unidos, Austrália, Europa e Ásia.
Por isso, Fukushima já é considerado o mais grave acidente nuclear. Superaria Chernobyl porque o desastre permanece ativo há cinco anos. Ou seja, seus efeitos não foram inteiramente contidos.
O Japão tem uma forte tradição de isolamento frente à comunidade internacional. Foi apenas em 1853, após dois séculos de fronteiras absolutamente fechadas, que o país recebeu quatro navios americanos. Na décadas seguintes, passou por uma lenta mudança do feudalismo para algo que se aproximasse de uma sociedade capaz de permitir aos seus cidadãos mínimos direitos, como circular livremente.
Tornou-se uma grande nação especialmente após a Segunda Guerra Mundial quando foi beneficiado pela Guerra Fria. Em nome da geopolítica, os americanos deixaram de condenar um criminoso de guerra - o imperador Hiríoto - sob cuja responsabilidade o Japão praticou carnificina, estupros coletivos em cidades invadidas na China e torturas e violências inimagináveis durante o conflito no Pacífico.
Por temer a influência da URSS e da China na região, os Estados Unidos despejaram os bilhões de dólares que impulsionaram a recuperação do antigo inimigo. Em troca, o Japão recebeu bases militares e assumiu o compromisso de tornar-se aliado incondicional de Washington. Mesmo assim, não perdeu algumas características milenares de isolamento. Não mais no plano geográfico, mas agora em relação a muitas demandas internacionais.
O Japão se, recusa, por exemplo, a interromper a caça à baleia. Ao contrário, abre novas frentes de extermínio agora na Antártida, desafiando tratados diplomáticos.
O país também pratica uma política de extermínio de tubarões por acreditar que sua barbatanas têm um poderoso efeito-viagra. Há um lobby no Congresso japonês que reúne deputados da "bancada da baleia", corrompidos pela indústria, e que aprova até subsídios crescentes para os autores da matança de baleias e tubarões.
No caso do acidente nuclear de Fukushima, o Japão reacendeu a velha síndrome do isolamento e tem mostrado desprezo pelas consequências no mundo. Cinco anos depois, o governo continua subestimando os níveis de radioatividade, a usina permanece vazando água contaminada no Pacífico e no lençol freático. Sem falar que a empresa proprietária não sabe o que fazer com 320 mil toneladas de água contaminada armazenada em tanques precários (um deles já vazou para o oceano).
O Greenpeace divulgará em breve um estudo sobre o impacto ambiental do acidente. Mas já se sabe que denunciará elevadas concentrações de radiação, mutação em árvores e animais, alterações no pólen etc.
Apesar disso, o governo japonês pressiona a comunidade internacional para suspender a proibição de exportação de alimentos (agricultura, pecuária e pesca) produzidos nas zonas que foram contaminadas.
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Cidade fantasma no Japão. Contaminação pode durar mais de um século. Reprodução Facebook |
O acidente aconteceu em 2011 mas só recentemente três dirigentes da empresa foram indiciados por negligência, sem data para julgamento.
Além dos erros de construção, por minimizar eventuais efeitos de tsunamis comuns na região, são computadas a reação atrapalhada logo após o acidente e as falhas mais graves e continuadas que, segundo especialistas, têm sido cometidas por falta de transparência, por economia de custos e por repetida incompetência técnica.
Para citar apenas uma das maracutaias: a empresa anunciou, não faz muito tempo, que os níveis de radiação em torno dos tanques era de 100 milisierverts (unidade adotada para avaliação do impacto da contaminação em seres humanos). Na verdade, observadores internacionais descobriram depois que era de 2.200 milisieverts. A explicação da empresa: o medidor utilizado só ia até 100.
Desde o desastre nuclear, em 11 de março de 2011, uma rede de vigilantes voluntários - a Radiation Watch (Observadores da Radiação) - passou a fazer o monitoramento do níveis de radiação de Fukushima no planeta e identificou níveis de radiação e alterações ambientais em regiões litorâneas dos Estados Unidos, Austrália, Europa e Ásia.
Por isso, Fukushima já é considerado o mais grave acidente nuclear. Superaria Chernobyl porque o desastre permanece ativo há cinco anos. Ou seja, seus efeitos não foram inteiramente contidos.
Por Carlos Castilho: "A guerra da informação na luta pelo poder"
por Carlos Castilho (do Observatório da Imprensa)
Se observarmos as crises do suicídio de Getúlio, da renúncia de Jânio, do golpe militar de 1964, do impeachment de Collor e agora da provocada pela Lava Jato, é possível identificar uma importante evolução do papel da imprensa em todos estes momentos de convulsão política no país. De ator secundário e passivo, ela passou gradualmente a um protagonismo central, onde as fronteiras entre o papel de informador e de indutor de opiniões se tornaram difusas.
O crescimento da importância da imprensa no desenrolar de processos de mudança de governo ocorreu simultaneamente e em sentido inverso à redução do papel das Forças Armadas no desenlace de impasses políticos. Se os militares foram o fator decisivo nas crises de 1954, 1961 e 1964, na de 1992 e agora no caso Lava Jato eles passaram a um discretíssimo segundo plano. informação megafone
Se por um lado o poder do exército, marinha e aeronáutica perderam relevância como fator definidor de crises, por outro aumentou o papel da opinião pública alimentada e condicionada pela imprensa. As estratégias de informação passaram ao primeiro plano enquanto o uso da força deixou de ser ostensivo nas ruas para se tornar representado em fotos e vídeos das ações da Polícia Federal. Seus agentes, como mostram imagens do “japonês da Federal”, usam uniformes de combate para escoltar políticos, empresários, lobistas e doleiros cuja aparência não tem nada de beligerante. Na prática é uma informação visual que está sendo transmitida ao telespectador ou leitor com o objetivo de empoderar simpatizantes e atemorizar suspeitos de corrupção.
O fato da informação ter se tornado mais eficiente do que as armas num contexto de crise política, sinaliza uma evolução de processos simplistas, do tipo os bons contra os maus, para outros muito mais complexos porque lidam com um número muito maior de variáveis. Até a virada do século a informação estava concentrada e controlável. Hoje existem as redes sociais onde circulam versões, ddos e fatos de todos os tipos, o que torna a avaliação de situações, processos e personagens uma ação que pode ser extremamente complexa.
Um retorno à dicotomia bons contra maus, justo contra injusto, acaba sempre levando à necessidade do uso da força na hora da definição, o que pode acabar se constituindo num tiro no pé. A simplificação informativa pode até resolver impasses políticos mas não acaba com ressentimentos e retaliações.
A ascensão da informação como fator preponderante em crises politicas exige uma mudança radical nos comportamentos dos diversos protagonistas institucionais. Agora são os neurônios e o conhecimento que definem o desenlace, o que obriga os atores a usar mais a inteligência do que os músculos e a força bruta.
Na atual crise por que passa o país, a troika Ministério Público, Polícia Federal e a grande imprensa (três jornais, três revistas e a Rede Globo) souberam usar a inteligência ao montar uma estratégia de informação e comunicação que foi meticulosamente seguida ao longo dos últimos 20 meses e que logrou reverter um quadro politico que parecia consolidado no desfecho das eleições de 2014.
O governo da presidente Dilma Rousseff e os lideres do Partido dos Trabalhadores adotaram uma atitude defensiva sem contrapor outra estratégia de informação , no que resultou a perda do apoio de setores consideráveis da classe media , principalmente nos grandes centros urbanos do país.
O novo roteiro para desestabilizar governos jjá foi aplicado noutros países latino-americanos como o Paraguai em 2012, e usa intensivamente a informação e da imprensa para impactar a opinião pública com denúncias de corrupção tanto institucional com pessoal, de políticos, ministros, governantes e dirigentes de empresas estatais e privadas. Cada suspeito interrogado retroalimenta o fluxo de denúncias por meio do instituto da delação premiada, o que fornece mais material para a geração da síndrome do escândalo por meio de manchetes, fotos, gravações e vídeos.
A corrupção está entranhada no aparelho estatal e no sistema político da maioria dos países latino-americanos, inclusive o Brasil, há muito tempo. Ela está associada ao financiamento de campanhas eleitorais e todos os partidos políticos acabaram contaminados pela propina, superfaturamento e lavagem de dinheiro. Quem está no poder tem mais possibilidades de lucrar no submundo da informalidade financeira. A facilidade para desviar dinheiro por meio de propinas e superfaturamento acabou contaminando também que exerce algum cargo público. Funcionários públicos e políticos acabaram embolsando dinheiro ilegal para beneficio pessoal , usando como desculpa a justificativa de financiamento de campanhas eleitorais.
O governo da presidente Dilma Rousseff está de joelhos à espera do golpe final, mostrando que a estratégia da troika deu certo no que se refere à luta pelo poder. O problema é que a simples troca de governantes não resolve o problema da corrupção institucionalizada. Se a operação Lava Jato se esgotar na punição de corruptos e corruptores o sistema que deu origem a escândalos tipo mensalão e petrolão permanecerá intacto e ressurgirá dentro de algum tempo.
O esforço para criar uma consciência coletiva contrária à corrupção depende da conquista de corações e mentes para uma nova cultura político-social que só poderá ser desenvolvida com o uso de estratégias de informação. Mais do que leis e punições é necessária uma mudança global de atitudes diante da corrupção política e da impunidade. Se ficarmos apenas na troca de governantes, a operação Lava Jato ficará marcada como uma desforra eleitoral em vez de se transformar num marco na vida do país.
Se observarmos as crises do suicídio de Getúlio, da renúncia de Jânio, do golpe militar de 1964, do impeachment de Collor e agora da provocada pela Lava Jato, é possível identificar uma importante evolução do papel da imprensa em todos estes momentos de convulsão política no país. De ator secundário e passivo, ela passou gradualmente a um protagonismo central, onde as fronteiras entre o papel de informador e de indutor de opiniões se tornaram difusas.
O crescimento da importância da imprensa no desenrolar de processos de mudança de governo ocorreu simultaneamente e em sentido inverso à redução do papel das Forças Armadas no desenlace de impasses políticos. Se os militares foram o fator decisivo nas crises de 1954, 1961 e 1964, na de 1992 e agora no caso Lava Jato eles passaram a um discretíssimo segundo plano. informação megafone
Se por um lado o poder do exército, marinha e aeronáutica perderam relevância como fator definidor de crises, por outro aumentou o papel da opinião pública alimentada e condicionada pela imprensa. As estratégias de informação passaram ao primeiro plano enquanto o uso da força deixou de ser ostensivo nas ruas para se tornar representado em fotos e vídeos das ações da Polícia Federal. Seus agentes, como mostram imagens do “japonês da Federal”, usam uniformes de combate para escoltar políticos, empresários, lobistas e doleiros cuja aparência não tem nada de beligerante. Na prática é uma informação visual que está sendo transmitida ao telespectador ou leitor com o objetivo de empoderar simpatizantes e atemorizar suspeitos de corrupção.
O fato da informação ter se tornado mais eficiente do que as armas num contexto de crise política, sinaliza uma evolução de processos simplistas, do tipo os bons contra os maus, para outros muito mais complexos porque lidam com um número muito maior de variáveis. Até a virada do século a informação estava concentrada e controlável. Hoje existem as redes sociais onde circulam versões, ddos e fatos de todos os tipos, o que torna a avaliação de situações, processos e personagens uma ação que pode ser extremamente complexa.
Um retorno à dicotomia bons contra maus, justo contra injusto, acaba sempre levando à necessidade do uso da força na hora da definição, o que pode acabar se constituindo num tiro no pé. A simplificação informativa pode até resolver impasses políticos mas não acaba com ressentimentos e retaliações.
A ascensão da informação como fator preponderante em crises politicas exige uma mudança radical nos comportamentos dos diversos protagonistas institucionais. Agora são os neurônios e o conhecimento que definem o desenlace, o que obriga os atores a usar mais a inteligência do que os músculos e a força bruta.
Na atual crise por que passa o país, a troika Ministério Público, Polícia Federal e a grande imprensa (três jornais, três revistas e a Rede Globo) souberam usar a inteligência ao montar uma estratégia de informação e comunicação que foi meticulosamente seguida ao longo dos últimos 20 meses e que logrou reverter um quadro politico que parecia consolidado no desfecho das eleições de 2014.
O governo da presidente Dilma Rousseff e os lideres do Partido dos Trabalhadores adotaram uma atitude defensiva sem contrapor outra estratégia de informação , no que resultou a perda do apoio de setores consideráveis da classe media , principalmente nos grandes centros urbanos do país.
O novo roteiro para desestabilizar governos jjá foi aplicado noutros países latino-americanos como o Paraguai em 2012, e usa intensivamente a informação e da imprensa para impactar a opinião pública com denúncias de corrupção tanto institucional com pessoal, de políticos, ministros, governantes e dirigentes de empresas estatais e privadas. Cada suspeito interrogado retroalimenta o fluxo de denúncias por meio do instituto da delação premiada, o que fornece mais material para a geração da síndrome do escândalo por meio de manchetes, fotos, gravações e vídeos.
A corrupção está entranhada no aparelho estatal e no sistema político da maioria dos países latino-americanos, inclusive o Brasil, há muito tempo. Ela está associada ao financiamento de campanhas eleitorais e todos os partidos políticos acabaram contaminados pela propina, superfaturamento e lavagem de dinheiro. Quem está no poder tem mais possibilidades de lucrar no submundo da informalidade financeira. A facilidade para desviar dinheiro por meio de propinas e superfaturamento acabou contaminando também que exerce algum cargo público. Funcionários públicos e políticos acabaram embolsando dinheiro ilegal para beneficio pessoal , usando como desculpa a justificativa de financiamento de campanhas eleitorais.
O governo da presidente Dilma Rousseff está de joelhos à espera do golpe final, mostrando que a estratégia da troika deu certo no que se refere à luta pelo poder. O problema é que a simples troca de governantes não resolve o problema da corrupção institucionalizada. Se a operação Lava Jato se esgotar na punição de corruptos e corruptores o sistema que deu origem a escândalos tipo mensalão e petrolão permanecerá intacto e ressurgirá dentro de algum tempo.
O esforço para criar uma consciência coletiva contrária à corrupção depende da conquista de corações e mentes para uma nova cultura político-social que só poderá ser desenvolvida com o uso de estratégias de informação. Mais do que leis e punições é necessária uma mudança global de atitudes diante da corrupção política e da impunidade. Se ficarmos apenas na troca de governantes, a operação Lava Jato ficará marcada como uma desforra eleitoral em vez de se transformar num marco na vida do país.
Por Luis Nassif: "A aura trincada do Ministério Público"
por Luis Nassif (do site GGN)
O general Golbery do Couto e Silva tinha uma explicação lógica sobre os motivos para a distensão política: "O problema não são os generais, mas os porteiros do presídio".
No pedido de prisão preventiva de Lula, a alegação dos promotores paulistas exara uma prepotência inédita, uma demonstração tão ostensiva de poder que deixaria inibidos generais e porteiros da ditadura.
Nem se diga do parágrafo em que apresentavam como evidência de crime o fato de Lula “vociferar” elogiando as virtudes do Bancoop. Não bastasse o elogio vociferante, citam Nietzche, em “Assim Falou Zaratustra” na significativa frase “Nunca houve um Super-Homem”. Depois, uma nota de rodapé esclarecendo que o contexto da obra é mais profundo que a menção ao Super-Homem. Ah, bom.
Ou então mencionam que a conduta de Lula deixaria “Marx e Hegel” envergonhados. Hegel morreu em 1831, quando Marx tinha apenas 13 anos. E nem se pode dizer que houve confusão com algum homônimo porque Engels nem chega a ser uma rima de Hegel. Construíram um clássico quase tão notável quanto a polícia do Rio perseguindo Bakunin, parceiro da Sininho.
***
Segundo a denúncia, Lula “atentou contra a ordem pública ao desrespeitar as instituições que compõem o Sistema de Justiça, especialmente a partir do momento em que as investigações do Ministério Público do Estado de São Paulo e da Operação Lava Jato se voltaram contra ele”. Ora, existe manifestação mais explícita do “sabe com quem está falando”? O crime está em criticar os acusadores?
Outra ameaça de Lula foi ter se valido de sua “força político-partidária” para convocar entrevista coletiva, após a detenção que lhe foi imposta pela Lava Jato.
É pouco? “As condutas do denunciado (...) puderam ser facilmente comprovadas pelo acompanhamento periódico da imprensa livre”. Nem o almirante Pena Boto pensaria em desculpa melhor: as manifestações de Lula através da “imprensa livre” são motivo para leva-lo preso.
A prova do crime estaria em matéria do Estadão encimada pela manchete: “Lula se queixa de Dilma e do avanço das investigações”. É mais atrevido do que os prisioneiros políticos que ousavam reclamar das chibatadas dos torturadores.
O pecado maior, segundo a peça divulgada, foi a iniciativa do deputado Paulo Teixeira “contra um dos subscritores desta investigação” junto ao CNMP. E ainda obteve do CNMP medida liminar administrativa de suspensão da investigação criminal. Apelar para um organismo superior sujeita a vítima à agravamento da punição pela instância apelada.
Depois de ter sido levado coercitivamente à Congonhas, segundo a peça Lula deu declarações abusivas, como a que dizia que “Moro não precisaria ter mandado uma coerção da Polícia Federal na minha casa de manhã, na casa de meus filhos. Era só ter convidado”. Segundo a peça, com essas declarações Lula colocou em risco o Estado Democrático de Direito.
***
O problema maior não é esse bestialógico, a demonstração de arrogância que compromete a imagem do Ministério Público em geral. É saber como se chegou a essa situação que expõe ao ridículo não apenas o MP paulista mas a imagem do MP como um todo.
Depois do impacto popular da cobertura intensiva do julgamento do “mensalão”, das manifestações de junho de 2013, já se tinha noção do impacto sobre a opinião pública de outra campanha intensiva.
O Procurador Geral da República Rodrigo Janot não percebeu o risco de montar o esquema midiático para a Lava Jato. A batalha já estava ganha, sem necessidade do liberou geral, desse festival diário de factoides, dessa perseguição insana a Lula, do ridículo dos pedalinhos, barquinhos, Cristo Redentor.
Quando liberou geral os vazamentos e as parcerias midiáticas, abriu a Caixa de Pandora. Em vez de brechas para a ação responsável do Ministério Público, a parceria abusiva abriu uma cratera que imediatamente foi ocupada, não pelos procuradores preparados titulares de causas legítimas, mas pelos aventureiros, loucos-por-um-holofote, cada qual procurando um jornalista para chamar de seu e fazendo qualquer micagem para aparecer.
Não há corporação que resista a essa liberação geral, muito menos uma corporação dotada de poder de Estado.
O que garante a idoneidade e a disciplina da tropa não são apenas bons princípios e formação. A natureza divina ainda não encontrou maneira de, através de concursos, garantir a idoneidade futura de todos os procuradores.
O que garante é um conjunto de valores impregnados em toda a corporação, como a impessoalidade. para que os próprios procuradores operem como agentes de contenção dos abusos de colegas, do exibicionismo, das ações atrabiliárias, do personalismo.
Do ativismo político, da demonstração de musculatura, para práticas menos ortodoxas ainda, é um pulo.
Infelizmente, essa rede de autocontenção quebrou-se.
O general Golbery do Couto e Silva tinha uma explicação lógica sobre os motivos para a distensão política: "O problema não são os generais, mas os porteiros do presídio".
No pedido de prisão preventiva de Lula, a alegação dos promotores paulistas exara uma prepotência inédita, uma demonstração tão ostensiva de poder que deixaria inibidos generais e porteiros da ditadura.
Nem se diga do parágrafo em que apresentavam como evidência de crime o fato de Lula “vociferar” elogiando as virtudes do Bancoop. Não bastasse o elogio vociferante, citam Nietzche, em “Assim Falou Zaratustra” na significativa frase “Nunca houve um Super-Homem”. Depois, uma nota de rodapé esclarecendo que o contexto da obra é mais profundo que a menção ao Super-Homem. Ah, bom.
Ou então mencionam que a conduta de Lula deixaria “Marx e Hegel” envergonhados. Hegel morreu em 1831, quando Marx tinha apenas 13 anos. E nem se pode dizer que houve confusão com algum homônimo porque Engels nem chega a ser uma rima de Hegel. Construíram um clássico quase tão notável quanto a polícia do Rio perseguindo Bakunin, parceiro da Sininho.
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Segundo a denúncia, Lula “atentou contra a ordem pública ao desrespeitar as instituições que compõem o Sistema de Justiça, especialmente a partir do momento em que as investigações do Ministério Público do Estado de São Paulo e da Operação Lava Jato se voltaram contra ele”. Ora, existe manifestação mais explícita do “sabe com quem está falando”? O crime está em criticar os acusadores?
Outra ameaça de Lula foi ter se valido de sua “força político-partidária” para convocar entrevista coletiva, após a detenção que lhe foi imposta pela Lava Jato.
É pouco? “As condutas do denunciado (...) puderam ser facilmente comprovadas pelo acompanhamento periódico da imprensa livre”. Nem o almirante Pena Boto pensaria em desculpa melhor: as manifestações de Lula através da “imprensa livre” são motivo para leva-lo preso.
A prova do crime estaria em matéria do Estadão encimada pela manchete: “Lula se queixa de Dilma e do avanço das investigações”. É mais atrevido do que os prisioneiros políticos que ousavam reclamar das chibatadas dos torturadores.
O pecado maior, segundo a peça divulgada, foi a iniciativa do deputado Paulo Teixeira “contra um dos subscritores desta investigação” junto ao CNMP. E ainda obteve do CNMP medida liminar administrativa de suspensão da investigação criminal. Apelar para um organismo superior sujeita a vítima à agravamento da punição pela instância apelada.
Depois de ter sido levado coercitivamente à Congonhas, segundo a peça Lula deu declarações abusivas, como a que dizia que “Moro não precisaria ter mandado uma coerção da Polícia Federal na minha casa de manhã, na casa de meus filhos. Era só ter convidado”. Segundo a peça, com essas declarações Lula colocou em risco o Estado Democrático de Direito.
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O problema maior não é esse bestialógico, a demonstração de arrogância que compromete a imagem do Ministério Público em geral. É saber como se chegou a essa situação que expõe ao ridículo não apenas o MP paulista mas a imagem do MP como um todo.
Depois do impacto popular da cobertura intensiva do julgamento do “mensalão”, das manifestações de junho de 2013, já se tinha noção do impacto sobre a opinião pública de outra campanha intensiva.
O Procurador Geral da República Rodrigo Janot não percebeu o risco de montar o esquema midiático para a Lava Jato. A batalha já estava ganha, sem necessidade do liberou geral, desse festival diário de factoides, dessa perseguição insana a Lula, do ridículo dos pedalinhos, barquinhos, Cristo Redentor.
Quando liberou geral os vazamentos e as parcerias midiáticas, abriu a Caixa de Pandora. Em vez de brechas para a ação responsável do Ministério Público, a parceria abusiva abriu uma cratera que imediatamente foi ocupada, não pelos procuradores preparados titulares de causas legítimas, mas pelos aventureiros, loucos-por-um-holofote, cada qual procurando um jornalista para chamar de seu e fazendo qualquer micagem para aparecer.
Não há corporação que resista a essa liberação geral, muito menos uma corporação dotada de poder de Estado.
O que garante a idoneidade e a disciplina da tropa não são apenas bons princípios e formação. A natureza divina ainda não encontrou maneira de, através de concursos, garantir a idoneidade futura de todos os procuradores.
O que garante é um conjunto de valores impregnados em toda a corporação, como a impessoalidade. para que os próprios procuradores operem como agentes de contenção dos abusos de colegas, do exibicionismo, das ações atrabiliárias, do personalismo.
Do ativismo político, da demonstração de musculatura, para práticas menos ortodoxas ainda, é um pulo.
Infelizmente, essa rede de autocontenção quebrou-se.
De Janio de Freitas para a Folha de São Paulo: "O plano obscuro"
por Janio de Freitas (da Folha de São Paulo)
Em condições normais, ou em país que já se livrou do autoritarismo, haveria uma investigação para esclarecer o que o juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato intentavam de fato, quando mandaram recolher o ex-presidente Lula e o levaram para o Aeroporto de Congonhas. E apurar o que de fato se passou aí, entre a Aeronáutica, que zela por aquela área de segurança, e o contingente de policiais superarmados que pretenderam assenhorear-se de parte das instalações.
Mas quem poderia fazer uma investigação isenta? A Polícia Federal investigando a Polícia Federal, a Procuradoria Geral da República investigando procuradores da Lava Jato por ela designados?
É certo que não esteve distante uma reação da Aeronáutica, se os legionários da Lava Jato não contivessem seu ímpeto. Que ordens de Moro levavam? Um cameramen teve a boa ideia, depois do que viu e de algo que ouviu, de fotografar um jato estacionado, porta aberta, com um carro da PF ao lado, ambos bem próximos da sala de embarque VIP transformada em seção de interrogatório.
É compreensível, portanto, a proliferação das versões de que o Plano Moro era levar Lula preso para Curitiba. O que foi evitado, ou pela Aeronáutica, à falta de um mandado de prisão e contrária ao uso de dependências suas para tal operação; ou foi sustado por uma ordem curitibana de recuo, à vista dos tumultos de protesto logo iniciados em Congonhas mesmo, em São Bernardo, em São Paulo, no Rio, em Salvador. As versões variam, mas a convicção e os indícios do propósito frustrado não se alteram.
O grau de confiabilidade das informações prestadas a respeito da Operação Bandeirantes, perdão, operação 24 da Lava Jato, pôde ser constatado já no decorrer das ações. Nesse mesmo tempo, uma entrevista coletiva reunia, alegadamente para explicar os fatos, o procurador Carlos Eduardo dos Santos Lima e o delegado Igor de Paula, além de outros. (Operação Bandeirantes, ora veja, de onde me veio esta lembrança extemporânea da ditadura?)
Uma pergunta era inevitável. Quando os policiais chegaram à casa de Lula às 6h, repórteres já os esperavam. Quando chegaram com Lula ao aeroporto, repórteres os antecederam. "Houve vazamento?" O procurador, sempre prestativo para dizer qualquer coisa, fez uma confirmação enfática: "Vamos investigar esse vazamento agora!". Acreditamos, sim. E até colaboramos: só a cúpula da Lava Jato sabia dos dois destinos, logo, como sabe também o procurador, foi dali que saiu a informação –pela qual os jornalistas agradecem. Saiu dali como todas as outras, para exibição posterior do show de humilhações. E por isso, como os outros, mais esse vazamento não será apurado, porque é feito com origem conhecida e finalidade desejada pela Lava Jato.
A informação de que Lula dava um depoimento, naquela mesma hora, foi intercalada por uma contribuição, veloz e não pedida, do delegado Igor Romário de Paula: "Espontâneo!". Não era verdade e o delegado sabia. Mas não resistiu.
Figura inabalável, este expoente policial da Lava Jato. Difundiu insultos a Lula e a Dilma pelas redes de internet, durante a campanha eleitoral. Nada aconteceu. Dedicou-se a exaltar Aécio, também pela rede. Nada lhe aconteceu. Foi um dos envolvidos quando Alberto Youssef, já prisioneiro da Lava Jato, descobriu um gravador clandestino em sua cela na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Nada aconteceu, embora todos os policiais ali lotados devessem ser afastados de lá. E os envolvidos, afastados da própria PF.
Se descobrir por que a inoportuna lembrança do nome Operação Bandeirantes, e for útil, digo mais tarde.
Em condições normais, ou em país que já se livrou do autoritarismo, haveria uma investigação para esclarecer o que o juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato intentavam de fato, quando mandaram recolher o ex-presidente Lula e o levaram para o Aeroporto de Congonhas. E apurar o que de fato se passou aí, entre a Aeronáutica, que zela por aquela área de segurança, e o contingente de policiais superarmados que pretenderam assenhorear-se de parte das instalações.
Mas quem poderia fazer uma investigação isenta? A Polícia Federal investigando a Polícia Federal, a Procuradoria Geral da República investigando procuradores da Lava Jato por ela designados?
É certo que não esteve distante uma reação da Aeronáutica, se os legionários da Lava Jato não contivessem seu ímpeto. Que ordens de Moro levavam? Um cameramen teve a boa ideia, depois do que viu e de algo que ouviu, de fotografar um jato estacionado, porta aberta, com um carro da PF ao lado, ambos bem próximos da sala de embarque VIP transformada em seção de interrogatório.
É compreensível, portanto, a proliferação das versões de que o Plano Moro era levar Lula preso para Curitiba. O que foi evitado, ou pela Aeronáutica, à falta de um mandado de prisão e contrária ao uso de dependências suas para tal operação; ou foi sustado por uma ordem curitibana de recuo, à vista dos tumultos de protesto logo iniciados em Congonhas mesmo, em São Bernardo, em São Paulo, no Rio, em Salvador. As versões variam, mas a convicção e os indícios do propósito frustrado não se alteram.
O grau de confiabilidade das informações prestadas a respeito da Operação Bandeirantes, perdão, operação 24 da Lava Jato, pôde ser constatado já no decorrer das ações. Nesse mesmo tempo, uma entrevista coletiva reunia, alegadamente para explicar os fatos, o procurador Carlos Eduardo dos Santos Lima e o delegado Igor de Paula, além de outros. (Operação Bandeirantes, ora veja, de onde me veio esta lembrança extemporânea da ditadura?)
Uma pergunta era inevitável. Quando os policiais chegaram à casa de Lula às 6h, repórteres já os esperavam. Quando chegaram com Lula ao aeroporto, repórteres os antecederam. "Houve vazamento?" O procurador, sempre prestativo para dizer qualquer coisa, fez uma confirmação enfática: "Vamos investigar esse vazamento agora!". Acreditamos, sim. E até colaboramos: só a cúpula da Lava Jato sabia dos dois destinos, logo, como sabe também o procurador, foi dali que saiu a informação –pela qual os jornalistas agradecem. Saiu dali como todas as outras, para exibição posterior do show de humilhações. E por isso, como os outros, mais esse vazamento não será apurado, porque é feito com origem conhecida e finalidade desejada pela Lava Jato.
A informação de que Lula dava um depoimento, naquela mesma hora, foi intercalada por uma contribuição, veloz e não pedida, do delegado Igor Romário de Paula: "Espontâneo!". Não era verdade e o delegado sabia. Mas não resistiu.
Figura inabalável, este expoente policial da Lava Jato. Difundiu insultos a Lula e a Dilma pelas redes de internet, durante a campanha eleitoral. Nada aconteceu. Dedicou-se a exaltar Aécio, também pela rede. Nada lhe aconteceu. Foi um dos envolvidos quando Alberto Youssef, já prisioneiro da Lava Jato, descobriu um gravador clandestino em sua cela na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Nada aconteceu, embora todos os policiais ali lotados devessem ser afastados de lá. E os envolvidos, afastados da própria PF.
Se descobrir por que a inoportuna lembrança do nome Operação Bandeirantes, e for útil, digo mais tarde.
quinta-feira, 10 de março de 2016
Agência de Aviação Civil prepara turbulências para o bolso do passageiro. Aperte o cinto!
As agências neoliberais implantadas pelos tucanos e preservadas graças às coligações e inércia de Lula e Dilma costumam defender o lado mais poderoso, o das empresas, e desamparar os consumidores, sempre que podem. Casos como o dos planos de saúde, telecomunicações, energia elétrica dizem tudo. E é muito comum seus dirigentes terem origem no mercado ao qual fiscalizam ou, ao deixar as agência de (des) regulamentação, serem contratados precisamente pela empresas sujeitas aos regulamentos da tal agência. Há muitas coincidências nesse campo.
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) prepara regras que vão reduzir alguns direitos consagrados do consumidor.
A agência de (des) regulamentação abriu uma "consulta pública" para acabar com várias normas do transporte aéreo. Entre outras coisas, quer detonar a tradicional franquia de bagagem de 23 quilos. Dizem os burocratas que na Europa e nos Estados Unidos é comum os passageiros pagarem tarifas por mala embarcada. O que nem sempre é verdade. Na Europa, por exemplo, muitas companhias dão até 30 kg de franquia. Claro que essa franquia, nem aqui nem lá, não é de graça e já está embutida no preço da passagem. Se for paga à parte, como quer a Anac, haverá desconto no valor da passagem? Isso a Anac não fala. O mais provável é que o passageiro passe a pagar o por fora (a mala) e o por dentro (a franquia embutida no preço da passagem), em dupla tarifação. Dificilmente as empresas reduzirão o preço da passagem a partir da implantação da cobrança por mala e quilos.
Mas há outras ameaças aos direitos do consumidor na proposta da Anac. Veja, abaixo, três "pequenos" exemplos das turbulências para o seu bolso e, em preto, os comentários do blog.
- Procedimento para declaração especial de valor de bagagem - Passageiro poderá declarar bens de valor para receber indenização de forma mais ágil em caso de perda/dano da bagagem. Neste caso, a empresa poderá cobrar valor suplementar ou seguro.
(Ou seja: a Anac chama isso de "desregulamentação da bagagem". E você fica sabendo que a empresa poderá cobrar um valor até para "perder" sua bagagem).
- Assistência material x Força maior - O direito de assistência material (comunicação, alimentação e acomodação) poderá ser suspenso em casos de força maior imprevisível (como mau tempo que leve ao fechamento do aeroporto) ou caso fortuito.
(No quesito "caso fortuito" cabe muita coisa que independerá da vontade do passageiro. Por exemplo, greve, apagão, o comandante que come um croquete estragado. Atualmente, essa assistência é por tempo indefinido. No "ato institucional" da Anac as empresas terão um prazo máximo de 24h, depois disso o problema passa a ser seu. Ou seja, se ficar preso em uma cidade além desse tempo, vire-se)
- Obrigação de indenização imediata de R$ 750 (nacional) e R$ 2 mil (internacional) para passageiros preteridos (casos de overbooking, por exemplo).
(É merreca. Passageiros impedidos de viajar têm prejuízo financeiro e moral muito maior do que esses valores e, muitas vezes, conseguem o reconhecimento dos prejuízos mas só na Justiça; A mudança significa que o passageiro comprará a passagem, a companhia não o levará ao destino e o consumidor poderá não receber uma indenização que lhe permita comprar outra passagem para o mesmo destino. Resumindo, a empresa não cumpre o contrato - levá-lo ao destino - e você será obrigado a ficar com parte do prejuízo. É como se o seu açougueiro lhe vendesse carne podre e quando você fosse devolver o produto estragado ele não lhe restituísse todo o dinheiro pago. A pergunta é: o Código do Consumidor permite essa maracutaia?)
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) prepara regras que vão reduzir alguns direitos consagrados do consumidor.
A agência de (des) regulamentação abriu uma "consulta pública" para acabar com várias normas do transporte aéreo. Entre outras coisas, quer detonar a tradicional franquia de bagagem de 23 quilos. Dizem os burocratas que na Europa e nos Estados Unidos é comum os passageiros pagarem tarifas por mala embarcada. O que nem sempre é verdade. Na Europa, por exemplo, muitas companhias dão até 30 kg de franquia. Claro que essa franquia, nem aqui nem lá, não é de graça e já está embutida no preço da passagem. Se for paga à parte, como quer a Anac, haverá desconto no valor da passagem? Isso a Anac não fala. O mais provável é que o passageiro passe a pagar o por fora (a mala) e o por dentro (a franquia embutida no preço da passagem), em dupla tarifação. Dificilmente as empresas reduzirão o preço da passagem a partir da implantação da cobrança por mala e quilos.
Mas há outras ameaças aos direitos do consumidor na proposta da Anac. Veja, abaixo, três "pequenos" exemplos das turbulências para o seu bolso e, em preto, os comentários do blog.
- Procedimento para declaração especial de valor de bagagem - Passageiro poderá declarar bens de valor para receber indenização de forma mais ágil em caso de perda/dano da bagagem. Neste caso, a empresa poderá cobrar valor suplementar ou seguro.
(Ou seja: a Anac chama isso de "desregulamentação da bagagem". E você fica sabendo que a empresa poderá cobrar um valor até para "perder" sua bagagem).
- Assistência material x Força maior - O direito de assistência material (comunicação, alimentação e acomodação) poderá ser suspenso em casos de força maior imprevisível (como mau tempo que leve ao fechamento do aeroporto) ou caso fortuito.
(No quesito "caso fortuito" cabe muita coisa que independerá da vontade do passageiro. Por exemplo, greve, apagão, o comandante que come um croquete estragado. Atualmente, essa assistência é por tempo indefinido. No "ato institucional" da Anac as empresas terão um prazo máximo de 24h, depois disso o problema passa a ser seu. Ou seja, se ficar preso em uma cidade além desse tempo, vire-se)
- Obrigação de indenização imediata de R$ 750 (nacional) e R$ 2 mil (internacional) para passageiros preteridos (casos de overbooking, por exemplo).
(É merreca. Passageiros impedidos de viajar têm prejuízo financeiro e moral muito maior do que esses valores e, muitas vezes, conseguem o reconhecimento dos prejuízos mas só na Justiça; A mudança significa que o passageiro comprará a passagem, a companhia não o levará ao destino e o consumidor poderá não receber uma indenização que lhe permita comprar outra passagem para o mesmo destino. Resumindo, a empresa não cumpre o contrato - levá-lo ao destino - e você será obrigado a ficar com parte do prejuízo. É como se o seu açougueiro lhe vendesse carne podre e quando você fosse devolver o produto estragado ele não lhe restituísse todo o dinheiro pago. A pergunta é: o Código do Consumidor permite essa maracutaia?)
Wi-fi e porta USB para recarregar aparelhos serão obrigatórios em ônibus urbanos. Lá fora, porque aqui as empresas ainda resistem a instalar até o ar condicionado que é de lei
A ideia não é nova - já foi implantada em Lisboa, pioneira entre as grandes capitais - e chega agora a Nova York: wi-fi grátis em ônibus urbanos, com direito a porta USB para recarregar celulares, tablets, kindle e netbooks. No Brasil, embora não seja ainda uma regra, há companhias de transporte interurbano ou interestadual que oferecem acesso à web. Já os nossos urbanos ainda - no caso do Rio de Janeiro - nem são todos equipados com o ar condicionado, embora haja lei sobre isso.
Em Nova York, as autoridades aproveitam a renovação obrigatória de 40% da frota de ônibus para implantar o novo serviço público. Em cinco anos, mais de 2 mil veículos estarão equipados com wi-fi de alta velocidade e tomadas USB. Os novos ônibus começarão a funcionar nas linhas do Bronx, em seguida, Brooklyn e Manhattan. Além de até 55 portas de USB, dependendo da capacidade, os ônibus também serão dotados de telas LCD que informarão sobre paradas e pontos em que o passageiro pode fazer transferência para outras linhas.
Em Nova York, as autoridades aproveitam a renovação obrigatória de 40% da frota de ônibus para implantar o novo serviço público. Em cinco anos, mais de 2 mil veículos estarão equipados com wi-fi de alta velocidade e tomadas USB. Os novos ônibus começarão a funcionar nas linhas do Bronx, em seguida, Brooklyn e Manhattan. Além de até 55 portas de USB, dependendo da capacidade, os ônibus também serão dotados de telas LCD que informarão sobre paradas e pontos em que o passageiro pode fazer transferência para outras linhas.
Federação Nacional dos Jornalistas divulga nota em defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade de imprensa
"A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) vem a público para defender a democracia, as garantias individuais previstas no Estado de Direito e a liberdade de imprensa e de expressão. A FENAJ dirige-se à sociedade, e em especial à categoria dos jornalistas, para condenar a espetacularização midiática, que desinforma em vez de informar, macula o compromisso ético da profissão, que é a busca da verdade, causando graves prejuízos ao exercício da cidadania.
A democracia brasileira foi duramente conquistada no passado recente, com luta e sangue de milhares de brasileiros, entre eles, centenas de jornalistas. Por isso, a FENAJ afirma que o compromisso com a democracia deve nortear as posições e ações das instituições nacionais. Lembra que as liberdades de expressão e de imprensa são fundamentais para sua constituição e aperfeiçoamento, como forma de organização política social, na qual o pluralismo de vozes é uma condição, assim como o respeito às decisões da maioria.
Diante dos acontecimentos do último dia 4 – quando o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva foi vítima de um ato de espetacularização midiática de uma decisão que deveria ter sido judicial, mas não escondeu seu caráter eminentemente político -, a FENAJ novamente afirma que a democracia e os verdadeiros interesses da população brasileira estão ameaçados e que é preciso reagir às tentativas autoritárias de ruptura democrática que, claramente, caracterizam-se como golpe político.
A Federação dos Jornalistas lembra também que grande parte da imprensa brasileira tem abdicado do fazer jornalístico para se comportar como partido de oposição ao governo federal e que, na ânsia de derrotar o partido do governo, tem se colocado a serviço da construção social da aceitação do golpe.
Sem fazer a defesa apriorística do Governo Dilma ou do ex-presidente Lula, a FENAJ reitera que a técnica e a ética jornalísticas não estão sendo observadas e respeitadas na abordagem dos fatos, o que tem ocasionado, inclusive, atos de violência contra jornalistas.
A FENAJ condena toda e qualquer forma de violência contra os profissionais da comunicação, conclama a população brasileira a respeitar a categoria e, ao mesmo tempo, pede às empresas de comunicação a retomada do Jornalismo. Ainda que o profissional jornalista não possa ser confundido com a empresa em que trabalha, inegavelmente, a manipulação da informação tem contribuído para a perda da credibilidade de parte das empresas de comunicação e também para o desrespeito aos profissionais.
Entidade máxima de representação dos jornalistas brasileiros, a FENAJ novamente condena os setores da mídia nacional que conspiram contra a democracia, ao mesmo tempo em que conclama a categoria a resistir e defender a responsabilidade e a ética no Jornalismo. Os jornalistas (voluntariamente ou não) estão no centro da atual crise política, pelo papel que os meios de comunicação assumiram. Por isso, não podem se furtar a exercer o seu ofício, que é o de levar informação veraz à sociedade.
A FENAJ lembra que esta crise foi cuidadosamente planejada e que Poder Judiciário e meios de comunicação têm sido atores centrais para seu aguçamento. Por isso, a Federação dos Jornalistas conclama as entidades e todos cidadãos e cidadãs brasileiros que têm apreço pela democracia e não querem retrocessos políticos e sociais a defender a democracia.
Para essa defesa propomos a valorização da verdadeira informação jornalística e o amplo debate público sobre o papel do Judiciário e dos poderes constituídos, dos meios de comunicação, das instituições e dos movimentos sociais na construção do futuro do país e de seu povo. Desde já, é preciso dar um basta às ações e movimentos autoritários, de quem quer que seja, e afirmar que não aceitaremos golpes."
Diretoria da FENAJ.
Brasília, 9 de março de 2016.
A democracia brasileira foi duramente conquistada no passado recente, com luta e sangue de milhares de brasileiros, entre eles, centenas de jornalistas. Por isso, a FENAJ afirma que o compromisso com a democracia deve nortear as posições e ações das instituições nacionais. Lembra que as liberdades de expressão e de imprensa são fundamentais para sua constituição e aperfeiçoamento, como forma de organização política social, na qual o pluralismo de vozes é uma condição, assim como o respeito às decisões da maioria.
Diante dos acontecimentos do último dia 4 – quando o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva foi vítima de um ato de espetacularização midiática de uma decisão que deveria ter sido judicial, mas não escondeu seu caráter eminentemente político -, a FENAJ novamente afirma que a democracia e os verdadeiros interesses da população brasileira estão ameaçados e que é preciso reagir às tentativas autoritárias de ruptura democrática que, claramente, caracterizam-se como golpe político.
A Federação dos Jornalistas lembra também que grande parte da imprensa brasileira tem abdicado do fazer jornalístico para se comportar como partido de oposição ao governo federal e que, na ânsia de derrotar o partido do governo, tem se colocado a serviço da construção social da aceitação do golpe.
Sem fazer a defesa apriorística do Governo Dilma ou do ex-presidente Lula, a FENAJ reitera que a técnica e a ética jornalísticas não estão sendo observadas e respeitadas na abordagem dos fatos, o que tem ocasionado, inclusive, atos de violência contra jornalistas.
A FENAJ condena toda e qualquer forma de violência contra os profissionais da comunicação, conclama a população brasileira a respeitar a categoria e, ao mesmo tempo, pede às empresas de comunicação a retomada do Jornalismo. Ainda que o profissional jornalista não possa ser confundido com a empresa em que trabalha, inegavelmente, a manipulação da informação tem contribuído para a perda da credibilidade de parte das empresas de comunicação e também para o desrespeito aos profissionais.
Entidade máxima de representação dos jornalistas brasileiros, a FENAJ novamente condena os setores da mídia nacional que conspiram contra a democracia, ao mesmo tempo em que conclama a categoria a resistir e defender a responsabilidade e a ética no Jornalismo. Os jornalistas (voluntariamente ou não) estão no centro da atual crise política, pelo papel que os meios de comunicação assumiram. Por isso, não podem se furtar a exercer o seu ofício, que é o de levar informação veraz à sociedade.
A FENAJ lembra que esta crise foi cuidadosamente planejada e que Poder Judiciário e meios de comunicação têm sido atores centrais para seu aguçamento. Por isso, a Federação dos Jornalistas conclama as entidades e todos cidadãos e cidadãs brasileiros que têm apreço pela democracia e não querem retrocessos políticos e sociais a defender a democracia.
Para essa defesa propomos a valorização da verdadeira informação jornalística e o amplo debate público sobre o papel do Judiciário e dos poderes constituídos, dos meios de comunicação, das instituições e dos movimentos sociais na construção do futuro do país e de seu povo. Desde já, é preciso dar um basta às ações e movimentos autoritários, de quem quer que seja, e afirmar que não aceitaremos golpes."
Diretoria da FENAJ.
Brasília, 9 de março de 2016.
KKKandidato Donald Trump recebe apoio de nazistas, não recusa uma força da Ku Klux Klan e ganha torcida de "coxinhas" gringas
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Eleitoras de Trump, "coxinhas" gringas pregam supremacia branca. Reprodução Fecebook |
Trump já assumiu que não recusou o apoio público da Ku Klux Klan na pessoa do seu ex-lider David Duke, um militante radical da "supremacia branca".
O líder do Partido Nazista Norte-Americano, Rocky Suhayda, já revelou estar "encantado" com os planos de Trump. Não por acaso, Trump, que, no Brasil, é sócio em empreendimento hoteleiro do neto de um ex-ditador tupiniquim, é o preferido de alguns conhecidos colunistas conservadores, conforme já escreveram.
A foto acima está circulando no Facebook.Mostra um grupo de eleitoras do Trump declarando apoio à supremacia branca anunciada pela KKKandidato republicano.
O dia em que uma "meme" virou "jornalismo investigativo..."
Quando se imagina que há algum profissionalismo descobre-se que, se a deturpação interessa à linha político-partidária do veículo, vale tudo. Parece incrível, mas o Estadão de ontem correu para publicar uma frase "exclusiva" de Lula. "A partir de agora, se me prenderem, eu viro heroi. Se me matarem, viro mártir. E se me deixarem solto, viro presidente de novo".
Uma frase tão histórica, que lembra Getúlio. Talvez, quem sabe, outrossim, merecesse uma apuração digna desse nome. Afinal, Lula estaria ameaçado de morte?
Que nada, a frase foi pescada na internet, embrulhada e despachada como se fosse um grande feito jornalístico. Pois é: a declaração bombástica era uma 'meme', uma dessas correntes apócrifas que circulam na web desde a semana passada nos whatapps e emails da vida. Pior que a falsa reportagem foi reproduzida pela mídia e a ficção ganhou destaque em sites de todo o país.
Serviu, pelo menos, para revelar um peculiar método de apuração do Estadão: busca no Google?, no Sensacionalista?
O Estadão foi procurado por repórteres para explicar a matéria falsa mas não se pronunciou.
Deve estar pesquisando a resposta na rede social.
Uma frase tão histórica, que lembra Getúlio. Talvez, quem sabe, outrossim, merecesse uma apuração digna desse nome. Afinal, Lula estaria ameaçado de morte?
Que nada, a frase foi pescada na internet, embrulhada e despachada como se fosse um grande feito jornalístico. Pois é: a declaração bombástica era uma 'meme', uma dessas correntes apócrifas que circulam na web desde a semana passada nos whatapps e emails da vida. Pior que a falsa reportagem foi reproduzida pela mídia e a ficção ganhou destaque em sites de todo o país.
Serviu, pelo menos, para revelar um peculiar método de apuração do Estadão: busca no Google?, no Sensacionalista?
O Estadão foi procurado por repórteres para explicar a matéria falsa mas não se pronunciou.
Deve estar pesquisando a resposta na rede social.
Dilma já pode arrumar a mala...
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Em junho do ano passado, o jornal Globo já chamava Dilma de "ex-presidente". |
quarta-feira, 9 de março de 2016
Nudez de repórter indenizada em 55 milhões de dólares
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Erin Andrews/ Facebook |
O objetivo do perseguidor era fotografá-la na intimidade. Quando Erin se hospedou em um hotel perto da Universidade de Vanderbilt, noTennessee, em 2008, Barret deu um jeito de alugar o quarto ao lado. Em algum momento, inverteu a lente do olho mágico da porta do apartamento do seu alvo: a repórter loura, de 1m78.
Quando Erin se preparava para sair, após o banho, ele acoplou um câmera ao olho mágico e filmou o interior do apartamente, captando cenas de nudez da jornalista. Ele confessou que o seu objetivo era ganhar dinheiro. Tão logo conseguiu as imagens ofereceu o material ao site TMZ, que se recusou a comprar. Depois de desistir de vender o flagrante, Barret resolveu postá-lo na internet. Erin ficou chocada ao ver as cenas e decidiu processar tanto o perseguidor quanto o hotel Marriot, este por negligência. A justiça acaba de fixar em 55 milhões de dólares (mais de 200 milhões de reais) a indenização devida a Erin Andrews, que ainda não conseguiu retirar o vídeo de todos os sites da web. Erin já atuou em vários canais de esporte e conquistou um terceiro lugar no programa Dança dos Famosos.
terça-feira, 8 de março de 2016
Há 50 anos, um festival de besteiras assolava o país. Há 50 anos? Que nada, 1966 é hoje, diria Stanislaw Ponte Preta.
O livro "O Festival de Besteira que Assola o País", de Stanislaw Ponte Preta, foi lançado em 1966. Completa 50 anos nesta temporada que, como aquela, é um poço até aqui de inspiração. Sergio Porto - que trabalhou na Manchete e na Fatos & Fotos e foi o criador do Stanislaw -, extraia humor do cotidiano, com destaque para as pesadas sessões diárias do teatro político da ditadura.
Eram situações, no caso dos absurdos políticos, que provocavam risos, porque eram geralmente de um ridículo explícito, mas deixavam um traço de indignação.
Na abertura do livro, Stanislaw escreveu: "É difícil ao historiador precisar o dia em que o Festival de Besteira começou a assolar o país. Pouco depois da "redentora", cocorocas de diversas classes sociais e algumas autoridades que geralmente se dizem "otoridades", sentindo a oportunidade de aparecer, já que a "redentora", entre outras, incentivou a política do "dedurismo" (corruptela de dedo-durismo, isto é, a arte de apontar com o dedo um colega, um vizinho, o próximo, enfim, como corrupto ou subversivo - alguns apontavam dois dedos duros, para ambas as coisas), iniciando essa feia prática, advindo daí cada besteira que eu vou te contar".
Como o caso da força-tarefa do Dops que invadiu a casa de uma escritora e apreendeu um liquidificador. "Vejam que perigosa agente inimiga esta, que tinha um liquidificador escondido na própria casa", escreveu Stanislaw. Ou o delegado de BH que ameaçou prender o estilista Pierre Cardin, caso ele levasse minissaias para a capital mineira. O caso acabou em sessão na Assembleia onde um deputado bradou: "Ninguém levantará a saia da mulher mineira".
A mídia também alimentava o Febeapá. Ibrahim Sued publicou no Globo que um diplomata russo "que está no Brasil há dois anos foi expulso dos Estados Unidos há seis meses". O Dops foi a campo para prender o sujeito antes que o jornal saísse da banca. Mancada. Se o cara estava no Brasil há dois anos, não poderia ter sido expulso dos Estados Unidos há seis meses. O Dops pagou o mico que recebeu do jornal e teve que liberar o "perigoso" russo.
Stanislaw teria adorado a história do juiz e do capoteiro, o mais novo e divertido capítulo da Lava Jato. O juiz Moro convocou para depor o cidadão Jorge Washington Blanco. Estúdio pronto, luzes ligadas, câmeras idem, os procuradores se instalam na bancada. Tudo OK para a audiência e para o 'luz, câmera. ação' de mais um momento grave na vida nacional. Mas o que se segue é comédia pastelão. Quando todos aguardavam que a testemunha iniciasse a demolição da República ao se identificar como "operador" de milhões de dólares, dá-se um surpreendente diálogo:
Procurador: "O senhor pode esclarecer a sua atividade profissional durante o ano de 2009?"
Testemunha: "Eu sou capoteiro."
Procurador: "Capoteiro?"
Testemunha: "É."
Silêncio na corte. Era o homem errado, a hora errada, o local errado, a pergunta errada. Moro convocou um sujeito que não era o sujeito. Era um homônimo. "Uai, eu fiquei meio assim, falei: será que usaram meu nome nesse trem? Eu nunca me envolvi com nada errado. De uma hora pra outra aparece negócio de Lava Jato, coisa que eu vejo falar na televisão". Foi o desabafo do capoteiro de veículos Jorge Washington Blanco, No vídeo, a "força-tarefa" não pede nem desculpas. O juiz ainda pergunta se alguém tem alguma coisa a acrescentar. Não, ninguém tinha nada a comentar. Ao perceber o mico, a força-tarefa "largou os bets' como se diz "deixar pra lá" em Curitiba.
Deviam pelo menos mandar consertar as capotas e os estofados das viaturas na oficina do intimado, que faturaria alguma merreca para compensar o tempo perdido.
A pergunta que fica: estão pesquisando os nomes das testemunhas aonde? No Google?
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI
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Reprodução |
O drama de Sharapova
segunda-feira, 7 de março de 2016
Vinil: a marola que virou onda. Matéria do Adweek mostra que as novas gerações digitais querem viver a experiência analógica
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Reprodução Adweek |
Dizem que o craque Garrincha ouvia atentamente as detalhadas instruções dos treinadores e suas receitas que pareciam infalíveis para ganhar jogos e perguntava, em seguida: "Já combinaram com os russos?". "Russos", para Mané, era qualquer adversário.
Vale a analogia para as novas mídias que, segundo os analistas, tendiam a extinguir impiedosamente tecnologias que vieram antes. Mais ou menos, é o que tudo indica.
O caso dos antigos LPs, o vinil, parece desmentir cada vez mais essa tese. Decretaram o fim do vinil, mas esqueceram de combinar com os "russos", o consumidor.
Matéria no site Adweek mostra que o ressurgimento dos LPs, há alguns anos, não tinha nada de moda passageira.
Veja tópicos da matéria da Adweek.
- Toca-discos é um dos produtos mais vendidos na Amazon.
- O vinil vendeu nos Estados Unidos 12 milhões de unidades em 2015.
- Foram vendidos 1 milhão de toca-discos no ano passado. Isso por apenas uma empresa (Crosley).
- Uma das explicações para o fenômeno é que as gerações do milênio criadas no digital querem viver a experiência analógica. Querem a sensação tátil. O vinil não está sozinho no revival: estão de volta câmeras polaroides, cassetes e até a máquina de escrever Olivetti.
- É grande o apelo visual da capa do LP.
- Há emissoras de rádio nos Estados Unidos que se especializam em tocar vinil. A iHeartRadio, com quatro estações, é uma delas e conta com 260 milhões de ouvintes/mês.
LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO ADWEEK, CLIQUE AQUI
Kim Kardashian manda nudes pro mundo e quebra a web
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Kim Kardashian compartilha seifie. Reprodução Instagram |
A foto está quebrando a web nesse momento. Por essas e por outras, a Playboy americana decidiu abolir a nudez das suas páginas. Fica difícil concorrer com celebridades que mal acordam, tiram a roupa, fazem selfie, postam no Instagram e globalizam nudes 0800. Recentemente, Kanye West declarou que está cheio de dívidas e pediu uma "ajuda" de um bilhão de dólares a Marl Zuckerberg, dono do Facebook. Ninguém levou a sério. Na legenda da foto que corre o mundo hoje, Kim Kardashian escreveu que "não tinha nada para vestir".
Jornal do Brasil: a história do repórter que ganhou um elevador como indenização trabalhista. Mas não levou.
Previsto para amanhã, dia 8 de março, o leilão da marca Jornal do Brasil, por determinação da 57ª Vara do Trabalho, é mais um capítulo na história de um dos títulos mais importantes da imprensa brasileira.
E simboliza, infelizmente, um drama comum na vida dos jornalistas. Na derrocada, grandes empresas de comunicação ignoram seus compromissos trabalhistas e a conta vai para o bolso dos mais fracos, os trabalhadores. Processos se arrastam na Justiça. Há numerosos casos. Vidas costumam ser quitadas antes das indenizações. A Bloch, por exemplo, faliu em 2000 e ainda não foram concluídos os pagamentos devidos aos ex-funcionários. Os jornalistas do Jornal do Brasil ainda lutam pelos seus direitos. O valor inicial do título do JB é 3,5 milhões de reais. Caso não haja licitante, o leiloeiro público, Nacif, fará uma segunda tentativa no dia 22 de março.Se o leilão se efetivar, o título irá parar nas mãos de uma ex-funcionária do JB. Será um bem mais valioso, certamente, do que o que coube ao repórter Marceu Vieira: um reluzente elevador. Que, aliás, segundo o texto publicado no blog do jornalista e reproduzido abaixo, foi a leilão mais de uma vez. "Mas, evidentemente, nenhum maluco apareceu querendo arrematá-lo", escreve Marceu.
"Meu coração insiste em ser juvenil. Apesar da idade que já rouba do corpo a condição de jovem, ele, meu coração, insiste em ser juvenil.
Tantos sentimentos antigos moram no meu coração. Esta renitência com a poesia. O casamento longevo e fiel e indissolúvel com a música. As ruas da infância em Morro Agudo. Aquele gol mal anulado no campinho do seu Lalinho. As noites de cantoria no Bar-Te-Papo. O sorriso de Adalgisa com suas promessas jamais cumpridas. Tanta coisa.
Meu coração invadido por segredos sem importância. Meu coração que há tantos anos me derruba e me revigora.
Meu coração esquecido num banco de praça em Vila de Cava. Meu coração atingido por uma bolada atrás de uma das balizas do campo do Morro Agudo Futebol Clube. Meu coração que dava voltas no salão nos bailes de carnaval do Vasquinho. Meu coração no trem 33 da Central do Brasil.
Por fim, meu coração que subia e descia nos elevadores de aço inox reluzente da entrada principal do “Jornal do Brasil”. Ou nos elevadores de trás, um deles de carga, que ia e vinha tão lento quanto lento sempre foi o meu coração no percurso entre o apego e o desapego.
Pois meu coração abre agora novamente seu baú de lembranças, muitas delas inúteis diante do julgamento da maioria, pra contar que é meu – é sério, é meu – um dos elevadores do velho JB, naquele prédio ainda tão impregnado de histórias da Avenida Brasil 500, no Rio, onde hoje funciona o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).
Não sei qual dos elevadores, mas que ele é meu, é meu. Pertence a este cronista digital. Alguém aí se interessa em comprar?
Peço perdão e licença a quem é mais jovem e talvez não consiga ver graça na memória de certas coisas. Perdão, licença.
A caixa postal do cronista já foi, inclusive, alvejada por críticas e sugestões assim, de gente que, em suas certezas sempre bem-vindas, recomenda mais reflexões sobre o presente ou especulações sobre o futuro, e “menos mimimi sobre o passado, Orfeu, quer dizer, Dirceu, ops, Lineu.”
Por “mimimi sobre o passado” entenda-se falar de coisas como o velho “Jornal do Brasil”, onde eu havia sido cronista pela última vez, num intervalo que já vai inteirar 18 anos – e onde ainda permanecem, hoje, vagando, as assombrações daquele jornal e… o meu elevador!
Às vezes, julgamos já ter dito tudo, e não dissemos. É o caso. Por isso, perdão. Por isso, licença. Quero contar que um dos elevadores do ex-JB, hoje Into, é meu.
Não é uma brincadeira. É sério. É meu mesmo. A diretoria do hospital nem deve suspeitar, mas eu poderia, talvez, se quisesse, instalar na porta de um daqueles elevadores um pedágio e cobrar, quem sabe, um real de cada maca.
Esta história começa quando saio daquele JB, em 1998, e não recebo tudo a que tenho direito. O velho “Jornal do Brasil” já cumpria o calvário que o levaria à morte, depois de anos de grave crise de indigência financeira e, por último, editorial.
O advogado que eu havia contratado, na época, nem chegou ao fim da ação pra incluir em seu currículo a conquista esquisita de se tornar sócio de um elevador, do qual ele seria dono de um percentual na forma de honorários. No meio do caminho, meu advogado, gente muito boa, rompeu com seu passado nos tribunais, desabafou comigo as suas decepções com certas esquinas do Judiciário, largou a profissão, mandou-se pra Shangri-La e subscreveu a ação pra um colega.
“Logo na minha vez o cara achou de pirar”, pensei. Mas tudo certo. O advogado que o sucedeu também era gente boa. A ação seguiu, foi julgada, ganhamos… mas não levamos. O JB deu o calote nas parcelas, a dívida voltou a ser a original, não a negociada, e, sob as ordens da juíza trabalhista, um oficial de Justiça foi levantar o que poderia ir a leilão no bololô da massa falida do finado jornal pra quitação do passivo.
Explico, antes que alguém pergunte. Sou credor não do título JB, arrendado ao empresário Nelson Tanure, mas da massa falida. Em linguagem de trabalhador caloteado, sou credor do que restou do falecido jornalão – coisas como o maquinário velho que imprimia aquele diário que tanto prazer nos deu, a mim e a várias outras gerações de jornalistas e leitores.
Apura daqui, olha dali, o moço oficial de Justiça listou o que havia de mais valor naquele edifício já fantasma. E o diamante do colar de rotativas velhas já imprestáveis e de paredes descascadas e de vasos sanitários carcomidos nos banheiros abandonados e do mobiliário em petição de miséria, enfim, de tudo listado, sobraram, com algum valor ainda, os reluzentes elevadores do “Jornal do Brasil”.
O meu elevador foi a leilão judicial algumas vezes, mas, evidentemente, nenhum maluco apareceu, querendo arrematá-lo.
Como eram bonitos aqueles elevadores, como eram mesmo. Aqueles elevadores já carregaram a pressa do Castelinho (saudade) pra entregar sua coluna, o sorriso cheio de ironias do Oldemário Touguinhó (saudade), a rabugice e o talento e a competência do Xico Vargas (saudade), a inteligência de tanta gente, o exemplo de tanta gente, ainda aqui entre nós ou já do lado de lá do balcão da enorme confraria da vida.
Como deviam sobrar empregos naquele Brasil em crise, até ainda há pouco governado pelo Sarney, com seus “marimbondos de fogo”. Cada elevador tinha um ascensorista uniformizado. “Sexto andar, por favor.”
No elevador de carga do JB cabia um Fusca, acho. Será aquele o meu? Ainda existe lá no Into? Ou será um daqueles da entrada principal, assépticos, que chegavam a dar na gente vontade de morar dentro deles? Talvez eu nunca saiba.
Ou serei dono de mais de um, a esta altura, com a dívida submetida a tantas correções e correções e correções e correções? Talvez eu nunca saiba também.
Mas me conforta, de alguma maneira, juro, saber que, além da família Nascimento Brito, talvez eu seja o único dono de alguma coisa física do amontoado de História que restou do velho JB original.
Depois da minha despedida, em 1998, jamais voltei àquele prédio, onde, só agora eu percebo, meu passado ainda teima em arrastar correntes. Predião tão bonito e moderno, com heliponto no teto. Espigão-orgulho de seus funcionários, onde conheci a mãe da minha filha caçula e fiz tantos amigos. Gigante vistoso de concreto, onde fui chefiado pelo Marcos Sá Corrêa, o mais brilhante diretor de redação que encontrei na vida, e onde aprendi a ser o avatar do Ancelmo Gois (nós por ele, ele por nós!). Edifício-monumento ao jornalismo brasileiro, onde ouvi pela primeira vez – e quem disse foi o mestre Vilas-Boas Corrêa – que eu era um cronista.
Alguém quer comprar meu elevador?"
Para ler no blog de Marceu Vieira, clique AQUI
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