terça-feira, 22 de setembro de 2020
O Projeto Brasil para destruição da Amazônia e do Pantanal
Se há um projeto que o Brasil está realizando com espantosa e extraordinária competência é o da destruição da Amazônia.
É uma típica iniciativa público-privada
Acelerou-se dramaticamente, mas teve o seu marco zero no anos 1970. Curiosamente, nas duas pontas, a do começo, naquela época, e a explosão das queimadas e do desmatamento, agora, estão militares. Na primeira etapa, a ditadura assumida; no atual governo, a infiltração fardada que Bolsonaro promove através da farta distribuição de "boquinhas" em todos os escalões do poder.
Circulam no twitter reproduções de anúncios e reportagens que mostram e exaltam a ofensiva dos governos da ditadura militar para a ocupação da Amazônia. A gorilada no poder temia focos de guerrilhas no imenso e então praticamente inacessível território. A tentativa de instalação de um núcleo revolucionário no Araguaia ligou o alerta para o regime. Aquela guerrilha frágil e incipiente foi logo reprimida, menos com combates e mais com execuções a sangue frio, seguindo-se o projeto de "ocupação" da Amazônia. A Transamazônica, as vilas rurais, o desmatamento para plantações e projetos agropecuários e de mineração, a represa de Balbina - que configurou o maior desastre ecológico da época - a tentativa de instalação de fábricas poluentes, como uma, de papel, à beira de rios, tudo isso foi, de forma caótica e desordenada desconstruindo e depredando a floresta.
O entusiasmo dos empresários, a euforia da mídia e a afluência de "colonizadores" eram exaltados nos jornais, nas revistas e na TV, no programa chapa-branca "Amaral Neto,o Repórter", em forma de anúncios, matéria pagas ou colaborativas distribuídas pela Assessoria de Relações Públicas da ditadura, a famosa AERP.
Para falar de um tema próprio deste blog, a revista Manchete foi um desses veículos beneficiados, e muito, na divulgação da ocupação da Amazônia. Desde que a Manchete começou a ganhar importância, a partir dos últimos anos da década de 1950, a Amazônia foi um tema recorrente na revista. Foram publicadas centenas de reportagens memoráveis sobre os povos indígenas, os rios e os ribeirinhos, os sertanistas desbravadores e as belezas naturais que, hoje, vistas na coleção digitalizada da revista na Biblioteca Nacional, compõem uma valiosa história da região. Na década de 1970, embora repórteres e fotógrafos abnegados e até apaixonados pela Amazônia continuassem a mostrar e essência da floresta e os riscos que começava a correr, o ecojornalismo da Manchete foi contaminado por interesses comerciais impulsionados pelas verbas do governo e das empresas que disputavam obras na região. A Bloch certamente ganhou dinheiro, mas a submissão ao "Brasil Grande" da ditadura deixou marcas na imagem da revista.
É o que as redes sociais recordam no momento em que a Amazônia arde em fogo.
Por uma questão de justiça, registre-se que após o fim da ditadura a revista voltou à Amazônia (e ao Pantanal, agora também em chamas) com olhar mais crítico. Rios poluídos por mercúrio, ataques de posseiros, fazendeiros e garimpeiros contra índios, fiscais e líderes ambientalistas, como Chico Mendes, ocupação desordenada pelo agronegócio voraz, queimadas e desmatamentos em larga escala foram denunciados pelos repórteres e fotógrafos da Manchete.
O que acontece nesse momento é. infelizmente, um capítulo ainda mais dramático - apoiado pelo atual governo por omissão, incentivo e ação -, do projeto predatório que o Brasil mantém para a Amazônia.
Provavelmente até o fim.
segunda-feira, 21 de setembro de 2020
O repórter e o ministro
Foto Fernando Cussate
No auge do sucesso de "Pantanal", Manchete e Amiga (em 1990, a Fatos & Fotos já não era semanal, saia apenas em edições especiais), publicavam capas e reportagens sucessivas sobre a novela. As revistas pegavam carona na novela e se davam bem na venda em bancas. Tudo que vinha do meio rural era notícia. Nessa ofensiva pantaneira, o eficiente repórter Tarlis Batista foi escalado para entrevistar o ministro da Agricultura Antonio Cabrera, do desastrado governo Collor de Mello. O "gancho", o ministro era fazendeiro. Tarlis foi encontrar o entrevistado em casa. Agora fala sério. na foto acima quem está embecado como ministro? Tarlis Batista. Sobre essa foto que chamou a atenção da redação (que normalmente era feita para ilustrar o sumário da revista), a história conta que Tarlis envergava um blazer de lã mista irlandesa, calças de algodão Oxford e mocassins italianos. O ministro propriamente dito posa com figurino de tecido sintético da rua 25 de Março, sapatos Vulcabrás. Bom, vá lá, eram os tempos bregas e complicados da Era Collor, Casa da Dinda, camisetas com dizeres "não me deixem só", PC Farias, Zélia Cardoso de Mello que, naquela chanchada, fazia par romântico com Bernado Cabral... E o pior é que estamos em 2020 e o Brasil não aprende...
Novela 'Pantanal" volta à mídia. E, com ela, imagens feitas por fotógrafos da Manchete. Essa, da Juma, saiu em vários veículos
Na última semana, após a Rede Globo divulgar que vai lançar nova versão de "Pantanal", o maior sucesso da antiga Rede Manchete, muitas fotos de divulgação de novela foram publicadas em vários veículos impressos e digitais. Uma delas, em especial, foi a preferida dos editores: a imagem de Cristiana Oliveira, a Juma, apontando um rifle para a câmera.
Quer saber o estrago que a destruição acelerada da Amazônia pode provocar? Isso não está na mídia...
O ILUMINA é uma respeitada organização não governamental, técnica, que alerta sobre os rumos do setor elétrico brasileiro. O Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico, nome completo da instituição, reúne um corpo de engenheiros experientes.
Ontem, o ILUMINA divulgou um vídeo que interessa não apenas a todos os brasileiros, mas ao mundo. Uma explicação clara - e preocupante - do que significa a Amazônia para a vida.
O cientista Antonio Donato Nobre, pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), explica em linguagem acessível o tamanho do problema que o comprometimento da floresta vai gerar. Não apenas no setor de energia elétrica e no bolso dos consumidores, mas para a sobrevivência dos ecossistemas que hoje ardem em chamas.Veja no vídeo o que o fogo tem a ver com a água e com você e o seu futuro.
VEJA O VÍDEO, CLIQUE AQUI
domingo, 20 de setembro de 2020
Brasil em chamas na mídia internacional
A Covid-19 sem controle continua matando ceca de 800 pessoas por dia no Brasil. A mídia internacional já denunciou a falta de ação do governo que é negacionista e tem atualmente uma só política de saúde: a omissão. Nas últimas semanas, o mundo mudou a chave e passou para outras tragédias: a destruição da Amazônia e do Pantanal, neste, um imenso holocausto de milhares de animais. Com mapas, imagens de satélites e estatísticas, a mídia sinaliza que o Brasil não deve se preocupar com a teoria da conspiração dos bozorocas que "denunciam" a "internacionalização" da Amazônia e, muito menos, com ameaças à soberania do Brasil por sistematicamente destruir o meio ambiente. Por um motivo: nesse ritmo, em um década ou duas, praticamente não haverá mais o que preservar. Talvez meia dúzia de pequenos parques para mostrar aos futuros brasileiros o que eram Amazônia, Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica etc.
sábado, 19 de setembro de 2020
Brasil já tem "Tontons Macoutes" oficiais...
por O.V. Pochê
Uma equipe de jornalistas de uma afiliada da Globo, a TV Centro América, de Mato Grosso, foi expulsa de um evento do qual participava o elemento Jair Bolsonaro, vulgo "presidente'. As vítimas foram conduzidos à saída por seguranças e sob ameaça de prisão. Jornalistas de outros veículos permaneceram no local. Se não se retiraram em solidariedade aos colegas foi por dois motivos: ou são bolsonaristas ou se acovardaram mesmo.
Aparentemente é uma demonstração - e fatos semelhantes já ocorreram em outras ocasiões e locais - de que o indivíduo em questão, branco, cabelos oleosos, dentes inferiores irregulares e aparentemente agressivo, atualmente investigado pela justiça, já tem os seus "tontons macoutes". Para os mais novos, Tonton Macoute era o nome da violenta milícia pessoal de François Duvalier, antigo ditador do Haiti, e depois mantida pelo filho, Jean-Claude Duvalier, até 1986. Tonton Macoute é também uma expressão haitiana equivalente, no Brasil, ao bicho-papão. Era uma força paramilitar inspirada no fascismo.
No incidente em Mato Grosso, um major do exército, pago pelo povo e que deveria proteger o direito à informação garantido pela Constituição, ajudou os seguranças levarem a repórter Mel Marizzi e o cinegrafista Idemar Marcato, sob condução coercitiva, à saída da performance eleitoral do elemento em questão.
As vítimas passam bem. Já a liberdade de expressão está em coma induzida.
domingo, 13 de setembro de 2020
sexta-feira, 4 de setembro de 2020
Em Paris, começa o julgamento dos cúmplices dos terroristas religiosos que atacaram o jornal Charlie Hebdo e um mercado judeu.
Acontece na França, nestes dias, o julgamento de cúmplices de atentados contra o Charlie Hebdo e um mercado judeu, em Paris. O massacre de 17 pessoas chocou o mundo em 2015. Os irmãos terroristas Said e Cherif Kouachi invadiram a redação do jornal e abriram fogo contra jornalistas e desenhistas. E outro fanático atacou o mercado matando quatro pessoas. Os três terroristas foram mortos pela polícia. Em julgamento, agora, estão os 14 cúmplices dos atentados, três deles foragidos. A justificativa desses religiosos anormais para a série de assassinatos foi a publicação no Charlie Hebdo de caricaturas de Maomé. Ao noticiar o começo do julgamento, na última quarta-feira, o jornal publicou novamente as caricaturas.
Liberdade de imprensa é direito fundamental. Está na Constituição de muitos países.
Isso não impede que fanáticos e aloprados de várias motivações busquem atingi-la. Um exemplo é o grupo "Guardiões do Crivella" montado pelo prefeito do Rio de Janeiro para impedir o trabalho da imprensa. Outros são os juízes incompetentes ou movidos por ideologia ou sabe-se lá que interesses que tentam impedir a publicação de matérias em jornais, revistas e meios digitais em desafio aberto à Constituição.
Em desafio no Tik Tok, mulheres PMs do Piauí quebram a internet
Algumas PMs do Piauí estão quebrando a internet. O motivo é uma brincadeira no Tik Tok. Sete policiais participaram de um desafio que consiste em vídeos com duas cenas: primeiro, elas posam com o uniforme; e seguida desfilam em com vestidos que não esconde a beleza das militares. O vídeo viraliza, mas o comando da PM não gostou e abriu sindicância para apurar suposta infração. Não há nudez no desafio. Segundo o G1, a sargento Elineuda Morais teve a ideia de fazer o desafio para valorizar "a beleza da policial e mostrar que a mulher pode estar no lugar que quiser".
VEJA O VÍDEO, CLIQUE NO LINK https://www.youtube.com/watch?v=88gTklktn1I
Revista científica The Lancet confirma eficácia da vacina russa contra a Covid-19
A revista científica The Lancet publicou os resultados dos testes da vacina russa Sputnik V e confirmou a resposta de anticorpos contra a Covid-19 em todos os participantes. Segundo a revista, 100% dos voluntários que participaram dos dois primeiros testes não apresentaram efeitos colaterais graves. A notícia é um dos destaques no Twitter, hoje. O revista publicará nos próximos meses os resultados da terceira fase dos testes com 40 mil participantes. A Rússia poderá iniciar a exportação da Sputnik V a partir de novembro.
"Guardiões legislativos" dão mais um toco no Rio: Crivella fica
Crivella escapa de mais um pedido de impeachment. O "bispo", tido como o pior prefeito da história do Rio de Janeiro, tem uma bancada de apoiadores na Câmara de Vereadores. Assim como montou uma milícia pessoal nas portas dos hospitais públicos, os "Guardiões de Crivella", espécie de organização remunerada para hostilizar jornalistas que denunciam o caos na saúde e para ameaçar pacientes e parentes que reclamem de atendimento, Crivella tem os seus "guardiões legislativos". Ontem, o "bispo" e seu lado escuro da força saíram vencedores. Quem perdeu foi a cidade. Mas as eleições vêm aí. Hora de livrar o Rio das garras do Crivella. Anote os nomes do vereadores que votaram NÃO e impediram abertura do processo de impeachment. E veja também quem votou SIM e tentou defender a moralidade política tão bombardeada no Rio de Janeiro.
Alexandre Isquierdo (DEM): Não
Atila A. Nunes (DEM): Sim
Babá (Psol): Sim
Carlo Caiado (DEM): Sim
Carlos Bolsonaro (Republicanos): Não
Cesar Maia (DEM): Sim
Dr. Carlos Eduardo (Podemos): Não
Dr. Gilberto (PTC): Não
Dr. Jairinho (Solidariedade): Não
Dr. João Ricardo (PSC): Não
Dr. Jorge Manaia (Progressistas): Não
Dr. Marcos Paulo (Psol): Sim
Eliseu Kessler (PSD): Não
Fátima da Solidariedade (Solidariedade): Não
Felipe Michel (Progressistas): Não
Fernando William (PDT): Sim
Inaldo Silva (Republicanos): Nao
Italo Ciba (Avante): Sim
Jair da Mendes Gomes (Pros): Não
João Mendes de Jesus (Republicanos): Não
Jones Moura (PSD): Sim
Jorge Felippe (DEM): Impedido
Junior da Lucinha (PL): Não votou
Leandro Lyra (Republicanos): Não
Leonel Brizola (Psol): Sim
Luciana Novaes (PT): Sim
Luiz Carlos Ramos Filho (PMN): Sim
Major Elitusalem (PSC): Não
Marcelino D'Almeida (Progressistas): Não
Marcelo Sicilliano (Progressistas): Não
Marcelo Arar (PTB): Não
Paulo Messina (MDB): Sim
Paulo Pinheiro (Psol): Sim
Prof Celio Luparelli (DEM): Sim
Professor Adalmir (Progressistas): Não
Rafael Aloisio Freitas (Cidadania): Sim
Reimont (PT): Sim
Renato Cinco (Psol): Sim
Renato Moura (Patriota): Não
Rocal (PSD): Não
Rosa Fernandes (PSC): Sim
Tania Bastos (Republicanos): Não
Tarcísio Motta (Psol): Sim
Teresa Bergher (Cidadania): Sim
Thiago K Ribeiro (DEM): Não votou
Vera Lins (Progressistas): Não
Veronica Costa (DEM): Sim
Wellington Dias (PDT): Sim
Willian Coelho (DC): Sim
Zico (Republicanos): Não
Zico Bacana (Podemos): Não...
quinta-feira, 3 de setembro de 2020
Dica para o Rio: transformar logo os palácios de governadores e prefeitos em presídios. O sujeito já toma posse em prisão domiciliar
por O.V. Pochê
O Rio é uma novela interminável. Gênero "realismo roubástico". Somos governados por uma mistura de Odoricos Paraguaçus e Al Capones. Aparentemente, para muitos, ser deputado, prefeito, vereador, governador, vice, secretário ou guarda de esquina implica em estar investigado ou indiciado.
Claro, foi a população que se encarregou de eleger pilantras. Mas o povo merece um desconto, vá lá.
O Rio tem milhões de eleitores que vivem em áreas dominadas pela milícia ou pelo tráfico de drogas, onde só entram os candidatos "aprovados" pelo crime. A instituição "voto secreto" não é lá muito confiável nessas quebradas. E o voto de cabresto, ou de AR-15, muito cobiçado por certos nomes, pode decidir vitórias.
Na mídia, as editorias de política se confundem com as páginas políciais. É um tal de raspadinha, propina, desvio de verbas, licitações fraudadas, lavagem de dinheiro e até assassinatos.
Nesse ritmo, é melhor botar grades nos prédios públicos: o sujeito toma posse e já começa a governar em prisão domiciliar.
terça-feira, 1 de setembro de 2020
STF lança o catálogo "Supremo, Gervásio Baptista" em homenagem ao fotojornalista que fez história na Manchete
O Supremo Tribunal Federal (STF) acaba de lançar "Supremo, Gervásio Baptista", um catálogo com parte da obra do fotojornalista, que trabalhou na Corte por 17 anos, de 1999 a 2015. O saudoso Gervásio fez carreira na Manchete, onde registrou os principais fatos e as maiores personalidades do país durante mais de quarenta anos. Após deixar a revista, Gervásio foi fotógrafo oficial de Tancredo Neves e de José Sarney.
Ao anunciar o lançamento do catálogo, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, ressaltou que "apreciar a obra fotográfica de Gervásio, construída em oito décadas de fotojornalismo, é navegar pela história do Brasil e do mundo a partir de fragmentos eternizados pelo olhar sensível e perspicaz do homenageado”.
O catálogo conta a trajetória profissional de Gervásio e reproduz fotos célebres, além de registros de ministros de diversas épocas. Foi realizado por Charles Cosac, que fez trabalho de pesquisa e seleção de imagens e pelo designer paulistano Raul Loureiro.
Na capa, ensaio realizado por Gervásio capta a expressão dos ministros, através das mãos, durante julgamentos.
domingo, 30 de agosto de 2020
Brasil 171: New York Times liga o ventilador
O New York Times joga mais um latão de lama na famiglia que manda e desmanda no Brasil. A página manchada não é coincidência. O tema da matéria? Corrupção galopante. Entre outras evidências dos nebulosos family business, o jornal faz a pergunta que ecoa no mundo: por que raios a primeira dama recebeu 89 mil bufunfas do investigado Fabrício Queiroz? Donald Trump, que tenta reagir um uma campanha eleitoral complicada e tem seu nome frequentemente associado ao Bozoroca, deve estar "feliz" por ver o "amigo" mais enrolado do que papel higiênico.
Leilão do ano: martelo vai bater sobre obras de arte que pertenceram ao Museu Manchete de Arte Moderna Brasileira. Credores trabalhistas esperam que a renda reverta para pagamento de indenizações e correção monetária.
O Globo de hoje, nos prestigiados coluna impressa e blog do jornalista Lauro Jardim, publica uma nota importante não só para o mercado de arte como para os ex-funcionários da Bloch.
Finalmente, serão leiloados neste setembro pinturas esculturas que pertenciam à empresa falida e faziam parte do acervo do Museu Manchete. O leilão ainda não foi divulgado, não se sabe o motivo. A nota na coluna do Lauro é a primeira que noticia a venda das obras em hasta pública.
A realização do leilão é positiva para os ex-funcionários porque abre a possibilidade de pagamento de parcela há anos atrasada da correção monetária devida aos credores trabalhistas e para a própria Massa Falida, que era obrigada a bancar custo mensal de altíssimo valor para guarda do acervo.
Portanto, compartilhe e divulgue esse post.
Na reprodução (do livro que reúne as obras de arte do Museu Manchete), a obra Sombra Projetada (1968), de Frans Krajcberg, a que Lauro Jardim se refere na nota do Globo. O imenso painel ilustrava uma das paredes do saguão do prédio da Manchete na Rua do Russell.
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
Lairton Cabral: lá-áá, lá-áá, nosso viajante-mor da Alfa Bravo... • Por Roberto Muggiati
Redação da Manchete, 6 de outubro de 1977, meus quarenta anos comemorados com champanhe francês. O tipo de mix que só a Bloch sabia reunir: Aloisio Neves, preso recentemente na Operação Quinto do Ouro; Wilson Cunha, chefe de redação e crítico de cinema; eu, editor da revista Manchete; Lairton Cabral, o factótum do império de comunicação da Bloch; e o Marechal, chefe dos contínuos e espião-mor de Adolpho Bloch, incluído nos anos 50 na lista dos dez homens mais elegantes do Rio de Janeiro do Ibrahim Sued.
Colado ao chefe, como a fiel secretária Marta, Lairton tinha, entre suas múltiplas funções, a de “tirar” passagens aéreas para deus-e-todo-mundo. A certa altura da década de 1960, a Editora Abril simplificou o problema das viagens dos funcionários criando uma agência de turismo própria: não só minimizava seus custos, como faturava com as viagens dos outros. Ao longo das décadas, Lairton continuou sendo a agência-do-eu-sozinho da Bloch e imaginem a imensidão de suas responsabilidades quando, a partir de 1983, a empresa ampliou suas atividades com a Rede Manchete de Televisão. Isso incluía megacoberturas como as Olimpíadas e as Copas do Mundo, além de outras movimentações de reportagens e dramaturgia. A novela Pantanal, recorde de audiência histórico, foi toda filmada no Mato Grosso. A novela Brida, inspirada no romance de Paulo Coelho, teve suas sequencias de abertura todas filmadas na Irlanda. E lá ficava o Lalá até a meia-noite colado ao telefone na caixa de cristal do Russell.
Ao contrário da Abril, que privilegiava a “cultura do memorando”, na Bloch tudo se fazia pelo telefone. A atuação empresarial de Adolpho Bloch acontecia no reduzido espaço de poucos centímetros quadrados da mesa da secretária Marta, onde o capo apoiava o cotovelo, comandando: “Ligue pra Fulano!” “Telefone para Sicrano” “Me chama aquele cagalhão de Lucas!”
Lairton também ganhava seu dia de lápis e papel na mão e fone colado ao ouvido durante sua longa jornada. Conhecia oralmente todos e todas as agentes e recepcionistas de companhias aéreas do país. Alguns – algumas – eram relações de anos e tinham adquirido até certa intimidade. Lalá era mestre no jargão do metiê. Sabia usar o Alfabeto Fonético como poucos. Ironicamente, ao requisitar uma passagem para o chefe – que estava geralmente por perto – baixava o volume de voz: justo o nome do desafeto aparecia duas vezes no de Adolpho. “A de Alfa, D de Delta, O de Oscar, P de Papa, H de Hotel, O de Oscar.”
Às vezes o visitante desavisado ao gabinete do Presidente – entrava quem queria, à hora que queria – topava com uma situação insólita: Adolpho Bloch de calças arriadas recebendo no glúteo uma injeção aplicada por Lairton, que, entre outras coisas, tinha noções de paramédico.
Há dois ou três meses, Lalá me ligou, com a voz lépida e fagueira de sempre: “Muggi, estou fazendo sessenta anos... de casamento. Casei mocinho, eu tinha vinte e três anos,” Contestei a aritmética do amigo: “Peraí, Lalá! Há sessenta anos você tinha vinte e dois. Em outubro nós vamos fazer oitenta e três!”
A tergiversação quanto à data tinha já um ar premonitório. Não vou poder mais desejar Feliz Aniversário ao Lairton no próximo cinco de outubro, Nem receber dele as felicitações no dia seguinte, Mas, de uma coisa estou certo. Recitando o Alfa-Bravo como só ele sabia, embarcou numa bela viagem de primeira classe...
sábado, 22 de agosto de 2020
Lairton Cabral: um amigo que se despede
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| Lairton Cabral |
Dez entre dez jornalistas que passaram pela Bloch viram, em algum momento, essa imagem, ao vivo.
Lairton Cabral na sua sala do oitavo andar do prédio da Rua do Russel, ao telefone.
Lalá, como era carinhosamente chamado nas internas da Manchete, tinha multifunções executivas junto à diretoria da empresa, mas para as redações era o eficiente "agente de turismo" que marcava as passagens aéreas das equipes de reportagem, reservava hotéis e transportes locais. Não era pouco trabalho para atender à rotina de cerca de 20 revistas. Uma publicação como a Desfile cobria as semanas da moda em Paris, Milão e Nova York e, além, disso, pelo menos uma vez por ano, levava à Europa repórteres, fotógrafos, modelos e produtoras para edições especiais de coleções de verão. A Manchete, que investia regularmente em viagens internacionais ou pelo Brasil, tinha as grandes coberturas fixas, do tipo Copas do Mundo, Olimpíadas, Copa América etc que mobilizavam comitivas numerosas, muitos deslocamentos e até roteiros imprevistos determinados pelos resultados esportivos. Problemas que pousavam na mesa do Lairton e de lá decolavam perfeitamente resolvidos.
Quando a Bloch instalou a Rede Manchete, Lairton assumiu, com a calma de sempre, as intensas demandas logísticas da TV. Ele chegou à empresa em julho de 1968, vindo da antiga Panair, para secretariar as redações. Com o tempo, ganhou novas funções próximas à "sala de crise", de Adolpho Bloch e Pedro Jack Kapeller, onde paravam as mais diversas situações em busca de soluções.
Na coletânea "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata), Lairton recordou um desses casos.
"Adolpho era um homem de objetivos e movia mundos para alcançá-los. Certa vez, ele convocou à sua sala o diretor de teatro Flávio Rangel e lhe pediu que fosse a Santiago do Chile para assistir ao musical Pippin, em cartaz na capital chilena. 'Quero montar essa peça aqui no nosso teatro. Dizem que é uma maravilha. Quero sua opinião", falou Adolpho. Espantado, Flávio, que para o governo militar era um subversivo perigoso, respondeu que não o deixariam viajar, ainda mais para o Chile, que abrigava exilados brasileiros. Nem passaporte ele tinha naquele momento. Adolpho limitou-se a dizer que 'dava um jeito'. 'Vamos lá em casa que eu verei o que posso fazer'. E lá fomos nós, Carlos Heitor Cony, eu, Flávio e Isolda. Um parêntese: Isolda, compositora e autora de um dos maiores sucessos de Roberto Carlos, a canção Outra Vez, trabalhava na Bloch e teria um papel-chave na história. Quem imaginava que Adolpho acionaria algum contato para conseguir a liberação da viagem de Flávio estava enganado: a reunião era para encontrar um meio criativo de driblar a proibição. Na época, Isolda era amiga de um inspetor de polícia e tinha algum conhecimento na área. Ficou resolvido que eu - sobrou para mim - faria o papel do general Antônio Faustino, então secretário de Segurança do Rio de Janeiro, e ligaria para a Polícia Federal pedindo que emitissem um documento de viagem para o diretor de teatro. O próprio Flávio, imitando voz feminina, e daquelas bem melosas, ligou para a PF, identificou-se como secretária do general Faustino e pediu que o delegado do setor aguardasse. 'O secretário de Segurança quer dar uma palavrinha', disse a "secretária". Flávio me passou o telefone. Tentei fazer uma voz amistosa mas autoritária e determinei ao delegado que naquele momento eu, o "general Faustino", estava autorizando a emissão de um documento para a viagem do diretor Flávio Rangel ao Chile, tratava-se de um assunto de importância para o governo. Em tempo de regime militar, embora a PF não fosse subordinada à secretaria de Segurança, palavra de general era, naturalmente, uma ordem. Antes de desligar o telefone, o "general" informou que Cony e Flávio, acompanhados da funcionária Isolda, estavam a caminho da sede da PF, na Praça Mauá, para apanhar com urgência o referido documento. 'Perfeitamente, general, está feito. Tenha uma boa tarde', respondeu o solícito delegado. O resto da história é conhecido. Flávio viu e aprovou Pippin. Adolpho comprou os direitos e montou o musical no seu teatro, no Edifício Manchete. A peça foi um sucesso e o general Faustino jamais soube do papel fundamental e involuntário que teve na produção de um dos maiores musicais já exibidos no Brasil."
Lairton trabalhou na Bloch até agosto de 2000, data da dramática falência da editora. Jamais deixou de manter contato com os antigos colegas e não faltava aos almoços de fim de ano. Não faz muito tempo, já com a pandemia em curso, ele telefonou para vários amigos ex-Bloch, que sabia em quarentena, para saber notícias.
Lairton faleceu no dia 18 de agosto, após complicações decorrentes de um coágulo no cérebro. À família, o nosso abraço de pêsames. Além das saudades, ele nos deixa as boas lembranças da sua competência, do companheirismo e integridade, do respeito com que tratava a todos igualmente, sem ligar para funções descritas em crachás. Tenho certeza de que para todos os colegas da velha Bloch foi um privilégio tê-lo como amigo.
Que o Lalá descanse em paz.















