Mostrando postagens com marcador eleições de 1982. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador eleições de 1982. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Memória da redação: em 1982, os computadores fizeram sua estréia em tentativa de fraude eleitoral no Brasil. Na época, o objetivo era impedir a eleição de Brizola para governador do Rio.


Reprodução Fatos & Fotos

por José Esmeraldo Gonçalves

Quando a Folha de São Paulo denunciou esquema de apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais, com acusações de Caixa 2 para impulsionamento de mensagens eleitorais (o caso está sob investigação do TSE, MP e PF), o passado disse alô.

Mais precisamente, o complô flagrado pela repórter da Folha, Patrícia Campos Mello, remeteu aos idos de 1982. Naquele ano, as eleições para governador do Rio de Janeiro ficaram marcadas por uma tentativa de fraude para impedir a vitória de Leonel Brizola.

A manobra ficou conhecida como Caso Proconsult.

O mundo estava longe da era das redes sociais, usava-se cédula de votação (a urna eletrônica só começaria a equipar algumas seções em 1996), mas os computadores já rondavam a totalização de apurações.

O conceito da fraude eletrônica era relativamente simples. Como as eleições de 82 eram quase gerais - seriam apontados governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores, e a legislação obrigava que todos os votos fossem para um mesmo partido -, estava previsto um alto índice de votos nulos. Os fraudadores ligados ao regime militar montaram um programa que transferia votos nulos e brancos para Moreira Franco, adversário de Brizola e o nome preferido pela ditadura. A maracutaia foi denunciada pela Rádio Jornal do Brasil, que montou esquema de apuração próprio. Na época, houve a suspeita de que O Globo estivesse conivente com o mecanismo, daí ter recorrido à contagem da Proconsult, que colocava Moreira Franco sempre à frente e levantava dúvidas quanto ao favoritismo de Brizola. Criava-se na opinião pública um clima propício à concretização da fraude.

O Globo de fato apoiava Moreira, mas negou participação, alegou que tinha seu  próprio método de contagem de votos e desmentiu que houvesse contratado a Proconsult como sua fornecedora de dados eleitorais. Se não teve culpa, digamos então que o jornal foi ingênuo e se deixou usar pelos criminosos.

Alertado pela Rádio JB, Brizola, que tinha motivos para desconfiar do principal grupo de mídia do Brasil, preferiu denunciar o complô em uma coletiva a imprensa estrangeira. Foi uma jogada de mestre. No Hotel Glória, diante de dezenas de correspondentes, ele denunciou a trama e assim abortou a roubalheira de votos.

Brizola foi eleito e aquela primavera carioca consagrou o político mais combativo do Brasil, que faz falta nessas eleições conturbadas.

Mas além de Brizola, outro "personagem" ocupava o noticiário: uma figura que atendia pela alcunha de Diferencial Delta. Esse era o nome em código da variável montada para contabilizar fraudulentamente os votos pró-Moreira. De tanto ser falado, esse nome se popularizou nos becos, botecos e praias do Rio de Janeiro. E passou a explicar tudo que à época parecia inexplicável.

Comparando-se com as manipulações do novo milênio e o uso ilegal do Facebook, do WhatsApp e dos robôs em ação nas redes sociais, o Caso Procosult foi até rudimentar e ficou a anos-luz de distância do esquema atual denunciado pela Folha.

A motivação e o ponto em comum, ontem como hoje, foi a conspiração antidemocrática.


A CAPA PROIBIDA 

Aqui, uma informação nada fake dos bastidores da redação da Fatos & Fotos durante o fechamento da edição com a cobertura daquelas eleições. A F&F pretendia dar o Brizola na capa,sozinho. Era a maior notícia da semana. Um ex-exilado eleito para o governo do Rio de Janeiro. O Caso Proconsult já havia sido desmoralizado e, na madrugada do fechamento, não restavam mais dúvidas de que o gaúcho era o vencedor, embora não oficializado pelo TRE. Até mesmo um adversário, Miro Teixeira, candidato do PMDB, que ficou em terceiro lugar, atrás de Moreira Franco, já reconhecia a vitória de Brizola. Com a foto já escolhida, a direção da Bloch vetou a capa sob o argumento de que Moreira ainda tinha chance "com os votos do interior". Ninguém acreditava naquilo, mas a capa foi trocada. Ficou essa aí, a dos "grandes vencedores" e dos "grandes prováveis". Sendo Brizola o "provável" que até o Diferencial Delta já sabia que era o futuro governador.

Restou à Fatos & Fotos registrar com ironia a movimentação do DD, o protagonista da primeira tentativa de fraude de eleições brasileira com base nos bits, bytes e mistérios dos computadores.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Portal de jornalismo de dados cobre apuração das eleições do Peru em tempo real. Caso lembra momento histórico do jornalismo brasileiro quando atuação independente da Rádio JB evitou fraude em curso nas eleições do Rio de Janeiro em 1982

(da Redação)
Para quem anda preocupado com os rumos éticos da mídia, vale lembrar que nem tudo está perdido. Profissionalismo e ousadia, além de um 'occupy web", podem ressaltar o papel do jornalismo independente, agora com um poder maior do que representou a imprensa alternativa nos tempos da ditadura.

São muitas as iniciativas que resgatam novas práticas e formas de um jornalismo-cidadão. O blog "Jornalismo nas Américas" destaca hoje a cobertura das recentes eleições do Peru por um portal de jornalismo de dados.  Havia o temor de fraude executada por parte das forças que apoiam o grupo do corrupto Alberto Fujimori, ainda influente apesar de condenado por seus crimes.

O trabalho do portal peruano "Convoca" lembrou, respeitadas as eras tecnológicas, um momento histórico do jornalismo brasileiro. Em 1982, Leonel Brizola era candidato ao governo do Rio de Janeiro. A ditadura escalou Moreira Franco, hoje ministro do governo interino pós-golpe, para enfrentar o gaúcho. Com a participação de grupos de comunicação, foi montado um esquema suspeito. E, no desenrolar da apuração, surgiram indícios de uma jogada destinada a beneficiar o candidato dos militares.

O complô foi desmascarado graças ao profissionalismo e a integridade do saudoso jornalista Procópio Mineiro, da Rádio JB. Ao lado do colega Peri Cota, Mineiro montou uma apuração paralela e independente que conferiu e antecipou totalizações de votos, usando, para isso, dezenas de jornalistas e estagiários que checavam os números dos boletins de cada seção eleitoral e passavam as somas por telefone (fixo, não havia celular, é bom lembrar) ou entradas ao vivo direto para a rádio.

Enquanto isso, jornais e TV ligados ao regime divulgavam uma apuração "oficial" muito mais lenta e baseada em uma estranha matemática que indicava suposto aumento de votos em branco e uma espécie de apropriação dessa tendência pelos percentuais do candidato da ditadura.

O criterioso trabalho da Rádio JB com base nos boletins de cada seção eleitoral mostrou a verdade e desmascarou a mentira. Informado da mutreta, Brizola convocou uma coletiva, para a qual, em uma tática inteligente, chamou exclusivamente correspondentes estrangeiros, e denunciou a iminente fraude. O caso teve repercussão internacional.

Mas foi o ágil trabalho da equipe de Procópio Mineiro na Rádio JB - e a suspeita repercutida, em seguida, pelo Jornal do Brasil em uma série de reportagens -  que se antecipou ao estelionato de votos e melou o esquema.

Brizola foi eleito e Mineiro, sem o saber, tornou-se o pioneiro desse tipo de cobertura eleitoral independente e em tempo real. Trinta e quatro anos depois novas tecnologias, como essa do "Convoca", ampliam e repetem a fórmula. O jornalismo ético, aquele que representa os interesses dos cidadãos, sai ganhando.

 

Portal de jornalismo de dados cobre pela primeira vez em tempo real as eleições presidenciais no Peru

(por Paola Nalverte/HAS/Blog Jornalismo nas Américas)

Com o intuito de garantir um processo mais transparente, o portal peruano de jornalismo de dados Convoca decidiu realizar um projeto para informar em tempo real, a partir  de seu próprio site, os resultados do segundo turno das eleições para presidente realizado em 5 de junho. A organização também criou uma campanha nas redes sociais onde as pessoas poderiam denunciar as irregularidades deste processo.

“Sabíamos que os resultados [do segundo turno eleitoral] seriam apertados; havia muito alarme nas redes sociais (...) por temor de fraude, vinculado ao fujimorismo”, explicou Milagros Salazar Herrera, jornalista peruana e diretora do Convoca, ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

É que o possível retorno de Fujimori ao poder, representado por Keiko Fujimori, causou preocupação entre alguns peruanos. Keiko é filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), que foi condenado por atos de corrupção e por crimes contra os direitos humanos, entre outras acusações. Ele também foi acusado de vencer as eleições de 2000 de forma fraudulenta, quando foi eleito presidente pela terceira vez.​

Com estes precedentes, causou alarme a recente conjuntura eleitoral, que estava cheia de controvérsia após algumas denúncias de irregularidades. Por exemplo, um candidato com grande representatividade cidadã, como Julio Guzmán, foi expulso pelo Júri Nacional de Eleições (JNE), um mês antes da votação. No entanto, o partido Força Popular de Keiko continuou na corrida para a presidência, apesar de também ter várias queixas junto ao JNE envolvendo irregularidades durante sua campanha.

LEIA NO BLOG JORNALISMO NAS AMÉRICAS, CLIQUE AQUI


------------------------------------------------------------------------


CONHEÇA O PORTAL "CONVOCA" E ENTENDA PORQUE É UMA BOA IDEIA O JORNALISMO INDEPENDENTE BRASILEIRO ADOTAR ESSA FÓRMULA NAS ELEIÇÕES DESTE ANO E, PRINCIPALMENTE, EM 2018, CLIQUE AQUI