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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

México, em sexto, e Brasil, em nono, estão na relação de países com maior impunidade em crimes contra jornalistas, segundo o Comitê para proteção dos Jornalistas (CPJ). Grupos radicais islâmicos da Somália, Iraque, Síria, Filipinas e Sudão lideram a lista

Capa do informe sobre o índice Global de Impunidade

por Silvia Higuera/ME (para o blog Jornalismo nas Américas)

Pelo segundo ano consecutivo, México e Brasil são os únicos países da América Latina que fazem parte do Índice Global de Impunidade do Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), cuja edição de 2016 foi publicada em 27 de outubro.

Esse índice, que classifica os países onde os jornalistas são assassinados e “os responsáveis pelos crimes ficam impunes”, é publicado pelo CPJ todo ano no Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas que se celebra no dia 2 de novembro.

Para o índice, o CPJ conta o número de assassinatos não solucionados de jornalistas, em um período de dez anos, como uma porcentagem em relação à população do país.

Dos 13 países que fazem parte do índice este ano, o México ocupa o sexto lugar e o Brasil, o nono. Ambos os países subiram duas posições no índice, isto é, a situação nesses locais piorou.

“A violência que o crime organizado e funcionários locais perpetraram contra os jornalistas permitiu que a impunidade aumentasse na América Latina, e Brasil e México subiram duas posições no índice deste ano”, disse Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, ao Centro Knight. “Mas algumas das mais elevadas taxas de impunidade do assassinato de jornalistas [no mundo] podem ser atribuídas aos assassinatos perpetrados por grupos radicais islâmicos”.

Assim como explica Lauría, ainda que neste ano o CPJ tenha concluído que os índices mais altos de impunidade são de assassinatos cometidos por grupos radicais islâmicos, também descobriu que “funcionários e grupos criminosos locais assassinam com frequência os jornalistas, como represália por seu trabalho de informação, sem ter que enfrentar a justiça”, como ocorre no México, Brasil, Filipinas e Rússia.

A impunidade nos assassinatos de jornalistas incentiva potenciais assassinos e obriga os meios de comunicação a trabalharem em um clima de medo, que por sua vez restringe as informações disponíveis para o público", disse Elisabeth Witchel, autora do relatório e consultora do CPJ para a Campanha Global contra a Impunidade, em comunicado da organização. "Os Estados precisam resolver urgentemente esta situação com mecanismos robustos para proteger, investigar e reprimir quando jornalistas são ameaçados ou atacados."

De acordo com o CPJ, 21 jornalistas foram assassinados com “total impunidade” no México na última década. As vítimas eram jornalistas locais que cobriam temas relacionados com o crime organizado e a corrupção em estados dominados por grupos de narcotraficantes. Os responsáveis por esses crimes, segundo o CPJ, são os próprios grupos de criminosos.

O caso emblemático do México, para o CPJ, é o do fotógrafo Rubén Espinosa assassinado em agosto de 2015 na Cidade do México. Espinosa havia chegado à cidade fugindo do Estado de Veracruz após ter recebido ameaças. O fotógrafo foi encontrado morto em seu apartamento com outras quatro mulheres. Todos tinham um disparo na cabeça e marcas de tortura.

Ainda que o CPJ destaque como um avanço a prisão de três pessoas envolvidas no crime, também lembra que vários jornalistas questionaram a forma que a investigação foi realizada.

Além disso, considera como um retrocesso no México o fato de que, apesar das autoridades terem adotado em 2013 uma lei que dá maior jurisdição a autoridades federais para investigar crimes cometidos contra a liberdade de expressão, "ninguém foi processado por este mecanismo e pelo menos oito jornalistas foram assassinados por seu trabalho desde então”.

O México, assim como outros sete países do índice, estiveram presentes na lista todos os anos desde 2008, quando foi lançada, “o que indica quão arraigada está a impunidade em alguns países”.

No caso do Brasil,15 jornalistas foram assassinados na última década "com total impunidade”. Os responsáveis são funcionários dos governos e grupos criminosos, segundo o CPJ. As vítimas cobriam política e corrupção em cidades no interior do país.

No entanto, o CPJ cita como avanço que o Brasil condenou suspeitos em seis casos de homicídios de jornalistas nos últimos três anos, “mais do que nenhum outro país onde o CPJ tenha documentado” esses assassinatos. Acrescenta, no entanto, que somente em um deles foi alcançada a justiça plena.

Editor João Miranda do Carmo assassinado em Goiás: ele
denunciava tráfico de drogas e envolvimento de políticos
em esquemas de corrupção.
Reprodução Facebook 
O assassinato do editor João Miranda do Carmo, nos arredores da sua casa, em julho de 2016 foi escolhido como caso emblemático pelo CPJ. Carmo era conhecido pelas suas críticas a funcionários locais e tinha sido ameaçado em pelo menos em duas ocasiões – em uma delas, seu carro foi queimado. As ameaças foram denunciadas na polícia.

O CPJ afirmou que em mais da metade dos homicídios analisados no Brasil as vítimas tinham denunciado anteriormente ameaças que receberam.

Como um ponto positivo em geral, o CPJ ressalta que os países que aparecem no índice, com a exceção de três, participaram do mecanismo de prestação de contas sobre a impunidade da Unesco “que solicita informação sobre o estado das investigações dos assassinatos a jornalistas para o relatório bienal sobre segurança dos jornalistas da agência da ONU”.

Para a análise deste ano foram levados em conta os homicídios de jornalistas ocorridos entre 1 de setembro de 2006 e 31 de agosto de 2016. O relatório também inclui uma tabela com estatísticas e as classificações de cada país que faz parte do índice.


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quinta-feira, 16 de junho de 2016

Portal de jornalismo de dados cobre apuração das eleições do Peru em tempo real. Caso lembra momento histórico do jornalismo brasileiro quando atuação independente da Rádio JB evitou fraude em curso nas eleições do Rio de Janeiro em 1982

(da Redação)
Para quem anda preocupado com os rumos éticos da mídia, vale lembrar que nem tudo está perdido. Profissionalismo e ousadia, além de um 'occupy web", podem ressaltar o papel do jornalismo independente, agora com um poder maior do que representou a imprensa alternativa nos tempos da ditadura.

São muitas as iniciativas que resgatam novas práticas e formas de um jornalismo-cidadão. O blog "Jornalismo nas Américas" destaca hoje a cobertura das recentes eleições do Peru por um portal de jornalismo de dados.  Havia o temor de fraude executada por parte das forças que apoiam o grupo do corrupto Alberto Fujimori, ainda influente apesar de condenado por seus crimes.

O trabalho do portal peruano "Convoca" lembrou, respeitadas as eras tecnológicas, um momento histórico do jornalismo brasileiro. Em 1982, Leonel Brizola era candidato ao governo do Rio de Janeiro. A ditadura escalou Moreira Franco, hoje ministro do governo interino pós-golpe, para enfrentar o gaúcho. Com a participação de grupos de comunicação, foi montado um esquema suspeito. E, no desenrolar da apuração, surgiram indícios de uma jogada destinada a beneficiar o candidato dos militares.

O complô foi desmascarado graças ao profissionalismo e a integridade do saudoso jornalista Procópio Mineiro, da Rádio JB. Ao lado do colega Peri Cota, Mineiro montou uma apuração paralela e independente que conferiu e antecipou totalizações de votos, usando, para isso, dezenas de jornalistas e estagiários que checavam os números dos boletins de cada seção eleitoral e passavam as somas por telefone (fixo, não havia celular, é bom lembrar) ou entradas ao vivo direto para a rádio.

Enquanto isso, jornais e TV ligados ao regime divulgavam uma apuração "oficial" muito mais lenta e baseada em uma estranha matemática que indicava suposto aumento de votos em branco e uma espécie de apropriação dessa tendência pelos percentuais do candidato da ditadura.

O criterioso trabalho da Rádio JB com base nos boletins de cada seção eleitoral mostrou a verdade e desmascarou a mentira. Informado da mutreta, Brizola convocou uma coletiva, para a qual, em uma tática inteligente, chamou exclusivamente correspondentes estrangeiros, e denunciou a iminente fraude. O caso teve repercussão internacional.

Mas foi o ágil trabalho da equipe de Procópio Mineiro na Rádio JB - e a suspeita repercutida, em seguida, pelo Jornal do Brasil em uma série de reportagens -  que se antecipou ao estelionato de votos e melou o esquema.

Brizola foi eleito e Mineiro, sem o saber, tornou-se o pioneiro desse tipo de cobertura eleitoral independente e em tempo real. Trinta e quatro anos depois novas tecnologias, como essa do "Convoca", ampliam e repetem a fórmula. O jornalismo ético, aquele que representa os interesses dos cidadãos, sai ganhando.

 

Portal de jornalismo de dados cobre pela primeira vez em tempo real as eleições presidenciais no Peru

(por Paola Nalverte/HAS/Blog Jornalismo nas Américas)

Com o intuito de garantir um processo mais transparente, o portal peruano de jornalismo de dados Convoca decidiu realizar um projeto para informar em tempo real, a partir  de seu próprio site, os resultados do segundo turno das eleições para presidente realizado em 5 de junho. A organização também criou uma campanha nas redes sociais onde as pessoas poderiam denunciar as irregularidades deste processo.

“Sabíamos que os resultados [do segundo turno eleitoral] seriam apertados; havia muito alarme nas redes sociais (...) por temor de fraude, vinculado ao fujimorismo”, explicou Milagros Salazar Herrera, jornalista peruana e diretora do Convoca, ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

É que o possível retorno de Fujimori ao poder, representado por Keiko Fujimori, causou preocupação entre alguns peruanos. Keiko é filha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), que foi condenado por atos de corrupção e por crimes contra os direitos humanos, entre outras acusações. Ele também foi acusado de vencer as eleições de 2000 de forma fraudulenta, quando foi eleito presidente pela terceira vez.​

Com estes precedentes, causou alarme a recente conjuntura eleitoral, que estava cheia de controvérsia após algumas denúncias de irregularidades. Por exemplo, um candidato com grande representatividade cidadã, como Julio Guzmán, foi expulso pelo Júri Nacional de Eleições (JNE), um mês antes da votação. No entanto, o partido Força Popular de Keiko continuou na corrida para a presidência, apesar de também ter várias queixas junto ao JNE envolvendo irregularidades durante sua campanha.

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