Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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quarta-feira, 24 de julho de 2019
Memória da redação: quando Manchete perdeu a noção da realidade...
Essa edição da Manchete é de 1969. Uma das chamadas de capa é um primor de alheamento editorial. O que levou a revista a perguntar em plena ditadura, pouco depois da decretação do AI-5, "qual a posição do Exército?". Àquela altura, só a Manchete não sabia.
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
Memória da redação: em 1982, os computadores fizeram sua estréia em tentativa de fraude eleitoral no Brasil. Na época, o objetivo era impedir a eleição de Brizola para governador do Rio.
Reprodução Fatos & Fotos |
por José Esmeraldo Gonçalves
Quando a Folha de São Paulo denunciou esquema de apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais, com acusações de Caixa 2 para impulsionamento de mensagens eleitorais (o caso está sob investigação do TSE, MP e PF), o passado disse alô.
Mais precisamente, o complô flagrado pela repórter da Folha, Patrícia Campos Mello, remeteu aos idos de 1982. Naquele ano, as eleições para governador do Rio de Janeiro ficaram marcadas por uma tentativa de fraude para impedir a vitória de Leonel Brizola.
A manobra ficou conhecida como Caso Proconsult.
O mundo estava longe da era das redes sociais, usava-se cédula de votação (a urna eletrônica só começaria a equipar algumas seções em 1996), mas os computadores já rondavam a totalização de apurações.
O conceito da fraude eletrônica era relativamente simples. Como as eleições de 82 eram quase gerais - seriam apontados governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores, e a legislação obrigava que todos os votos fossem para um mesmo partido -, estava previsto um alto índice de votos nulos. Os fraudadores ligados ao regime militar montaram um programa que transferia votos nulos e brancos para Moreira Franco, adversário de Brizola e o nome preferido pela ditadura. A maracutaia foi denunciada pela Rádio Jornal do Brasil, que montou esquema de apuração próprio. Na época, houve a suspeita de que O Globo estivesse conivente com o mecanismo, daí ter recorrido à contagem da Proconsult, que colocava Moreira Franco sempre à frente e levantava dúvidas quanto ao favoritismo de Brizola. Criava-se na opinião pública um clima propício à concretização da fraude.
O Globo de fato apoiava Moreira, mas negou participação, alegou que tinha seu próprio método de contagem de votos e desmentiu que houvesse contratado a Proconsult como sua fornecedora de dados eleitorais. Se não teve culpa, digamos então que o jornal foi ingênuo e se deixou usar pelos criminosos.
Alertado pela Rádio JB, Brizola, que tinha motivos para desconfiar do principal grupo de mídia do Brasil, preferiu denunciar o complô em uma coletiva a imprensa estrangeira. Foi uma jogada de mestre. No Hotel Glória, diante de dezenas de correspondentes, ele denunciou a trama e assim abortou a roubalheira de votos.
Brizola foi eleito e aquela primavera carioca consagrou o político mais combativo do Brasil, que faz falta nessas eleições conturbadas.
Mas além de Brizola, outro "personagem" ocupava o noticiário: uma figura que atendia pela alcunha de Diferencial Delta. Esse era o nome em código da variável montada para contabilizar fraudulentamente os votos pró-Moreira. De tanto ser falado, esse nome se popularizou nos becos, botecos e praias do Rio de Janeiro. E passou a explicar tudo que à época parecia inexplicável.
Comparando-se com as manipulações do novo milênio e o uso ilegal do Facebook, do WhatsApp e dos robôs em ação nas redes sociais, o Caso Procosult foi até rudimentar e ficou a anos-luz de distância do esquema atual denunciado pela Folha.
A motivação e o ponto em comum, ontem como hoje, foi a conspiração antidemocrática.
A CAPA PROIBIDA
Aqui, uma informação nada fake dos bastidores da redação da Fatos & Fotos durante o fechamento da edição com a cobertura daquelas eleições. A F&F pretendia dar o Brizola na capa,sozinho. Era a maior notícia da semana. Um ex-exilado eleito para o governo do Rio de Janeiro. O Caso Proconsult já havia sido desmoralizado e, na madrugada do fechamento, não restavam mais dúvidas de que o gaúcho era o vencedor, embora não oficializado pelo TRE. Até mesmo um adversário, Miro Teixeira, candidato do PMDB, que ficou em terceiro lugar, atrás de Moreira Franco, já reconhecia a vitória de Brizola. Com a foto já escolhida, a direção da Bloch vetou a capa sob o argumento de que Moreira ainda tinha chance "com os votos do interior". Ninguém acreditava naquilo, mas a capa foi trocada. Ficou essa aí, a dos "grandes vencedores" e dos "grandes prováveis". Sendo Brizola o "provável" que até o Diferencial Delta já sabia que era o futuro governador.
Restou à Fatos & Fotos registrar com ironia a movimentação do DD, o protagonista da primeira tentativa de fraude de eleições brasileira com base nos bits, bytes e mistérios dos computadores.
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