Jornalismo, mídia social, TV, streaming, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVI. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
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terça-feira, 1 de junho de 2010
Memórias da redação: Aconteceu no... O Cruzeiro
Este mergulho no passado jornalístico quem envia é Dalce Maria, de Brasília. A revista O Cruzeiro, de 3 de outubro de 1964, ano 1 dos anos de chumbo, publicava uma entrevista com o escritor Carlos Heitor Cony. Na época, em sua coluna no Correio da Manhã, Cony desafiava os generais de plantão. Foi preso por combater o golpe (que a revista, que apoiou a ditadura, como quase todas as publicações da época, chamava pomposamente de "Revolução de Abril"). Aqui, alguns trechos. Para ler a matéria completa vá ao site Memória Viva. Clique AQUI
segunda-feira, 29 de março de 2010
Dalce Maria: memórias de Brasília no blog da Paola Lma
por Dalce Maria* "Brasília e eu, ainda meninas"
"Minha primeira lembrança de Brasília é um velocípede ao pé do avião aterrissado. Apesar da então pouca idade, a situação era a da maioria trazida à força naqueles primeiros tempos, por motivos profissionais ou familiares. Vim na cauda do aumento de salário do papai, assessor de imprensa do Jango, desde Vice-Presidente.
Carioca detestava a cidade que usurpara a condição de Capital Federal. Eu não entendia desta perda. Mas não ver vovô, não brincar no Fluminense, não ir à praia, disto, tinha ódio! Daí precisar ser convencida pelo brinquedo. Para adultos, incentivos eram compensações financeiras, apartamentos funcionais, passagens aéreas pra terra de origem, e muito mais. E centenas não topavam - não só os do Rio. Vantagens e empregos não valiam morar no fim do mundo – como qualificavam Brasília.
Os que vinham conquistavam vida melhor. No meio do nada. Era tão seco que armários entortavam se não guardassem copos cheios de água. O vento armava rodamoinhos de poeira vermelha que giravam um carro – os “lacerdões”, referência ao maior inimigo político do JK. Para a gente grande, o tédio: mamãe dava berros em casa, só para ouvir um som. Para crianças, era o máximo. Espaço e liberdade para crescer. E ser.
O banzo do Rio murchou. A cada correria embaixo do bloco com amiguinhos de todos os estados. A cada dia na escola em que se estudava de manhã e brincava a tarde toda. A cada passeio no cerrado catando frutas que não conhecia. A cada chuva de granizo que nem sonhava existir. A cada mergulho na piscina do Brasília Palace Hotel. A cada saída no chapa branca que conduzia papai entre casa e trabalho. A cada visita ao Palácio da Alvorada, onde morava o Presidente, meu amado “tio Jango”.
Uma noite no fim de março, uma tal revolução. Minha mãe voltou do Ministério e chorou. Meu pai só chegou de madrugada: estava ao microfone, chefiando uma tal Cadeia da Legalidade, em defesa do Governo Jango. A noite foi esquisita. Pela manhã, olhando da janela, a W3 Sul, vi pessoas com bandeiras do Brasil e a cantar o Hino Nacional, indo de encontro a um pelotão de soldados. Quando os grupos se aproximaram, os fardados atiraram. Foi um tal de correr, se benzendo…
Meu pai fêz uma mala e colocou perto do hall dividido com a família do outro apartamento: médico, mulher e trigêmeas pequenas. Voltou ao quarto, como se esperasse que o buscassem. Nada perguntei: a intuição me calou. De fato, um silêncio, sinistro, tomou conta da família. E da vizinhança. Dava para ouvir o elevador. Quando subia, as lágrimas da mãe desciam. E o pai me abraçava. Quando o barulho passava do andar, o alívio – grande a ponto de uma criança entender.
Até que à tarde, estava na janela e um carrão preto parou. Uns homens, fardados, desceram. Fez-se o som do elevador, que não passou do nosso andar: parou. Meu pai me beijou. Minha mãe desmaiou. Não entendi, mas congelei. A porta do apartamento era de vidro, via-se através. Do elevador, desceram os fardados. Meu pai pegou a malinha. Mas os homens foram ao outro apartamento de onde saíram com o médico, de jaleco, algemado.
Susto, pena, medo, revolta, impotência. Assim grande parte de Brasília se sentiu entre 31 de março e 1º de abril de 1964. Fatos irreversíveis. Vidas de ponta cabeça. Eu, menina pequena, num dia, filha de autoridade, no outro, de perseguido político. A recém-nascida Capital amadureceu a força. Eu também.
(*Dalce Maria é jornalista, espectadora real da história de Brasília e abre a série de artigos em homenagem ao cinquentenário da capital no blog da jornalista Paola Lima)
(http://www.blogdapaola.com.br/?m=201003)
"Minha primeira lembrança de Brasília é um velocípede ao pé do avião aterrissado. Apesar da então pouca idade, a situação era a da maioria trazida à força naqueles primeiros tempos, por motivos profissionais ou familiares. Vim na cauda do aumento de salário do papai, assessor de imprensa do Jango, desde Vice-Presidente.
Carioca detestava a cidade que usurpara a condição de Capital Federal. Eu não entendia desta perda. Mas não ver vovô, não brincar no Fluminense, não ir à praia, disto, tinha ódio! Daí precisar ser convencida pelo brinquedo. Para adultos, incentivos eram compensações financeiras, apartamentos funcionais, passagens aéreas pra terra de origem, e muito mais. E centenas não topavam - não só os do Rio. Vantagens e empregos não valiam morar no fim do mundo – como qualificavam Brasília.
Os que vinham conquistavam vida melhor. No meio do nada. Era tão seco que armários entortavam se não guardassem copos cheios de água. O vento armava rodamoinhos de poeira vermelha que giravam um carro – os “lacerdões”, referência ao maior inimigo político do JK. Para a gente grande, o tédio: mamãe dava berros em casa, só para ouvir um som. Para crianças, era o máximo. Espaço e liberdade para crescer. E ser.
O banzo do Rio murchou. A cada correria embaixo do bloco com amiguinhos de todos os estados. A cada dia na escola em que se estudava de manhã e brincava a tarde toda. A cada passeio no cerrado catando frutas que não conhecia. A cada chuva de granizo que nem sonhava existir. A cada mergulho na piscina do Brasília Palace Hotel. A cada saída no chapa branca que conduzia papai entre casa e trabalho. A cada visita ao Palácio da Alvorada, onde morava o Presidente, meu amado “tio Jango”.
Uma noite no fim de março, uma tal revolução. Minha mãe voltou do Ministério e chorou. Meu pai só chegou de madrugada: estava ao microfone, chefiando uma tal Cadeia da Legalidade, em defesa do Governo Jango. A noite foi esquisita. Pela manhã, olhando da janela, a W3 Sul, vi pessoas com bandeiras do Brasil e a cantar o Hino Nacional, indo de encontro a um pelotão de soldados. Quando os grupos se aproximaram, os fardados atiraram. Foi um tal de correr, se benzendo…
Meu pai fêz uma mala e colocou perto do hall dividido com a família do outro apartamento: médico, mulher e trigêmeas pequenas. Voltou ao quarto, como se esperasse que o buscassem. Nada perguntei: a intuição me calou. De fato, um silêncio, sinistro, tomou conta da família. E da vizinhança. Dava para ouvir o elevador. Quando subia, as lágrimas da mãe desciam. E o pai me abraçava. Quando o barulho passava do andar, o alívio – grande a ponto de uma criança entender.
Até que à tarde, estava na janela e um carrão preto parou. Uns homens, fardados, desceram. Fez-se o som do elevador, que não passou do nosso andar: parou. Meu pai me beijou. Minha mãe desmaiou. Não entendi, mas congelei. A porta do apartamento era de vidro, via-se através. Do elevador, desceram os fardados. Meu pai pegou a malinha. Mas os homens foram ao outro apartamento de onde saíram com o médico, de jaleco, algemado.
Susto, pena, medo, revolta, impotência. Assim grande parte de Brasília se sentiu entre 31 de março e 1º de abril de 1964. Fatos irreversíveis. Vidas de ponta cabeça. Eu, menina pequena, num dia, filha de autoridade, no outro, de perseguido político. A recém-nascida Capital amadureceu a força. Eu também.
(*Dalce Maria é jornalista, espectadora real da história de Brasília e abre a série de artigos em homenagem ao cinquentenário da capital no blog da jornalista Paola Lima)
(http://www.blogdapaola.com.br/?m=201003)
domingo, 13 de dezembro de 2009
Memórias da redação: Aconteceu... na revista Carinho
por Dalce Maria
Pra vocês, com muito CARINHO
A gente era feliz. E, em maioria, sabíamos MUITO BEM disto. Eu, que voltara ao Rio para dirigir a CARINHO, vinda de Brasília, onde era repórter de economia e política do velho/grande JB, tinha perfeita noção do privilégio de fazer revista (e ainda tenho! embora esteja de novo em Brasilia, trabalhando com política. Deve ser karma!!). Ainda mais uma revista dirigida a adolescentes. E adolescentes reprimidos politica, social e culturalmente sob o peso da ditadura militar de tantos anos!
Quebramos vários tabus editoriais! Ousamos matérias de orientação sexual, falamos de drogas, direcionamos opções profissionais veiculando reportagens sobre mercado&carreiras. Lançamos várias das grandes estrelas do momento em televisão. Tais Araújo, Giovana Antonelli e Nívea Stelman, entre estas: todas começaram a caminhada, posando para fotos de reportagens e capas da CARINHO.
Batemos muitos recordes de venda em bancas.
Mas, todos estes acertos profissionais de pouco valeriam (se é que aconteceriam), se não fôssemos uma equipe. Uma tchurma! Com todas as diferenças, de idade, crenças, raças etc. Mas focada em fazer o melhor por nosso público-alvo. Principalmente, quando isto dava em sonoras gargalhadas de nossa parte. Era MUITO BOM! E está aí, pra quem quiser conferir nestas fotos, que Sidney Ferreira, nosso super-editor de arte, tirou de algum lugar do passado e devolveu ao presente. Que bom, Sid!!!
Legendar todas as fotos, uma por uma, seria muito chato. Nomear um a um, quem trabalhou na revista, não dá... Então, homenageio todos da CARINHO dos meus tempos, começando a identificação pelo mais genial que viveu entre nós: INDALÉCIO WANDERLEY, o dono da festa, destaque entre os melhores fotógrafos (e coleguinhas) que este país já conheceu. Também nas fotos, vemos Sidney, Maurinho e Wellington, da arte; Ana Anglada, Lucia Vianna e Adriana, produção; Ana Paula, Dora, Aline, Adriana e Lucia, redação/reportagem; e - claro! - Marcinha, símbolo da revista, a secretária mais inesquecível de minha carreira; além de mim, Dalce. Curtam de montão!!! Saudades gerais!!!!!!!
Pra vocês, com muito CARINHO
A gente era feliz. E, em maioria, sabíamos MUITO BEM disto. Eu, que voltara ao Rio para dirigir a CARINHO, vinda de Brasília, onde era repórter de economia e política do velho/grande JB, tinha perfeita noção do privilégio de fazer revista (e ainda tenho! embora esteja de novo em Brasilia, trabalhando com política. Deve ser karma!!). Ainda mais uma revista dirigida a adolescentes. E adolescentes reprimidos politica, social e culturalmente sob o peso da ditadura militar de tantos anos!
Quebramos vários tabus editoriais! Ousamos matérias de orientação sexual, falamos de drogas, direcionamos opções profissionais veiculando reportagens sobre mercado&carreiras. Lançamos várias das grandes estrelas do momento em televisão. Tais Araújo, Giovana Antonelli e Nívea Stelman, entre estas: todas começaram a caminhada, posando para fotos de reportagens e capas da CARINHO.
Batemos muitos recordes de venda em bancas.
Mas, todos estes acertos profissionais de pouco valeriam (se é que aconteceriam), se não fôssemos uma equipe. Uma tchurma! Com todas as diferenças, de idade, crenças, raças etc. Mas focada em fazer o melhor por nosso público-alvo. Principalmente, quando isto dava em sonoras gargalhadas de nossa parte. Era MUITO BOM! E está aí, pra quem quiser conferir nestas fotos, que Sidney Ferreira, nosso super-editor de arte, tirou de algum lugar do passado e devolveu ao presente. Que bom, Sid!!!
Legendar todas as fotos, uma por uma, seria muito chato. Nomear um a um, quem trabalhou na revista, não dá... Então, homenageio todos da CARINHO dos meus tempos, começando a identificação pelo mais genial que viveu entre nós: INDALÉCIO WANDERLEY, o dono da festa, destaque entre os melhores fotógrafos (e coleguinhas) que este país já conheceu. Também nas fotos, vemos Sidney, Maurinho e Wellington, da arte; Ana Anglada, Lucia Vianna e Adriana, produção; Ana Paula, Dora, Aline, Adriana e Lucia, redação/reportagem; e - claro! - Marcinha, símbolo da revista, a secretária mais inesquecível de minha carreira; além de mim, Dalce. Curtam de montão!!! Saudades gerais!!!!!!!
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