Mostrando postagens com marcador Assis Chateaubriand. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Assis Chateaubriand. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Fotomemória da redação: De olho na concorrência, Chateaubriand folheia a revista que desbancou O Cruzeiro

No fim dos anos 1950, Chateaubriand lê a Manchete, que logo desbancaria
O Cruzeiro. Foto Manchete/Reprodução

Essa foto rara foi feita há cerca de 60 anos. O magnata da comunicação Assis Chateaubriand folheia uma edição da Manchete. Os Diários Associados viviam seu ponto mais brilhante antes do crepúsculo. A Manchete, menos de cinco anos depois de criada, estava longe de competir com O Cruzeiro, sua circulação de 400 mil exemplares e uma lendária equipe de repórteres e fotógrafos.

Aparentemente, Chatô não estava nem aí.

A gráfica dos Bloch tinha uma pequena rotativa offset que imprimia durante cinco dias por semana as revistas infantis de Adolpho Aizen e Roberto Marinho. Sobravam dois dias para rodar a Manchete, que ainda não competia com as reportagens épicas do Cruzeiro.

Em  1959, Adolpho Bloch convidou Justino Martins para dirigir e comandar um reforma editorial na revista. A essa altura, já impressa em máquinas modernas e exibindo a qualidade gráfica que seria uma das suas marcas registradas. Inspirada na Paris Match, Manchete foi modernizada, tomou um "banho de loja".

Ao levar a construção de Brasília a milhares de leitores, passo a passo e em fotos memoráveis, Manchete ganhou o alcance nacional que ainda lhe faltava. Começou ali a decolagem. Em menos de cinco anos, aquela revista que Chatô folheava despreocupadamente desbancou O Cruzeiro, passou a liderar com folga a circulação e tornou-se a principal semanal brasileira. O Brasil vivia um ciclo de desenvolvimento. Dizem os teóricos que o país ganhou ali os contornos de uma sociedade de massa. Manchete se beneficiou disso e cobriu não apenas os sinais de progresso mas a agitação cultural que embalou a época: Bossa Nova, Cinema Novo, a arquitetura, a arte, o teatro e outras expressões artísticas e estéticas. O esporte gerava ídolos: Pelé, Garrincha, os demais campeões do mundo de 1958 e de 1962, Éder Jofre no boxe, Maria Esther Bueno em Wimbledon, até o tênis de mesa tinha a sua celebridade, um menino campeão mundial, o Biriba. Manchete surfou nessas ondas.

E a Bloch ainda lançou outra publicação, a Fatos & Fotos, que, nas bancas, tinha a função estratégica de congestionar a semana e fechar ainda mais o espaço para a revista dos Diários Associados.

Chatô ainda não sabia o que estava perdendo. Mas a revista concorrente já virava a curva e buscava o vácuo da líder.

Adolpho Bloch visita Chateaubriand.
Chatô, o "Cidadão Kane"
brasileiro, já estava doente.
Foto Manchete/Reprodução
Contar o fim dessa história não é spoiler.

Assis Chateaubriand morreu em 1968. Adolpho em 1995.

E as duas revistas completaram quase o mesmo tempo de banca, mas não chegaram a comemorar 50 anos de existência.

Manchete acabou aos 48 anos (ainda lançou algumas edições especiais não regulares, depois disso).

O Cruzeiro foi morrendo aos poucos e tirou a rotativa da tomada, definitivamente, aos 47 anos.

Requiescat in pace...

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Adelzon Alves: roda de samba pede a volta ao ar do "Amigo da Madrugada". Vai ser na segunda-feira, dia 25, na Rua Gomes Freire, em frente ao prédio da EBC

Foto EBC


Reprodução/Blog Marceu Vieira

por Marceu Vieira

Caros doutores Roberto Marinho e Assis Chateaubriand.

Escrevo aos senhores, que foram donos do Brasil e tiveram os políticos sob seus pés – os maus políticos, vá lá, o que tornou suas biografias ainda mais interessantes -, bom, escrevo aos senhores como um último recurso.

Adelzon Alves, 76 anos, 77 daqui a pouco, 55 deles à frente de microfones de rádio, o nosso Adelzon, patrimônio da radiofonia brasileira, profissional que, de modo sobrenatural, consegue reunir excelência e bondade, o Adelzon, enfim, está fora do ar desde a última terça-feira, 20 de de julho.

Isso é um absurdo. Peço a ajuda dos senhores.

Na verdade, já era quarta quando foi ao ar pela última vez. Porque, como os senhores devem se lembrar – mais ainda o doutor Roberto, que foi patrão dele -, Adelzon é o “amigo da madrugada”. Apresenta, com este nome, “Amigo da Madrugada”, um programa desde 1966.

Caso o doutor Chatô não recorde, pois se foi daqui em 1968, e só conviveu dois anos com o sucesso do Adelzon, rogo ao doutor Roberto que confirme a minha descrição. Adelzon Alves é o principal radialista da história da MBB (Música Boa Brasileira). Trabalhou na Rádio Globo por 26 anos. Teria saído de lá (perdoe a indiscrição, doutor Roberto) depois que um sambista cismou de criticar a construtora Odebrecht no ar.

No dia seguinte, segundo relato de gente da época, o Adelzon nem da portaria da emissora da Rua do Russel 434 pôde passar. Águas passadas, doutor Roberto, o tempo as absorve e as absolve – e desconfio mesmo que o senhor não permitiria coisa assim hoje em dia, se por aqui ainda estivesse.

Adelzon é um homem pobre, espero que ele releve a minha inconfidência. Vinha ganhando um salário inacreditável na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), braço do governo federal a que a Rádio Nacional, onde ele trabalha, está submetido.

Aliás, trabalhava. O contrato furreca dele, de R$ 5 mil mensais brutos, não descontados o que ele paga mensalmente de ISS e a um contador, expirou dia 20 – e a EBC não quis renová-lo. A estatal alegou que o país está em crise, que o orçamento da emissora anda prejudicado, e expurgou o nosso “amigo da madrugada”.

Doutor Roberto, doutor Chatô, não duvidem de mim. Adelzon, que nem celular tem, nunca tirou férias, nem descansou em feriado. Mora na Pedra de Guaratiba, bairro humilde da Zona Oeste do Rio, e, até anteontem, ia trabalhar todas as noites de trem. Tomava um ônibus até Santa Cruz, e dali embarcava no comboio da SuperVia.

Na volta, depois de três horas de programa, da meia-noite às 3h, caminhava até a Central do Brasil pra pegar um BRT. Chegava em casa às 5h da manhã. Nunca reclamou disso. À família, sempre disse ter um compromisso com a “música brasileira verdadeira”.

Peço ajuda aos senhores pra que intercedam, daí, de onde estão agora, e este crime de lesa-música seja revertido.

Em plena era das descobertas de imensas corrupções, quando milhões de reais públicos são desviados pra contas na Suíça, e outros bilhões igualmente nossos financiam as Olimpíadas do Rio ou maluquices como a Hidrelétrica de Belo Monte, não é possível que não haja R$ 5 mil no orçamento da EBC pra manter no ar o programa do Adelzon.

Nesta segunda-feira, 25 de julho, ao meio-dia, uma roda de samba promete se formar na Rua Gomes Freire, Centro velho do Rio, em frente ao prédio da EBC, num protesto contra atitude tão mesquinha de subalternos do governo provisório de Michel Temer.

Doutor Roberto, doutor Chatô, os senhores, que foram donos do Brasil e souberam como ninguém criar e conduzir o poder das rádios, os senhores precisam nos ajudar nesta causa.

O Adelzon, sabe bem o doutor Roberto, foi contratado pela Globo, em 1964, pra falar de ieieiê e jovem guarda. No entanto, pôs no ar sambistas do morro, como Cartola, Candeia, Nelson Cavaquinho, Zagaia, Silas de Oliveira, Geraldo Babão, Djalma Sabiá…

O Adelzon, praticamente, lançou Paulinho da Viola e Martinho da Vila.

Coisa parecida, doutor Chatô, com o que fez na sua querida (e nossa também) Rádio Tupi o locutor Salvador Batista.

Adelzon doou ao Brasil o sucesso de Clara Nunes. Lançou João Nogueira (saudade), Roberto Ribeiro (saudade também) e ainda Dona Ivone Lara e ainda Wilson Moreira e ainda tantos e tantos mais.

No programa dele, despontaram Zeca Pagodinho, Almir Guineto, muita gente. Não é possível que façam com ele o que estão fazendo agora.

No início dos anos 1970, Adelzon pôs em seu programa o eterno e grandioso Jackson do Pandeiro – e o resultado foi que a música nordestina se reaqueceu, e Jackson perdurou oito anos com nosso radialista no ar. Graças a esse gesto, vieram novas gravações de Luiz Gonzaga, só pra citar mais um mito.

Doutor Roberto, doutor Chatô, conto com os senhores, que foram donos do Brasil e souberam fazer rádios como ninguém, e tiveram sob seus pés os políticos – sobretudo, os maus e os mesquinhos e os avarentos. Conto com os senhores.

O Adelzon, que é figura maior e iluminada e desapegada das coisas terrenas, não está pedindo ajuda, nem nada. Quem estamos somos nós. Humildemente, somos nós. Em nome do bom rádio brasileiro, humildemente, somos nós.

Com respeito, acolham este tão sincero rogo e aceitem, por favor, o cumprimento, embora desimportante, deste cronista digital.

LEIA \NO BLOG DO JORNALISTA E ESCRITOR MARCEU VIEIRA, CLIQUE AQUI