terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Ricardo Boechat: uma ausência

Em 1993, Manchete foi encontrar Ricardo Boechat na redação do Globo.
O colunista posou  para o fotógrafo Orlando Abrunhosa na mesa de trabalho,
que era sua trincheira. 
O jornalismo perdeu Ricardo Boechat no momento em que seu trabalho era mais importante.

O Brasil está precisando de indignação.

Muita.

E Boechat foi, na grande mídia, um dos poucos que não não se deixou calar e deu voz à justa indignação sem selecionar os alvos.

Em 1993, a Revista Manchete reuniu em uma matéria de várias páginas os principais colunistas da época. O título: "A guerra dos colunistas". O subtítulo: "Obrigados pela crise a dar menos importância às dondocas e badalações, eles partem para o jornalismo mais in do Brasil".

Boechat, um dos focalizados, comentou a mudança que motivava a pauta da revista.

- "O colunista teve que se transformar em repórter apurador", disse ele ao repórter Jorge Eduardo Antunes, sem sequer observar que sua obstinação pela notícia era um dos fatores da evolução do colunismo.

A força das redes sociais era então uma miragem, os fatos não eram acessados com um clique e os jornais impressos ainda eram a fonte mais disputada de notícias de várias áreas. Como apurador, Boechat era um cão farejador que se desafiava a contar o que nem sempre podia ser desvendado.

A internet provocou uma crise de identidade no jornalismo impresso, abalou a mídia, e Boechat, como tantos outros profissionais, teve que se reinventar. Firmou-se como âncora na TV aberta, sem  se empolgar com sites, canais de You Tube e redes sociais. Curiosamente, foi encontrar seu melhor público em um veículo cuja força é hoje subestimada: o rádio e o seu programa nas manhãs da Bandeirantes, de grande repercussão.


Ricardo Boechat recebeu justas homenagens. Uma, talvez, simbolize a missão cumprida junto ao público, a razão de ser do jornalismo. Foi a manifestação espontânea dos taxistas, dos quais a voz de Boechat foi passageira e, agora, torna-se ausência e saudade.

VEJA O VÍDEO DA HOMENAGEM DOS TAXISTAS, EM SÃO PAULO. CLIQUE AQUI

2 comentários:

Eleonora disse...

Gostava da sinceridade nas opiniões dele. Reclamava do que achava errado sem ligar pra partido, governo, igreja, time de futebol. Vai fazer muita falta.

Ivo disse...

De manhã sem o programa dele na radio já foi diferente, fica faltando ele reclamar ligado no povão que faz as mesmas reclamações.