sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Patrimônio fotográfico extraviado - Exposição que homenageou Gervásio Baptista conseguiu reunir apenas dez fotos históricas. A maior parte da obra do grande fotojornalista permanece sumida junto com o acervo de fotos que pertenceu à extinta Bloch Editores

Gervásio Baptista observa uma das suas mais famosas fotos: JK saudando a inauguração de Brasília. Esta imagem foi capa da Manchete e inspirou a estátua do ex-presidente fixada no alto do Memorial JK.

Gervásio no Vietnã, no começo dos anos 1970, e na Galeria Olhos de Águia, que expôs suas fotos históricas. 

Uma exposição de fotos que se encerrou no último dia 30 de janeiro, na Galeria Olhos de Águia, em Taguatinga, DF,  homenageou a trajetória de Gervásio Baptista, uma das grandes lendas da equipe da Revista Manchete.

Aos 96 anos, o repórter fotográfico teve uma pequena parte da sua obra exibida às novas gerações.

Gervásio cobriu incontáveis eventos e registrou personalidades de todas as áreas, de presidentes a atletas, de misses a líderes mundiais, de atores a atrizes, de tragédias, guerras, revoluções a crises políticas e crimes de repercussão.

São apenas dez fotos históricas entre as milhares que sua câmera captou desde 1954, quando foi para a Manchete após uma passagem pela revista O Cruzeiro.

Certamente, o fotojornalismo brasileiro merecerá um dia um livro que reúna uma ampla seleção da obra de Gervásio Baptista.

Infelizmente, a maior parte de sua produção permanece em lugar incerto e não sabido, assim como não se conhece as condições de conservação do material, desde que um advogado do Rio de Janeiro arrematou em leilão promovido pela Massa Falida da Bloch todo o acervo fotográfico reunido pelas revistas da editora em mais de meio século de existência.

O arquivo desaparecido, assim como a impossibilidade de contato com o detentor dos direitos patrimoniais do acervo (os direitos autorais pertencem aos fotógrafos, que também não têm acesso ao material) imobilizam um patrimônio histórico, com grave prejuízo à Cultura.

Pouco antes do leilão, ex-funcionários da Manchete tentaram mobilizar o Ministério da Cultura, o Arquivo Nacional e até instituições privadas para que se habilitassem a adquirir o acervo de milhões de imagens que acabaram vendidas por pouco mais de 300 mil reais.

Desde então, sumiram.

Um alento, para quem valoriza a memória jornalística, foi a iniciativa da Biblioteca Nacional que digitalizou a coleção da Revista Manchete e disponibilizou para consulta pública, a seção Periódicos do site oficial, milhares de exemplares.

Não resolve os problemas dos pesquisadores, escritores e documentaristas, que não sabem a quem se dirigir para obter licenças legais para uso de fotos (os direitos sobre textos não foram objeto de qualquer leilão), mas torna possível conhecer o trabalho de gerações de jornalistas, cronistas e fotojornalistas que atuaram na revista Manchete, entre estes, Gervásio Baptista, cuja exposição, louvável por revisitar seu talento, só conseguiu reunir 10 fotos entre milhares virtualmente perdidas.

* As fotos acima foram enviadas ao blog por José Carlos Jesus, presidente da Comissão dos Ex-Empregados da Bloch Editores (CEEBE), que as recebeu de Dalva Tosta e Gilberto Costa

3 comentários:

Marcela disse...

Justa homenagem e também vale a denúncia sobre o sumiço do arquivo. Brasil não sabe cuidar da memória. Basta ver o caso no Museu Nacional e tantos outros.

Hoffmann disse...

É um crime que os brasileiros não tenham acesso à obra de um profissional de quase 100 anos. Tanto a obra de Gervásio Batista quanto a dos seus muitos colegas fotografos que foram da Manchete. Espero que essas fotos ainda não tenham sido destruídas e possam um dia virem à luz.

F. Sépia disse...

Uma pergunta que faço; por que alguém compra um arquivo em leilão, um arquivo tão importante, e não faz nada de útil com isso? São mistérios tupiniquins.