O teatro político encena mais um ato. Talvez o último dessa curta temporada de reprises.
Não chega a ser novidade. A história do Brasil raramente apresenta espetáculos inéditos.
Há pouco mais de 50 anos, no mesmo espaço cenográfico, o então presidente do Senado, a triste figura de Auro de Moura Andrade, anunciou vaga a Presidência da República porque, segundo ele, João Goulart havia se ausentado do país sem pedir licença ao Congresso. Era um ridículo pretexto.
O golpe estava nas ruas, Jango ainda não deixara o país, mas a declaração de Moura Andrade na função de tapete dos golpistas tinha a finalidade de dar um perfil "institucional" ao processo que implantava a ditadura.
Nas décadas seguintes, o Congresso, o Supremo Tribunal Federal e a grande mídia transformaram-se em contra-regras para o sangrento teatro dos militares.
Se havia necessidade de uma "lei" para justificar desmandos, gastos e perseguições, deputados e senadores corriam como motoboys para entregá-las o mais rápido possível ao quartel mais próximo.
Se era necessário condenar alguém ou tornar "constitucional" o impossível, os juristas do STF estavam lá mesmo para bater continência, digo, jurisprudência, lustrar botas e fornecer sentenças que eram entregues aos solicitantes como caixas de pizza encomendadas por telefone.
Se os órgãos de segurança executavam um militante, a mídia comparecia com matérias que simulavam resistência armada, troca de tiros ou fugas que jamais aconteceram simplesmente porque o dito "fugitivo" já estava morto e enterrado em local incerto. Basta consultar as coleções dos grandes jornais para reler tais textos de ficção estampados nas primeiras páginas.
O tal espetáculo, que ficou em cartaz durante anos, sob aplausos da crítica especializada, chamava-se "Aparência Legal".
Fez tanto sucesso que, até hoje, os ditadores que os dirigiam são chamados de "presidentes"
O "roteirista" encarregado de criar enredos para o gênero que transforma o sujo em mal lavado está de volta ao palco político.
Só o diretor da peça na antiga versão, o general de plantão, não está mais na ativa ou prefere a coxia.
No mais, as mesmas "companhias teatrais", o Congresso e o STF, conduzem o reality show de afastamento de uma presidente eleita em um espetáculo cujo final já está estabelecido.
Nada parece novo na dramaturgia da reencenação da peça "Aparência Legal".
Os atores são canastrões, os personagens são patéticos e até o odor que vem do banheiro do teatro é conhecido de outras temporadas.
4 comentários:
Um show de cinismo é o que rola por aí
Esse texto não foi assinado. Quem seria o autor?
O Brasil mostra o lado negro da força mais uma vez.
Com a baixaria que se vê no Senado digo que é um espetáculo proibido para pessoas civilizadas, honestas, educadas, com um mínimo de respeito ao próximo.
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