quinta-feira, 25 de junho de 2015

"O Vasco que Eu Conheci", por Nelio Horta

por Nelio Horta (de Saquarema)

“Casaca, Casaca, Casaca, Casa, Casa, Casa, Casaca, Casaca, Casaca, a Turma é Boa, é Mesmo da Fuzarca, Vasco, Vasco, Vasco!!!
Nos anos 50, eu, com 13 anos, morava na Praça Argentina, em São Cristóvão, próxima ao campo do Vasco, em São Januário. Era apaixonado por futebol e, meu pai, que torcia pelo América, tentava de todas as maneiras que eu seguisse essa tendência, já que, naquela época, o América era da “elite” do futebol carioca. O primeiro jogo de futebol que assisti foi no outrora distante campo do Bonsucesso, na Avenida Teixeira de Castro, entre América x Bonsucesso. Fomos de trem e meu pai me levou na esperança de eu fosse mais um torcedor dos chamados “Diabos Rubros”. O jogo terminou com 6 a 0 para o América.  Nunca esqueci aquele time do América: Vicente, Domício e Grita; Oscar, Dino e Amaro: China, Maneco, Cesar, Lima e Jorginho. Foi um autêntico passeio dos "Rubros". Assisti o jogo numa cadeira, encostada no “alambrado”, onde  eu podia ouvir o barulho dos chutes, bem ao meu lado. Tudo muito tranqüilo e sem nenhum incidente.

Infantis, Infanto-Juvenis e Juvenis
Ainda com 13 anos fui tentar a sorte como jogador nas divisões de base do Vasco, dessa vez incentivado por meu tio Antenor, que, quando jovem, tinha sido jogador, também, do América. Joguei nos Infantis e no Infanto-juvenil. O técnico era o Eduardo Pellegrini, que me encaminhou para os Juvenis. A maioria dos jovens recrutados pelo Vasco, naquela época,  vinha do interior do Estado do Rio e do Espirito Santo. O Vasco tinha os chamados “olheiros”, que garantiam, além de moradia e alimentação, o pagamento de estudo em colégios das redondezas. O Vasco sempre foi muito correto com seus jogadores. Jogando no Juvenil, cujo técnico era o Otto Vieira (não confundir com o Ondino Viera, dos  profissionais), viajei, de trem, que saia da Leopoldina, pelo interior do Estado do Rio e Espirito Santo. Lembro-me do Orlando Peçanha, do Coronel, do Vavá, que nem pensava em seleção brasileira, do Assed, do Pedro, do Élcio, do Castelo, do Yêdo, do “Fumaça”, e tantos outros, de uma época que, parecia, não ia acabar nunca.
O ataque do Vasco em 1951: Tesourinha, Ipojucan,
Friaça, Maneca e Djair. Reprodução/Acervo Nelio Horta
Foi nessa época que eu conheci, em São Januário - num ambiente vencedor, jogadores famosos, com os quais convivi, durante dois anos. Uma verdadeira família. Também  nessa época, meu pai, que era “crupier” no Cassino da Urca, ficou desempregado. Eu era do ginásio Instituto Cylleno, na Rua São Januário, e o Vasco, acreditando no meu potencial, pagou meus estudos até os 15 anos, quando terminei o ginásio, deixando o clube e me aventurando no jornalismo, onde passei o resto da minha existência.

Vasco, Campeão dos Campeões
Era uma equipe maravilhosa, a começar pelo “grande” Moacir Barbosa, que jogava “sinuca” comigo , na concentração, o Augusto, que era da antiga Polícia Especial, o Haroldo, o Eli, que era irmão do goleiro Osni, do América, o Danilo, e o Jorge; no ataque, Sabará, Maneca, Ademir, Jair e Chico
No combinado Vasco e Santos, anos 50, o vascaíno Pelé.
Reprodução/Acervo Nelio Horta
ou o Djair, um “baixinho”, meu vizinho, que veio do São Cristóvão e brilhou no ataque cruzmaltino.
Após a Copa de 50, a seleção do Brasil, quase toda formada  pela equipe do Vasco, inclusive pelo técnico, Flávio Costa, que era um técnico “caxias”, caiu em profunda depressão e era comum vermos jogadores, encostados no alambrado, conversando com torcedores, tentando explicar os motivos da derrota. O caso mais triste foi o do goleiro Barbosa, que sofreu até a morte cobranças  pelo 2x1 para o Uruguai..
Ademir, “o Queixada”, que era pernambucano, morava numa casa imensa, na rua Coronel Cabrita, próxima ao estádio, e o pai dele, “seu Meneses” , era pai e advogado na hora das reformas de contrato do jogador.
Jorginho (América) e Djair, em 1951. Reprodução
 Passados alguns anos, eu já tinha deixado o Vasco, encontrei com o Maneca, no Largo da Cancela, em São Cristóvão. Ele estava com uma pasta e me disse que era vendedor. Algum tempo depois, soube que ele se suicidara..
Todos os anos, no imenso “Campeonato Brasileiro”, a imensa torcida do Vasco tem a esperança de que apareça uma equipe vencedora, como aquela dos anos 50, apesar da derrota para o Uruguai, para disputar a liderança e não amargar a lanterna como vem acontecendo ultimamente.
“Casaca, Casaca, Casaca, a Turma é Boa, é Mesmo da Fuzarca, Vasco, Vasco, Vasco!!!

4 comentários:

J.A.Barros disse...

Na década 40 o Vasco foi bautizado como o "escrete da vitória " e no bairo onde morava fundamos um clube chamado de "Expressinho " com as cores e camisas do Vasco da Gama. Eu jogava na lateral esquerda sem nunca saber chutar com o pé esquerdo, mas o dono da bola me escalava sempre na esquerda. Esse time tinha grandes jogadores de meio de campo e atacantes. Fomos os campeões do bairro. Depois do título deixei o clube. Não me conformava em ser escalado na lateral esquerda. Meu sonho era ser lateral direito. Ser o Biguá igual ao do Flamengo.

Esmeraldo disse...

O nosso Vasco está precisando, e muito, que os craques do passado inspirem o time do presente. Algo como Vavá, Almir Pernambuquinho, Orlando, um Coronel, esse era carne de pescoço também necessária, e o espírito e o sangue do super-super campeão de 1958, por exemplo, darem as caras no Maracanã, domingo, em forma de ectoplasma. O Vascão está carente desse doping do além.

Nelio Horta disse...

Correção:
No combinado Vasco/Santos, ao lado de Pelé está o Yêdo. Neste jogo o Dejair não jogou.

Anônimo disse...

Olá Nelio, você poderia fazer outros posts falando mais a respeito desses jogadores do lendário Expresso da Vitória. é difícil encontrar alguém que tenha visto esse time jogar, muito menos que tenha convivido com eles...
Tantas lendas do futebol brasileiro em um time só. Ipojucan, Tesourinha, Ademir queixada, o Príncipe Danilo, Barbosa, Heleno De Freitas e muitos outros craques.