"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
Clarice Lispector
Jornalismo, mídia social, TV, atualidades, opinião, humor, variedades, publicidade, fotografia, cultura e memórias da imprensa. ANO XVII. E, desde junho de 2009, um espaço coletivo para opiniões diversas e expansão on line do livro "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou", com casos e fotos dos bastidores das redações. Opiniões veiculadas e assinadas são de responsabilidade dos seus autores. Este blog não veicula material jornalístico gerado por inteligência artificial.
"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
Clarice Lispector
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O recado do Pato. Reprodução Machete |
por Ed Sá
Manchete publicou esse anúncio nos anos 1970. O mundo era desacelerado, nem sonhava com mensagens imediatas de texto ou de áudio faiscando nos celulares. Os Correios anunciavam uma importante inovação. Você não precisava mais ir às agências "passar" um telegrama. Bastava pegar o telefone, aguardar o sinal (que poderia demorar vários minutos) discar para o número indicado e ditar sua mensagem a ser telegrafada.
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Telegrama da atriz Henriette Morineau para o Teatro do Estudante. |
Vejam só, deixei passar em brancas nuvens o dia 12 de março, centenário de nascimento de Jack Kerouac, logo eu que sou o único brasileiro a manter correspondência com o autor de “On the Road”. Outro dia eu vou contar essa história aqui mesmo. Prefiro agora descolar uma vinheta, uma nota-de-pé-de-página sobre as coincidências irônicas.
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O berro do Brando |
Kerouak com a mulher, Stella Sampas |
Levado ao hospital, com hemorragia do esôfago, Kerouac recebeu 26 transfusões de sangue, mas não pôde ser operado por causa do estado crítico do fígado. O “pai dos beats” morreu às 5:15 da manhã seguinte aos 47 anos. A causa oficial da morte foi hemorragia interna (provocada por varizes esofagais), causada por cirrose hepática, decorrente de décadas de abuso alcoólico.
Um fato curioso: numa carta de 1957 – ano em que o lançamento On the Road causou grande comoção nos meios literários – Kerouac instava Marlon Brando a comprar os direitos para a filmagem do romance.
Jack assim vendia seu peixe a Marlon: “Estou torcendo para que você compre On the Road e o transforme em filme. Não se preocupe com a estrutura, sei como comprimir o enredo e criar uma estrutura cinematográfica perfeitamente aceitável. Queria que você interpretasse o papel de Dean [Moriarty] porque ele (você sabe) não é desses babacas ligados em corridas de automóvel, mas um irlandês inteligente de fato (na verdade um jesuíta). Você faz Dean e eu faço Sal (Warner Bros decidiu que eu seja Sal) e vou lhe mostrar como Dean atua na vida real.”
Kerouac queria muito ver seu filme nas telas. Brigou com seu agente que não aceitou os 110 mil dólares oferecidos pela Warner, queria 150 mil. Só dez anos depois de sua morte, os direitos de filmagem foram comprados por Francis Ford Coppola, por insistência de uma namorada, o cineasta do Chefão não tinha nenhum tesão pelos beats. Convocou vários diretores – até seu filho Roman – mas nenhum conseguiu engrenar o projeto. Quando viu Diários de motocicleta, em 2004, Coppola teve um estalo e convidou o diretor do filme, Walter Salles, para transformar o romance de Kerouac em filme. O brasileiro topou, mas pediu um tempo. Vestiu sua toga de humildade, afinal ele tinha apenas um ano de idade quando On the Road foi publicado. Em 2005, Salles – que como piloto de corridas participou da GT3 Brasil – refez com uma pequena equipe as viagens de On the Road, entrevistando os remanescentes beats (Ferlingheti, Gary Snyder, a biógrafa de Kerouak, Ann Charters) e simpatizantes como Lou Reed, Philip Glass, Annie Lennox, do Eurythmics. Deu até uma esticada à Inglaterra para ouvir a viúva de Neal Cassady, Carolyn. Walter fazia em média duas ou três entrevistas por dia, durante abril de 2005, do meu Bunker na Real Grandeza, eu lhe fornecia por e-mail um perfil dos entrevistados e sugestões de perguntas. Por essa cobertura de retaguarda, como “consultor beat”, recebi um cachê que valeu mais pelo prestígio do pagante: a produtora Zoetrope, de Francis Ford Coppola.
VEJA MARLON BRANDO NO CLIP DE UM BONDE CHAMADO DESEJO AQUI
"Sinto-me nascido a cada momento, para a eterna novidade do mundo”.
Fernando Pessoa
Reprodução Twitter |
Neuza Back: árbitra brasileira na Copa do Mundo. Foto FIFA |
Para o Brasil sobrou uma bandeiragem, a escolhida foi
a catarinense Neuza Back, que atua em São Paulo. Foi auxiliar na primeira
partida da final do Campeonato Paulista de 2020, entre Corinthians e Palmeiras;
participou também da Copa do Mundo feminina de 2019; do Mundial de Clubes da
Fifa de 2020, vencido pelo Bayern de Munique; e dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Neuza Inês Back, 37 anos, nasceu em Santa Catarina na região metropolitana de
Chapecó, numa cidade com o bonito nome de Saudades. Mas está longe de ficar na
saudade: com catorze anos de carreira, ainda tem muito gramado e glória pela
frente.
A mulher já ocupa o seu lugar na arbitragem do
futebol, mas a coisa ainda continua politicamente correta (e careta) e
paternalista. Quando deixarão uma mulher apitar uma final de Copa do Mundo
masculina? Com certeza não antes que comece a circular o Expresso 2222 de
Gilberto Gil, que “parte direto de Bonsucesso pra depois...”
O presidente do Comitê de Arbitragem da Fifa, o
italiano Pierluigi Collina afirmou que ele e sua equipe estão felizes por terem
conseguido incluir as mulheres no corpo
de arbitragem pela primeira vez na história das copas do mundo. E arrematou: “Espero
que, no futuro, a seleção de árbitras de elite para competições masculinas
importantes seja percebida como algo normal, e não mais como excepcional”.
Va tutto bene,
Collina. Mas logo no Catar? A pergunta que não quer calar: serão elas obrigadas
a usar burka? E outra: poderão atuar
com shortinhos apertados e as coxas à mostra?
As instituições estão funcionando no modo hipócrita. Reprodução |
A falsidade de Al Pacino (com John Cazale) em O Poderoso Chefão 2 |
O cumprimento lembra uma cena de O Poderoso Chefão 2. Pouco antes de mandar eliminar Fredo Corleone (John Cazale), que o traiu, Michael Corleone (Al Pacino) afaga o irmão.
No filme, o gesto é um típico recado para um dos guarda-costas cumprir a ordem fatal do chefe. Não estamos no campo da ficção e a contenda entre Bolsonaro e Moraes não terá o desfecho dramático que o diretor Francis Ford Copola impôs ao seu filme: a coincidência se dá apenas no campo da falsidade.
Nenhum dos dois gostou do "carinho" hipócrita. Devem ter tomado banho de sal grosso e mastigado galho de arruda após a encenação. Um pouco antes da cena Bolsonaro não seguiu os aplausos da plateia a Moraes; um pouco depois continuou a atacar o STF, o TSE e lançou mais ameaças sobre as eleições. Para usar a linguagem bolsonariana, diz a Bíblia: "Como dente estragado ou pé deslocado é a confiança no hipócrita na hora da dificuldade". Provérbios 25:19
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons."
Martin Luther King
Segundo a Escola Superior de Urologia, a procura por escrotoplastia (que reduz o tamanho do escroto caído) aumentou 20% nos últimos dois anos. A informação é do IG Saúde, hoje. Mas a matéria não esclarece se haverá necessidade de um posto cirúrgico exclusivo no Planalto
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Em Cannes, filme Z muda de nome para Final Cut. Foto Divulgação. |
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O Z nos equipamentos russos. Reprodução Twitter |
A letra Z pintada em tanques, carros de combate e veículos de transporte de tropas russas é o símbolo que provocou protestos até no atual festival de cinema de Cannes.
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O Z de Costa Gavras, com Invés Montand. Reprodução Manchete |
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O Z no filme A Marca de Zorro, com Tyrone Power |
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
MACHADO DE ASSIS, frase final de Memórias póstumas de Bras Cubas, 1880
Estou enviando anexo uma foto de um casarão, acho que do século XIX, por achar a construção tão bonita e majestosa, símbolo da criatividade sofisticada do homem voltado para o belo e o seu conforto e para evidenciar aos olhos da cidade o que é uma residência.
Na verdade estou negando a falsa genialidade de um arquiteto brasileiro concebeu prédios enfaixados por metros e mais metros de vidros em forma de janelas que abertas só cediam um terço de ar para o seu interior. Avançando nas suas fantasias copiou o iglu - que é apenas um abrigo temporário dos esquimós quando saem para caçar nas planícies geladas - e o introduziu nas cidades, notoriamente, na cidade de concreto Brasíliane bizarramente na sede do Congresso, sendo um deles de cabeça para baixo lembrando uma bacia de se tomar banho. Em Niterói, concebeu um enorme iglu para ser um cinema. A Catedral de Brasília lembra em posição de descanso fuzis apoiados uns nos outros. Trabalhei em dois prédios concebidos por esse arquiteto. No primeiro, para trabalhar, precisamos instalar ventiladores gigantescos que rodavam o dia inteiro. No segundo, as janelas de vidro só abriam 1/3, o que obrigou a empresa a instalar ar refrigerado para todos os 12 andares do prédio.
Isso é modernidade? Ou tal apreço pela forma, que esquece que quem vai habitar essas formas é o ser humano.
Reprodução do twitt de Suplicy |
Comentário do blog - A concessionária Allegra Pacaembu, que administra o estádio após privatização mas age como dona absoluta do pedaço, está metendo a picarenta em um local tombado. Provavelmente com base em um edital cheio das brechas usuais que acabam não protegendo os bens privatizados e suas funções. Projetado no final dos anos 1930, o Pacaembu adotou o estilo art déco predominante na época. Uma influência visível são as colunatas semelhantes às do Estádio Olímpico de Berlim, sede dos Jogos de 1936, que foram incorporados pelo arquiteto Domínio Pacheco em meio ao clima de grandiosidade das obras públicas do Estado Novo de Getúlio Vargas. No mundo, não são muitas as praças de esporte em art déco: além de Pacaembu e Berlim, o Estádio Olímpico de Los Angeles, erguido para os Jogos de 1932, é exemplo marcante. A Itália também preserva alguns estádios no estilo. Mas a concessionária deve ser ignorante quando a isso. Além de derrubar parte da arquibancada, instalou no antigo gramado agora devastado um enorme barracão para shows, cuja agenda estaria ocupada até o ano que vem. O Pacaembu era uma referência turística e esportiva de São Paulo. O futebol foi jogado para escanteio, assim como o atletismo que o estádio já recebeu. O Pacaembu tornou-se um point de eventos quaisquer. No lugar da antiga concha acústica, já demolida, e do tobogã, a assim chamada arquibancada atrás de um dos gols (cuja construção já foi uma agressão à arquitetura do estádio), será erguido um prédio para escritórios, hotel, shopping etc. A imagem divulgada por Suplicy é triste, é um retrato do desprezo demonstrado por governantes que aceleram a lucrativa indústria da privataria sem respeito pelo patrimônio público.
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Carlinhos [de] Oliveira - Rio, 1978 - Foto: Guina Araújo Ramos |
Há algum tempo eu queria publicar esta foto nos Bonecos da História, não só porque a considero interessante, mesmo não sendo tão especial assim, mas principalmente porque retrata a transcendente e complexa simplicidade de quem, com tanta sutileza quanto acidez, observava a vida da cidade do Rio de Janeiro e do Brasil em meados do século passado.
Trata-se da foto do capixaba José Carlos Oliveira. Sugerindo a tal simplicidade, ele era mais conhecido (embora também o registrassem, talvez para dar ao nome uma sonoridade que correspondesse a seus textos, como Carlinhos de Oliveira) por, simplesmente, Carlinhos Oliveira.
Quer posso dizer sobre Carlinhos [de] Oliveira?... Não sou, de maneira alguma, conhecedor, ao menos razoável, de obra, mas mero leitor antigo e ralo, apenas do final dos seus 22 anos como cronista do Jornal do Brasil (de 1961 a 1983).
É evidente que sua obra precisa (e merece) forte ressurgência, que até parece começar a acontecer em espaços da Internet (que não sei o quanto são lidos): no Portal da Crônica Brasileira (do IMS), na cobrança de Ricardo Soares, no incômodo de Álvaro Costa e Silva na Folha, a resenha existencialista da revista digital Rubem e também em textos acadêmicos, especialmente sobre o livro Diário da Patetocracia, que reúne crônicas do ano de 1968 publicadas no JB.
Ainda antes de ser meu “colega” no JB, fiz eu esta foto (à época, com o crédito Aguinaldo Ramos), que foi inserida dentro da entrevista, parte de uma muito sensível série da revista Fatos & Fotos assinada pelo jornalista Renato Sérgio, outro grande jornalista/cronista carioca.
A conversa aconteceu no apartamento de Carlinhos, no Leblon, em rua bem afastada da praia, em frente ao então quartel da PM. Os dois (e eu também) sentados na varanda apertada, em uma conversa tão descontraída (para mim, sentado no chão, algo desconfortável...) quanto a imagem que a ilustra.
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Fatos & Fotos Nº 885, 07/08/1978 - Foto: Guina Araújo Ramos |
Não por acaso, Fatos & Fotos foi dos lugares mais prazerosos em que trabalhei como fotojornalista.
O problema é que, estando “sumido” o arquivo fotográfico de Bloch Editores e ainda não digitalizada e disponível a coleção da revista (como já acontece com a revista Manchete na BN), a minha única fonte de recuperação da imagem foi o recorte da publicação original, guardada por mais de 40 anos, de onde “retirei” a imagem através do imprescindível Photoshop, coisa trabalhosa e de resultado certamente apenas razoável.
Foto Getty Images\ Reprodução Placar |
“Por que diabos todo islandês tem o nome acabado em ‘son’” – perguntou a revista Placar em 2018, quando a seleção da Islândia se tornou o país menos populoso a disputar uma Copa do Mundo em toda a história. “A explicação é simples — e pitoresca. Nesse pequeno — e gelado — país de 334.000 habitantes, não há sobrenome de família e as pessoas são batizadas pela filiação. A fórmula é simples: pega-se o primeiro nome da mãe ou do pai e soma-se a ele o sufixo ‘son’, palavra islandesa que significa, como no inglês, “filho”, no caso dos meninos. Portanto, se Neymar fosse islandês, se chamaria Neymar Neymarsson, e não Neymar Jr.” (RM)
A vitória na Espanha foi o segundo título consecutivo em casa na temporada de 2022 – venceu o ATP 500 de Barcelona em abril – e o quarto acumulado do ano. Alcaraz venceu o Rio Open em fevereiro e o Masters 1000 de Miami em abril. Com a campanha em Madri, o prodígio do tênis mundial sobe para a sexta posição no ranking da ATP. Com o tornozelo inchado e uma bolha inflamada, Alcaraz resolveu poupar-se, não disputando o torneio de Roma esta semana. Afia as garras para seu primeiro Grand Slam – Roland Garros, em Paris – que começa no dia 16 de maio. Nosso Guga tinha vinte anos quando venceu seu primeiro Roland Garros em 1997. Alcaraz pode bater essa marca. Faz sentido: Guga começou a jogar tênis aos seis anos de idade. Alcaraz? Aos quatro... (ROBERTO MUGGIATI)
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A "selfie" do fim do mundo. Foto EHT |
por O.V.Pochê
Cientistas de vários países conseguiram fotografar pela primeira vez um buraco negro na Via Láctea. A notícia divulgada hoje pode ser finalmente uma solução para o Brasil. Não por acaso semelhante a um conhecido órgão humano, o gigantesco orifício foi captado pelo Event Horizon Telescope, um consórcio que reúne 11 radiotelescópios espalhados pelo mundo. Buraco negro é um monstro cósmico que atrai para si e engole sem pena tudo o que está na frente.
Em termos astronômicos esse abismo é nosso vizinho, já que divide com a merreca conhecida pela alcunha de Terra uma vaga na mesma galáxia, a Via Láctea. Se o Brasil não deu certo em 522 anos e segue dando vexame, ser deglutido por um brioco pode ser um fim aceitável. Algo como desligar os aparelhos de um doente desesperançado. Claro que no caso dessa mega catástrofe, o Brasil não vai sozinho. Todo o planeta vai junto. Merecido. O mundo não aprendeu nem mesmo a viver sem guerras. Pode levar. Também não é o caso de dizer "pra quem fica, tchau". Se depender do buraco negro não fica ninguém. Aviso aos religiosos: não vão encontrar nenhum deus no fundo do poço. Relaxem, o abismo cósmico já traçou as divindades há muito tempo.
"As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre em todos os sentidos dando-lhe
Do filme O homem que amava as mulheres, de FRANÇOIS TRUFFAUT.