domingo, 28 de março de 2021

Covid vai de ônibus, trem, barcas... Situação dos transportes públicos no Rio não é só problema, é crime

O víruscard em ação. Reprodução Twittter

por Flávio Sépia

Em muitos países desenvolvidos, o transporte público é estatal, assim como outros serviços do Estado ao cidadão. Veja-se o caso do Brasil: uma coisa é privatizar a Vale, com a ressalva de que isso foi feito com brutal prejuízo para o país. Agora mesmo, a Petrobras vendeu por baixíssimo preço, segundo especialistas do setor, uma refinaria na Bahia. Outra coisa é entregar serviços públicos. Privatizações de estradas prontas não resultaram na construção de um só quilômetro  de rodovia nova. Reparou? Empresários que se candidatam a assumir estradas só se interessam, claro, por aquelas quer estão construídas. Investem em praças de pedágio, dão uma maquiagem no acostamento e alegam os mais diversos motivos para não cumprir compromissos assumidos, como duplicações de pistas etc. 

Mas vamos aos transportes e o que têm a ver com a pandemia. Na Europa, o sistema público  continuou a prestar serviços à população. O metrô de Paris, por exemplo, não reduziu o número de trens urbanos. Disso resultou que a aglomeração nos vagões, em plena Covid-19, não chegou a extremos. Agora, comparemos com o Brasil. No Rio de Janeiro, a situação em ônibus, trens e barcas é dramática. Ao diminuir o fluxo de passageiros, desde o ano passado, as empresas simplesmente reduziram a frequência de trens, ônibus e barcas. Mais do que nunca, amontoaram os passageiro como gado. Explicaram quer precisavam reduzir o prejuízo. Atentar para o interesse público e a saúde da população, nem pensar, não é? A cena dantesca do transporte público abarrotado - falo do Rio mas a situação de repete em várias capitais - mostra um vetor de contaminação provavelmente bem mais perigoso do que praias. Aqueles vagões e ônibus fechados são o parque de diversões de um dos mais perigosos e mortais vírus que já assolaram a humanidade. As pessoas, especialmente os trabalhadores dos serviços essenciais e que não têm alternativas, podem morrer aos montes, mas o caixa das empresas não pode sofrer baixas. No modo Brasil de combater a pandemia há muito mais do que o negacionismo. Há o lucro acima de tudo e o vírus acima de todos.

sábado, 27 de março de 2021

Paulo Stein (1948-2021) : o adeus a um companheiro da Manchete e Rede Manchete

 

Paulo Stein, 1990, em um dos momentos marcantes da sua carreira, apresenta, ao lado de Adolpho Bloch, parte da equipe escalada para cobrir a Copa da Itália. Na foto, no terraço da sede na Rua do Russell, vê-se Adolpho, Stein, Osmar Santos, Falcão, Mylena Ceribelli e Márcio Guedes. O time Manchete ainda contou com João Saldanha, Alberto Leo. Halmalo Silva e Osmar de Oliveira. Naquela Copa, Paulo Stein viveu o drama da perda de João Saldanha, que sofria de problemas respiratórios e faleceu durante a cobertura.  Foto Manchete


Na Rede Manchete, o narrador Paulo Stein juntava duas das maiores paixões dos brasileiros: o futebol e o carnaval. Ele narrava a bola e o samba nas apoteóticas coberturas da emissora no Sambódromo carioca. Mas muito além disso, o jornalista e apresentador tinha um longa estrada, mais de 50 anos de carreira. Paulo Stein morreu hoje aos73 anos. A Covid leva mais um brasileiro. Até 2019, ele fez o que mais gostava: narrar futebol. No caso, despediu-se naquele ano como integrante do Sportv. Paulo Stein deixa a filha jornalista Natasha Stein e a viúva Viviane Stein. Deixa também um nome na história do jornalismo esportivo, tendo atuado nos principais veículos, como Jornal dos Sports, Manchete Esportiva e Placar. rádios Tupi e Nacional e nas TVs Bandeirantes, Manchete, Record e TVE Brasil, ESPN Brasil, Sportv e Premiere. A Associação dos Cronistas Esportivo do Rio de Janeiro divulgou lamentando a morte do companheiro. Os amigos da Rede Manchete , revistas Manchete e Fatos, para as quais ele cobriu a Copa de 1986, no México, abraçam a família do inesquecível Paulo Stein. 


sexta-feira, 26 de março de 2021

Cartas da Juventude: cenas de um lançamento

por Tiago Araripe


Em 21 de março, foi feito o lançamento oficial de Cartas da Juventude, com a presença de pessoas que tornaram possível a realização do livro. Participaram Karla Melo e Victor Paes, da Confraria do Vento; o poeta Assis Lima, organizador da publicação; a doutora em Psicologia e poeta Ana Cecília de Souza Bastos, que escreveu a apresentação, e cinco dos seis autores das cartas: Emerson Monteiro, Flamínio Araripe, José Esmeraldo Gonçalves, Pedro de Lima e Tiago Araripe. O sexto missivista, Eugênio Gomez, mesmo presente, não quis fazer uso da palavra. O que se percebeu naquela noite memorável foi um tocante reencontro de amigos que há muito não se viam. 

No link abaixo,  seleção de falas de cada participante do evento, na ordem em que entraram em cena.   

https://www.tiagoararipe.com/post/cartas-da-juventude-cenas-de-um-lan%C3%A7amento

Doutora Carolina Maria de Jesus: a glória que faltava

Carolina de Jesus, 1960. Foto de Gervásio Baptista/Manchete


Favelada, catadora de papel, uma das escritoras mais lidas do Brasil e, agora, Doutora Honoris Causa. Carolina Maria de Jesus recebeu ontem homenagem póstuma da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Em 1958, o jornal A Noite publicou trechos do diário que a catadora anotava em cadernos. Ela escrevia romances e poemas desde que morava em Minas Gerais, bem antes de se mudar para a favela do Canindé, em São Paulo.   Em seguida, a revista O Cruzeiro apresentou a escritora ao Brasil. Dois anos depois, Carolina de Jesus lançou seu primeiro livro, Quarto de Despejo, que vendeu 3 milhões de exemplares em 16 idiomas. 

A escritora embarca para a França, um dos 16 países
onde Quarto de Despejo foi lançado. Foto Correio da Manhã/Arquivo  Nacional

Em vida, uma das primeiras escritoras negras do Brasil publicou Quarto de Despejo, Casa de Alvenaria, Pedaços de Fome, Provérbios, Depois da sua morte aos 62 anos, em 1977, foram editados Diário de Bitita, Um Brasil para Brasileiros, Meu Estranho Diário, Antologia Pessoal, Onde Estaes Felicidade, Meu sonho é escrever,  Contos inéditos e outros escritos.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Editora Confraria do Vento lança "Cartas da Juventude - Crônica de época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977)". Livro reúne registros vivos de uma geração





Em 1968, um grupo de jovens alimentou o projeto de uma revista. Eram estudantes do Crato, no Ceará, onde publicavam o jornal "Vanguarda". Naquele ano, todos partiriam para capitais onde prestariam vestibular. 
A revoada estudantil cratense representava uma tradição local.  Para o ingresso em uma faculdade, Recife, Fortaleza, Natal, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte eram os destinos que se apresentavam aos "emigrantes". Naquele ano, cada um escolheu uma rota diferente. Pela oportunidade de ter representantes naquelas capitais, alguém sugeriu que o jornal publicado no Crato pelo grupo poderia se transformar em uma revista com "correspondentes" nas capitais. Foi essa ideia que inicialmente motivou os amigos a se corresponderem e discutir na correspondência os detalhes da publicação. A revista nunca saiu. Mas um dos participantes guardou por mais de 50 anos aquelas cartas que se tornaram um testemunho autêntico do que aquela geração viveu naqueles dias difíceis.

O poeta e psiquiatra Assis Lima surpreendeu o grupo com a proposta de publicar um livro com as cartas daquela geração. Quase todos relutaram, inicialmente. Encarar o que as personas de 1968 haviam escrito parecia uma sofrida incursão ao passado. Mas os conteúdos eram tão relevantes pela autenticidade de sentimentos comuns a toda um geração que as resistências foram perdendo força e o livro, ao contrário da revista imaginada, virou realidade.

Assis Lima, idealizador e organizador do projeto, transcreveu cada carta e propôs aos autores  Emerson Monteiro, Eugênio Gomez, Flamínio Araripe, José Esmeraldo Gonçalves, Pedro Lima e Tiago Araripe que comentassem, sob a ótica de hoje, as ideias, projetos, aspirações, sonhos, experiências, dúvidas e frustrações de mais de 50 anos atrás. 

O resultado aí está: "Cartas da Juventude - Crônica de Época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977), da editora Confraria do Vento.  

"A ideia de revisitar a antiga correspondência que recebi de alguns amigos em comum e com interesses afins é, antes de tudo, um pretexto de registro e de atualização da conversa. Parto da hipótese de que as cartas falam por si, em seu momento e em seu contexto. Não se trata de cultivar a nostalgia ou o saudosismo, mas de editá-las enquanto crônica histórica e pessoal. E com o acréscimo de notas biográficas, depoimentos e apreciações individuais - nesta moldura - poder apreciá-las agora. O objetivo não é teorizar sobre o que representam os anos finais da década de sessenta e a década de setenta em relação a costumes, comportamentos e ideologias. Mas sim, de algum modo, revisitar o período com o espelho de hoje", escreve Assis Lima na apresentação do livro. 

No prefácio, a psicóloga e mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia Ana Cecília de Sousa Bastos  observa que "Cartas da Juventude" é um livro-testemunho, do qual pode ser dito, sem exagero, que representa o sentimento de mundo da geração que viveu, jovem, os difíceis anos da ditadura militar no Brasil". "Obviamente" - continua Ana Cecília - "as décadas de sessenta e setenta não se definem apenas por essa pesada sombra. Foram tempos de ruptura e promessas de liberdade absoluta para as novas gerações, que afetaram de modo intenso as expectativas e horizontes de realização pessoal, pelo menos para os jovens oriundos das camadas médias da população - pois são tantas e diversas as juventudes. Tempo em que tudo parecia possível e tudo era interditado".

"Cartas da Juventude - Crônica de Época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977), acaba de ser lançado pela editora Confraria do Vento, organizado por Assis Lima, sob coordenação editorial de Karla Melo, Victor Paes e Bianca Battesini. Projeto gráfico e capa de Pranayama Design. Imagens da capa "Sem Título, de Emerson Monteiro. Revisão: Tiago Araripe e Bianca Battesini. Comercial; Bianca Rodrigues. 

O organizador Assis Lima é psiquiatra e mestre em Psicologia Social, autor do livro "Conto Popular e Comunidade Narrativa", com Prêmio Silvio Romero-Funarte, organizou a coletânea Cantos populares brasileiros. Co-autor dos infantojuvenis "Baile do menino Deus","Bandeira de São João", "Arlequim de Carnaval" e "O pavão misterioso". Autor de "Poemas arcanos", "Marco Misterioso", "Chão e Sonho", tendo publicado pela Confraria do Vento os livros "Terras de aluvião", "Poemas de riso e siso" e "O código íntimo das coisas". 

Os autores são Tiago Araripe, publicitário, cantor e compositor. Participou de trilhas sonoras de filmes como "Sargento Getúlio" e "Aos ventos que virão", de Hermano Penna. Gravou e fez shows com Tom Zé e banda Papa Poluição. Álbuns; "Cabelos de Sansão (Lira Paulistana, 1982), relançado por Zeca Baleiro em 2008, "Baião de nós" e "Na mala, só a viagem". Outras músicas nas plataformas digitais: "Tudo no lugar" (gravada em Portugal, onde reside), "Perfeitamente possível" e "Seis cordas" (parceria com o violonista Nonato Luiz); Eugênio Gomez, médico especializado em Pediatria e compositor de músicas como "Retrato", "Exílio", "Depois do muro" e "Isadora", do álbum "Terceiro Amor"; Pedro de Lima, mestre em Antropologia Social e doutor em Arquitetura e Urbanismo. Publicou, entre outros livros, "Natal século XX: do urbanismo ao planejamento urbano", "Rumo à estação progresso: mito e construção da cidade moderna" e "Encantos do Brasil: xilogravura e cultura popular"; Emerson Monteiro, advogado, cronista, fotógrafo e artista visual. Autor dos livros "Sombra e luz", "Noite de lua cheia, "Cinema de janela', "É domingo" e "Histórias do Tatu" ; José Esmeraldo Gonçalves, jornalista, ex-editor de Manchete, Fatos & Fotos, Caras e Contigo e ex-subeditor do Segundo Caderno do Globo, como autor e pesquisador participou das coletâneas "Aconteceu na Manchete, as histórias que ninguém contou" (Desiderata) e "Esporte e Poder" (Vozes); Flamínio Araripe, jornalista, ex-correspondente da Folha de São Paulo, editor de Cidade no O Povo, de Economia no Diário do Nordeste, do Jornal da Cidade, da SBPC, trabalhou também no Estado de São Paulo. 


* "Cartas da Juventude - Crônica de Época - Recortes Autoetnográficos (1968-1977)pode ser adquirido no site da Confraria do Vento no link https://www.confrariadovento.com/editora/catalogo/itemlist/tag/Correspond%C3%AAncia.html

* Você poderá buscar no Spotfy o título acima de uma playlist com 60 músicas marcantes da época e citadas no livro.  

Na capa do Extra: o slogan da pandemia


 

terça-feira, 23 de março de 2021

Da Folha: a elite se sacode

Fotolivros em debate...

Uma dica para a quarentena. Começa amanhã, 24/3, o Festival Imaginária de livros de fotografia. Até o dia 28, serão expostos cerca de 400 fotolivros de autores nacionais e internacionais. A Lovely House, que organiza o evento, pretende ampliar a visibilidade das publicações de fotografia. Entre os convidados das rodas de conversa que discutirão experiêrncias editoriais,  estão Horacio Fernández, Rosângela Rennó, Geórgia Quintas, Ana Paula Vitorio, André Penteado, Paulo Silveira e Letícia Lampert. O Festival Imaginaria será transmitido pelo canal do festival no YouTu

Oscar 2021: e o novo normal não deu as caras

por Ed Sá 

A Academia esperava que a cerimônia do Oscar acontecesse já com o mundo no novo normal. Não deu. As novas cepas melaram a festa. 

Na última segunda-feira, os concorrentes finais foram anunciados, mas a premiação só acontecerá em 25 de abril em clima meia-bomba. Veja o novo modelo do Oscar.

- A famosa estatueta tomará banhos de álcool 70 antes de rodar de mão em mãO.

- Com os cinemas fechados e muitas produções interrompidas ao longo de 2020, a lista de concorrentes ganhou diversidade, as produções independentes e estrangeiras, também.

- As mulheres ganharam mais visibilidade: pela primeira vez, duas delas estão indicadas na categoria Melhor Direção: Chloé Zhao ("Nomadland") e Emerald Fennel ("Bela vingança").

- A exigência de filmes concorrentes terem sido exibidos em pelo menos um cinema de Los Angeles foi abolida em função da pandemia. Isso abriu caminho para os filmes exibidos apenas na internet. O streaming agradeceu.

- Esqueça a aglomeração no tapete vermelho. Algo semelhante ocorrerá, mas será individual e virtual.

- A entrega do Oscar, no palco, será presencial. Vários apresentadores se revezarão como âncoras. Vencedores subirão ao palco.

- A cerimônia será transmitida ao vivo  do Teatro Dolby e da estação de trem Union Station, em L.A. 

- Não está confirmado, mas é provável que alguns convidados, com distanciamento, estejam na plateia nos dois ambientes citados. 

- Esse ano a "campanha eleitoral" (quando os concorrentes trabalham suas produções junto ao eleitores do Oscar) também foi virtual, sem festas e coquetéis.

VEJA A RELAÇÃO DE CONCORRENTES

Melhor filme

"Meu pai"; "Judas e o messias negro"; "Mank"; "Minari"; "Nomadland"; "Bela vingança"; "O som do silêncio". "Os 7 de Chicago"

Melhor atriz

Viola Davis - "A voz suprema do blues"; Andra Day - "Estados Unidos Vs Billie Holiday"; Vanessa Kirby - "Pieces of a woman"; Frances McDormand - "Nomadland"; Carey Mulligan - "Bela vingança".

Melhor ator

Riz Ahmed - "O som do silêncio"; Chadwick Boseman - "A voz suprema do blues"; Anthony Hopkins - "Meu pai"; Gary Oldman - "Mank"; Steve Yeun - "Minari". 

Melhor direção

Thomas Vinterberg - "Druk - Mais uma rodada"; David Fincher - "Mank"; Lee Isaac Chung - "Minari"; Chloé Zhao - "Nomadland"; Emerald Fennell - "Bela vingança"

Melhor atriz coadjuvante

Maria Bakalova - "Borat: fita de cinema seguinte"; Glenn Close - "Era uma vez um sonho"; Olivia Colman - "Meu pai"; Amanda Seyfried - "Mank"; Yuh-Jung Youn - "Minari"

Melhor ator coadjuvante

Sacha Baron Cohen - "Os 7 de Chicago"; Daniel Kaluuya - "Judas e o messias negro"; Leslie Odom Jr. - "Uma noite em Miami"; Paul Raci - "O som do silêncio"; Lakeith Stanfield - "Judas e o messias negro"

Melhor filme internacional

"Druk - Mais uma rodada" (Dinamarca); "Shaonian de ni" (Hong Kong); "Collective" (Romênia); "O homem que vendeu sua pele" (Tunísia); "Quo vadis, Aida?" (Bósnia e Herzegovina)

Melhor roteiro adaptado

"Borat: fita de cinema seguinte"; "Meu pai"; "Nomadland"; "Uma noite em Miami"; "O tigre branco"

Melhor roteiro original

"Judas e o Messias negro"; "Minari"; "Bela vingança"; "O som do silêncio"; "Os 7 de Chicago"

Melhor figurino

"Emma"; "A voz suprema do blues"; "Mank"; "Mulan"; "Pinóquio"

Melhor trilha sonora

"Destacamento blood"; "Mank"; "Minari"; "Relatos do mundo"; "Soul"

Melhor animação

"Dois irmãos: Uma jornada fantástica"; "A caminho da lua"; "Shaun, o Carneiro: O Filme - A fazenda contra-ataca"; "Soul"; "Wolfwalkers"

Melhor curta de animação

"Burrow"; "Genius Loci"; "If anything happens I love you"; "Opera"; "Yes people"

Melhor curta-metragem em live action

"Feeling through"; "The letter room'"; "The present"; '"wo distant strangers"; "White Eye"

Melhor documentário

"Collective"; "Crip camp"; "The mole agent"; "My octopus teacher"; "Time"

Melhor documentário de curta-metragem

"Collete"; "A concerto is a conversation"; "Do not split"; "Hunger ward"; A love song for Natasha"

Melhor som

"Greyhound: Na mira do inimigo"; "Mank"; "Relatos do mundo"; "Soul"; "O som do silêncio"

Canção original

"Fight for you" - "Judas e o messias negro"; "Hear my voice" - "Os 7 de Chicago"; "Husa'vik" - "Festival Eurovision da Canção: A saga de Sigrit e Lars"; "Io sì" - "Rosa e Momo"; "Speak now" - "Uma noite em Miami"

Maquiagem e cabelo

"Emma"; "Era uma vez um sonho"; "A voz suprema do blues"; "Mank"; "Pinóquio"

Efeitos visuais

"Problemas monstruosos"; "O céu da meia-noite"; "Mulan"; "O grande Ivan"; "Tenet"

Melhor Fotografia

"Judas e o messias negro"; "Mank"; "Relatos do mundo"; "Nomadland"; "Os 7 de Chicago"

Melhor edição

"Meu pai"; "Nomadland"; "Bela vingança"; "O som do silêncio"; "Os 7 de Chicago"

Melhor design de produção

"Meu pai"; "A voz suprema do blues"; "Mank"; "Relatos do mundo"; "Tenet"


Secretário bozoroca quer que brasileiros tenham "assesso" a cultura

 

Reprodução Twitter

por O. V. Pochê 

Assesso a cultura é importante, mas o secretário exqueceu de faser o encino fundamental. Mesmo que tenha boa intensão, o que não é o cazo, fica difíssil produxir carquer coiza nesse nívil. Dizem que ele foi ator na Grobo, magine ele falando os diágolos...

segunda-feira, 22 de março de 2021

Trump quer criar um rede social própria. É a NaziNet?

por Flávio Sépia

Donald Trump vai lançar sua própria rede social, segundo seus próprios assessores vazaram. O ex-presidente ficou irritado ao ser banido do Twitter, do Facebook e de outras plataformas por propagar ódio, incentivar a invasão do Capitólio e espalhar fake news. A ideia do líder da ultra direita é poder fazer tudo isso em sua própria right net. Claro que os adeptos de Trump, dos supremacistas aos neonazistas passando pelos conservadores fanáticos e prototerroristas vão aderir à iniciativa. Mas os incautos correrão riscos. Trump é também um mascate. Isso significa que não vai resistir a espionar comercializar dados dos seguidores, detectar suas preferências e dos seus grupos, mas descobrir uma maneira de faturar com o "gado". Trump, como outros clones seus no mundo, vê inimigos em cada esquina. Provavelmente, quem pretender se inscrever preencherá um extenso cadastro. Se for racista, contra política de gêneros, adepto da expulsão de imigrantes e de separar pais e filhos na fronteira, se for contra aborto, contra feminismo, a favor do assédio sexual, contra a vacina e os protocolos contra a Covid-19, entre outros atributos, terá muitas chances de ingressar na Nazinet.

Se depender do governador bolsonarista do RJ, vem aí a "micareta" Castrofolia, o festival tétrico do negacionismo. Depois, é só contar as vítimas

 

Reprodução Twitter

Revista italiana denuncia venda ilegal de vacinas na Dark Web. Pagamento em bitcoins, a moeda do crime...

 


A revista italiana Panorama denuncia na edição dessa semana comércio ilegal de vacinas. Os imunizantes são vendidos através da Deep Web. O preço depende da quantidade, varia entre dez a 40 euros e o pagamento é em bitcoin, a moeda que se firma como a preferida para transações criminosas. A revista adverte que os compradores correm risco. É impossível atestar a autenticidade das vacinas, se são desviadas de lotes legítimos, se são falsificadas ou multiplicadas à base de misturas com água ou outros. 

No Brasil ainda não há registros de comércio ilegal, embora vários profissionais de saúde tenham sido flagrados simulando aplicação e escamoteando doses. A polícia ainda não apurou se o objetivo era a venda ou a formação de estoque para parentes, amigos ou pessoas influentes. E Na manhã de hoje, criminosos armados roubaram doses de vacinas contra Covid-19 em Nata (RN). Levaram um total de 40 doses. A notícia está no G1.

Morte do menino é metáfora do Brasil



por Ovos Mexidos

Há duas semanas um menino de quatro anos morreu dentro de casa no Rio de Janeiro. A autópsia provou que ele sofreu lesões graves no corpo, consequência, segundo a avaliação de peritos, de uma ação violenta. A mãe e o padrasto estavam dentro do apartamento. Até agora, persiste a famosa Síndrome de Conceição, “ninguém sabe, ninguém viu”, uma das inumeráveis cepas do jeitinho brasileiro.

Há um ano, uma das pandemias mais mortíferas na história da humanidade encontrou solo fértil para se expandir num país retardado e negacionista. O Brasil é o favorito dentre as nações para se tornar o Campeão Mundial da Morte. Os responsáveis por este feito macabro não estão nem aí. E nada podemos fazer, porque “vamos todos morrer um dia.”

PS – O ORDEM E PROGRESSO positivista do pavilhão nacional foi trocado pelo lema negacionista de CAOS E COVID.

sábado, 20 de março de 2021

Parabéns!

 

Reprodução Twitter
Paulo Guedes, o ex-estagiario de Pinochet, diz que quando vai aos supermercados as pessoas agradecem. Primeiro, o Guedes vai a supermercado? Segundo, agradece o que cara-pálida? A inflação desembestada, o desemprego e a precarização dos empregos? O confisco previdenciário? A falta de investimento de um país voltado para a especulação do mercado? 

Paulo Guedes descobriu há pouco tempo que a pandemia precisa ser contida antes para fazer o que resta da economia que ele não destruiu andar. Isso depois de passar um ano calado ante a política negacionista que acontecia bem ao lado dele.

Nas redes sociais circula a releitura acima da sua frase sobre os aplausos que recebe nos supermercados.


Do twitter: e o "bispo" foi garantir sua picada

 

Reprodução 

Condomínio de Brasília quer proibir shortinhos no recinto. A ordem vem de um "conselho de mulheres" incomodadas com a boa forma da vizinha

Najhara Noronha recebeu um email de um "conselho de mulheres" tensas com o shortinho que ela usa quando vai praticar esportes. Reprodução


Na reprodução o email com a "medida provisória do "conselho". 

por Ed Sá 

Nesses dias em que a Lei de Segurança Nacional pode ser acionada até contra quem reclama da falta de oxigênio nos hospitais e de coveiros nos cemitérios, Najhara Noronha, moradora de um condomínio em Brasília foi alvo de um tal Conselho de Mulheres policialesco. As senhoras ficam nervosas porque Najhara costuma vestir um short quando vai praticar esportes. A boa forma da vizinha levou o "conselho" a pedir que ele deixe de usar "shortinhos" em áreas comuns do condomínio. Mandaram uma mensagem por email falando que a morado estava "constrangendo casais".  Short não é nudez, a não ser para talibãs. Além disso, o "conselho" parece ser uma sociedade secreta que auer determinar o que as pessoas devem vestir. . Najhara pediu a um advogado que analisasse o caso e acionou o síndico para saber que "conselho" é esse. O assunto repercutiu nas redes sociais.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Na capa da IstoÉ: o horror

Deu no Twitter (Lucas de Vitta): A queda de Joe Biden... e não foi culpa da Rússia

 

 VEJA O VÍDEO AQUI

O que é pé-de-galinha pra você?

Depende da classe social. Para a dondoca, são aquelas preocupantes ruguinhas no canto dos olhos, a serem sanadas com Botox ou – quem sabe? – uma plástica pontual. Para a dona-de-casa pobre da pandemia são as patas com que a galinha cisca no terreiro, transformadas em acepipes nestes tempos de geladeiras vazias. 

Os 5kg de pés de galinha que Fernanda
comprou com a venda das panelas
(Foto: Arquivo Pessoal) 

Segundo matéria recente da BBC News Brazil, Fernanda Ferreira da Fonseca, 60 anos, recolheu algumas panelas velhas e as levou a um centro de reciclagem perto de sua casa em Atibaia (SP). Com os R$ 30 que arrecadou, comprou um pacote de pão e 5 quilos de pé de galinha, que vão virar almoço e jantar para ela e o marido até o fim da semana.

“Pra outra semana eu não tenho mais panela pra vender. Não sei o que vou fazer.” E se, por um golpe de sorte, pintarem alguns pezinhos de galinha para Dona Fernanda, em que panela ela vai cozinhar?

O dia em que o Brasil levou a cepa de Manaus para a OCDE

Foto: OCDE/Divulgação
por O.V.Pochê

O Brasil continua querendo entrar para a OCDE 

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico é uma espécie de Country Club fechado para pé de chinelo. Alguns economistas afirmam que o sonho do Brasil de se juntar à confraria dos países desenvolvidos é muito mais um lobby do mercado financeiro. O Bananão, como chamava Ivan Lessa, poderá atrair investimentos especulativos - principalmente o do "capital motel", aquele que passa uma noite vai embora e sequer telefona no dia seguinte - mas perderá vantagens comerciais concedidas aos países em desenvolvimento". 

Vamos imaginar sem preconceito que um ambulante das areias de Ipanema atravesse a avenida e entre no Country Club. Será um acontecimento comparável à primeira reunião com a presença de Paulo Guedes no Château de la Muette, em Paris, sede da organização. O palácio foi construído por Henri James de Rothschild, nos anos 1920, no lugar onde havia um conjunto de luxuosas residências de Carlos IX. Fica perto do Bois de Boulogne. É possível visitar alguns ambientes e os jardins do castelo. Está aberto aos turistas, quero dizer. A República Federativa do Brasil ainda não podia entrar oficialmente. 

Até que chega o dia em que o Brasil finalmente é aceito na OCDE. (Paulo Guedes acredita fervorosamente  que até 2022 ou durante o seu segundo mandato à frente do Ministério da Economia adentra no recinto dos ricos). Como o nosso ambulante no clube de Ipanema, o representante brasileiro sofre preconceitos. É olhado de banda. É possível, que alguém lhe peça um cafezinho. O nosso representante se identifica e, constrangido, recebe um pedido de desculpas. Alguém lhe providencia uma cadeira na segunda fila do mesão. Passa a reunião calado, até tenta a palavra mas é atropelado pelo ministro austríaco. Na hora do coffee brake, meio deslocado, o brasileiro não consegue chegar à mesa dos petit fours tomada por Alemanha, Estados Unidos, França, Japão e Noruega. Tenta se aproximar e leva um discreto empurrão do ministro da Letónia. que também é pobre mas esnoba o Brasil porque já tem cadeira cativa no clube. Guedes se esforça para puxar conversa com o titular da Hungria, com que tem afinidades direitistas, mas o sujeito parece preferir não ser visto ao lado de necessitados, pode pegar mal no salão. 

Finalmente, o ministro francês se aproxima, o brasileiro sorri, foi notado, pensa. Só que o francês quer saber se o governo continua botando fogo na Amazônia. Guedes balbucia uma resposta, algo como "Mourão tá resolvendo isso", mas o gaulês já está batendo papo com o secretário do Tesouro americano. Vem outro, olha o crachá do Guedes, vê que é brasileiro - a quem também reconhece pela máscara no queixo - e pergunta o que é "rachadinha". Guedes apenas finge que se engasgou com um croquete que sobrou do bufê. Quando volta para a segunda metade da reunião, anima-se, pelo menos dois ou três ministros já o conhecem. 

De fato, o francês imediatamente pede a palavra para uma questão de ordem curta e grossa. 

- Quem foi o fils de pute que deixou um brasileiro trazer a cepa de Manaus para a OCDE?  

A reunião é encerrada. Os ministros saem correndo, embarcam nas limusines direto para o Hospital Pitié-Salpêtrière, que nunca viu tanto ministro na fila para fazer o teste RT-PCR.

Guedes é colocado em quarentena nas antigas cavalariças do château.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Chimp checo quer chip

Reprdução The Guardian

por O.V.Pochê

Os filmes de ficção geralmente mostram os chimpanzés sobrevivendo à raça humana e dominando o mundo pós apocalipse. Se é fato ou não, eles não param de aprender.  Dois zoológicos da República Checa instalaram equipamentos de videochamada e colocaram em contato, via Zoom, seus chimpanzés. Os animais passaram a interagir e uns e outros acompanham as respectivas rotinas como se curtissem uma reality show. Com a ausência de visitantes desde que a Covid-19 mudou a vida urbana, os tratadores dos zoos colocaram câmeras e telões no habitat dos chimps como uma forma de alivar a solidão da turma. Funcionou. Eles se reúnem para ver o reality, como se estivessem no sofá da sala, e comem nozes enquanto  observam as cenas . A notícia está no The Guardian.

HÁ 150 ANOS O mal da Coluna matou Courbet • Por Roberto Muggiati (versão completa)

A Coluna da Place Vendôme comemora vitórias militares da França


Em 1870, Courbert sugeriu a remoção da coluna. A massa de communards foi além
e destruiu o monumento. 

Durante 72 dias, em 1871, Paris viveu sob um governo comunista. Foi a Comuna de Paris, instalada há exatos 150 anos em 18 de março. Socialista ardoroso, o pintor Gustave Courbet (1819-77) teria uma atuação marcante naquele que é considerado o ensaio geral para a Revolução Russa de 1917.

Gustave Coubert

Quadro A Origem do Mundo

Para quem não liga o nome à pessoa, Courbet é o autor da tela mais polêmica da história, A Origem do Mundo, um nu frontal da genitália feminina pintado em 1866 para um diplomata otomano colecionador de arte erótica. Arruinado pelo jogo, o turco vendeu o quadro para um colecionador de arte japonesa, que o repassou para um barão húngaro, que teve a tela roubada pelo Exército Vermelho na Segunda Guerra. O último dono da Origem do Mundo, o psicanalista francês Jacques Lacan, a escondeu atrás de outro quadro na sua casa de campo. Seus herdeiros a doaram ao governo francês e finalmente em 1995 – quase 130 anos depois da sua criação – a discutida pintura foi exibida ao público no Museu de Orsay, em Paris, onde está até hoje.

Em 1870, durante a Guerra Franco-Prussiana, Courbet tomou uma atitude que lhe criaria problemas para o resto da vida. Numa carta ao Governo da Defesa Nacional, propôs que a coluna da Place Vendôme, erguida por Napoleão para comemorar as vitórias militares da França, fosse removida. Os communards, famintos de ação, foram mais longe e demoliram a coluna, à revelia de Courbet, que a queria apenas deslocada para outro local. Depois da supressão da Comuna, pela ação violenta do exército francês na “semana sangrenta” de 21 a 28 de maio de 1871, Courbet refugiou-se em apartamentos de amigos, mas acabou preso em 7 de junho. No julgamento reiterou que não advogara a destruição da coluna, mas apenas sua remoção. Mesmo assim, foi condenado a seis meses de prisão e uma multa de quinhentos francos.

Courbet saiu da cadeia em 2 de março de 1872, mas os problemas causados pela destruição da coluna não tinham passado. O novo presidente da República anunciou em 1873 que a reconstruiria e os custos seriam pagos pelo pintor. Sem dinheiro, Courbet exilou-se na Suíça, vigiado o tempo todo por agentes secretos. Em 4 de maio de 1877 recebeu a conta do governo francês: a reconstrução da Coluna Vendôme custara 323.091 francos e 68 cêntimos. Deram-lhe a opção de pagar em prestações anuais de 10.000 francos nos próximos 33 anos, até o seu 91º aniversário. Na véspera do Réveillon, 31 de dezembro de 1877, um dia antes do vencimento da primeira parcela, Gustave Courbet morreu aos 58 anos em La Tour-de-Peilz, Suíça, de cirrose hepática agravada pelo alcoolismo. Mais um exemplo de uma carreira artística promissora abreviada por um regime autoritário.

(Observação do editor: Aqui você poderá ler e ver a versão completa do texto de Roberto Muggiati, com a reprodução do quadro A Origem do Mundo, de Gustave Coubert. Por ser compartilhado no Facebook, o post anterior da mesma matéria, logo abaixo, não contém a reprodução da polêmica pintura em função das restrições da rede social.)

HÁ 150 ANOS O mal da Coluna matou Courbet • Por Roberto Muggiati

A Coluna da Place Vendôme comemora vitórias militares da França

Em 1870, Courbert sugeriu a remoção da coluna. A massa de communards foi além
e destruiu o monumento.

Durante 72 dias, em 1871, Paris viveu sob um governo comunista. Foi a Comuna de Paris, instalada há exatos 150 anos em 18 de março. Socialista ardoroso, o pintor Gustave Courbet (1819-77) teria uma atuação marcante naquele que é considerado o ensaio geral para a Revolução Russa de 1917.


Gustave Courbert
Para quem não liga o nome à pessoa, Courbet é o autor da tela mais polêmica da história, A Origem do Mundo, um nu frontal da genitália feminina pintado em 1866 para um diplomata otomano colecionador de arte erótica. Arruinado pelo jogo, o turco vendeu o quadro para um colecionador de arte japonesa, que o repassou para um barão húngaro, que teve a tela roubada pelo Exército Vermelho na Segunda Guerra. O último dono da Origem do Mundo, o psicanalista francês Jacques Lacan, a escondeu atrás de outro quadro na sua casa de campo. Seus herdeiros a doaram ao governo francês e finalmente em 1995 – quase 130 anos depois da sua criação – a discutida pintura foi exibida ao público no Museu de Orsay, em Paris, onde está até hoje.

Em 1870, durante a Guerra Franco-Prussiana, Courbet tomou uma atitude que lhe criaria problemas para o resto da vida. Numa carta ao Governo da Defesa Nacional, propôs que a coluna da Place Vendôme, erguida por Napoleão para comemorar as vitórias militares da França, fosse removida. Os communards, famintos de ação, foram mais longe e demoliram a coluna, à revelia de Courbet, que a queria apenas deslocada para outro local. Depois da supressão da Comuna, pela ação violenta do exército francês na “semana sangrenta” de 21 a 28 de maio de 1871, Courbet refugiou-se em apartamentos de amigos, mas acabou preso em 7 de junho. No julgamento reiterou que não advogara a destruição da coluna, mas apenas sua remoção. Mesmo assim, foi condenado a seis meses de prisão e uma multa de quinhentos francos.

Courbet saiu da cadeia em 2 de março de 1872, mas os problemas causados pela destruição da coluna não tinham passado. O novo presidente da República anunciou em 1873 que a reconstruiria e os custos seriam pagos pelo pintor. Sem dinheiro, Courbet exilou-se na Suíça, vigiado o tempo todo por agentes secretos. Em 4 de maio de 1877 recebeu a conta do governo francês: a reconstrução da Coluna Vendôme custara 323.091 francos e 68 cêntimos. Deram-lhe a opção de pagar em prestações anuais de 10.000 francos nos próximos 33 anos, até o seu 91º aniversário. Na véspera do Réveillon, 31 de dezembro de 1877, um dia antes do vencimento da primeira parcela, Gustave Courbet morreu aos 58 anos em La Tour-de-Peilz, Suíça, de cirrose hepática agravada pelo alcoolismo. Mais um exemplo de uma carreira artística promissora abreviada por um regime autoritário.

quarta-feira, 17 de março de 2021

"Gestapo" brasileira investiga outdoor "subversivo"

 

Reprodução Twitter

O Brasil está às voltas com a maior tragédia da sua história. Aproxima-se dos três mil mortos por dia como resultado da inércia e até dos crimes que o governo comete no combate à Covid-19. É o resultado do negacionismo oficial, E o ministro da Justiça André Mendonça se dedica a caçar "subersivos". O outdoor acima, em Palmas (To) desagradou a República. Deve ser falta do que fazer. Ou corrida pela vaga no STF.

Atualização em 18/3/2020 -  No dia em que o Brasil atingiu o maior número de mortos pela Covid desde o começo da pandemia, o líder do governo na Câmara, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), diz à Globo News que a tragédia do Brasil "é uma situação até confortável". Avalie você mesmo o cinismo político dessa declaração cruel e desumana.


Pensata boleira

por Niko Bolontrin 

Papo de botequim. O futebol anda confuso, sem torcida, mas fazendo aglomeração Brasil afora, nos aviões, nas portas de hotéis e nas proximidades do estádios. A notícia ligada a futebol que mais repercutiu nessa semana não tinha ver com bola, mas com carteado e roleta. Foi a performance de Gabigol em um cassino clandestino. Com o Planalto aberto e cumprindo horários e protocolos, torcedores em recessão catalogaram craques atuais e históricos. É uma trívia para quem conhece futebol atual e de sempre. Por nada, só enquanto esperavam a hora do bar fechar as portas para o toque de recolher. 

Cabeças de bagre: Gabigol, Neymar, Pelé, os dois Ronaldos, Felipe Mello, Robinho, 

Profissas: Zico, Roberto Dinamite, Juninho Pernambucano, Junior, Rivelino, Nenê, 

Professores: Nilton Santos, Didi, Zagalo, Tostão, Falcão, Júnior 

Engajados: Afonsinho, Dr Sócrates, Casagrande, Richarlison, Reinaldo

Lúdicos : Rivelino, Didi, Gerson, Garrincha, Ademir da Guia

Bad boys: Edmundo, Romário, Almir Pernambuquinho

Ovelhas: Kaká, David Luiz, Ganso

Tratores - Brito, Fontana, Pinheiro, Júnior Baiano, Chicão, Serginho Chulapa

Alegoria do crime...

 por O.V.Pochê 

Imagine o seguinte: em determinado momento da história, cansados de interferências ideológicas por parte do Brasil, quatro países, Argentina, Bolívia, Chile e Venezuela declaram guerra ao patropi. Na correria, o Estado Maior convoca milhares de militares que estão ocupados em "boquinhas" nos ministérios. Só isso leva alguns dias. Muitos não queriam largar os cargos. Enquanto isso, a Intendência é encarregada de prover os insumos para a batalha. Mas aí ocorrem problemas do tipo:

* Um fabricante europeu oferece lotes de munição ao general responsável, que consulta o presidente e declina da compra ao saber que balas, projéteis, foguetes viriam da China. 

* A Intendência fecha a compra de uniformes, capacetes, botas, mas manda entregar no lugar errado: a tropa sem uniformes está em Manaus e a carga vai para o Amapá.

* Da fronteira, o comandante de campo avisa à Intendência que o combustível para carros de combate está acabando, vai durar um dia ou dois. O supremo general é avisado, nada faz, as tropas bolivianas entram com facilidade no território brasileiro e, pressionado, o três estrelas diz que não sabia de nada. 

* A Intendência traça um cronograma para abastecimento das tropas. Na semana seguinte, diz ele, receberão 10 mil toneladas de explosivos; 15 dias depois, 2 milhões de balas para fuzil; em 20 dias, chegarão 90 tanques e 50 lançadores de foguetes; em seis meses, mas balas. Com as tropas brasileiras cercadas, o general convoca uma coletiva para dizer que "problemas diplomáticos estão atrapalhando". E lamenta informar que há outras guerras no mundo e faltam insumos bélicos. Paciência.

* Na falta de munição e equipamentos no mercado, o general sugere que as tropas façam uns ataques preventivos usando produtos para guerra química denominados cloroquina e ivermectina. 

* O general determina que a Infantaria use coletes a prova de balas. Mas o presidente diz que isso vai contra o direito individual. O Estado não pode obrigar, isso é "comunismo". Manifestantes vão às ruas para protestar contra os coletes. O próprio presidente, acompanhado do supremo general vai às trincheiras mostrar que quem usa colete "é viadinho, é frescura".

* Um capitão de fragata sugere que convoquem urgentemente o porta-aviões MINAS GERAIS...

* As tropas brasileiras perdem quase 3 mil soldados por dia. O presidente diz que morrer "é da vida, todos vamos morrer". O general é destituído das suas funções. 

* O presidente nomeia um civil para cuidar da Intendência, algo como Churchill paraibano. E o novo comandante supremo afirma que a gestão da guerra, da tática à estratégia, terá "continuidade".  

* No dia seguinte, morrem 4 mil sodados. O presidente, irritado, comenta. "o que querem que eu faça? Não sou coveiro". 

* O Brasil perde a guerra e, finalmente, a nossa capital passa a ser oficialmente... Buenos Aires. Mas fica tudo bem. Durante a assinatura do armistício, os vencedores oferecem aos derrotados "boquinhas" nos ministérios do país ocupado e a paz volta a reinar.

Entendeu a tragédia brasileira?

Hélio Fernandes (1921-2021): o rebelde com causa e sua passagem pela Manchete

Libertado após uma das suas prisões durante a ditadura, Hélio Fernandes ganha o abraço dos filhos na pista do Aeroporto Santos Dumont, em 1967. A foto é de Alberto Jacob que registrou
a cena comovente para o JB.


por José Esmeraldo Gonçalves

Para Hélio Fernandes, jornalismo era combate. Não temia adversários, do porte que estes o fossem. Em julho de 1967, quando o protótipo de ditador Castello Branco morreu em um desastre de avião, Hélio não achou que a morte redimia o golpista.  

No dia seguinte, enquanto os militares se esforçavam para incentivar lágrimas "patrióticas" e os políticos que formavam a corte serviçal da caserna gastavam elogios ao sujeito, o editorial da Tribuna da Imprensa fazia o contraponto: “Com a morte de Castelo Branco, a humanidade perdeu pouca coisa, ou melhor, não perdeu coisa alguma. Com o ex-presidente, desapareceu um homem frio, impiedoso, vingativo, implacável, desumano, calculista, ressentido, cruel, frustrado, sem grandeza, sem nobreza, seco por dentro e por fora, com um coração que era um verdadeiro deserto do Saara”. 

A resposta da ditadura veio rápida. O jornalista foi levado para o desterro em Fernando de Noronha e depois transferido para uma prisão em Pirassununga (SP). A sua volta ao Rio, em outubro do mesmo ano, rendeu uma bela foto ainda na pista do Aeroporto Santos Dumont, ao ser recebido e abraçado pelos filhos. Alberto Jacob, que trabalhou na Manchete e foi o autor da imagem emocionante para o Jornal do Brasil,  contava que o JB não publicou a foto no dia seguinte por temer a reação do regime.  Só depois, a cena tornou-se uma referência histórica de um momento da vida nacional. 

A Tribuna, alvo permanente da ditadura, foi financeiramente sufocada na década seguinte. Em 1981, quando a ditadura dava sinais de exaustão mas gestava uma linha-dura terrorista, o sobrado da Rua do Lavradio foi atacado por um comando armado que lançou seis bombas na sede do jornal, destruindo as instalações gráficas. 

O jornal, como Hélio resistiu. 

Hélio Fernandes morreu no último dia 11, aos 100 anos. Na última semana, jornais e sites relembraram sua longa trajetória. Aqui focalizamos sua passagem pela Manchete. 

Lançada em abril de 1952, a revista procurava ainda, ao longo do ano, uma identidade. Naquele difícil começo, Hélio atuava como repórter. Destacava-se na cobertura política, seu campo de ação, mas fazia reportagem de interesse geral, algo raro na sua carreira, como desvendar para a revista o funcionamento do jogo do bicho no então Distrito Federal. Apurou também uma curiosa matéria sobre sexo, que identificava como "problema" de uma geração. Também nessa época ele investigou um "escândalo do metrô". Isso mesmo, o metrô só chegaria ao Rio em 1979, mas o trambique saiu do trilho bem antes. 

A primeira matéria de Hélio Fernandes para a Manchete, em 1953

Hélio desvendou para a Manchete a estrutura do jogo do bicho no Rio.
Hoje, essa matéria seria chamada de investigativa

Uma rara incursão de Hélio Fernandes em pautas de comportamento.

Em fins de 1952, promovido a diretor da Manchete

A revista comunica aos leitores a saída de Hélio Fernandes,...

...que manteve vínculo com a  Manchete como colaborador
a partir de Londres


Em outubro de 1952, Adolpho Bloch nomeou Hélio Fernandes como diretor-responsável da Manchete. Cabia ao jornalista encontrar um nicho para a revista em um mercado dominado por publicações tradicionais, como o Cruzeiro, Revista da Semana, etc.  No primeiro ano, conta-se que em várias ocasiões Adolpho, um gráfico bem-sucedido, quis desistir de dar o primeiro passo para iniciar o que seria seu império jornalístico. Talvez a gestão de Hélio tenha ajustado uma rota jornalística e preparado a revista para resistir até que viessem, nos anos seguintes, quando ele já deixara o cargo, os marcos que impulsionaram a Manchete definitivamente: Brasília, JK, a industrialização do país, uma cobertura atenta de atualidades e a era Justino Martins que modernizou revista e, em seguida, desbancou a líder O Cruzeiro.  

Ao deixar a direção da Manchete, Hélio foi para Londres, de onde ainda fez matérias para a revista.  Seu posto seguinte no jornalismo brasileiro foi a direção do vespertino A Noite. Em 1962, ele adquiriu o controle da Tribuna da Imprensa que circulou até 2008 e ao fechar deixou pendências trabalhistas com jornalistas e gráficos.

terça-feira, 16 de março de 2021

Viagem ao fim da Noite • Por Roberto Muggiati

 

Edifício A Noite, em 1929 e...

...hoje, na Praça Mauá reconstruída. Foto de Alexandre Macieira/Riotur

Entre as joias do “feirão” de imóveis promovido pelo governo federal para arrecadar dinheiro no Rio de Janeiro está o edifício A Noite, na Praça Mauá. Primeiro arranha-céu da América Latina, inaugurado em 1929, projeto do arquiteto francês Joseph Gire – o mesmo dos hotéis Glória e Copacabana Palace – tinha 22 andares e 102 metros de altura. Foi sede de A Noite, (1911-64), um dos primeiros jornais populares do Rio, que chegou a ter cinco edições diárias e uma tiragem de 200 mil exemplares, a maior do país. Nélson Rodrigues escreveu: “Estou certo de que, se saísse em branco, sem uma linha impressa, todos comprariam A Noite da mesma maneira e por amor". Também trabalharam em A Noite os escritores Lima Barreto e Clarice Lispector.

 

O famoso auditório da Rádio Nacional. Foto D.P.

Mas a glória maior do edifício foi ter sido a casa da Rádio Nacional, que na década de 1940 chegou a ocupar cinco andares. Maior rádio das Américas e uma das maiores do mundo, teve no auge um elenco de mais de 120 atores contratados, sete orquestras e quatro maestros. A emissora ficou no prédio da sua inauguração, em 1936, até 2012, ou seja, 76 anos. Ali se escreveram alguns dos capítulos mais importantes da Era do Rádio no Brasil. Aproveito para transcrever a matéria que publiquei em 2010 no caderno cultural da Gazeta do Povo de Curitiba, com destaque para a Rádio Nacional.

 

 

A Era do Rádio

 

 “Foi a melhor época, foi a pior época, foi a era da sabedoria, foi a era da insensatez, foi a época da crença, foi a época da incredulidade, foi a estação da luz, foi a estação das trevas” – é Charles Dickens falando da Revolução Francesa, mas pode se aplicar também à Era do Rádio no Brasil, aqueles anos de definição da nacionalidade sob a ambígua "ordem" getulista à beira do cataclismo global. Foi o rádio que começou a soldar o país, do Oiapóque ao Chuí – como se dizia então – na base de uma cultura oral rica e variada.

A primeira transmissão radiofônica no Brasil foi no dia 7 de setembro de 1922, na inauguração da Exposição do Centenário da Independência na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro. O público ouviu um discurso do Presidente da República, Epitácio Pessoa, e a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, transmitida diretamente do Teatro Municipal. No ano seguinte, Roquette Pinto inaugurou a primeira emissora, a Rádio Sociedade. Vieram depois a Rádio Clube, a Mayrink Veiga, a Rádio Educadora e outras, na Bahia, no Pará e em Pernambuco. Quando a Rádio Nacional foi fundada em 1936, o aparelho de rádio já era não apenas um ornamento das salas de estar da classe média, mas um eletrodoméstico permanentemente ligado. A partir daí, até o final dos anos 1950, o rádio conheceu os seus anos dourados.

Lembro de "assistir" aos prantos à final da Copa do Mundo de 1950, como se estivesse no Maracanã naquela trágica tarde de domingo em que o Brasil perdeu para o Uruguai. Na infância e na adolescência eu passava horas ao lado do rádio, com meu avô, que era cego. "Víamos" tudo através das "ondas do éter" —– ele até mais do eu – pois o rádio era um veículo de comunicação que estimulava a imaginação. 

Ríamos às gargalhadas com programas humorísticos como a PRK-30 e o Balança, mas Não Cai; chorávamos com novelas como O Direito de Nascer, que ficou três anos no ar, e com as histórias comoventes da série Obrigado, Doutor. A dramaturgia radiofônica tinha o apoio de anunciantes como Philips, Gessy e Bayer como nos Estados Unidos, onde as novelas eram patrocinadas por marcas de sabonete, daí a expressão soap opera para designar "novela". Éramos bem informados pelos boletins do Repórter Esso, que anunciava, depois da fanfarra de clarins, "Aqui fala o seu Repórter Esso, testemunha ocular da História". Quando ouvíamos suas trombetas do Apocalipse fora do horário habitual, anunciando uma edição extra, sabíamos que algo de muito grave tinha acontecido no Brasil ou no mundo. Em compensação, caíamos de sono ou simplesmente desligávamos o rádio, coisa rara de acontecer  durante o programa oficial de notícias A Hora do Brasil, criado por Getúlio Vargas em 1935 e obrigatório em todas as emissoras.

Garoto, eu me ligava particularmente em seriados como Tarzã, o Rei da Selva, cujo insólito prefixo musical era a abertura de "Orfeu no Inferno", de Offenbach, justamente a dança do cancã dos cabarés franceses da belle époque. (De tanto ouvir Tarzã, ainda hoje associo mais o tema de Offenbach à selva inóspita do que aos tablados do cancã.) Tinha ainda Jerônimo, o Herói do Sertão, criado por Moysés Weltman, que também dirigiu revistas na Bloch; e O Sombra, que começava com o sinistro bordão: "Quem sabe o mal que se esconde nos corações humanos? O Sombra sabe." Eu ouvia sempre um programa de histórias trágicas cujo prefixo musical era a tristíssima Pavana Para Uma Infanta Defunta, de Ravel: nas noites frias e escuras do inverno curitibano era quase um convite ao suicídio.

Mas o rádio era, acima de tudo, música. Até a propaganda se fazia através de canções, os irresistíveis jingles. Lembro de alguns, geralmente ligados a remédios: Grindélia de Oliveira Júnior, Phimatosan, Pílulas de Vida do Dr. Ross, do "Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal" e das Pastilhas Valda, calcada no tema de "La Cucaracha". E, ainda, o famoso anúncio do Óleo Maria, iniciado com o apelo: "Maria, sai da lata!".

Cauby Peixoto

Emilinha Borba

Era principalmente nos programas de auditório ao vivo que a música florescia. Cada emissora costumava ter sua orquestra residente, regida por um maestro famoso. Para citar alguns nomes: Radamés Gnatalli, Ghiarone, Maestro Chiquinho, Maestro Fon-Fon, Maestro Cipó, elogiado pelo jazzista Dizzy Gillespie. A Rádio Nacional tinha até um programa, Quando os Maestros Se Encontram, um duelo musical entre talentos como Leo Peracchi, Alceu Bocchino, Lírio Panicalli e Lindolfo Gaya. O auditório era o território sagrado onde surgiram os Cantores do Rádio, ídolos cultuados por seus fã-clubes e que ostentavam apelidos singulares, em alguns casos verdadeiros slogans: Francisco Alves (O Rei da Voz), Orlando Silva (O Cantor das Multidões), Sílvio Caldas (O Caboclinho Querido), Carlos Galhardo (O Cantor que Dispensa Adjetivos), Nélson Gonçalves (O Rei do Rádio), Francisco Carlos (O Broto), Cauby Peixoto (Professor), Luiz Gonzaga (O Rei do Baião). E, entre as mulheres: Linda Batista (A Maioral do Samba), Emilinha Borba (A Favorita da Marinha), Marlene (A Que Canta e Dança Diferente), Aracy de Almeida (O Samba em Pessoa), Elizeth Cardoso (A Divina), Ângela Maria (Sapoti), Carmen Miranda (A Pequena Notável).


O assédio aos astros nos auditórios lembrava as bobby-soxers de Frank Sinatra e as tietes da beatlemania. Na época, talvez pela coloração um pouco tisnada da pele, as fãs ganharam o apelido politicamente incorretíssimo de "macacas de auditório." Miguel Gustavo as celebrizou numa marchinha do Carnaval de 1958, Fãzoca de Rádio: "Ela é fã da Emilinha,/ Não sai do César de Alencar./ Grita o nome do Cauby/ E depois de desmaiar/ Pega a Revista do Rádio/ E começa a se abanar." Mesmo no coração do mais humilde fã havia uma esperança de chegar um dia a desfrutar de fama igual à de seus ídolos. Para isso se prestavam os programas de calouros, que revelaram muitas novas estrelas para a música popular brasileira. Ary Barroso comandava os Calouros em Desfile, na Tupi: qualquer deslize e o postulante a astro era desclassificado com a sonora batida de um gongo; na Rádio Nacional, Heber Bôscoli reinava na Hora do Pato e mandava os desafinados passearem com um humilhante grasnado da ave palmípede; na Rádio Clube, do Rio, Renato Murce submetia seus calouros ao teste do Papel Carbono. Dalva de Oliveira não precisou submeter-se ao ritual de passagem dos calouros. A Rainha do Rádio foi descoberta aos 19 anos por seu Pigmaleão, Herivelto Martins. Para quem não lembra, Pigmaleão foi o artista que, ao esculpir sua imagem da mulher ideal, se apaixonou pela estátua. Na mitologia grega como na MPB, a tragédia foi que Herivelto, o criador, se apaixonou por sua criatura, Dalva, e a realidade acabou demolindo o sonho.