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quarta-feira, 17 de março de 2021

Hélio Fernandes (1921-2021): o rebelde com causa e sua passagem pela Manchete

Libertado após uma das suas prisões durante a ditadura, Hélio Fernandes ganha o abraço dos filhos na pista do Aeroporto Santos Dumont, em 1967. A foto é de Alberto Jacob que registrou
a cena comovente para o JB.


por José Esmeraldo Gonçalves

Para Hélio Fernandes, jornalismo era combate. Não temia adversários, do porte que estes o fossem. Em julho de 1967, quando o protótipo de ditador Castello Branco morreu em um desastre de avião, Hélio não achou que a morte redimia o golpista.  

No dia seguinte, enquanto os militares se esforçavam para incentivar lágrimas "patrióticas" e os políticos que formavam a corte serviçal da caserna gastavam elogios ao sujeito, o editorial da Tribuna da Imprensa fazia o contraponto: “Com a morte de Castelo Branco, a humanidade perdeu pouca coisa, ou melhor, não perdeu coisa alguma. Com o ex-presidente, desapareceu um homem frio, impiedoso, vingativo, implacável, desumano, calculista, ressentido, cruel, frustrado, sem grandeza, sem nobreza, seco por dentro e por fora, com um coração que era um verdadeiro deserto do Saara”. 

A resposta da ditadura veio rápida. O jornalista foi levado para o desterro em Fernando de Noronha e depois transferido para uma prisão em Pirassununga (SP). A sua volta ao Rio, em outubro do mesmo ano, rendeu uma bela foto ainda na pista do Aeroporto Santos Dumont, ao ser recebido e abraçado pelos filhos. Alberto Jacob, que trabalhou na Manchete e foi o autor da imagem emocionante para o Jornal do Brasil,  contava que o JB não publicou a foto no dia seguinte por temer a reação do regime.  Só depois, a cena tornou-se uma referência histórica de um momento da vida nacional. 

A Tribuna, alvo permanente da ditadura, foi financeiramente sufocada na década seguinte. Em 1981, quando a ditadura dava sinais de exaustão mas gestava uma linha-dura terrorista, o sobrado da Rua do Lavradio foi atacado por um comando armado que lançou seis bombas na sede do jornal, destruindo as instalações gráficas. 

O jornal, como Hélio resistiu. 

Hélio Fernandes morreu no último dia 11, aos 100 anos. Na última semana, jornais e sites relembraram sua longa trajetória. Aqui focalizamos sua passagem pela Manchete. 

Lançada em abril de 1952, a revista procurava ainda, ao longo do ano, uma identidade. Naquele difícil começo, Hélio atuava como repórter. Destacava-se na cobertura política, seu campo de ação, mas fazia reportagem de interesse geral, algo raro na sua carreira, como desvendar para a revista o funcionamento do jogo do bicho no então Distrito Federal. Apurou também uma curiosa matéria sobre sexo, que identificava como "problema" de uma geração. Também nessa época ele investigou um "escândalo do metrô". Isso mesmo, o metrô só chegaria ao Rio em 1979, mas o trambique saiu do trilho bem antes. 

A primeira matéria de Hélio Fernandes para a Manchete, em 1953

Hélio desvendou para a Manchete a estrutura do jogo do bicho no Rio.
Hoje, essa matéria seria chamada de investigativa

Uma rara incursão de Hélio Fernandes em pautas de comportamento.

Em fins de 1952, promovido a diretor da Manchete

A revista comunica aos leitores a saída de Hélio Fernandes,...

...que manteve vínculo com a  Manchete como colaborador
a partir de Londres


Em outubro de 1952, Adolpho Bloch nomeou Hélio Fernandes como diretor-responsável da Manchete. Cabia ao jornalista encontrar um nicho para a revista em um mercado dominado por publicações tradicionais, como o Cruzeiro, Revista da Semana, etc.  No primeiro ano, conta-se que em várias ocasiões Adolpho, um gráfico bem-sucedido, quis desistir de dar o primeiro passo para iniciar o que seria seu império jornalístico. Talvez a gestão de Hélio tenha ajustado uma rota jornalística e preparado a revista para resistir até que viessem, nos anos seguintes, quando ele já deixara o cargo, os marcos que impulsionaram a Manchete definitivamente: Brasília, JK, a industrialização do país, uma cobertura atenta de atualidades e a era Justino Martins que modernizou revista e, em seguida, desbancou a líder O Cruzeiro.  

Ao deixar a direção da Manchete, Hélio foi para Londres, de onde ainda fez matérias para a revista.  Seu posto seguinte no jornalismo brasileiro foi a direção do vespertino A Noite. Em 1962, ele adquiriu o controle da Tribuna da Imprensa que circulou até 2008 e ao fechar deixou pendências trabalhistas com jornalistas e gráficos.

sábado, 26 de maio de 2018

Fotomemória da redação - Em 1968, Fatos & Fotos registra brutal agressão ao repórter-fotográfico Alberto Jacob



Reprodução/Fatos & Fotos, abril de 1968

No dia 4 de abril de 1968, Alberto Jacob, um dos mais respeitados repórteres-fotográficos do Brasil, cobria para o Jornal do Brasil a missa em homenagem ao estudante Edson Luís, assassinado dias antes pela Polícia Militar do Estado da Guanabara. Apesar de se identificar como jornalista, Jacob foi brutalmente atacado nas imediações da Igreja da Candelária. Levou ponta-pés, sofreu um golpe de espada na cabeça, teve a câmera apreendida e foi hospitalizado.

A Fatos & Fotos documentou toda a cena. Infelizmente, o crédito da reportagem publicada na edição 376 é coletivo, o que impossibilita identificar o autor da sequência.

Alberto Jacob, que faleceu em setembro de 2017, aos 84 anos, ganhou entre outros prêmios o Esso de 1971 com a célebre foto "A mão de Deus" para o Jornal do Brasil.

Foto "A mão de Deus"/Alberto Jacob/Jornal do Brasil/ Prêmio Esso 1971



sexta-feira, 21 de julho de 2017

Memórias da redação: o dia em que Alberto Jacob foi cobrir para Fatos & Fotos a guerra que não aconteceu...


Trechos de um capítulo do livro "Memórias de um repórter", de Fernando Pinto. Junto com o
fotógrafo Alberto Jacob, ele cobriu a "Guerra da Lagosta" para Fatos & Fotos. 

O contratorpedeiro francês Tartu. O primeiro flagrante de um dos navios de guerra que invadiram os mares
do Nordeste durante a chamada "Guerra da Lagosta". A foto de Alberto Jacob, feita a bordo de um helicóptero militar,  foi publicada na Fatos & Fotos, cedida à Marinha do Brasil e reproduzida em jornais brasileiros e franceses. 
Entre 1961 e 1963, barcos franceses capturavam ilegalmente, no litoral do Nordeste, toneladas de lagostas. Pescadores, pequenas empresas e jangadeiros denunciaram a pirataria. As gestões diplomáticas com a França, então governada por De Gaulle, não avançaram e a Marinha brasileira enviou para a região a corveta Ipiranga, que apreendeu o pesqueiro francês Cassiopée.

A França enviou uma força-tarefa de peso, até com o porta-aviões Clemenceau, para as proximidades da área onde agiam os piratas franceses. O governo brasileiro mobilizou mais navios de guerra, a FAB e o 4° Exército sediado em Recife.



O relato reproduzido acima é um trecho do livro "Memórias de um repórter" de Fernando Pinto (Editora Thesaurus). Ele formou com o fotojornalista Alberto Jacob a dupla enviada al mare pela Fatos & Fotos para cobrir a "guerra" que acabou não acontecendo. No campo diplomático, posteriormente, o Brasil teve reconhecidas suas razões no episódio.

Com a foto "A Mão de Deus", Alberto Jacob
ganhou o Prêmio Esso  de 1971,
quando trabalhava no Jornal do Brasil. 
Alberto Jacob morreu na última terça-feira, no Rio, aos 84 anos.
O carioca começou sua carreira na Revista do Rádio, foi contratado pela Sétimo Céu, da Bloch, e integrou as equipes da Fatos & Fotos e Manchete que acompanharam a construção de Brasília, a citada "Guerra da Lagosta", a queda de João Goulart e as passeatas de protesto contra a ditadura.

Transferiu-se para o JB, onde ganhou um Prêmio Esso, em 1971, com a famosa foto da freira quase atropelada por um ônibus. "A mão de Deus" foi o nome com que ele batizou a imagem premiada.

Alberto Abraão Jacob foi um dos grandes mestres do fotojornalismo brasileiro.