Para Hélio Fernandes, jornalismo era combate. Não temia adversários, do porte que estes o fossem. Em julho de 1967, quando o protótipo de ditador Castello Branco morreu em um desastre de avião, Hélio não achou que a morte redimia o golpista.
No dia seguinte, enquanto os militares se esforçavam para incentivar lágrimas "patrióticas" e os políticos que formavam a corte serviçal da caserna gastavam elogios ao sujeito, o editorial da Tribuna da Imprensa fazia o contraponto: “Com a morte de Castelo Branco, a humanidade perdeu pouca coisa, ou melhor, não perdeu coisa alguma. Com o ex-presidente, desapareceu um homem frio, impiedoso, vingativo, implacável, desumano, calculista, ressentido, cruel, frustrado, sem grandeza, sem nobreza, seco por dentro e por fora, com um coração que era um verdadeiro deserto do Saara”.
A resposta da ditadura veio rápida. O jornalista foi levado para o desterro em Fernando de Noronha e depois transferido para uma prisão em Pirassununga (SP). A sua volta ao Rio, em outubro do mesmo ano, rendeu uma bela foto ainda na pista do Aeroporto Santos Dumont, ao ser recebido e abraçado pelos filhos. Alberto Jacob, que trabalhou na Manchete e foi o autor da imagem emocionante para o Jornal do Brasil, contava que o JB não publicou a foto no dia seguinte por temer a reação do regime. Só depois, a cena tornou-se uma referência histórica de um momento da vida nacional.
A Tribuna, alvo permanente da ditadura, foi financeiramente sufocada na década seguinte. Em 1981, quando a ditadura dava sinais de exaustão mas gestava uma linha-dura terrorista, o sobrado da Rua do Lavradio foi atacado por um comando armado que lançou seis bombas na sede do jornal, destruindo as instalações gráficas.
O jornal, como Hélio resistiu.
Hélio Fernandes morreu no último dia 11, aos 100 anos. Na última semana, jornais e sites relembraram sua longa trajetória. Aqui focalizamos sua passagem pela Manchete.
Lançada em abril de 1952, a revista procurava ainda, ao longo do ano, uma identidade. Naquele difícil começo, Hélio atuava como repórter. Destacava-se na cobertura política, seu campo de ação, mas fazia reportagem de interesse geral, algo raro na sua carreira, como desvendar para a revista o funcionamento do jogo do bicho no então Distrito Federal. Apurou também uma curiosa matéria sobre sexo, que identificava como "problema" de uma geração. Também nessa época ele investigou um "escândalo do metrô". Isso mesmo, o metrô só chegaria ao Rio em 1979, mas o trambique saiu do trilho bem antes.
A primeira matéria de Hélio Fernandes para a Manchete, em 1953 |
Hélio desvendou para a Manchete a estrutura do jogo do bicho no Rio. Hoje, essa matéria seria chamada de investigativa |
Uma rara incursão de Hélio Fernandes em pautas de comportamento. |
Em fins de 1952, promovido a diretor da Manchete |
A revista comunica aos leitores a saída de Hélio Fernandes,... |
...que manteve vínculo com a Manchete como colaborador a partir de Londres |