quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Bancas: o jornaleiro pede desculpas e, aos poucos, se despede das ruas...

por Ed Sá

Algumas prefeituras, como a de Campo Grande (MS), planejam rever regras para o funcionamento das bancas de jornais e discutem o futuro do negócio. Com a crise do meio impresso, elas, já há alguns anos, diversificaram ofertas de produtos. Recarga e capas de celulares, doces e balas, cigarros, canetas, sorvetes etc dividem lugar com as revistas que restam e as pilhas de jornais cada vez menores.

Muitas cidades despertam para o mesmo problema.

Em muitas bancas, os impressos já são minoria, as vendas de jornais e revistas despencaram em cerca de 70%.

Uma das propostas é transformá-las em ambientes virtuais.

Qualquer projeto de mudança deverá levar em conta a questão social. A maioria das bancas sustentou famílias por várias gerações, mas não foram poucos os jornaleiros tradicionais que passaram o ponto.

Em capitais como Paris, Lisboa, Londres e outras com público leitor muito maior, o anunciado fim dos impressos é um processo mais lento. São centros de países que ainda sustentam um número expressivo de títulos. No Brasil, a crise que atinge as versões impressas de jornais e revistas avança em velocidade muito maior. Centenas de títulos foram extintos nos últimos anos. Com uma característica que fragiliza ainda mais os jornaleiros. Em cidades como Rio e São Paulo, os políticos de olho em voto deram ao longo dos anos um número excessivo de licenças para bancas. Em certas quadras, são de dez a 15 instalações a poucos metros uma da outra. Já há pontos abandonados ou quase vazios.

O futuro, ou a falta dele, atropela os velhos jornaleiros.

The Economist: "Bolsonaro é ameaça para o Brasil e América Latina"


Na CBN, Ciro mostra que ponto eletrônico na orelha de jornalista não é brinco...

O site DCM comentou a saia justa. 

Durante entrevista na CBN, Ciro Gomes parece ter desvendado de vez a razão pela qual os entrevistadores do Grupo Globo interrompem tanta vezes os candidatos.

Seria para controlar os rumos da conversa e tentar neutralizar assuntos incômodos?

Ciro falava sobre o golpe que derrubou Dilma Rousseff e atribuía a conspiração à cobiça pelo petróleo da Petrobras. Os jornalistas ficaram ansiosos de repente e tentaram mudar de assunto.

- Tem ordem editorial aí?" - indagou o candidato.

O mediador quis disfarçar e responder, mas Ciro insistiu na observação.

O ponto eletrônico não está pra brincadeiras.

O vexame está no vídeo com a íntegra da entrevista a partir do minuto  43.35

VEJA AQUI

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Vai ter cola na cabine. FHC erra toda hora o nome do candidato tucano.

por O.V.Pochê
Fernando Henrique Cardoso diz que vai votar em Geraldo José Alckmin Filho, pelo menos no primeiro turno. Mas o ex-presidente vai ter que levar uma cola. Ele erra seguidamente o nome do candidato do seu partido. Ao fazer campanha pro amigo no twitter só escreve Alkmin.

As redes sociais já estão prevendo que virão mais variações por aí:

- Jeraldo
- Alkmin Júnior
- Zé Alquimin 
- Zé Jeraldo
- Joaquim Filho

Só falta chamar o homem de Santo ( apelido de Alckmin na famosa lista da Odebrecht, segundo delação).

terça-feira, 18 de setembro de 2018

TSE nega direito de resposta de Ciro Gomes a reportagem da Veja. E advogado da revista inova ao defender o jornalismo da "verossimilhança"...

Talvez a definição mais precisa sobre o atual método de trabalho do jornalismo político na mídia conservadora tenha sido dada pelo advogado da Veja, Alexandre Fidalgo.

Confira.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou por 6 votos a 1, um pedido de direito de resposta de Ciro Gomes a uma reportagem "O Esquema Cearense" publicada pela revista.

Segundo a Veja, Cid Gomes, irmão de Ciro, teria dado benefícios fiscais a empresas no Ceará em troca de caixa dois para campanhas eleitorais. A reportagem tinha como base apenas a declaração de
Niomar Calazans, ex-tesoureiro do Pros, mas o próprio entrevistado afirmava à revista não ter provas da acusação que fazia. O acusador, inclusive, segundo o advogado de Ciro, André Xerez, já havia sido condenado por difamação.

Os ministros Sérgio Banhos, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Jorge Mussi, Tarcísio Vieira e Luis Felipe Salomão negaram o direito de resposta. Rosa Weber, presidente do TSE, votou a favor com base na argumentação do vice-procurador-geral-eleitoral, Humberto Jacques, segundo o qual “não se compreende a liberdade de expressão sem a possibilidade de direito de resposta”.

É surpreendente a posição do TSE porque a reportagem foi publicada, sem censura ou qualquer dano à liberdade de expressão da mídia. O veto do tribunal foi ao direito de resposta, obviamente posterior. A verdade é que a legislação brasileira recente precarizou esse instrumento democrático. O Brasil está hoje entre os países onde p direito de resposta é dos mais frágeis.

Em defesa da Veja, o advogado Alexandre Fidalgo usou uma argumentação que é um primor de sinceridade. Segundo ele, "a imprensa trabalha com elementos de razoabilidade, de verossimilhança. Eu não preciso necessariamente saber de verdade se a declaração será provada ou não provada”, acrescentou.

Fidalgo acaba de criar o jornalismo da "verossimilhança", o que não precisa necessariamente da verdade, nem está preocupado se o conteúdo será provado ou não provado.

Então é isso: sem querer ele escreveu o tutorial da velha mídia brasileira.

E o Brasil ganha a honra de criar o jornalismo investigativo da verossimilhança.

É nóis!

Revista Time passa o ponto. Bilionário do setor de software é o novo dono

Depois de passar alguns meses com a placa de vende-se na porta, o grupo que controla a revista Time finalmente fechou negócio. Por 190 milhões de dólares, a Meredith, conhecida editora de publicações femininas passou ponto para Marc Benioff, presidente da empresa de tecnologia Salesforce.

 Time perdeu espaço no impresso mas mantém 100 milhões de leitores somadas as versões digital e tradicional.

A Salesforce se destaca na tecnologia da computação em nuvem,inteligência artificial, marketing e gestão de comunidades. Benioff é definido como um "CEO ativista" pela atuação social em São Francisco, onde tem a sede da empresa. Programas de habitação, saúde e educação e saúde na cidade contam com seu apoio financeiro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Eliud Kipchoge faz história na Maratona de Berlim

Eliud Kipchoge na linha de chegada após a marca histórica a Maratona de Berlim. Foto Getty Images/IAAF/Divulgação

Como é que é mesmo? Indolente e preguiçoso. Assim os racistas rotulam os negros.

Que tal botar esse pessoal para correr contra Eliud Kipchoge?

Ontem, o queniano correu a Maratona de Berlim em 2h1m39 segundos. Ele ameaça cruzar a barreira de 2 horas para a prova de 42 quilômetros, o que muitos consideram impossível para a modalidade. Kipchoge já baixou o recorde anterior em mais de um minuto. A última vez que um maratonista quebrou uma marca com margem de mais de 60 segundos foi em 1969.

Especialistas europeus e americanos já fizeram estágios no Quênia para tentar descobrir o segredo do sucesso dos atletas locais. A maioria levava na mochila teorias preconceituosas ligadas a "características animais". Lá, descobriram que não basta ser queniano para se tornar superatleta em provas de resistência. Se fosse assim, o país inteiro subia ao pódio. Aqueles que se destacam treinam muito, geralmente em grupo, usam subidas, de preferência, no dia a dia andam a pé, sobem escadas, desenvolveram um método de preparação em ciclos de três semanas, não comem fast food, têm dieta simples e barata, com baixo teor de gordura, muito carboidrato, pouca proteína e assim mesmo sempre equilibrada com grãos e legumes. A genética, claro, conta. Mas ninguém lembra desse fator "animal" quando fala de fenômenos brancos como Yelena Isinbayeva (atletismo), Michael Phelps (natação), Novak Djokovic (tênis) e tantos outros não quenianos.

sábado, 15 de setembro de 2018

A pauta é calote - Funcionários demitidos fazem protesto em frente à Editora Abril, que chamou a PM....

Foto: Cadu Bazilevski/ Jornalistas Livres 

Funcionários demitidos pela Abril, entre jornalistas, gráficos e administrativos, que não receberam verbas rescisórias, nem a multa de 40% do FGTS, fizeram um protesto, ontem, em frente à gráfica da empresa.

Os trabalhadores vítimas de calote divulgaram uma carta aos Civita.

“CARTA ABERTA À FAMÍLIA CIVITA

Abrimos esta carta – e fazemos sua leitura em voz alta – porque nossa mensagem não tem caráter privado. Ela diz respeito à sociedade brasileira, e não apenas aos 804 empregados covardemente descartados a partir de 6 de agosto, aos demitidos em meses anteriores, aos profissionais freelancers igualmente dispensados. Foram atingidos 1.500 homens e mulheres – e suas 1.500 famílias. Com a última demissão em massa, nos vimos sem trabalho, sem dinheiro e pilhados no que há de mais caro e precioso: direitos! Direitos duramente conquistados com criatividade, dedicação, empenho, entrega e suor. O abatimento emocional e moral já produz depressão, desesperança e sérias dificuldades na vida cotidiana. Em muitas casas, falta comida. Alguns dos funcionários cortados não têm como pagar remédio, luz, transporte, a escola dos filhos…

Diante desta árvore, que já foi ícone de potência e de imprensa forte, símbolo de cultura, humanidade e entretenimento, lembramos à família Civita que, durante quase sete décadas, o Grupo Abril fez parte da formação dos brasileiros, que leram os conteúdos gerados por seus mais de 150 títulos lançados. Para ficar só nos dias atuais: o manancial de informações produzidas pelas 11 publicações que morreram, numa só tacada, em 6 de agosto, é um patrimônio que não pertencia mais à família Civita. As ideias e as reflexões propostas nelas frutificaram, produziram pensamento crítico e, por isso, pertencem aos trabalhadores que as produziam e ao leitor brasileiro. Perde, assim, o povo, de quem a Abril, há muito, vem se distanciando. Perdem, sobretudo, as mulheres, uma vez que, dos títulos destruídos, oito eram dirigidos ao público feminino.

Perde ainda o mercado de trabalho. A atitude intempestiva da família Civita, que demitiu em massa – sem negociar com os sindicatos, oferecer contraproposta ou dar a chance de demissão voluntária –, estrangula os meios de produção de informação. Encerra centenas de postos de trabalho. Abala os jornalistas do país inteiro. Atinge as universidades que preparam jovens para o exercício da profissão em veículos impressos e digitais. Golpeia os cursos que formam profissionais para TI, impressão, acabamento, distribuição e serviços. E afeta, brutalmente, a logística de outras editoras e empresas.

O rombo é mais fundo. Nesse episódio, há também prejuízo para a liberdade de expressão, a denúncia, a crítica. Perde, enfim, a defesa da democracia. Não se trata de constatação recente. Os herdeiros vêm descuidando do Grupo Abril há anos. A falta de investimento no editorial, a equivocada entrega da gestão a consultores estranhos ao universo da informação, o afastamento da diversidade de opiniões e a ausência de sensibilidade para entender os novos rumos da sociedade levaram a Abril à derrocada, à recuperação judicial.

Nós nos vimos metidos nela – como parte de uma interminável lista de credores, a quem o Grupo Abril deve 1,6 bilhão de reais. Mas não somos credores. Esse papel é dos bancos, dos grandes fornecedores, das empresas globalizadas com quem o Grupo faz negócios. Nós somos trabalhadores! Levantamos cedo, enfrentamos a madrugada no fechamento das revistas. Estamos na gráfica, na logística, na distribuição, no escritório… Não somos credores. Nossa única fonte de sobrevivência é o salário que vem, exclusivamente, do trabalho árduo que entregamos. A dívida que os Civita têm com a massa de profissionais jogados na rua é de 110 milhões de reais. Somando o que os senhores devem aos profissionais freelancers – muitos deles tinham horário a cumprir, obrigações e subordinação à chefia –, representamos uma fatia magra, menos de 7% do total da dívida de 1,6 bilhão.

Os senhores podem amenizar o malfeito. Têm como minorar a injustiça que cometeram contra as mulheres e os homens que fizeram a história da Abril – e colaboraram para o enriquecimento da família Civita, que detém, reconhecidamente, uma das maiores fortunas do Brasil. O caminho está previsto na legislação. Basta que os irmãos, controladores do Grupo Abril, sub-roguem os nossos créditos, assumindo o nosso lugar no processo de Recuperação Judicial. Os senhores podem sub-rogar 100% dos créditos trabalhistas, pagando de uma vez os 110 milhões que pertencem aos demitidos, tomando o lugar deles e dos freelas como credores na recuperação judicial. E devem acrescentar ainda a multa referente ao artigo 477 da CLT, que determina ao empregador o pagamento de um salário por descumprimento da obrigação de acertar as verbas rescisórias dez dias após a demissão.

Reivindicamos, então, dos senhores, que assumam pessoalmente a dívida trabalhista da empresa, de imediato, pagando a todos, pois se trata de verba de natureza alimentar. Seu valor total é de apenas 1% da fortuna que a família Civita acumulou com o Grupo Abril, estimada recentemente em mais de 10 bilhões de reais, conforme publicado na revista Exame. Cabe demandar também o reconhecimento dos profissionais freelancers na categoria de trabalhadores, uma vez que não se trata de empresas, mas sim de quem depende dos proventos do trabalho individual para pagar as contas, assim como os demitidos.

Os senhores não podem fugir da responsabilidade trabalhista que têm com os descartados, da responsabilidade social que assumiram – e sempre apregoam – com o país. É preciso lembrar o que foi manifesto por Victor Civita, o fundador do Grupo, quando explicou o emblema que o identifica: “Escolhi a árvore como símbolo da Editora Abril porque é a representação da fertilidade, a própria imagem da vida. O verde porque é a cor da esperança e do otimismo”.

Nossa “esperança” é a de que os senhores, herdeiros, honrem os seus compromissos com os demitidos. Façam valer o tanto que a família Civita acumulou em décadas com o nosso trabalho. E respeitem as nossas famílias.

Comitê dos Jornalistas Demitidos
Comitê dos Gráficos Demitidos
Comitê dos Distribuidores Demitidos
Comitê dos Administrativos Demitidos
Comitê dos Profissionais Freelancers Dispensados”

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A solidão do entrevistado...

Jornalista, escritor, professor universitário e cartunista que já atuou no Estadão, Gilberto Marigoni foi candidato a governador de São Paulo, em 2004, pelo PSOL. Ele conta no Facebook sua experiência como entrevistado e debatedor na alta tensão da campanha política.

por Gilberto Maringoni

Fernando Haddad deu um baile nesta sexta-feira (14), no Jornal Nacional! Seu brilhante desempenho me evocou lembranças. Fiz uma campanha para governador de São Paulo (PSOL), em 2014, que tem residual importância histórica.

Assistindo o petista - em situação mil vezes mais importante e dramática - me voltaram sensações que talvez todo candidato em desafios semelhantes tenha. Digo dos candidatos que não rezam pela cartilha dominante.

Montamos há quatro anos uma pequena e dedicada equipe, com a qual aprendi muito. Entre eles estavam Francisvaldo Mendes de Souza, Denise Simeão , Edson Carneiro Índio e Pedro Ekman. Bia Barbosa e Cláudio Camargo também deram apoio fundamental

A primeira sensação que se tem em debates desse tipo é uma solidão quase absoluta.

A SOLIDÃO - Você está num estúdio, com jornalistas à sua frente que - quase sempre - querem apenas jogar cascas de banana esperando você fazer um papelão. Ao entrar e se sentar, você está só - sozinho! - e com uma responsabilidade monumental nos ombros. Se vacilar ou falar bobagem, centenas de camaradas, candidatas e candidatos que dão o sangue para construir uma ideia, um projeto e um partido podem ser rejeitados nas ruas e nas urnas. Vale uma analogia.

Fui nadador desde a adolescência e participei de dezenas de campeonatos. É talvez o esporte mais solitário existente. Quando você é chamado para a borda da piscina, posta-se atrás da baliza e aguarda o apito do juiz para subir. Entre o segundo silvo, para se abaixar, e o tiro de largada, passa-se no máximo um segundo. Nesse microtempo, você olha cinquenta metros de água adiante e a solidão é parecida. É você com você. Uma saída malfeita, uma entrada torta na água ou uma virada ruim, pronto! Está comprometido não apenas seu desempenho, mas a pontuação de toda a equipe.

A OFENSIVA - A segunda sensação nos debates é que você está num jogo de esperteza, muito mais do que numa troca de idéias. Se vacilar, dança. Não pode baixar a guarda em momento algum É algo extremamente tenso.

Haddad começou nervoso e foi se assenhorando do ambiente. É essencial nunca deixar a bancada tomar a ofensiva. Ou seja, as perguntas não podem lhe pautar. Há que virar o jogo e tentar você definir o ritmo da batalha. Como dizia Brizola, "Estamos numa democracia, você pergunta o que quiser e eu respondo o que quero".

Nesse ponto, eu fazia outra comparação. "Estou numa guerra e ninguém aqui é meu amigo", pensava. E me vinha à mente uma longa conversa mantida há exatas duas décadas com M. Roger Brochet, um francês de 80 anos, casado com Mme. Suzanne, uma extrovertida e divertida professora de francês, dois anos mais velha que ele. Moravam ambos numa casinha com quintal ao fundo, no bairro de Perdizes em São Paulo, desde o final dos anos 1940, quando chegaram ao Brasil.

M. Roger me fascinava. Fora piloto de caça na II Guerra Mundial. Com a França ocupada, integrou-se a uma esquadrilha de Spitfires da RAF, sediada em Nice. Sua história nada tinha de romântica: dos 72 pilotos, apenas ele e outro conterrâneo sobreviveram. Falava com amargor de episódios que eu via como heroicos.

Duas frases grudaram na minha cabeça. A primeira é: "Nunca deixe o inimigo ficar em sua cauda. A possibilidade de ser atingido é de 110%". A segunda era: "Quando você o tiver na alça de mira, não vacile, abra fogo. Em combate não existe segunda chance".

Nos debates, a analogia da solidão se completava com as palavras de M. Roger, que em gestos contidos desenhava no ar manobras realizadas mais de meio século antes.

JUNTO E MISTURADO - Não permita que assumam a ofensiva, quando puder, vá para cima, não os deixe pautá-lo, mentalize o tempo de fala, vá direto ao assunto, não enrole, não demonstre intimidade com quem está no estúdio. Isso repetiam meus camaradas de campanha nas reuniões preparatórias. E sobretudo, lembre-se, diziam eles, você não está conversando com quem está à sua frente. Abstraia-os. Tem de falar com quem está em casa!

Piscina, Spitfires e a paciência dos amigos se fundiam em vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Eu ia com um frio na espinha para as emissoras. Às vezes me saia bem, às vezes malomenos.

A campanha, como disse, foi microscópica. Não quero fazer nenhuma egotrip aqui. Detesto ser cabotino.

Mas ao assistir Haddad hoje - e Boulos e Ciro em outras oportunidades -, eu me admiro com a maestria deles, embora cada um exiba um estilo. Encaram situações muito mais duras e cheias de armadilhas do que as enfrentadas por mim. Tenho enorme orgulho em ver gente do nosso lado dando show de arte e competência!

P. S. Disso tudo, só uma tristeza fica. Nunca mais vi M. Roger. Não havia celulares em profusão há vinte anos. Quando, tempos depois, busquei a casinha em Perdizes, um edifício tinha lhe tomado o lugar.

M. Roger Brochet, herói da luta contra o nazismo, faria cem anos neste 2018. Sei lá, tem tudo a ver com o que vivemos...

Vidente avisa que mídia brasileira está sob forte estresse...

De: allanrway@celticcave.com.uk
para: paocomovo@gmail.com
cc ursal@state.org.ur; illuminati@vat.org.vt; allien@allien.ma; davidiano@star.org; racionlasuperior@maia.org; sociedadealternativa@sky.org

Allan Richard Way II, o herdeiro recluso do vidente que fazia o mapa astral dos acontecimento para a Manchete, através do seu contato brasileiro Carlos Heitor Cony, enviou de Londres um email, ontem, onde faz um inusitada previsão.

Não, ele não aponta o vencedor da corrida presidencial no Brasil, mas é quase isso.

Sir Richard informa aos seus seguidores e parceiros que as casas astrológicas indicam que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad irão ao segundo turno das eleições. Raramente, o famoso guru ingressa no pantanoso terreno da análise política. Ocorre, segundo o vidente, que Mercúrio, que rege a Comunicação, transitará no fim de outubro por signos e casas imprevistos. Sir Richard interpreta que o segundo turno será fase de muita angústia para a mídia conservadora brasileira nas conjunções dos seus editores, colunistas e articulistas.

Eles já admitem em conversas privadas que no caso de um confronto em Haddad e Bolsonaro apoiarão o capitão. Mesmo se o adversário deste for Ciro Gomes, a maioria ficará com o militar, o candidato assimilado pelo mercado financeiro, de acordo com as oscilações do dólar e da Bolsa.


Mas a angústia não se torna aguda pelo apoio em si. Segundo Sir Richard, o que os rapazes e moças buscam é uma "narrativa", é o que fazer com as respectivas biografias, é o que dizer às famílias, é como justificar a escolha radical já praticamente consolidada diante da perspectiva de que Alckmin, Meirelles, Marina, João Amoedo e Álvaro Dias estão praticamente atropelados pelos astros.

Grupos privados de Whatsapp dos principais analistas entraram em modo estresse.

A propósito, Allan Richard Way II - que no momento começa a preparar suas previsões para o Brasil e o mundo em 2019 -, admite ao fim da mensagem que a tarefa nunca foi tão difícil.

Diz ele que os corpos celestes, de acordo com os desígnios da ciência milenar nascida na planície dos rios Tigre e Eufrates, ficam bagunçados quando o assunto é Brasil.

"I’m knackered!", encerra.

Jornal Nacional inaugura nova modalidade de jornalismo: a entrevista-selfie. Os jornalistas perguntam e eles mesmos respondem...

por Ed Sá 

Na série encontros da bancada do JN com os candidatos a presidente,William Bonner e Renata Vasconcelos praticam o que, no futuro, a arqueologia jornalística chamará de entrevista selfie.

Trata-se do formato no qual o entrevistador fala a maior parte do tempo e o entrevistado balbucia alguma coisa entre uma e outra intervenção. A coisa é tão caótica que, às vezes, Bonner e Renata falam juntos, enquanto o candidato fica perdidão, sem saber pra qual âncora vai olhar.

Outra coisa curiosa, reparem: os dois âncoras do JN não parecem preocupados com a resposta do entrevistado, tanto que enquanto este tenta espaço para responder algo sem ser interrompido, o que é quase impossível, o entrevistador ou entrevistadora fica lendo uma papelada e de olho no notebook já buscando inspiração para a próxima pergunta que vai fazer a si próprio, claro.

Curiosamente, no fundo, não dão muito importância nem à pergunta que fazem. Se achassem o questão relevante, talvez deixassem o entrevistado responder.

O público espera que o candidato, seja lá qual for, fale o que pretende fazer quando subir a rampa. Tem algum projeto para criar empregos? Vai acabar com o SUS ou vai recuperá-lo? Tem um método para combater o crime organizado que se espalha pelo país ou vai fazer 'acordo" com o diabo? O que vai fazer com a Previdência? Acabar? Privatizar? E a sua política para o salário mínimo? E para os altos salários dos privilegiados? O país está estagnado, como o candidato vai nos tirar do buraco? Vai vender o Brasil na bacia das almas? Vai estatizar tudo? Vai seguir o "programa de governo" de Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg ou vai cuidar de itens como saúde, educação, segurança, infraestrutura e deixar o mercado pra lá? Vai pedir a Neymar que não caia tando em campo?

Enfim, quais são as ideias do sujeito, nem digo projetos detalhados, mas as intenções, o que vai fazer, afinal, com o nosso voto?

Esqueça: Bonner e Renata não acham que isso dê audiência. Preferem fazer antes uma espécie de laboratório para instalar armadilhas ao longo da entrevista.

Pegadinhas pseudo-espirituosas.

A apresentador João Kleber, lembram, é bem melhor nessa área.
 

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

...E na capa da Piauí...


Mundo em Manchete - Estudantes da Universidade de Cambridge posam para calendário beneficente.



Estudantes e atletas de Cambridge posaram em points da universidade e da cidade histórica para arrecadar dinheiro para instituições de caridade. Mesmo em tempo de internet, a folhinha impressa da universidade fundada em 1209 resiste.

Antes que alguém coloque em dúvida o ensino e o talento das alunas, bom ressaltar que não é fácil entrar lá. Cambridge, aliás, é recordista de prêmios Nobel: 82 vencedores saíram das suas salas.

E não se espante se uma dessas meninas seguir os passos de um famoso ex-aluno: Isaac Newton.

A notícia está no The Sun.

50 anos: veja algumas das piores capas da Veja...

O charme da ministra que confiscou a poupança

O "simpático" corrupto

A capa "collorida"

Tietando a musa do Maranhão

Sem poder acusar Itamar Franco de corrupto a revista culpa o mineiro por "oportunismo" e "loucura". 

O golpe que virou "reconstrução"

Para a revista, o 'legado' de Ellis não foi a a voz. 

A Veja culpa Cazuza por ousar não morrer na cama

O deslumbramento e o "competidor honesto", segundo a empolgadíssima chamada de capa. 


Jornalismo de fã babão...

Leitura Dinâmica: a pegada de Toffoli, os cabos eleitorais do mercado, a maracutaia do Maracanã...



Foto Alfred Eisenstaedt/Reprodução Pinterest

* Aquele abraço - Da sessão de posse do novo presidente do STF,  Dias Toffoli, e da despedida da ex, Carmen Lúcia, a história certamente vai guardar mais a pegada do que as biografias, mais a foto que as palavras. Tanto que Globo e Estadão estamparam nas suas primeiras páginas o forte abraço do empossado na desempossada. Obviamente, não houve beijo, mas a cena efusiva guarda sutil semelhança com outra foto histórica feita não em um tribunal mas na Times Square, Nova York, em 1945. Aquela, na comemoração do fim da Segunda Guerra, foi eternizada pela Leica do fotógrafo polonês Alfred Eisenstaedt. Curiosamente, o editor da galeria de fotos do site do STF preferiu não colocar a cena do forte abraço no álbum oficial disponível para divulgação. Mas os fotógrafos do vários veículos que lá estavam não perderam o clique. 

* Com velocidade turbinada de Usain Bolt, governo Temer corre para emplacar editar de licitação do que resta do pré-sal. É coisa de 100 bilhões de reais. "Vâmo que vâmo" é o que diz a rádio-coredor do Planalto em fim de festa.

* Está em dúvida quanto ao voto? Fácil: siga a mídia e observe quem é o candidato que deixa o "mercado" nervoso. A chance maior é que esse seja o cara!

* A polêmica concessão do Maracanã tem mais buracos de suspeita de corrupção do que o próprio gramado do estádio. O Justiça acaba de anular a jogada feita durante o desgoverno Sérgio Cabral. Foi maracutaia, diz o juiz. Além disso, o Maraca foi interditado por causa do gramado impraticável. O Flamengo, que há tempos é parceiro privilegiado dos concessionários e é quem mais manda jogo lá não viu isso?

* Profetas do apocalipse econômico - Lendo as colunas de economia na mídia conservadora, o recado que o eleito recebe é que o país entrará em caos galopante caso o próximo presidente não seja do agrado do mercado, da especulação e dos traficantes de dinheiro. Um tipo de "terrorismo" que se repete de quatro em quatro anos. Parece mais campanha política do que análise honesta. O mercado e seus porta-vozes sofrem de urticária a cada eleição. Preferiam que não existisse esse "fator turbulência"?
 

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Portal da Crônica Brasileira tem autores que fizeram Manchete




O Instituto Moreira Salles acaba de lançar o Portal da Crônica Brasileira. Editado pelo jornalista e escritor Humberto Werneck, o novo site reúne textos de cronistas que atuaram na imprensa brasileira, com destaque para a revista Manchete, que teve entre seus quadros nomes com Paulo Mendes Campos e Rubem Braga.

Para acessar o Portal da Crônica Brasileira, clique AQUI

Para ler crônicas publicadas na Manchete, clique AQUI

Assembleia dos jornalistas aprova plano de recuperação financeira do Sindicato com venda do patrimônio

(do site do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro) 

Em assembleia geral extraordinária realizada nesta terça-feira, dia 11 de setembro, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ), foi apresentado e aprovado o Plano de Recuperação Financeira da Entidade.

Por 21 votos a favor, seis contra e nenhuma abstenção, os jornalistas aprovaram a autorização para que o SJPMRJ venda o patrimônio para pagar suas dívidas. Algumas prioridades deverão ser seguidas, como primeiro procurar vender o 7º andar, que precisa de regularização de posse. Foi proposta procurar a OAB para auxiliar o SJPMRJ no sentido de fazer essa regularização.

Também foi proposto que se realizem leilões e rifas de doações para diminuir a dívida do SJPMRJ e ajudar a pagar a documentação necessária para regularizar todo o processo. Outra sugestão seria desmembrar as salas do 17º andar, para que não se venda todo o patrimônio do Sindicato.

A direção do SJPMRJ se comprometeu a dar toda a transparência nos trâmites, divulgando à categoria sobre qualquer ação sobre a venda do patrimônio e o pagamento das dívidas da entidade.

A assembleia também contou com a presença da diretoria do Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro, que relatou a situação parecida com que a entidade vem enfrentando, com necessidade de cortes de gastos para enfrentar os novos tempos. O representante dos radialistas destacou a importância de se atuar em parceria com o Sindicato dos Jornalistas em diversas ações, que ainda disponibilizou em convênio o uso da sede campestre do Sindicato dos Radialistas para os jornalistas que estão em dia com o SJPMRJ.

Por fim, foi apresentada a proposta de se realizar um congresso dos jornalistas, ainda neste ano, para debater a situação do Sindicato e da categoria.  A direção do SJPMRJ informou que pretende fazer o congresso até o final do mês de novembro de 2018.

Panis cum ovum repercute no Jornalistas & Cia

Reprodução do Jornalistas & Cia - Clique na imagem para ampliar
(publicado originalmente no Panis cum Ovum - Blog que Virou Manchete, em 10/9/2018, AQUI)

Comunicadores brasileiros ameaçados são incluídos oficialmente em mecanismo de proteção do Ministério de Direitos Humanos

por Carolina de Assis (para o Blog Jornalismo nas Américas)

Comunicadores ameaçados por fazer seu trabalho foram oficialmente incluídos no programa de proteção a defensores de direitos humanos do Ministério de Direitos Humanos (MDH) do Brasil.

Até semana passada, comunicadores em risco que tentassem recorrer ao programa deviam provar que sua atividade profissional estava relacionada aos direitos humanos para que seus casos fossem analisados e acompanhados. Mas no dia 3 de setembro o Ministério anunciou a mudança de nome e de enfoque do programa, que passou a se chamar oficialmente Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores sociais e Ambientalistas.

De acordo com a portaria no 300 do MDH, é considerado defensor de direitos humanos o “comunicador social com atuação regular em atividades de comunicação social, seja no desempenho de atividade profissional ou em atividade de caráter pessoal, ainda que não remunerada, para disseminar informações que objetivem promover e defender os direitos humanos e que, em decorrência da atuação nesse objetivo, estejam vivenciando situações de ameaça ou violência que vise a constranger ou inibir sua atuação nesse fim”.

A medida é resultado de mais de cinco anos de pressão de organizações da sociedade civil junto à coordenação do programa, conforme afirmou Marina Iemini Atoji, gerente-executiva da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), ao Centro Knight.

No dia 10 de setembro, Atoji e representantes de outras organizações ligadas ao tema, como a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a Artigo 19 e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), participaram de uma oficina em Brasília com a equipe técnica do programa e da ouvidoria do MDH.

Na oficina, representantes dessas organizações expuseram à equipe do Ministério as peculiaridades da atuação de comunicadores no país, os perfis dos comunicadores mais vulneráveis e a situação atual de ameaça ao livre exercício da comunicação no Brasil.

“Notamos que para muitos ali [do MDH] era a primeira vez que estavam ouvindo falar como era a violação de direitos e a violência contra comunicadores”, disse Atoji. “Foi um momento um pouco de descoberta para eles sobre o tema.”

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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Seleção Brasileira está jogando na Liga Chapolin...

por Niko Bolontrin

Tite sobre o ridículo amistoso de ontem da seleção brasileira, que goleou El Salvador por 5X0.

-  "Um dos aspectos que mais gostei foi a retomada de uma equipe que é alegre e agressiva para jogar, que produz, desempenha e toma iniciativa independentemente do nível técnico do adversário. Às vezes, você pode ficar moroso e achar que um só está bom, mas o time tem o DNA do gol, de agredir e pressionar".

O DNA que não foi à Rússia e só aparece na hora da moleza. Vai entrar em campo de novo contra a Arábia Saudita,  outra galinha morta, no dia 12 de outubro. Já no dia 16, o jogo é contra a Argentina, que também está na segundona ou terceirona do futebol mundial e até isso, junto com a tradição, vai garantir um jogo mais equilibrado. O DNA dos hermanos também anda em baixa.

A verdade é que o Brasil está jogando na Liga Chapolin

Enquanto isso, a Europa, hoje inegavelmente na primeira divisão, transforma as "datas Fifa" reservadas para simples amistosos em um novo torneio - a Liga das Nações - com jogos mais competitivos.

Fica a pergunta: quem é gênio que escolhe os adversários da seleção brasileira?  O cara pesquisa no Google?

Avisem a ele que Guam, Mongólia, Sri Lanka, Bahamas, entre outros, querem enfrentar o time de Tite.

Um leão guarda a Baía de Guanabara...

Um leão na Baía de Guanabara. Foto de Guina Araújo Ramos, setembro, 2018.

por Guina Araújo Ramos 

Quem convive com a Fotografia há décadas, como eu, ou mesmo os que de repente se deslumbram com ela (o que, neste mundo cada vez mais visualmente dinâmico, não deixa de ser surpresa), sabe que o fotografar é também, em si, uma espécie de Literatura. A escrita “pela luz” também é uma forma de “rever” coisas que são vistas “normalmente” por aí, assim como as melhores formas de escrita (todas as que possam ser, genericamente, literárias) sabem muito bem relatar de forma distinta, não usual, inusitada, quiçá estranha, contingências da vida que, no geral, são “normais”. Em suma, nossas mentes criam conotações e, por estas linguagens, saímos do trivial e atingimos outras esferas de compreensão das coisas...

São tais coisas, a foto intrigante, o texto impressionante, entre outras muitas experiências humanas, que nos causam arrepios que marcam, que nos afetam e que, por isso, merecem registro. Daí, há arrepios dos mais variados, e quem sou para fazer algum tipo de classificação?... Apenas posso dizer que andei tratando, neste Arrepios Urbanos, de algumas aflições que acomete(ra)m os habitantes da metrópole Rio de Janeiro do ponto de vista das vítimas, não dos beneficiados, sempre mais próximo de denúncias do que de louvores.

Não quer dizer que não compreenda: prazeres também causam arrepios...  E este preâmbulo serve de mote, então, para registrar a sensação prazerosa de que fui acometido ao perceber, à minha volta (ou, necessariamente, à minha frente!...) uma imagem que, fotografada de maneira assim literária, pode até mesmo ser considerada uma nova atração turística do Rio de Janeiro, em especial de Niterói: um leão em plena baía da Guanabara!

Um leão talvez sazonal... Não sei quanto tempo vai durar. Talvez precise da ajuda (faz parte de um parque natural municipal) dos serviços de conservação ou de turismo de Niterói, que o leão fica no seu litoral, e é uma ilha, próxima da Ilha da Boa Viagem e do MAC, a Ilha dos Cardos.

Não fazia a mínima ideia da identidade desta pequena ilha e, muito menos, depois que a reconheci no mapa, o que eram estes tais cardos... Agora sei, e resolvi tomar cuidado com eles: são plantas de belas flores, mas perigosos espinhos. Cardos (há vários) têm história: são plantas medicinais, usadas para fabricar queijo, e, pelos espinhos, tanto símbolo de sofrimento espiritual quanto a planta-símbolo da Escócia!

A ilha está lá desde sempre, os cardos também devem estar, não fui lá conferir, mas o tal leão existe agora, e não sei há quanto e nem por quanto tempo. E só é um leão porque na ilha aparece, além de um amontoado de rochas, um grupo de arbustos, de jeito que, em certos ângulos, como se apresentam nas fotos, compõem uma juba, uma cara, até mesmo o focinho do leão.

E, se falo de ângulo, informo logo de qual ponto de vista o leão existe...  É necessário que no momento da foto se esteja em Niterói e, mais precisamente, no calçadão da praia de Icaraí. Até que a área de abrangência da aparição é razoável, uns três quarteirões, mais ou menos da rua Lopes Trovão, no centro da praia, à praça Getúlio Vargas, perto da Reitoria da Universidade Federal Fluminense. Nesse correr da vista, a figura vai se alterando, e fora disto se deforma, perde a forma de leão.

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terça-feira, 11 de setembro de 2018

Ex-repórter da Manchete é porta-voz da nova presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas

Monica Villela Grayley na ONU. Foto UN

A notícia está no Jornalistas & Cia. Monica Valéria Villela Grayley, que foi repórter da revista Manchete e da TV Manchete, em meados dos anos 90, será a porta-voz de María Fernanda Espinosa,  a primeira mulher a presidir a Assembleia Geral das Nações Unidas, a partir da próxima semana. Monica, que está na ONU desde 2005, também trabalhou na BBC Brasil e nas rádios Fluminense FM, Rádio Relógio, 98FM e Globo FM.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

HÁ 50 ANOS: A GRANDE AVENTURA DO LANÇAMENTO DA VEJA • Por Roberto Muggiati

SORRIAM, O MUNDO É DE VOCÊS • A ideia deve ter sido do próprio capo, Victor Civita, que assinou pomposamente o texto da Carta do Editor ao lado da foto da redação publicada no número 1. Foi convocado o chefe de fotografia da Abril, o excelente Lew Parrella, para registrar a foto para o álbum de família da primeira equipe de Veja. Algumas pinceladas sobre o que aconteceria com alguns que figuram aí e outros que chegariam pouco depois. O gaúcho Caio Fernando de Abreu, tímido de morrer, completou vinte anos no dia da data de capa da primeira Veja. Trocou o jornalismo pela literatura, morreu cedo e se tornou talvez a figura cult mais destacada dentre todos nós. O gaúcho José Antônio Dias Lopes foi o último a sair (não sei se apagou a luz), 22 anos depois, quando era editor de religião e correspondente da Veja no Vaticano. Criou a revista Gula e se deu bem. Eu, com os exageros capilares da época, postei-me coerentemente na extrema esquerda da primeira fila. Tornei-me o editor de Manchete que mais tempo durou no cargo. O paulista Tão Gomes Pinto veio dirigir a Manchete em 1996 e foi, talvez, o editor que menos tempo ficou no cargo, sorte dele... Mino Carta continua um grande jornalista, impávido com suas adoráveis contradições. Elio Gaspari e Dorrit Harazim conheceram-se na redação e continuam suas carreiras vitoriosas: ele se tornou o maior historiador da ditadura militar no Brasil, ela ganhou recentemente o Prêmio Maria Moors Cabot. Harry Laus, que não teve reconhecimento literário enquanto viveu – chegou a ser dono de uma birosca de loteria esportiva da Caixa – tornou-se um autor cada vez mais prestigiado no exterior. Bernardo Kucinski escreveu sobre o assassinato da irmã pelos carrascos militares e, mais recentemente, aderiu em definitivo à ficção. Henrique Caban trocou a Veja pela Bloch, onde foi assistente de Samuel Wainer no semanário Domingo Ilustrado, que durou um ano, quando retomou a carreira no Globo. Enio Squeff destacou-se na literatura, na música e nas artes plásticas. Sylvio Lancelotti herdou um hotel na Itália, tornou-se chef e crítico gastronômico e ainda comentarista de jogos do campeonato italiano pela TV. Paulo Cotrim também se tornou chefe e crítico de culinária. Tárik de Souza, que foi meu repórter na editoria de música, virou o dono do pedaço e é um dos mais sólidos comentaristas sobre a MPB, com vários livros publicados. Marcos Sá Correa, jovenzinho, começou sua brilhante carreira na Veja, lembro o Mino comentando: “Ele tem uma cara boa...” Muitos já morreram, de outros nunca mais ouvi falar. Encerro com uma vinheta trágica. Nello Pedra Gandara, pesquisador da minha editoria, foi um inadaptado na Abril e depois na Bloch, queria outras coisas do mundo. Um dia encontrou o seu caminho: começou a criar cachorros, montou um canil bem sucedido, depois outros, ficou finalmente bem e feliz da vida. Mas tudo terminou bruscamente quando Nello morreu atropelado ao atravessar uma destas avenidas que são o orgulho da Pauliceia. Foto Lew Parrela


Clique na ilustração para ampliar. Reprodução/Esquina

POR ROBERTO MUGGIATI

Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos – a Era das Luzes, a Era das Trevas. Foi o ano da maior aventura do jornalismo brasileiro. Na segunda-feira, 9 de setembro de 1968 (com a data de capa do dia 11), saía o primeiro número da revista Veja.

Numa época de grandes lançamentos espaciais, a operação para levar às bancas a revista semanal de informação da Abril lembrava o planejamento e logística da NASA. Na Carta do Editor, em página dupla, ao lado da lendária foto da equipe diante das máquinas que imprimiam a revista, o próprio Presidente, Victor Civita, cobrava o pênalti: “Selecionamos entre 1.800 universitários de todos os estados e realizamos um inédito Curso Intensivo de Jornalismo. Com 50 destes moços e outros tantos jovens ‘veteranos’, formamos a maior equipe redacional já reunida por uma revista brasileira.”

Aos 30 anos, com 16 de jornalismo, eu fui um daqueles “jovens ‘veteranos’” da grande empreitada. Comecei a carreira em 1954, na Gazeta do Povo de Curitiba. Em 1960 fui estudar jornalismo em Paris, em 1962 entrei para o Serviço Brasileiro da BBC de Londres. Em 1965, comecei na Manchete, no Rio (ainda em Frei Caneca) como repórter especial; em março de 1968, a Bloch me ofereceu o cargo de editor de Pais e Filhos, uma franquia da Eltern alemã. Eu não tinha filhos e queria era fazer jornalismo de verdade, não uma revista mensal de fraldas e papinhas. Além do mais, só teria salário de editor lá pelo fim do ano, depois que a revista fosse lançada, e com uma condição: se a revista vendesse bem... Era muita incerteza para minha pobre cabecinha.

E havia mais em jogo. Já em 1967 falava-se muito numa revista Veja, que seria a semanal de informação da editora Abril. Numa ida a São Paulo, procurei o Alessandro Porro – figura icônica da empresa, diziam até que seria filho do próprio Victor Civita. Porro me garantiu: “Quando chegar a hora você será chamado.” As contratações para a Veja provocaram um verdadeiro terremoto no mercado de trabalho. A Manchete, como líder de vendas entre as semanais, foi um dos celeiros mais visados pelos caçadores-de-cabeças da nova publicação. Eram curiosos os telefonemas da sucursal carioca da Abril para a redação da Bloch: chamavam o Paulo Henrique (Amorim), que atendia a ligação, falava rapidamente e passava o telefone para o Lucas (Mendes), que por sua vez o passava para o Nilo (Martins) e assim sucessivamente. Adolpho Bloch ficava injuriado de ver aquela evasão do seu plantel debaixo do seu próprio nariz, mas tudo se fazia dentro das leis clássicas do capitalismo: jornalistas de esquerda (quase um pleonasmo) respondiam à lei da oferta e procura, atrás de melhores salários.

Peguei a ponte aérea e fui conversar em São Paulo com o futuro diretor de Veja, Mino Carta. Durante um cozido no Ca’ d’Oro, convidou-me para ser um dos editores da revista, dividida em quatro grandes fatias. Coube-me a fatia mais suculenta, a editoria de Artes e Espetáculos – imaginem, num ano em que a cultura brasileira e mundial ferviam.

O modelo da Veja era a semanal de informação americana Time, fundada em 1923, que oferecia uma visão do mundo segmentada por assuntos. O texto da Time pretendia ser informativo, claro e elegante, escrito numa linguagem uniforme, sem crédito ao autor, para dar a impressão de que a revista era redigida por uma única pessoa (quem sabe o próprio Deus?) Transplantar tal modelo para o Brasil seria o desafio da Veja – e seu grande desastre. O absurdo inicial foi copiar a grade funcional da Time e preencher os escaninhos com a nata do jornalismo brasileiro. A Veja começou com um total de 157 jornalistas, entre editores, redatores, repórteres, fotógrafos e correspondentes.  A Time só chegara àquela estrutura após 45 anos de hesitações e adaptações: Veja também teria de evoluir dentro da realidade do país e da época, aprendendo com seus erros Seria – e foi – um processo muito doloroso.

A Editoria de Artes e Espetáculos tinha seis editores assistentes, dos quais só um foi escolhido por mim, o de Cinema, Geraldo Mayrink, mineiro com experiência das redações cariocas, cinéfilo e jornalista cultural, que correspondia plenamente ao perfil de redator buscado pela “proposta” da Veja.

Os outros editores já estavam lá quando cheguei, escolhas pessoais do próprio Mino: Paulo Cotrim (música), Paulo Mendonça (teatro), Luiz Gutemberg (rádio e TV), Leo Gilson Ribeiro (literatura) e Harry Laus (artes plásticas), esse indicado por Leo Gilson. Os critérios? Cotrim fora o dono do João Sebastião Bar, berço da bossa nova em São Paulo. Mendonça era aparentado com a família Mesquita, do Estadão, onde trabalhara o pai de Mino, também jornalista. Leo Gilson, doutor em Literatura pela universidade de Heidelberg, era o melhor amigo da tia de Mino, Bruna Becherucci, que também colaborava em Veja fazendo resenhas literárias. Nenhum deles tinha qualquer vivência do texto jornalístico: eram críticos acadêmicos sem poder de comunicação com o grande público. Cotrim sequer escrevia; muitos anos depois, encontraria sua vocação como crítico de gastronomia. Cada editor tinha dois pesquisadores (o nome que a Abril dava aos repórteres) – daqueles 50 jovens universitários do país inteiro selecionados por Veja. E cada editoria tinha colaboradores para escreverem resenhas, dois em São Paulo e dois no Rio de Janeiro. Ou seja: eu, os seis editores, os doze pesquisadores, mais 24 colaboradores, a equipe da editoria de Artes e Espetáculos totalizava 43 profissionais, mais um carona, o famigerado José Ramos Tinhorão: já na fase dos números zero, ele fora rejeitado por outras editorias e desovado na nossa. A última coisa que a Veja ia querer era o Tinhorão escrevendo sobre música e demolindo a bossa e a tropicália com seus dogmas do materialismo dialético. Foi posto a escrever a seção de Cartas do Leitor.

Além de planejar minha fatia cultural da revista, que nunca ultrapassava as dez páginas – vivíamos um momento altamente politizado, embora a cultura também participasse dele – eu tinha que reescrever praticamente todos os textos (o que gerava atritos terríveis) e me comunicar com aqueles 24 colaboradores que, sem espaço, invariavelmente ficavam sem escrever. Aquilo era um imenso desperdício de tempo, deles e meu. No ano e meio que passei em Veja, só tive oportunidade de publicar uma resenha do grande José Rubem Fonseca, sobre o filme As aventuras de Tom Jones.

Numa época sem fax e, nem falar, e-mail, o principal meio de comunicação era o obsoleto telex, o que tornava um verdadeiro suplício o fechamento das reportagens de capa. Segunda-feira de manhã, mal refeitos do esforço de fechar mais uma edição, Mino Carta reunia os editores em sua sala. Comentávamos o número que acabava de ir às bancas e discutíamos a pauta do seguinte. Traçadas as prioridades, o chefe de reportagem Sérgio Pompeu iniciava a faina desesperada de disparar os pedidos para as sucursais.

O redator destacado para escrever o texto da matéria de capa passava três dias torturantes sem fazer nada. Os textos só começavam a chegar ao apagar das luzes, lá pelo fim da tarde de quinta-feira, quando jorravam sobre a mesa do pobre coitado vários metros de folhas de telex, além de folhetos, jornais e revistas enviados por despacho urgente. Não havia tempo material para digerir tudo aquilo e escrever um texto decente, o que aumentava o desgaste físico e mental do redator. O trabalho de fechamento se prolongava da sexta até o amanhecer de sábado na paisagem sinistra da Marginal do Tietê, segundo Mino “lamaçal fétido em movimento preguiçoso, rio morto prova de muitas coisas más. Se o lago de Tiberíades fosse igual ao Tietê, a caminhada de Cristo sobre a água não seria milagre.”

Uma palavra sobre o espaço físico onde se fazia a Veja. No começo de 1968, a Abril juntara suas redações num prédio construído sobre a própria gráfica, na Avenida Otaviano Alves de Lima, 800, na Marginal do Tietê, tendo mais aos fundos a Freguesia do Ó. A redação da Veja ocupava o oitavo e último andar. Mino Carta e os editores tinham salas fechadas na frente, com direito à abominável paisagem do rio poluído. Os editores assistentes, redatores e repórteres ocupavam compartimentos quase fechados, as execráveis “baias” – mais um fator a truncar a comunicação em todos os sentidos. Não era uma redação “aberta”, com fileiras de mesas como nos jornais e na maioria das revistas, o que promovia interação constante entre os redatores. Ao longo do corredor, do lado de fora das salas dos editores, havia baterias de datilógrafas que “preparavam” os textos para a gráfica, redigitando-os em colunas de 37 batidas, a medida da coluna tipográfica. O editor, depois de reler, corrigir ou até reescrever o texto do subeditor, tinha ainda de rever (e rubricar) as laudas finais batidas à máquina por mocinhas que não tinham a menor ideia do que estavam datilografando.

O número zero da Veja

A primeira capa

O lançamento de Veja foi feito com uma megacampanha publicitária que culminou com a transmissão em rede nacional pela TV, às 20 horas de domingo, de um filme de Jean Manzon sobre a revista, tão bombástico que as pessoas correram às bancas na manhã seguinte esperando comprar a maravilha das maravilhas. Os 700 mil exemplares lançados em todo o Brasil esgotaram em poucas horas. A decepção foi imensa. Acostumados ao arrojo visual da Manchete e ao jornalismo vivo da Realidade, a vitoriosa mensal da Abril abortada em função dos investimentos na Veja – os leitores rejeitaram de saída a revista de formato pequeno, quase toda em preto-e-branco e com excesso de texto. Até o nome da revista era inadequado, convidava a “ver” mais do que a “ler”, por isso ela circularia muito tempo com o logotipo ambíguo de Veja e Leia.


Algumas capas, com chamadas em paulistês, como Ah, Jaqueline! (quando a viúva de Kennedy fez um contrato nupcial com Onassis), foram alvos de chacota.

O segundo número de Veja baixou a tiragem para 500 mil exemplares; o terceiro, para 250 mil; o quarto para 100 mil e o quinto para 50 mil.


Quatro meses depois, a vendagem chegava ao fundo do poço: apenas 30 mil exemplares no país inteiro. Foi a tiragem da capa de 15 de janeiro de 1969, uma produção tosca e óbvia que mostrava um executivo de terno carregando uma barra de gelo debaixo braço, com a chamada QUE VERÃO! (Na minha memória idiossincrática eu jurava que a chamada era UFA, QUE CALOR!)

Guardo duas ou três boas lembranças da minha temporada na Veja.




• Uma matéria de duas páginas no número 10 (13/11/68) intitulada Existe algo de concreto nos Baianos, mostrando as relações entre os tropicalistas e os poetas neoconcretos, incluindo um quadro comparativo com as letras da Tropicália e a poesia dos concretistas.


• A reportagem de capa do número 38 (28/5/1969), quando Glauber Rocha ganhou em Cannes o prêmio de Melhor Diretor com o filme O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, ou Antônio das Mortes. Não só era raro uma matéria cultural emplacar capa na Veja, como Mino Carta creditou a mim o texto em sua Carta ao Leitor. Quando preparava o texto com antecedência – aguardando a decisão de Cannes – recebo a visita insólita em minha sala da Marginal do Tiete de ninguém menos do que o próprio Glauber. Numa longa conversa telúrica acompanhada de muitos gestos, ele me deu muitas informações de cocheira que enriqueceriam o texto. Como esta: “Quando filmavam Deus e o Diabo na Terra do Sol, no interior da Bahia, Glauber e Maurício subiam um morro íngreme discutindo sobre Deus. De repente um pé de vento derrubou a câmara, que rolou alguns metros morro abaixo. Mas o equipamento ficou intato. Maurício do Valle, que é muito religioso, falou: ‘Deus existe.’ Glauber respondeu: ‘É possível...’”

• E a cobertura da morte da mulher de Roman Polanski, na sua casa de Los Angeles. Sharon Tate, com o filho na barriga (a quinze dias de nascer), três amigos e um estudante amigo do caseiro, foram barbaramente assassinados por um bando de fanáticos que seguiam as ordens do guru do mal Charles Manson. Por exigência do Mino, Geraldo Mayrink, escreveu a matéria em forma de roteiro cinematográfico. O texto, um roteiro perfeito publicado no número 50 (20/8/1969), estava pronto para ser filmado.

Veja surgiu num ano crucial do século 20, um tempo de confrontos violentos e mudanças radicais que moldariam as décadas seguintes. No caso do Brasil, mudanças para pior. Em dezembro, o AI-5 instalou a repressão total no país, obrigando a resistência à ditadura militar a cair na clandestinidade.
À minha modesta maneira, como escritor, eu vinha fazendo propaganda de esquerda.



O lançamento do livro Mao e a China em São Paulo, dezembro de 1968. Foto: Arquivo Pessoal R.M.

Uma semana antes do AI-5, lancei em São Paulo o livro Mao e a China, uma declaração de amor ao comunismo chinês. O livro, uma incitação à luta armada, passou a aparecer menos nas vitrinas das livrarias do que nas exposições de material subversivo apreendido pelo exército. Quando o guerrilheiro Carlos Lamarca morreu fuzilado em 1971, no sertão da Bahia, os jornais do país inteiro publicaram trechos de suas cartas para a companheira Iara Iavelberg. “12 de julho: Lendo Mao e a China, de Roberto Muggiati, me impressiono cada vez mais em tudo e vejo a necessidade urgente da Revolução Cultural dos quadros de vanguarda.” Mao e a China foi o último livro que Lamarca leu. Estranhamente, em momento algum a ditadura veio bater à minha porta. Com um forte sentimento de rejeição, eu me autointitulei O Homem Invisível dos Anos de Chumbo.

Só tempos depois matei a charada. Em 1969 voltei para a Manchete e para o Rio. Tivesse ficado em São Paulo, a coisa seria bem diferente. Num documentário sobre Vladimir Herzog, vi colegas meus da Veja e da Realidade – ideologicamente autênticos sacristães comparados a mim – que foram presos e torturados nos porões do DOI-CODI em São Paulo. Eu tinha tudo a ver com Vlado: nascemos no mesmo ano e, quando deixei o Serviço Brasileiro da BBC em Londres, em 1965, ele foi ocupar a minha vaga. A volta para o “balneário da República” – quem diria? – salvou a minha vida.

domingo, 9 de setembro de 2018

Sabia disso? Blecaute previu e o general Mourão botou sua banda na rua...

Quem trabalhou na Manchete conheceu o boa praça Henrique, da equipe de funcionários que trabalhava na diretoria, vale dizer diretamente no staff de confiança de Adolpho Bloch, e filho do cantor Blecaute.

Ontem, diante do últimos acontecimentos, um ex-funcionário da Bloch ligou os pontos da política e da memória e relembrou o pai do colega.

Após o atentado a Bolsonaro, seu vice, o general Mourão assumiu algum protagonismo na mídia enquanto o titular está na cama, mas não fora do palanque, em São Paulo.

Na sexta-feira, 7, a data não deve sido mera coincidência, Mourão era o escalado da vez para a série de entrevistas dos vices, na Globo News, onde defendeu suas posições já conhecidas, desde a hipótese de "autogolpe" quando o país está em "anarquia", a elogios a torturadores e reclamação da "má vontade" da mídia em relação a DonaldTrump etc.

Enquanto o general botava sua banda na rua, o colega do Henrique recordou - e mandou um lembrete por email sobre isso para o blog -  uma das mais famosas marchinhas do Blecaute.

Reprodução Pinterest

Em 1949, Blecaute emplacou no carnaval um dos seus maiores sucessos, a antológica "General da Banda", da parceria com Tancredo Silva/José Alcides e Satiro De Melo, cantado até hoje em blocos e trios de todo o Brasil. Eram os tempos de Dutra e a manchinha caricaturava dragonas e coturnos que  mandavam na política e, ao que parece, querem voltar.

O marchinha tem uma frase que o general-candidato da atualidade talvez até gostasse de adotar como slogan -  "vara madura que não cai" - , mas tem outro verso que não pega bem. No mínimo, vai provocar dupla interpretação dos adversários: "catuca por baixo que ele vai".

Coincidência ou premonição?

O nome do general cantado por Blecaute é nada menos do que "Mourão".

"General da Banda"

Chegou o general da banda,he he
Chegou o general da banda,he a,he a
Chegou o general da banda,he he
Chegou o general da banda,he a,he a
Mourão mourão
Vara madura que não cai
Mourão,mourão,mourão
Catuca por baixo que ele vai
Mourão mourão
Vara madura que não cai
mourão,mourão,mourão
Catuca pro baixo que ele vai
Cheogou o general da banda,he he
chegou o general da banda,he a
General,general
Chegou o general da banda,he he
Chegou o general da banda,he a
General,general
Mourão mourão
Vara madura que não cai
Mourão mourão
Catuca por baixo que ele vai
Mourão mourão
Vara madura que não cai
Mourão,mourão,mourão
Catuca por baixo que ele vai
Chegou o general da banda,he ha
Deixa amanhecer
Chegou o general da banda,he he a
General general

OUÇA A MARCHINHA "GENERAL DA BANDA, CLIQUE AQUI

A pergunta de 1 milhão de dólares: faca amolada corta votos de adversários?

Ontem, no hospital, Bolsonaro retomou
o gesto-símbolo da sua campanha. Reprodução Twitter
O modelo piegas das "análises" políticas da mídia conservadora sobre o ataque Bolsonaro, a faca - "em nome de Deus", segundo o agressor - foi vencido por uma foto.

O filho do candidato postou no Twitter uma imagem do presidenciável simulando atirar, gesto que é uma marca da sua campanha e é repetido nos seus palanques em todo o país.

Articulistas defenderam que a cena do ataque terá grande impacto na campanha e divulgaram a hipótese de que o capitão inativo, agora vítima, não é afinal tão assombroso assim para a democracia, os costumes, as instituições e nem mesmo para o campo que ele demonstra ódio: o dos direitos humanos. Aventou-se a tese cor de rosa de que quem tangencia a morte muda para melhor. "Bolsonaro não é vilão", afirma colunista da Folha, enquanto, no mesmo jornal, Jânio de Freitas lembra que "a vitimização de Bolsonaro não é motivo para atenuar-se a responsabilidade de sua pregação". Na sua coluna no Globo, hoje, passado o primeiro impacto do atentado, Ascânio Seleme registra que muitos analistas sugeriram que a hora é de união, mas "nenhuma palavra, ou poucas, para não parecer exagero, contra o discurso de Bolsonaro que defende a ditadura, a tortura, o uso da violência como método. Fica chato atacar o atacado", conclui.

A foto de Bolsonaro mostra que seu radicalismo está firme e deverá voltar revigorado na reta final da campanha. Que o acontecimento de Juiz de Fora fará o candidato subir nas pesquisas e reverter provavelmente os índices crescentes de desaprovação que as sondagens registravam até aqui, parece certo. Se esse efeito terá força para levá-lo à vitória no primeiro turno ou por folgada maioria no segundo, só os próximos levantamentos, a partir de amanhã, dirão.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Queima de arquivo da História: foi-se a primeira propina imperial

Quinta da Boa Vista. Aquarela do pintor alemão Thomas Ender. Reprodução

por Jean-Paul Lagarride 

A margem da enorme tragédia cultural que foi o incêndio que consumiu o Museu Nacional, vale retirar uma real news dos escombros da História.

O Palácio da Quinta da Boa Vista foi a primeira residência de D. João VI no Rio.

Não exatamente a primeira.

Ao chegar ao Rio em 1808, a Família Imperial hospedou-se no Paço da Praça Quinze, então Casa dos Governadores e Vice-Reis. Por sua localização, o Paço era o destino final das enxurradas que na época desciam das montanhas do Maciço da Tijuca – praticamente careca, desmatada que fora para o plantio de cafeeiros. Ao passar pelos bairros populares, estas enxurradas eram enriquecidas por todo tipo de sujeiras, entulhos, esgotos a céu aberto: pode-se imaginar o cheiro das águas lamacentas que regularmente invadiam o Paço Imperial.

Compadecido com a situação de D. João VI e de seus familiares, o rico comerciante português e traficante de escravos Elias Antonio Lopes presenteou-o com o sítio conhecido como "Chácara do Elias", onde havia um casarão que logo uma reforma completa transformaria em belo palacete.

Tudo isso, é claro, em troca de certos favores e sem risco de lava jato, equipamento que não atendia as carruagens nos idos de 1808... No mesmo ano, o esperto Elias foi nomeado tabelião da Vila de Paraty. Dois anos depois, em 1810, tornou-se alcaide-mor da Vila de São João del-Rei e, em seguida, provedor da Casa de Seguros da Corte, além de assumir a responsabilidade pela arrecadação de impostos e várias localidades.

Foi ali que cresceram os Pedros I e II. Dom Pedro II residiu ali toda sua vida, até sua destituição em 1889 e a deportação para a Europa.

Imperador culto, apreciador das artes e das ciências, montou na Quinta da Boa Vista um museu de valor incalculável, que tinha como uma das principais atrações a famosa múmia trazida do Egito.

Em mais um exemplo de descaso criminoso das "autoridades" brasileiras, mais de 20 milhões de  peças, de valor inestimável, foram consumidas pelo fogo no incêndio deste domingo, 2 de setembro de 2018.