segunda-feira, 20 de setembro de 2021
domingo, 19 de setembro de 2021
Curvas que fizeram o Vaticano tremer: o anúncio e a foto que provocaram uma polêmica apocalíptica
| O anúncio que abalou o Vaticano - O doce balanço do jeans Jesus. Foto de Oliviero Toscani |
por José Esmeraldo Gonçalves
Saudades dos tempos das blafêmias políticas e incorretas. No começo dos anos 1970, há quase 50 anos, o jeans Jesus abalava o Vaticano. Os cardeais sacudiam as sotainas rubras de irritação com a campanha da marca. Os anúncios eram criados pelo fotógrafo Oliviero Toscani e a dupla de redatores da Agenzia Italia Emanuele Pirella e Michael Goettsche.
| Androginia e slogan bíblico. Foto Oliviero Toscani |
Toscani fotografou em close a bunda monumental de Donna Jordan. Tão perfeita a imagem que parecia captar o balanço da modelo. Aplicada sobre o melhor eixo da simetria da curva destacava-se a frase "Chi me ama me segua".
Como discordar daquele convite malicioso? Sim, ninguém resistia ao "quem me ama me segue".
| Roma 1973: impossível não parar para olhar. Foto Manchete |
A Manchete registrou em foto o apelo do cartaz nas ruas de Roma
Em 1973, a igreja católica, então muito entrelaçada com o governo, forçou a proibição dos anúncios. O Santo Ofício, que já lutava contra os filmes de Pasolini, resolveu dar um basta. Vale lembrar que naquele ano estava em cartaz o musical Jesus Cristo Superstar. O Vaticano deve ter avaliado que era muita contracultura associada a Jesus.
Agentes do Buoncostume invadiram a sede da agência e aprenderam cartazes e artes de futuros comerciais do Jesus. A campanha cessou mas a marca sobreviveu até 1994. Foi vendida, sumiu por uns tempos e voltou em 2011 sem o mesmo impacto. Ninguém mais segue o jeans Jesus.
Difícil avaliar a repercussão de uma mensagem iconoclasta como aquela nesses dias de fundamentalismo ameaçador e redes sociais iradas. As curvas de Donna Jordan seriam canceladas ou sobre elas os seguidores ergueriam uma nova igreja?
sábado, 18 de setembro de 2021
Menino pede que idosos não sejam representados em placas de trânsito usando bengala e com dor nas costas...
Pois é. Melhor não.
É posível que a boa sugestão de Mateus motive um projeto de lei da Câmara Municipal de Goiânia
terça-feira, 14 de setembro de 2021
Di e Glauber: velórios notórios • Por Roberto Muggiati
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| Gláuber filmou Terra em Transe no Parque Laje, onde foi velado. Na foto, cena com Jardel Filho. Foto Divulgação |
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| Glauber dirige documentário no velório de Di Cavalcanti |
Cinco anos depois, em agosto de 1981, era a vez do próprio Glauber, velado no Parque Lage, cenário do seu Terra em transe. O cineasta Sílvio Tendler, que cobriu o funeral com sua equipe, lembra: “Foi uma cena impactante. O cinema brasileiro estava todo lá. O caixão de Glauber num canto e, a 50 metros, próximo à piscina, um telão. Era como se o ‘Glauber morto’ e o ‘Glauber vivo’ estivessem ali".
As câmeras invasivas atropelaram a privacidade de Lúcia Rocha, mãe de Glauber. “Teve um momento, que me agulhou aqui, no coração, em que fui conversar com o meu filho, meu último filho.
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| Norma Bengell e Paula Gaitán, viúva de Glauber. Foto de Carlos Freire/MAM.org |
Dona Lúcia proibiu a exibição do filme, assim como a família de Di Cavalcanti proibiu o filme do velório do pintor feito por Glauber.
Glauber morreu de choque bacteriano, provocado por broncopneumonia – que o atacava havia mais de um mês em Lisboa – na Clínica Bambina, no Rio de Janeiro. Tinha só 42 anos. A inquietação existencial, o furor criativo, a sabotagem do Sistema, minaram sua saúde.
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| Anecy Rocha. Foto Divulgação |
Paranoias comuns naqueles tempos estranhos em que, sob a ditadura militar, ninguém estava a salvo de uma morte violenta.
Seis anos antes, o grande educador Anísio Teixeira, que irritava os militares com suas ideias progressistas, foi encontrado morto no fosso do elevador de um edifício na Praia de Botafogo, sem marcas aparentes ou hematomas que comprovassem uma queda.
Coincidência incrível: Anísio nasceu em Caetité, Bahia, a 200 km em linha reta da Vitória da Conquista de Anecy e Glauber.
sábado, 11 de setembro de 2021
O meu 9/11 começou no Buraco da Lacraia • Por Roberto Muggiati
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| Torres feridas. Foto: Reprodução You Tube |
Não poderia esquecer jamais aqueles dias carregados de presságios. Tudo começou na quinta-feira, 6 de setembro de 2001, quando me meti numa tremenda roubada. Minha filha Natasha tinha adotado uma filhote de vira-lata que batizou de Phoebe, personagem da série que ela adorava, Friends. A cachorrinha estava passando mal, decidimos leva-la à SUIPA, não tínhamos dinheiro para veterinárias da Zona Sul.
Larguei a tradução que fazia – O jardineiro fiel, de John le Carré – e partimos, Lena, Natasha, Phoebe e eu, para Benfica, onde ficava a Sociedade União Internacional Protetora dos Animais, colada à linha férrea na favela do Jacarezinho, um lugar barra-pesada. Chocou-me a visão de seis, sete mil animais – a maioria cachorros – amontoados num espaço exíguo, ululando a sua dor. A saudosa madona daqueles bichos desvalidos, Izabel Cristina, ao saber que eu era jornalista, acompanhou-me num pequeno tour daquele inferno.
Levaria horas até atenderem Phoebe. Resolvi ficar no carro lendo The Constant Gardner para adiantar a tradução. O livro era sobre as multinacionais farmacêuticas que usavam africanos pobres como cobaias. Lembro exatamente a cena que eu lia, localizada em Londres, na cidade que foi meu playground cultural de 1962 a 1965.
A volta para Botafogo foi um pesadelo. Um incêndio tinha destruído totalmente a favela do Buraco da Lacraia, no Caju, e deu um nó na corrida para o feriadão: com a Linha Vermelha fechada, a única saída era pelo túnel Rebouças. Levamos três horas exasperantes para chegar à Real Grandeza – a certa altura eu ameacei encostar o carro e seguir a pé.
Terça-feira, 11 de setembro já estou cedo no escritório do térreo traduzindo. Natasha, levemente gripada, não foi à escola. Vem do seu quarto no fundo da casa até a minha janela e pergunta: “Pai, você conhece o World Trade Center?” Respondo que sim. Apesar dos seus quinze anos, ela já tem o humor cáustico dos Muggiati: “Pois é, fudeu!” Corremos à sua televisão, o primeiro avião já atingiu a Torre Norte. Fico petrificado acompanhando as imagens. Vejo o apresentador Carlos Nascimento, da Globonews, falando algo sobre um apagão de radar na área de Manhattan, a imagem das torres ao fundo, e de repente um segundo avião se chocando com a Torre Sul. “Apagão de radar é o cacete!” minha cabeça estala. Seria uma coincidência absurda dois aviões nas duas torres.
A partir daí é aquilo que todos conhecem. Lá pelas dez, meu filho Roberto nos chama para a TV do seu quarto. O Pentágono também foi atingido.
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| King Kong, versão original do Empire State e... |
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...na refilmagem no topo do World Trade Center |
https://www.youtube.com/watch?v=vCK46GyDOq0
(No King Kong original (1933), o gorila combate os aviões do alto do Empire State; no remake de 1976, ele se empoleira com a heroína nas Torres Gêmeas.)
Como tradutor, ainda peguei as sobras do 9/11 em dois livros:
• Filosofia em tempos de terror: diálogos com Habermas e Derrida, de Giovanna Borradori (Zahar, 2007), uma discussão profunda e hermética sobre as raízes do terror.
• Onde está Osama bin Laden? de Morgan Spurlock (Intrínseca, 2008), uma reportagem esperta e irreverente.![]() |
| Berinthia Berenson e Antony Perkins. Foto Divulgação |
O ator eternizado no papel de Norman Bates em Psicose, apesar de homossexual notório, foi casado vinte anos com Berry e teve com ela dois filhos, Oz e Elvis. Anthony Perkins morreu de AIDS em 1992. Berry voltava para sua casa em Los Angeles de férias em Cape C od.
É muito difícil dissociar sua morte, no dia 11 de setembro de 2001, no voo 11 da American Airlines, da “maldição de Norman Bates.
sexta-feira, 10 de setembro de 2021
Novembro de 2021, o Brasil depois do golpe - Bolsonaro anuncia novo ministério
por O.V.Pochê
Dia 30 de novembro de 2021. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos não é mera coincidência. O golpe de Estado há meses planejado por Bolsonaro e seus apoiadores foi às ruas ontem. Dessa vez colou. Rebelião militar, tropas de milicianos reforçada por "traficantes de Jesus", piquetes violentos de caminhoneiros, batalhões dos "clubes de tiro e caça", "ovelhas" carregando cruzes tomaram as ruas. Há registros de agressões a opositores, mulheres espancadas por circular de shorts e saias curtas, caça a políticos, intelectuais, artistas, líderes dos movimentos sociais, jornalistas, professores. Em rede nacional, Bolsonaro se apresentou no parlatório do Palácio do Planalto usando uniforme camuflado e prestando continência ao desfile de adeptos que carregavam tochas e estandartes. Sob aplausus, o líder supremo anunciou seu ministério com o melhor do seu staff. A comunicação veio através do AI-18. O governo fez questão de retomar à sequência dos 17 atos da ditadura militar.
Economia - Fabrício Queiroz
Defesa - Roberto Jefferson
Transportes - Zé Trovão
Religião - Silas Malafaia
Justiça - Collor de Mello
Presidente do Banco Central - Aécio Neves
Presidente da Petrobras - Veio da Havan
Presidente da Caixa Econômica - Faraó do Bitcoin
Embaixador nos Estados Unidos - Renan Bolsonaro
Saúde - Ivanildo Motoboy
Casa Civil - General Pazuello
Casa Militar - Ronnie Lessa
Secretaria da Mulher - Dr. Jairinho
Secretaria de Esportes - Maurício (do vôlei) Souza
Meio Ambiente - Major Curió
Vice-presidente General Villas-Boas
Agricultura - Wal do Açaí
Relações Exteriores - Regina Duarte
Secom - Sikêra Júnior
Comunicações - Bispo Macedo
Advogado Geral da União - Frederik Wassef
Cultura - Sergio Reis
PF - PM Daniel Siveira
PR (Polícia Religiosa) - Marco Feliciano
Embaixador no Afeganistão - Hamilton Mourão
Embaixador no Iémen - Paulo Guedes
Presidente dos Correios - Michel Temer
terça-feira, 7 de setembro de 2021
Queiroz: o mais festejado na manifestação fascista em Copacabana...
segunda-feira, 6 de setembro de 2021
Dos arquivos da Manchete: Jean-Paul Belmondo e o Rio de Janeiro...
| Jean-Paul Belmondo e Laura Antonelli no Corcovado, em 1974. O ator quis ficar incógnito da cidade. Manchete o localizou. Foto Frederico Mendes/Manchete |
| Em 1963, ele filmava "O Homem do Rio" e posou para Manchete na Praça Maupa. Foto de Antonio Nery/Manchete |
| Belmondo brincalhão: em frente ao Museu Naval, o ator faz continência para um oficial. Foto de Antonio Nery/Manchete |
por Jean-Paul Lagarride
"Ele estava cansado". Foi o comunicado do advogado de Jean-Paul Belmondo quando os repórteres indagaram sobre a causa da morte do ator. Ele morreu hoje, em casa, em Paris, tranquilamente, segundo a família, aos 88 anos. Belmondo fez 80 filmes. Um deles, "O Homem do Rio", de Philippe de Broca, filmado no Brasil. Sua carreira inclui de filmes da nouvelle vague, como "O Acossado" e "Pierrot Le fou", de Goddard, a "A Sereia do Mississipi", de François Truffaut, "Borsalino, de Jacques Deray, "Os Miseráveis, de Claude Lelouch.
| Cena do último filme de Belmondo, em 2008. Foto Divulgação |
Em 2001, um derrame o deixou gravemente incapacidado por sete anos. Só voltou a filmar em 2008 sob a direção de Francis Huster em "Un homme e son chien", uma refilmagem de "Umberto D", de Vittorio De Sica. Em 2017, ele participou da comédia "Coup de Chapeau". E em 2019 participou do documentário "Le Fantôme de Laurent Terzieff".
Belmondo veio ao Rio em outras duas ocasiões, além dos dias que passou na cidade para as filmagens de "O Homem do Rio". Em uma das visitas, acompanhado da atriz Laura Antonelli, quis ficar incógnito, mas Manchete o achou. Ficou irritado ao ser fotografado, mas logo recuperou o humor.
domingo, 5 de setembro de 2021
sexta-feira, 3 de setembro de 2021
A última luta de Mikis Theodorakis - Morre o autor da trilha sonora de "Zorba, o grego" e o combatente que enfrentou os nazistas e os coronéis da ditadura da Grécia
| Em foto publicada na Manchete em 1968, Theodorakis reencontra a família- a mulher Myrto e os filhos Margaret e George - após deixar a prisão imposta pela ditadura dos coronéis gregos. |
por José Esmeraldo Gonçalves
As milicias bolsonaristas pedem golpe e ditadura. O Brasil já sofreu muito desses dias de morte. Ontem, às vésperas do dia 7 de setembro que Bolsonaro anuncia como de "ultimato" às instituições democráticas, morreu, aos 96 anos, Mikis Theodorakis. O compositor também viveu uma ditadura cruel: a dos coronéis gregos, torturadores, assassinos e corruptos como aqueles que jogaram o Brasil em trevas de 21 anos.
Autor de uma vasta obra, Theodorakis ganhou fama em 1964, ano em que foi lançado "Zorba, o Grego", para o qual ele criou a trilha sonora. A "Zorba's Dance, o sirtaki, tornou-se uma fenômemo mundial. É clássica a cena onde Anthony Quinn e Alan Bates dançam em uma praia do vilarejo de Stavros, na ilha de Creta.
Além da música, a liberdade era paixão e motivação de Theodorakis. Ele lutou durante a Segunda Guerra ao lado da resistência contra os nazistas e foi preso e torturado na guerra civil que abalou a Grécia após o conflito mumdial.. Em 1967, quando os coroneis gregos deram um golpe e instalaram a ditadura, Theodorakis foi preso. Era tanto o ódio que os militares tinham da sua militância, que o Tribunal Militar de Aternas condenou um cidadão a três anos de prisão só porque foi surprendido ao ouvir em uma vitrola uma gravação de "Zorba, o grego". Theodorakis só não foi assassinado como muitos dos seus conterrâneos, porque uma campanha mundial pressionou o regime. Mais recentemente, ele foi às ruas protestar contra o cerco neoliberal à Grécia, que impôs um austeridade econômica que dizimou empregos e levou famílias à pobreza em benefício do "mercado" e dos especuladores e traficantes de dinheiro da banca internacional.
Manifestar-se contra a opressão econômica, a nova forma de ameaça à liberdade, foi sua última luta.
Theodorakis estava interado em um hospital de Atenas. A causa da morte não foi informada.
Reveja a cena de Anthony Quenn e Alan Bates dançando na ilha de Creta, AQUI
E assista à perfomance do balé e The Greek Orchestra Emmetron Music interpretando a Dança de Zorba AQUI
Manifesto da Geração 68 - Hora de "lutar pela Democracia que tem sido cotidianamente ameaçada pelo atual governo"
O Movimento Geração 60 Sempre na Luta levou à ABI, OAB e CNBB, entidades historicamente compormetisdas com a liberdade, os direitos humanos e a democracia uma Carta Aberto assinada por mais de 2.500 pessoas. O gesto marca a posição dos jovens dos das décadas de 1960 que enfrentaram a ditadura militar, muitas vezes ao custo de vidas, prisões, torturas e exílio. O manifesto é divulgado no momento em que a democracia está ameaçada por Bolsonaro e seus milicianos e o país sofre pelo seu negacionismo e o catastrófica política de enfentramento da pandemia que matou brasileiros e - como a CPI do Sebnado já apurou, enriqueceu "parças" do governo federal -, o desemprego, a pobreza crescente, o desastre que é a condução da política econômica e a pregação aberta de um golpe de estado.
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
Meia dúzia de coisas que você nunca soube sobre a criadora de Frankenstein • Por Roberto Muggiati
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| Mary Shelley por Richard Rothweel, 1840 |
2 Mary escreveu seu romance sem nenhuma intenção literária mais séria. Ela, seu noivo, o poeta Percy Bysshe Shelley e os amigos Lord Byron, também poeta, e o médico John Polidori – enclausurados num castelo à beira do lago Léman, num chuvoso verão suíço – resolveram fazer um torneio de histórias de fantasmas para matar o tédio. A que mais agradou, Frankenstein, foi publicada na forma de livro em 1818. A versão cinematográfica de 1931, com Boris Karloff, consagrou definitivamente o monstro como “Frankenstein”.
4 O pai de Mary Shelley, William Godwin, além de grande líder anarquista pioneiro, é considerado um dos primeiros autores do que se chamaria depois “romance policial”, com As coisas como elas são ou As Aventuras de Caleb Williams (1794). Narrado retrospectivamente, foi elogiado por escritores como Dickens e Poe.
5 A mãe de Mary Shelley, Mary Wollstonecraft, não só foi uma das primeiras feministas, como em publicou 1792 um dos primeiros clássicos do movimento, Uma reivindicação dos direitos da mulher. Não pode fazer a cabeça da filha para o feminismo porque morreu dez dias depois de lhe ter dado à luz, aos 38 anos.
6 Last, but not least, a incrível Conexão Computador nessa entourage. Mary Shelley conheceu, ainda bebê, Augusta Ada Lovelace (1815-52), única filha legítima de Lord Byron. Ada escreveu o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina, a máquina analítica de Charles Babbage. Desenvolveu também os algoritmos que permitiriam à máquina computar os valores de funções matemáticas, além de publicar uma coleção de notas sobre a máquina analítica. Por isso é considerada, há remotos 180 anos, a primeira programadora de toda a história. Antes desse feito, ainda na juventude, Ada dedicou-se ao projeto de voar, chegando a conceber e criar asas especiais para a arrojada empreitada.
Ainda Jânio: “Não qui-lo, mas vi-lo” • Por Roberto Muggiati
Numa noite erma de sábado em Curitiba, quatro meses antes do pleito de 3 de outubro de 1960, três ou quatro jovens redatores da Gazeta do Povo fomos abduzidos e levados ao casarão senhorial dos Camargo na Praça Osório. Lá nos apresentaram a um senhor de bigode e de óculos de aros pesados pretos, gravata e terno idem, aparentando mais do que os seus 43 anos. Era Jânio da Silva Quadros, acompanhado da mulher, dona Eloá, e da filha, Dirce Maria – Tutu para os íntimos – que em breve sairiam do anonimato para os papeis de Primeira Dama e Primeira Filha.
O “Homem da
Vassoura” não me causou a menor impressão e não guardei a mais vaga lembrança
do que falamos – embora os anfitriões nos pedissem encarecidamente silêncio
absoluto sobre o encontro. O único detalhe que me marcou foram os vestígios de
caspa sobre as ombreiras do terno escuro de Jânio. Aquilo entrou para o
folclore político, diziam até que Jânio tinha fornecedores exclusivos de
seborreia...
Colecionei
presidentes desde a infância, Getúlio apertou minha mão quando eu tinha cinco
anos, na inauguração da Grande Exposição de Curitiba de 1942, organizada por
meu tio Achilles Muggiati; depois encarei o general Dutra de uniforme de gala
(ambos) na inauguração do Colégio Estadual do Paraná em 1950; JK e Jango
entrevistei em Curitiba como repórter – passei ao largo dos generais da
ditadura – Sarney, Collor, FHC, Lula e por aí vai. Já o atual, como se dizia na
Manchete, nemporunca!
Quando Jânio
fez forfait em 1961, li a manchete no
New York Herald Tribune em Paris, na
banca do American Express, perto da Opéra, agendando meu Grand Tour da Itália
nos meses de setembro e outubro. A bolsa de estudos de dois anos em Paris
emendou com um contrato de três anos para trabalhar em Londres no Serviço
Brasileiro da BBC, o que me poupou até meados de 1965 da ditadura militar, mas
eu não imaginava que teria de amargar – como cidadão e jornalista – mais vinte
anos de repressão e censura. Tudo, em última análise, por causa da leviandade
do Sr. Jânio da Silva Quadros.
























